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Sonhos de uma noite de Verão

Essa peça de Shakespeare tem um significado afetivo para mim. Eu trabalhei nessa peça dirigida pelo premiadíssimo diretor,  Moacyr Góes, que, se não me falha a memória, deve ter sido a primeira peça dirigida por ele. Não tenho certeza. Meu papel era do Filostrato. Confesso que foi uma montagem bem complexa e complicada, pelos inúmeros problemas de produção. E tudo isso na década de oitenta. Época das grandes intensidades. Mas o resultado ficou muito melhor do que o esperado.

Essa peça. escrita por Shakespeare em 1600, explora os meandros do amor e do desejo através da lente da comédia. A peça é cheia de subtramas. É a história de quatro amantes que disputam os corações um do outro. Nessa história, um rei e uma rainha das fadas entram em conflito, e um grupo de artesãos alimentam o sonho de fazer uma apresentação para o Duque. Elementos do sobrenatural estão presentes, magias de fadas, poções de amor misteriosas e a transformação de um humano em animal.

Vamos à peça? “Sonho de uma Noite de Verão” começa com Teseu e Hipólita conversando sobre seu casamento, que está prestes a acontecer. Teseu encontra-se ansioso pela chegada do casamento, mas Hipólita garante-lhe que:

“ Quatro dias vão rapidamente submergir em quatro noites, e quatro noites farão as horas desvanecer em sonhos, e então como um arco prateado recém-arqueado no céu, contemplará a noite de celebração de nossas bodas. ( pág. 15).

O motivo dessa ansiedade se deve ao fato de que Teseu, ao vencer uma batalha, conquistou Hipólita.  Egeu encontra-se aborrecido porque sua filha Hérnia se recusa a se casar com Demétrio, o pretendente que ele havia escolhido para ela. Mas, em vez disso, Hérmia quer se casar com Lisandro, que a cortejou sem a permissão dele. Seu pai se apega a uma lei antiga que afirma que, se ela não se casar com o pretendente escolhido por ele, pode ser condenada à morte ou à reclusão. Teseu diz a Hérnia:

“Teseu: Ou morre a senhorita a sua morte, ou abjura para sempre a sociedade dos homens. Portanto, formosa Hérmia, questione seus desejos, tenha em mente a sua pouca idade, examine com cuidado seu temperamento e sua estirpe, o sangue que lateja em suas veias. Pese bem: se a senhorita não cede à escolha de seu pai, conseguirá suportar o hábito de freira? Para sempre engaiolada em claustro assombroso, vivendo de estéril irmã sua vida inteira, cantando sufocantes hinos a uma lua fria infrutífera...” ( pág. 18)

Lisandro e Hérmia elaboram um plano de fugir para a casa da tia de Lisandro, nos arredores de Atenas:

“ Argumento bem persuasivo; portanto escuta-me Hérmia: tenho uma tia, viúva dotada de muitos proventos, e sem filhos. Tem ela uma casa distante de Atenas. E refere-se ela a mim como seu filho único. Em sua casa gentil Hérmia, posso me casar contigo...” ( pág. 22)

No momento em que eles estão elaborando o plano para fugir, aparece Helena, a melhor amiga de Hérmia, a qual é apaixonada por Demétrio, que ama Hérmia. Para que ela se sinta melhor, ela acaba contando o plano deles de fugirem. Helena sente um certo ciúme pela felicidade daquele amor,, quando fica sozinha e resolve ir até Demétrio e contar os planos de fuga de  Hérmia e Lisandro.

Enquanto isso seis artesãos locais se reúnem na casa de Cunha (o carpinteiro) para ensaiar uma peça amadora.

 (Apenas um parêntese  a tradutora Beatriz Viégas Faria deu os seguintes nomes dos artesãos. Cunha o carpinteiro; Justino, o marceneiro, e Fundilho, o tecelão; e Flauta o conserta-foles; e Chaleira, o funileiro ; Famélico, o alfaiate)

O objetivo é encenar essa peça nas noites de núpcias de Teseu e Hipólita, como parte das comemorações. Cunha distribui os papéis. O nome da peça: “A mais lamentável das Comédias” ou “A morte cruelíssima de Píramo e Tisbe”. Eles resolvem ensaiar na floresta para que não sejam interrompidos durante o ensaio.  A mesma floresta onde Hérmia e Lisandro planejam se encontrar para fugir em direção a Atenas.

A ação da peça agora muda para esta floresta encantada por fadas. Bute, um servo leal de Oberon, o Rei das fadas, encontra-se com outra fada que serve Titânia, a Rainha. Bute avisa a fada que Oberon está zangado com a Rainha e o motivo é a recusa dela de dar-lhe um menino roubado do rei da Índia que ela está criando. Oberon encontra-se ciumento, e Titânia recusa-lhe a dar o menino que está criando. O relacionamento entre eles não está nada bem, pois os dois, Titânia e Oberon, reclamam das infidelidades praticadas por ambos.

“Oberon: que encontro infeliz, este nosso à luz do luar, minha orgulhosa Titânia.

Titânia: O quê? Oberon, o ciumento? Fadas duendes, embora daqui. Desisti de com ele partilhar cama e companhia.

Oberon: Calma aí, criatura teimosa, volúvel; não sou eu o seu marido e senhor de tua pessoa?

Titânia: Então devo ser eu a esposa e senhora; mas estou sabendo de quando fugiste da terra das fadas e dos duendes e, assumindo a forma de Corino, ficavas o dia inteiro recostado, tocando avenas e versejando um amor a uma amorosa Filida. Por que aqui estás aqui, chegado que és da porção mais longínqua da Índia? A não ser que seja porque – mas claro! – a forte e saudável amazona, tua amante de botas de cano alto tua amada guerreira deve casar-se com Teseu, e tu retomas para abençoar lhes a cama com alegria e prosperidade!

Oberon: Faze-me o favor, Titânia! Como podes olhar assim enviesado a minha conquista de Hipólita, sabendo que sei o seu amor por Teseu? Não foste tu quem o conduziu numa noite mal iluminada para longe de Pergônia, a quem ele desonrou? E não obrigaste a quebrar as juras de fidelidade que tinha com a linda Egle, por causa Ariadne e Antíopa?

Titânia: Isso são invenções do ciúme...”( pág. 36)

 Titânia não dá ouvidos e fica com o menino. Oberón planeja resgatar o garoto. Ele envia Bute em busca de uma planta chamada “amor perfeito àquele amor ocioso”, cujo suco faz qualquer pessoa adorar a próxima criatura que aparecer pela frente.

 Oberon se dirige ao público e diz que planeja usar a flor e que pingará o sumo em seus olhos:

“ Oberon: Uma vez em posse desse sumo, vigiarei Titânia quando ela tiver adormecido, e pingarei a solução em seus olhos. A primeira coisa que ela enxergar depois de ter acordado ( seja leão, urso, ou touro, um macaco intrometido ou qualquer símio arteiro) ela  perseguirá com a alma apaixonada...” ( pág. 41)

 Enquanto Bute procura esta porção mágica, Demétrio e Helena passam por Oberon. Demétrio, por causa de Helena, está procurando Hérmia e Lisandro na floresta. E jura que matará Lisandro. Apesar de conseguir o paradeiro de Lisandro e Hérnia, graças a Helena, Demétrio pede  que ela pare de segui-lo; ele ameaça machucá-la se não o deixar em paz. Com pena de Helena, Oberon instrui Bute a colocar um pouco de sumo mágico do amor nos olhos de Demétrio no momento em que Helena aparece na frente  dele.

Enquanto isso, Titânia e suas fadas estão próximas. Oberon a segue secretamente. Quando Titânia adormece, Oberon espreme o sumo do amor em seus olhos, esperando que ela se apaixone pela primeira criatura que ela vir ao acordar.

Hérmia e Lisandro vagam perto do caramanchão de Titânia. Eles estão perdidos na floresta e  decidem descansar até de manhã. Bute vê Lisandro dormindo e presume que ele é Demétrio, de quem Oberon havia falado. Pinga o sumo nos olhos de Lisandro.

 E quem aparece onde Lisandro dorme? Ela mesmo, Helena, que o vê dormindo. Ela o acorda e ele imediatamente se apaixona por ela. Helena acha que Lisandro está brincando e tenta fugir. Lisandro a segue loucamente apaixonado. Quando Hérmia acorda pedindo ajuda a Lisandro, pois acaba de ter tido um pesadelo.

Hérmia: “...  A mim me pareceu que uma serpente botava-se  a devorar meu coração, e você... ficava sentado, sorrindo deste terrível ato predatório. Lisandro! Mas como? Está longe?... ( pág. 52)

Enquanto isso, Titânia está deitada dormindo e aparece Cunha, Fundilho, Justinho, Flauta , Chaleira e Famélico, todos prontos para começar o ensaio. No entanto, alguns problemas com a peça, incluindo alguns temas que geram controvérsias, como no caso de uma matança.

“Famélico: Penso que devemos deixar essa morte de fora quando tudo for representado.” ( pág. 53)

Uma dessas matanças envolve um leão. Eles não querem causar medo às damas que assistirem a essa peça.

 Bute observa o grupo ensaiando e comenta:

“Bute: Que caipiras temos aqui, fanfarreando-se nuns trajos grosseiros de cânhamo, e tão perto do berço da Rainha das Fadas? Mas, o quê? Uma peça sendo ensaiada? Serei ouvinte; e talvez, um ator também, se eu achar necessário. ( pág56)

Fundilho acha que está sendo passado de bobo pela trupe. Para assustá-lo, ele começa a cantar uma música para fazê-los escutar. Ele acidentalmente acorda Titânia. Quando ela abre os olhos e se defronta com o  Fundilho, está com uma cabeça de burro. O sumo da flor está fazendo efeito. Ele tenta escapar.

Só que Titânia acorda apaixonada e diz que adora sua voz de Fundilho:

“Titânia: Suplico-lhe, gentil mortal, canta de novo. Meu ouvido enamorou-se de tua voz; também meu coração encantou-se com a tua forma; e a força de tuas belas virtudes por força me leva, à primeira vista dizer, jurar, que te amo. “ (pág. 60)

Titânia ordena que ele fique. Ela ordena que suas fadas atendentes Flor de Ervilha Teia de Aranha, Mariposinha e Sementes de Mostarda se incumbam de cuidar dele.

Oberon retorna ao caramanchão de Titânia em busca do menino  e vê que Titânia havia se apaixonado por um asno.

“Oberon:  Isso resultou melhor do que se eu tivesse planejado. Mas, e tu, já molhaste os olhos do ateniense com o sumo do amor, conforme de ordenei?

Bute:  Peguei ele dormindo – isso também, está cumprido – e a mulher ateniense ao lado dele, de modo que, quando ele acordasse, necessariamente ela seria avistada”( pág. 64 pág. 65)

 (Entram Demétrio e Hérmia)

Hérmia chega com Demétrio. Ela está certa de que Demétrio havia ferido Lisandro.

“Hérmia: agora estou só te repreendendo, mas deveria estar eu te tratando muito pior, pois tu, e este é o meu temor, me deste causa para amaldiçoar-te. Se mataste Lisandro enquanto ele dormia estás até o pescoço em sangue. Pois mergulha de vez e mata-me também. Nem o sol foi tão verdadeiro e leal com o dia como ele foi comigo. Teria ele fugido de uma Hérmia adormecida? Prefiro acredita que se poderia perfurar o globo terrestre de lado a lado, e alua iria insinuar-se pelo centro da terra para assim perturbar, com os Antípodas, a maré alta do meio dia de seu irmão. Não há outra explicação: tu mataste Lisandro. E te pareces com um assassino, assim tão letal, com a cara tão fechada. ( pág. 65)

Oberon reconhece Demétrio como o ateniense que recebeu, a poção de Bute  ,como ele havia pedido, e percebe que um erro foi cometido, dizendo a Bute:

“Oberon: O que aprontaste? Tu te enganaste completamente pingando o sumo do amor nos olhos de quem sente um amor verdadeiro. De tua negligência forçosamente resultará algum amor verdadeiro falseado., e não um falso amor retificado

Bute: Então prevalece o destino: para cada homem que mantém a palavra, um milhão de outros falham, quebrando um juramento e depois  do outro.

Oberon: Atravessa o bosque, vai mais ligeiro que o vento e procura Helena de Atenas até encontrá-la: pé aquela que está doente de amor, fisionomia pálida, suspirando de paixão, cada suspiro custando-lhe uma gota de seu precioso e jovem sangue. Vê que a trazes aqui – por meio de algum engodo. Colocarei feitiço nos olhos preparando-o para quando ele aparecer.

Bute: Estou indo, estou indo, veja como já estou indo! Mais ligeiro que uma flecha do arco de um tártaro.” ( pág. 67; pág. 68)

Oberon então adiciona o suco da flor aos olhos de Demétrio antes de Bute reaparecer rapidamente, com Helena e Lisandro logo atrás. Bute aparece e está muito animado:

 Bute: Do nosso bando de fadas e duendes o senhor é o Capitão, e tenho de relatar-lhe o seguinte: Eis Helena, e junto dela vem chegando. Esse jovem que pensei ser aquele outro. Ele chega pelo amor dela suplicando. Podemos ver, e já daqui a pouco: Ridículo espetáculo estarão encenando. Senhor que estes mortais são bobos!

 Oberon: Fazem tal barulho! Te mantém distante. Vão acordar Demétrio, e é num instante.

 Bute: Então teremos dois cortejando uma só. Isso é diversão garantida, senhor, tenha dó: Não tem coisa que mais me apraz na vida. Que as coisas extraordinárias acontecidas. ( pág. 68; pág. 69)

Lisandro está cheio de amores por Helena, que se irrita com tamanha pretensão. Ela está certa de que Lisandro está caçoando de sua cara. Tenta lembrar-lhe de Hérmia. Mas Lisandro está obcecado por Helena.

As coisas, que já estavam complicadas, ficam ainda mais loucas quando Helena se encontra com Demétrio.

“Demétrio ( acordando): Ah, Helena! Deusa ninfa, perfeita, divina! A que meu amor, devo comparar teus olhos? O cristal é turvo. Ah, quão maduros mostram-se os seus lábios, essas beijáveis cereja ; quão tentadora essa fruta que é a tua boca! Aquele branco puro congelado, neve das altas montanhas de Taurus, onde sopram os ventos orientais, torna-se escuro como o corvo quando ergues a tua mão. Ah, deixa-me beijar esta brancura imaculada de princesa, esse certificado de êxtase e felicidade! ( pág. 70)

Ao ver aqueles dois homens perdidos e apaixonados por ela, Helena não tem dúvida de que estão zombando dela e a usando. Ela lembra que os dois rivais amam Hérmia. Os dois (Lisandro e Demétrio) discutem  e ameaçam duelar por este amor.

 Quando Hérmia chega e encontra Lisandro e Demétrio brigando por causa de Helena, ela fica confusa e pergunta:

“Hérmia: Que amor deveria incitar Lisandro a partir para longe de mim?

 Lisandro: O amor de Lisandro, que não o deixa chegar perto: a formosa Helena, aquela que brilha na noite, mais que todas as estrelas cintilantes esferas celestes, todas as faiscantes estrelas. Por que me procuras? Não basta isso, para entenderes que o que me fez deixar-te foi a aversão que sinto por ti?

 Hérmia: Você não está falando o que pensa. Não pode ser?” ( pág. 72)

A confusão está armada. Helena pensa que Hérmia faz parte do plano para humilhá-la. Hérmia por sua vez está pasma e não sabe o que dizer. As duas começam a brigar. Lisandro e Demétrio fazem de tudo para proteger Helena durante a luta.

Oberon toma satisfações com Bute. E pergunta se ele havia feito tudo isso de uma forma deliberada, mas Bute diz que apenas havia cometido um erro, pois os homens estavam vestindo roupas atenienses e ele não soube identificar que Lisandro não era Demétrio. Para esclarecer tudo, Oberon diz a Bute para nublar a noite e então dar a Lisandro o antídoto que Bute faz:

“Oberon: O que tu vês é dois apaixonados procurando um espaço para o combate. Portanto, vai depressa Robin, cobre de nuvens a noite. A abóbada celeste, estrelada, cobre-se e sem demora com cerração baixa, escura como o rio Aqueron, e fazer com que esses rivais impacientes extraviem-se, para que não atravessem o caminho um no caminho do outro. Imita a voz de Lisandro e provoca Demétrio com impropérios mais mordazes. E depois insulta Lisandro como se foras Demétrio, e vê que tu vais conduzindo-os assim, um para longe do outro, até que sobre suas pálpebras arrasta-se o sono que imita a morte, com suas pernas de chumbo e suas asas de morcegos. Só então espreme esta erva nos olhos de Lisandro, para que eles pinguem o sumo das poderosas qualidades, para deles erradicar todo e qualquer erro com sua força milagrosa, e faze com que seus globos oculares movimentem-se com sua visão costumeira. Quando então eles se acordarem, todo esse engano lhes parecerá um sonho, uma visão inexpressiva. E retornarão a Atenas como amantes, em união que só na morte encontrará seu fim. Enquanto te ocupo nesses afazeres, procurarei eu a minha rainha, e a ela explicarei que me entregue o menino indiano, depois do que vou liberar-lhe o olhar enfeitiçado da visão do monstro, e de todas as coisas serão paz.” ( pág. 81; pág. 82)

Titânia está perdidamente apaixonada por Fundilho em seu caramanchão. Fundilho vive seus momentos de glória, sendo paparicado por todas as fadas.

Oberon começa a ter pena dela e decide reverter o feitiço que colocou sobre ela. Quando Titânia adormece, ele tira o feitiço de seus olhos e a livra de tudo aquilo.

“Titânia ( despertando): Meu Oberon! Que visões tive eu! A mim me parecia que estava apaixonada por um asno.” ( pág. 90)

 Oberon e Titânia se acertam. Voltam ser amigos e prometem dançar na casa do Duque Teseu. Uma trompa de caça anuncia Egeu e Hipólita. Egeu e seu grupo encontram os quatro amantes dormindo no chão da floresta com Teseu perguntando:

“Teseu: Vá mande que os caçadores os despertem com suas cornetas.

Teseu: Mande que os caçadores  os despertem com as suas cornetas.

( De dentro, ouvem-se ordens gritadas: o tocar das cornetas. Os mantes despertam e põem-se de pé num pulo)

Bom dia amigos. O dia de São Valentino, protetor dos apaixonados, já passou. Esses pombinhos do bosque agora começaram  a formar parzinhos?” ( pág. 94)

Todos os amantes acordam e se ajoelham diante do duque. Teseu diz a todos para se levantarem e pede aos homens que expliquem por que estão juntos já que são inimigos rivais.

“Lisandro: Milorde, devo responder-vos que eu mesmo estou confuso, meio dormindo, meio acordando. Mas por enquanto, eu vos juro, não sei dizer mesmo como vim parar aqui. Mas como eu penso...e eu só contaria a verdade... e agora me lembro, é o seguinte: vim para cá com Hérmia; nossa intenção era sair de Atenas, ir onde pudéssemos, longe das ameaçadoras da lei ateniense...” ( pág. 94;pag 95)

 Egeu pede que a lei se abata sobre Lisandro, por ter fugido. Egeu declara que Demétrio será o noivo. No entanto, há uma mudança por parte de Demétrio:

 “Demétrio: Meu Duque, a formosa Helena, contou-me um segredo dos dois , dessa decisão deles, de virem até aqui, a este bosque; e eu, furioso. Até aqui os segui, com a formosa Helena, por sua própria vontade e afeição seguindo-me. Mas, meu caro senhor, desconheço por que forças..., mas alguma força foi... que meu amor por Hérmia como neve derreteu-se. Aquele amor agora, mas me parece uma lembrança de uma brincadeira à toa de um passatempo predileto da infância. E toda a lealdade, toda virtude de meu coração volta-se apenas para Helena, objeto de prazer do meu olhar. A ela milorde, estava eu prometido antes de conhecer Hérmia. Como se fosse doença comecei a odiar a comida do meu prato; agora na saúde, retomo meu paladar natural e quero-a, amo-a, desejo-a, e a ela serei sempre fiel. ( pág. 95)

 Teseu decretou que Hérnia e Lisandro podem se casar, usando o seu poder. Os quatro amantes vão agora se casar ao lado do Duque Teseu e Hipólita.

Os artesãos estão procurando Fundilho porque ele não voltou da floresta e estão preocupados por terem que representar a peça sem ele. De repente aparece o Funileiro com uma notícia maravilhosa:

 “Fundilho: Nem uma palavra sobre mim. Tudo que lhes digo é que o Duque terminou o jantar. Peguem seus trajes, vejam que as barbas fiquem bem atadas, ponham fitas novas nas sapatilhas; vamos nos reunir logo em seguida no palácio. Cada um repasse a sua parte, porque a história toda é a seguinte a nossa peça está na preferência. Em que todo caso, que Tisbe tenha roupa de baixo limpa. E que não apare as unhas quem está representando o leão, pois elas precisam destacar-se, como se fossem as garras da fera. E, meus queridíssimos atores, não comam cebola nem alho, pois estaremos pronunciando dulcíssimas palavras. Então duvido que os ouviremos dizer “ essa é uma doce comédia. ( pág. 99; pág. 100)

Os artesãos apresentam sua peça, uma breve cena tediosa do jovem Píramo e seu amor Tisbe. Os recém-casados riem de toda a apresentação da trupe. No fim. as coisas estavam tão ruins que Teseu diz:

Teseu: Nada de epílogo, eu lhe peço, pois a sua peça não precisa de apologia... (pág 118)

 Resumindo: que eles terminem dançando mas parem de falar.

 A peça termina com as fadas, e com os reconciliados Titânia e Oberon abençoando os novos amantes e seus futuros filhos. Buti dá a palavra final:

“Bute ( dirigindo-se a plateia): Se nós sombras, vos ofendemos. Pensai nos seguintes termos: O que vos sucedeu foi adormecer. E essas visões que a vós parecíeis ver compuseram o nosso tema, tolo. E á toa, nada mais que um sonho. Não censureis este nosso tema: Perdoai-nos, e haverá emenda. No caso de sorte imerecida. Escapando-nos de vaias viperinas. Como sou um Bute honesto. Das retificações eu me encarrego. Não sou Bute mentiroso. E dou boa noite a todos. Palmas se quiseres bater! Em troca, vou a peça refazer. ( pág. 121; pag 122)

Em resumo, Bute insiste que, se o público não gostou da peça, deveria imaginar que tudo foi um sonho. Fico por aqui e indico essa obra-prima de William Shakespeare: “Sonhos de Uma noite de Verão”, um livro que merece um lugar de honra na sua estante.


Data: 26 abril 2024 | Tags: Comédia


< Banksy: Por detrás das Paredes Muito Barulho por nada >
Sonhos de uma noite de Verão
autor: William Shakespeare
editora: L&PM
tradutor: Beatriz Viégas Faria

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