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Muito Barulho por nada

Essa peça, escrita entre 1598 e 1599, é uma comédia de enganos, onde os personagens acreditam em coisas que não batem muito com a realidade, gerando situações engraçadas e confusões. Mas a peça  explora outros temas, como amor e casamento, engano e desilusão, a aparência e a realidade.

É uma comédia que contém elementos de comédia romântica e de situação. Segue as convenções da comédia shakespeariana, com elementos como identidades trocadas, mal-entendidos e eventuais casamentos. O nome da peça traduz como as coisas parecem ser de uma certa maneira quando a realidade é diferente. Mas explora temas sombrios, como a trama contra Hero, o que dá à história um algo a mais.

A história se passa na cidade italiana de Messina, refletindo o fascínio pela Itália e sua cultura que prevalecia na Inglaterra de Shakespeare, o que aumenta o charme da peça e serve de pano de fundo para as travessuras e mal-entendidos dos personagens.

A peça começa na casa do governador de Messina. Um mensageiro se aproxima e dá a notícia de que o Príncipe de Aragão, Dom Pedro, e seus soldados estão voltando triunfantes juntamente com o seu irmão ilegítimo, Don John. Leonato, governador de Messina, pergunta por Claudio e como ele se saiu:

“Mensageiro: Por sinal, bastante merecidas, e lembradas com justo reconhecimento por Don Pedro. Ele tem a postura de quem está além das promessas de sua idade, executando, com sua figura de cordeiro, os feitos de um leão. Na verdade, suplantou até mesmo as mais altas expectativas, tanto que me vejo incapaz de vos oferecer um relato fiel. (pág. 11; pág. 12)

A sobrinha de Leonardo, Beatriz, pergunta sobre o Signior Estocada, cujo nome verdadeiro é Benedicto, um soldado que ela conhece e de quem zomba. Benedicto é retratado como um solteirão convicto, cínico em relação ao amor e ao casamento. E os dois vivem às turras:

“Benedito: Ora, minha cara Lady Desdém! A senhorita continua viva?

Beatriz: Como poderia essa tal de Desdém morrer quando ela dispõe, para alimentar-se, de comida tão adequada como o Signior Benedicto? A própria Cortesia tem precisão de converter-se em Desdém se o senhor lhe aparece em sua presença.

 Benedicto: Mas então essa cortesia é uma virada de casacas. Porém uma coisa é certa: sou amado por todas as damas, e exceção apenas de sua pessoa; e  gostaria eu de poder descobrir em meu coração que não tenho um coração duro, pois eu na verdade não amo a nenhuma delas.

Beatriz: O que é uma verdadeira sorte para as mulheres, pois do contrário elas se veriam importunadas pelo mais pernicioso dos pretendentes. Nisto eu agradeço a Deus e ao meu sangue frio: nessas coisas tenho a mesma disposição do senhor; prefiro ouvir o meu cachorro latindo para uma gralha a ter que escutar juras de amor de um homem.

Benedicto: Que Deus a conserve assim, minha cara Lady, nesse estado de espírito, de modo que um outro cavalheiro possa escapara do que lhe estava predestinado: ter a cara lanhada.

Beatriz: Tivesse o cavalheiro uma cara como a sua, lanhá-la não a deixaria pior.” ( pág. 17)

Claudio, outro personagem, além de um excelente combatente, é um idealista e fica apaixonado por Lady Hero. Claudio confidencia a Dom Pedro que seus sentimentos por Lady Hero se aprofundam desde que voltou da guerra. Um amor à primeira vista que personifica o amor cortês idealizado da época, onde um cavalheiro se apaixona por uma dama virtuosa.

“Claudio: Ah, milorde, quando fostes para as batalhas, agora a ação terminada, eu a observei com os olhos de um soldado. Gostei do que vi, mas tinha pela frente tarefa mais árdua que conduzir um mero gostar até o denominado amor. Todavia agora estou de volta, e os pensamentos bélicos deixaram em mim espaços vagos, lugares que vão sendo invadidos por suaves e delicados desejos, todos me sinalizando a formosura da jovem Hero, avisando-me da minha afeição por ela ainda antes de ir  à guerra.” ( pág. 25; pág. 26)

Essa subtrama romântica é o prenúncio dos desafios e mal-entendidos que testarão o relacionamento deles mais tarde na peça.

Claudio conta a Dom Pedro seus sentimentos em relação a Hero,  os quais se aprofundam desde que voltou da guerra. Até que Claudio recebe uma proposta. Ele se oferece para cortejar Lady Hero em seu nome. Naquela noite, no baile de máscara, ele fingirá ser Claudio e conquistará seu coração em nome do amigo:

“Dom Pedro: ... Sei que haverá uma grande festa hoje à noite. Tomarei o teu lugar, disfarçando-me de alguma maneira, e direi a linda Hero que sou Claudio, e em seu peito depositarei meu coração aberto, e seu ouvido atento cativarei pela força e pelo ímpeto da minha história romântica, após que tocarei neste assunto com o pai da moça; e a conclusão é uma só: ela será tua. Vamos tratar de colocar isso em prática.” ( pág. 26)

Don John,  o irmão ilegítimo de Dom Pedro, reconhece que é um cidadão de segunda classe, e, para compensar suas limitações, ele direciona sua inveja para conspirar e ferir seu irmão. Ele encontra-se deprimido e amargurado. Don John é movido por um ressentimento devido ao sucesso e à felicidade do irmão Dom Pedro, o que alimenta o seu desejo de atrapalhar os alegres acontecimentos de Messina. Mas apesar de tudo ele odeia o fato de se sentir inferior a ele. Até que o servo de Dom Pedro Borracho entra e fala sobre o amor de Claudio por Lady Hero. E revela que Dom Pedro se passará por Claudio e cortejará Lady Hero em seu nome.

“Borracho: Como a mim me encarregaram de dissipar os maus cheiros da casa, estava eu fumigando um aposento mofado e me aparecem o Príncipe e Claudio, de braço dado, absortos os dois em conferência muito séria. Esgueirei-me rápido para trás do reposteiro, e de lá ouvi acertarem que o Príncipe faria a corte a Hero por conta própria e, assim que a tiver conquistado, passa a jovem para o Conde Claudio.” ( pág. 31)

Dom John odeia Claudio, que é muito querido e respeitado, e decide criar problemas para ele. Don John, é o principal antagonista da peça. Aqui um detalhe sobre a personalidade de Dom John: ele é um ser sombrio na peça, contrastando com os elementos cômicos.

Para complicar a situação, o irmão mais velho de Leonato chega com a notícia de que seu criado ouviu Dom Pedro e Claudio conversando sobre Lady Hero. No entanto, ele se confunde dizendo a Leonato que Dom Pedro ama Hero e pretende cortejá-la na festa do baile de máscara. Leonato fica emocionado em ver que Dom Pedro ama sua filha.

A família de Leonato discute a ausência de Dom John  na ceia, Beatriz muda de assunto para Benedito e zomba dele e de Dom John:

“Beatriz: Seria um excelente homem, aquele que fosse um meio termo entre ele e Benedicto: um é feito um retrato e não diz uma palavra, e o outro é feito filho varão e mimado, e não sabe quando parar de tagarelar.” ( pág. 33)

Leonato avisa que com tal atitude  a Providência Divina não vai lhe dar um marido:

“Beatriz: Tanto quanto. Ele me deixa desprovida de marido, uma benção pela qual sou grata  a Ele, e agradeço de joelhos toda manhã e toda a noite. Oh , senhor! Eu não teria como aguentar um marido de barba na cara! Prefiro dormir sem lençóis, com lã áspera do cobertor direto na pele. ( pág. 34)

Estamos vendo a guerra espirituosa entre Benedicto e Beatriz e suas trocas de falas espirituosas e contundentes. Mas Leonato chega para sua filha Hero e diz:

“Leonato: Filha, lembra o que eu disse: se o Príncipe vier a te procurar com esse propósito, tu sabes que resposta dar. ( pag36)

Hero fica em silêncio, mas Beatrice diz a ela para manter a calma. Dom Pedro e seus homens entram mascarados e a dança começa. Benedicto, escondido por uma máscara, provoca Beatrice, perguntando quem é Benedicto, mas ela leva a melhor sobre ele e o insulta na cara:

 “Beatriz: Ora, ele é o bobo da corte, um palhaço muito sem graça; seu único talento está em engendrar calúnias impossíveis. Só os irresponsáveis e os frívolos acham graça nele, e elogiam-no não por seu senso de humor refinado, mas por suas baixarias, pois ele entretém os homens, e os deixa furiosos, e então eles se riem dele, e dão-lhe uma surra. Com certeza ele está entre os navegadores dessa frota; gostaria que tivesse me abordado.” ( pág. 40)

Nesse baile de máscaras, surge Don John e conta para Claudio que Dom Pedro está cortejando Hero para si. Claudio acredita nele e se sente traído por Dom Pedro, dizendo ao público:

“Claudio: Assim respondo eu em nome de Benedicto, mas ouço essas más notícias com os ouvidos de Claudio. Uma coisa é certa: o Príncipe faz a corte a Hero em causa própria. A amizade é constante em todas as outras coisas, mas nunca no ofício e nas artes do amor. Então, que os corações apaixonados usem sua própria língua; cada olhar que negocie por si próprio, sem confiar em intermediários; pois a beleza é uma feiticeira, e contra os encantamentos não há fé que resista, pois que esta se derrete no sangue. Este é um daqueles acidentes que se dão a toda a hora, e do qual não desconfiei. Adeus então Hero.” ( pág. 41; pág. 42)

A insegurança de Claudio aparece quando ele presencia Dom Pedro dançando com Hero. Mas tudo se acalma quando Dom Pedro disse:

“Dom Pedro: ... Fiz a corte em seu nome, e a bela Hero está conquistada. Contei as novas ao pai da moça e obtive dele o consentimento. Marca o dia do casamento, e que Deus te abençoe com muitas alegrias!

 Leonato: Conde receba de mim a minha filha, e com ela a minha fortuna. Vossa Graça nosso Príncipe foi quem tramou o enlace, e a Graça Divina disse: Amém!”( pág. 46; pág. 47)

Don John tentou estragar o casamento recém-arranjado dizendo:

“Don John: Qualquer obstáculo, qualquer entrave, qualquer impedimento será medicinal para mim. Estou doente de desgosto por causa dele, e tudo o que lhe atravancar a vontade alinha-se instantaneamente comigo. Como podes pôr a perder esse casamento?” (pág. 52)

Borrachio conhece a empregada de Hero, Margarete, e planeja uma cilada para acabar com o casamento de Claudio com Hera. Don John aceita a ideia, afirmando:

“Don John: Se é para descarregar minha maldade sobre eles, eu sou capaz de qualquer coisa.” ( pág. 53)

 Borrachio instrui Don John a dizer a Claudio e Dom Pedro que Hero o ama e levá-los até a janela do quarto de Hero na noite anterior ao casamento. E como ele faria isso? Tentando seduzir Margarete, uma camareira da casa de Leonato, e depois levando Claudio a acreditar que a Margarete seja Hero, manchando assim a reputação de Hero e sabotando o seu casamento com Claudio. O plano visa enganar Claudio com evidências falsas, fazendo-o pensar que Hero havia sido infiel a ele na noite anterior ao casamento.

Don John aceita a ideia. Borracho instrui Don John como proceder. Ele promete pagar Borracho  mil ducados caso o plano dê certo.

Enquanto isso, sozinho no jardim, Benedicto se dirige ao público e diz:

“ Benedicto: ... Deixa-me perplexo que um homem, ao ver o quanto um outro homem fica bobo quando devota suas ações ao amor e depois de haver ridicularizado essas loucuras superficiais nos outros, torna-se ele mesmo, o tema do seu próprio menosprezo ao apaixonar-se; e Claudio é esse homem. Conheço-o de quando para ele não havia outra música que a dos tambores e dos pífanos, e agora ele prefere escutar o tamboril e a flauta. Conheço-o de quando teria andado dez milhas a pé, só para ver uma boa armadura, e agora ele é capaz de passar dez noites em claro só para inventar o modelo de um novo gibão. Tinha o costume de falar claro e ir direto ao ponto, como um homem de bem, como um soldado, e agora ele é a gramática ambulante, e pedante: suas palavras são um banquete fantasioso, feito de muitos pratos exóticos. Será que eu poderia ser assim convertido a enxergar com tais olhos? Não sei dizer: acho que não. Não posso jurar que o amor não vá se transformar em uma ostra, mas um juramento posso fazer sobre esta questão: até o amor tenha feito de mim uma ostra, ele jamais fará de mim um paspalhão desses que se vê por aí. Uma mulher pode ser linda, e eu fico firme; outra pode ser inteligente, eu fico firme; uma outra pode ser virtuosa, eu fico firme; até que as todas as boas graças estejam em uma só mulher, não há uma só mulher que caia nas minhas graças. Terá de ser rica, isso é certo; inteligente, ou não me interessa; virtuosa, pois do contrário não faço proposta de contrato com ela; formosa, porque se não, nem a deixo chegar perto de mim; terá uma conversa agradável, saberá tocar música como ninguém, e seu cabelo será... da cor que Deus quiser. Arrà! Aí que vem o Príncipe e Monsieur L’Amour! Vou me esconder ali no caramanchão. “( pág. 55; pág. 56)

Todos falam das virtudes de Beatriz e algumas de Benedicto, concluindo que ele não é digno dela, antes de voltarem para dentro. Deixado sozinho, Benedicto fica surpreso e jura retribuir o amor de Beatriz declarando:

“Benedicto: ... Quando eu disse que morreria solteirão, não pensava que viveria até ter a oportunidade de me casar. A[i vem Beatriz. Pelo sol que ilumina este dia, que linda mulher! Vejo nela alguns sinais de amor. (pág. 67)

Beatriz ouve uma conversa entre Lady Hero e suas criadas sobre Benedicto, que está supostamente apaixonado por ela. Ao saber disso, ela fica chocada e descobre que também ama Benedicto.

“Beatriz ( indo à frente): Que fogo faz queimar meus ouvidos? Será que é verdade tudo isso? Por orgulhosa e insensível, vou assim tão desprezível? Nunca mais serei desdenhosa! Adeus virgem orgulhosa! Não há glória que sobreviva a um tal tipo de vida. Benedicto, não deixeis de me amar! Eu saberei te recompensar. Domesticando o meu lado selvagem coração ao comando de tua doce mão. Se é verdade que me amas, minha bondade vai te pôr em chamas. E tu vais ter a esperança de unir nossos amores em sagrada aliança. Os outros dizem que tu Benedicto, és merecedor, E eu acredito, nem tanto neles, mas sim por amor.” ( pág. 74; pág. 75)

Na véspera do casamento, Dom Pedro anuncia a Leonato, Benedicto e Claudio que irá embora após o casamento de Hero e Claudio, levando Benedicto consigo. Benedicto admite aos outros que é um homem mudado.

“Benedicto: Bem qualquer um sabe como cuidar de uma dor, menos quem a sente.” ( pág. 76)   

Benedicto  admite aos outros que é um homem mudado. Sua expressão triste, rosto recém-barbeado são sinais claros de que está apaixonado por Beatriz:                                

“Claudio: Não, mas o ajudante do barbeiro tem sido visto com ele, e o antigo ornamento de sua face já foi usado para rechear bolas de tênis.

Leonato: Na verdade ele parece mais jovem sem barba.

Dom Pedro: Sim, e massageia-se com almíscar. Será que vocês não conseguem cheirar o que lhe vai por dentro?

Claudio: Isso é o mesmo que dizer que o doce rapaz está apaixonado.” ( pág. 77)

 Vemos nesse momento da história que a trama de Dom Pedro para reunir Beatriz e Benedicto se sobrepõe à trama de Dom John para atrapalhar o casamento de Claudio e Lady Hero. Benedicto começou a reconhecer o seu amor por Beatriz e começou a investir na aparência, como raspar a barba que Beatriz não gosta. Ele se prepara para pedir a mão de Beatriz a Leonato, que é o parente mais próximo de Beatriz.

Dom John dá o próximo passo acusando Hero de infidelidade:

“Don John: Pois até aqui eu vim justamente para vos contar; e, encurtando uma história longa, e não é de ontem e não é pouco que se ouve falar dessa moça, a senhorita em questão é desleal.

Claudio: Quem? Hero?

Dom John: A própria. Hero filha de Leonato, Hero sua noiva; a Hero de qualquer homem.

 Claudio: Desleal?

Don John: A palavra é boazinha demais para sequer esboçar-lhe toda  a maldade. Eu poderia dizer que ela é mais que isso: pense o senhor em um nome pior, e eu encaixo nele. Não se espante, não antes ter provas; venha comigo hoje a noite, e o senhor virá que entram pela janela de seu quarto de dormir até mesmo na véspera de se casar. Se ainda assim o senhor a ama, case-se com ela amanhã; no entanto, o melhor para sua honra seria mudar de ideia.

 Claudio: Será possível?

Dom Pedro: Recuso-me a acreditar.

 Dom John: Se ousardes não acreditar em vossos próprios olhos, é melhor mesmo não confessar o que sabeis. Se quiserdes acompanhar-me, eu vos mostrarei coisas suficientes; e quando tiverdes visto e ouvido mais, podeis proceder de acordo.

 Claudio: Se eu vir alguma coisa hoje à noite... ora eu não me caso com ela amanhã, frente a congregação, onde deveria desposá-la, onde vou fazê-la passar vergonha.” ( pág. 80 ;pág81)

Mais adiante, Cláudio e Dom Pedro o seguem, dizendo que a envergonharão publicamente se isso for verdade.

Enquanto isso Hero está em seu quarto, sendo vestida por Margarete para o seu casamento. Ela manda Ursula acordar Beatrice porque precisa dela. Hero está nervosa antes do casamento e diz que seu coração está muito pesado. Margarete tenta aliviar o clima dizendo:

“Margarete: Logo, logo a senhorita sentirá o peso de um homem sobre o seu peito. “( pág. 91)

Lady Hero a repreende pela audácia em dizer tal coisa, quando Beatriz entra. Levemente resfriada. Hero chama as mulheres para terminarem de vesti-la. Mas o clima entre elas não é nada bom.

Entram o mestre da guarda Corniso, e o chefe da guarda local, Vinagrão, com uma notícia de prisão. Leonato está tomado pelos festejos de casamento e pedem que sejam breves:

“ Leonato: E eu ouviria de bom grado o que os senhores tem a dizer?

Vinagrão: Deveras, senhor. Vossa grande Guarda, esta noite, tirante a presença de Vossa Senhoria, detemos dois ou três tratantes que andavam por aí vagabundeando como todos em Messina.” (pág. 97)

Leonato encontra-se sem paciência alguma para escutar os dois, Corniso e Vinagrão. Por serem prolixos, acabam não indo direto ao assunto. E Leonato perde a paciência e diz para que os dois o deixem em paz. Mas quem serão os presos?

Todos estão reunidos no casamento. Só que no início da cerimônia Claudio diz:

“Claudio: Quero dizer que não me caso, pois não vou me unir minha alma a uma notória devassa.” ( pág. 101)

Hero nega  ter sido infiel, mas, quando Dom Pedro confirma as palavras de Claudio, ela desmaia. O desmaio para todos é a confirmação de culpa.

O plano de Dom John de impedir o casamento está dando certo:

“Dom John: Que vergonha! Basta milorde, que essas coisas não se devem dar nomes, nem tampouco devem ser mencionadas. Não é pudica o suficiente a nossa língua para falar-se dessas coisas sem ofender. Assim sendo, formosa senhorita, fico condoído com o seu total desgoverno. ( pág. 104)

E todos se retiram. Beatriz pensa que Hero está morta, mas seu pai, Leonato, diz:

“ Leonato: Ó destino, não retires tua mão pesada de sobre minha filha! A morte seria mais bela coberta que se poderia desejar para uma vergonha dessas.” ( pág. 105)

O Frei Francisco está convencido da inocência de Hero e sugere que eles finjam que ela está morta até que sua inocência seja provada.

 “Frei Francisco: ...Vamos Lady Hero, morra para viver. Quem sabe este casamento não está apenas adiado? Tenha paciência e persevere.” (pág. 111)

Deixados sozinhos, Beatriz e Benedicto acreditam na inocência de Lady Hero. E acabam se declarando um para o outro.

“Benedicto: Juro por minha espada que você me ama, e terá que me engolir o que disse quem disser que não a amo.

Beatriz: O senhor não vai engolir o que disse?

Benedicto: Nem com o melhor dos molhos. Estou declarando que te amo.

Beatriz: Ora, mas então... Deus que me perdoe.

Benedicto: De que pecado, doce Beatriz?

Beatriz: Você me interrompeu em boa hora; eu estava a prestes a lhe declarar meu amor.

Benedicto: pois declare, com todo o seu coração.

Beatriz: Eu te amo com tanto do meu coração. Que não me sobra coração para declarar coisa nenhuma.” (pág. 112)

 Benedicto pergunta o que pode fazer para ajudar, e Beatriz tem apenas um pedido:

 “Beatriz: Matar Claudio!” (pág. 113)

Benedicto se recusa. Beatriz não se conforma por não ter a força de um homem e ser impotente:

“Beatriz: ... Ah, se eu fosse homem! Conduzindo-a pela mão, falsamente, até o momento até andarem de mãos dadas, para então, em acusação pública, numa infâmia revelada nua e crua, num rancor desenfreado...Ah, Deus, se eu fosse homem! Comia-lhe o coração em praça pública.” (pág. 113)

Convencido da inocência de Hero, Benedicto sai para desafiar Claudio. Ele terá que se explicar.

Enquanto isso, Borracio e Conrad são levados a um interrogatório e dois sentinelas testemunham contra os dois. Eles ouvem Borracio confessar seu crime, acusando a Lady Hero injustamente.

 A morte de Hero é divulgada e todos encontram-se abatidos com tal decisão. Claudio lamenta, mas não se arrepende de sua decisão de não ter se casado com ela. Lonato perde a paciência com Claudio:

“Leonato: Será que podes mesmo se afastar-me de ti? Mataste minha filha; se me matares moleque, terá matado um homem.” (pág. 124)

A história vai chegando ao clímax à medida que as subtramas e  as histórias dos personagens chegam ao auge. Claudio encontra-se profundamente arrependido com a morte de Lady Hero. As duras críticas desferidas por Leonato a Claudio causaram um profundo arrependimento.

Antonio o desafia para um duelo com tanta veemência que até Leonato fica surpreso. Enquanto os velhos vão embora, Benedicto entra. Claudio e Dom Pedro com ele, mas Benedicto não está para brincadeiras e corta a amizade com eles e desafia Claudio para um duelo:

“Claudio: Que me livre de um desafio!

Benedicto: (dirigindo-se a Claudio): Você é um canalha. Não estou de brincadeiras. Mantenho como boas as minhas palavras, e o senhor está desafiado como, quando e com e com que armas que quiser. Aceite o meu desafio, ou eu o denuncio sua covardia. O senhor matou um doce dama, e essa morte cairá sobre a sua cabeça. Fico aguardando uma resposta sua.” (pág. 127)

Claudio ironiza o pedido de desafio dizendo:

“Claudio: Pois bem, eu irei ao seu encontro, que é para poder me divertir. (pág. 127)

Prometem se encontrar para um duelo. Até que entram os homens da guarda, acompanhados do Sentinela e do Conrado e Borracho. Os dois confessam tudo, acrescentando que Margarete é inocente, Claudio se sente culpado com tudo. Leonato pede que informe ao povo de Messina que Lady Hero era inocente e morreu. Claudio, emocionado, promete se casar com uma sobrinha de Leonato que se parece com Lady Hero.

Benedicto pede ajuda a Margarete para marcar um encontro com Beatriz. Enquanto isso ele tenta escrever uma poesia de amor.

“Benedicto: Não encontro rima para “minha dama” que não seja “minha cama”, um rima inocente e em tudo inconveniente; para “lindo adorno”, “lindo corno”: uma rima impura, uma rima dura; para “instruído” , “obstruído”; uma rima obtusa, muito confusa, todos são finais ominosos por demais! Não, eu que não nasci sob influência de um planeta versejador, nem sei namorar em termos festivos. (pág 138)

Quando Beatrice chega, ele diz que desafiou Claudio e está esperando uma resposta. Eles se provocam um pouco:

“Benedicto: Tu e eu somos inteligentes demais para namorar em paz.” (pág. 139)

Beatriz confessa que não está bem. Enquanto conversam, Ursula chega correndo com a notícia da trama de Dom John e os três vão para a casa de Leonato. Quando chegam na casa de Leonato, algumas notícias, como a comprovação da inocência de Margarete.

Claudio chega disposto a casar com a noiva desconhecida:

“Claudio: Por essa eu te devo uma. Mas aí vêm outros assuntos a se tratar. Quem é a dama de quem devo tomar posse?” (pag146)

Lady Hero é desmascarada  e declara a sua inocência e diz:

“Hero: (tirando a máscara) E quando eu era viva fui tua outra esposa. E quando o senhor amou, foi meu outro marido.

Claudio: Uma outra Hero!

Hero: Nada mais certo: uma Hero morreu aviltada, mas eu estou viva e, tão certo como estar viva, sou donzela. (pág. 146; pág. 147)

Chega a notícia de que Dom John foi preso. E todos começam a dançar para comemorar um casamento duplo.

Fico por aqui e indico (podemos dizer assim!) essa comédia romântica: “Muito Barulho por nada”, de William Shakespeare. Um livro que merece um lugar de “HONRA” na sua estante.


Data: 08 maio 2024 | Tags: Teatro, Comédia


< Sonhos de uma noite de Verão A comédia dos erros >
Muito Barulho por nada
autor: William Shakespeare
editora: L&PM
tradutor: Beatriz Viegas-Faria

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