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A Megera Domada

“A Megera Domada”, de William Shakespeare, é uma das comédias mais famosas do autor. Ela foi escrita entre 1595 e 1596, e narra as confusões criadas entre os pretendentes da jovem e delicada Bianca e sua irmã, a irascível Catarina. Essa peça é uma das favoritas do grande público. O pai, que se chama Batista, um controlador, condiciona o casamento da linda Bianca com o enlace de sua irmã mais velha. É nesse cenário que a história começa. A peça é uma crítica aos costumes da época, que passa por uma transformação moral, ética e a própria ideia de casamento.

Se você quiser assistir a essa peça, eu recomendo assistir no YouTube a uma versão muito antiga (1929), mais “sensacional” de “A Megera Domada”, com Douglas Fairbanks e Mary Pickford. Os dois arrasam. É só escrever “The Taming of the Shrew”, Movie 1929, e vocês vão se divertir muito.

“A Megera Domada” é uma comédia que tem cinco atos. A peça revela um relacionamento para lá de problemático entre a megera Catarina (Kate) e o excêntrico e abusado Petrúquio, que está determinado a dobrar o temperamento de Catarina e ganhar o seu dote.

A peça tem uma característica peculiar: trata-se de uma peça dentro de uma peça. Um funileiro chamado Sly torna-se alvo de uma brincadeira de um Lorde. Ao encontrar Sly bêbado em uma taverna, o Lorde  e seus homens convencem Sly  de que ele é um senhor. Quando ele se recupera da bebedeira, todos dizem que ele é um senhor e que na verdade esteve louco há alguns anos. Ele não acredita em um primeiro momento, mas, quando ouve falar de sua esposa, um pajem vestido com roupas femininas, ele muda de opinião e assume que é um senhor como todos dizem que ele é. Ao tentar ficar sozinho com sua “esposa”, todos lhe dizem que pertencem a um trupe de atores de teatro que vieram apresentar “A Megera Domada”.

Vamos à história?

Tudo começa em um bar. Sly está bêbado, e a Taverneira não está aguentando a presença dele, pois tem certeza de que ele não vai pagar pelo que consumiu. Até a chegada de um caçador, que tenta convencer Sly de que ele é um lunático e que ele havia dormido por muitos anos. Ao receber essa informação, Sly começa a ficar um pouco confuso com essa versão sobre sua história que estava sendo contada para ele. E a história é que ele na verdade não era um funileiro, mas um senhor casado com uma dama. No meio dessa versão, ele pergunta:

“Sly: Então eu sou lorde, e tenho uma tal lady? Será que sonho? Ou sonhava antes? Não estou dormindo. Vejo ouço e falo. Cheiro o que é doce e apalpo o que é suave, pois vai que eu sou nobre de verdade. Não Christopher Sly, o funileiro. Pois tragam a nossa dama aos nossos olhos, e mais um copo de cervejinha. (pág. 436)

Um grupo de atores chega à taverna e se oferece para encenar uma peça de história para Sly e sua esposa. O Lorde faz seu jovem pajem se vestir como a nobre esposa de Sly e contrata um grupo para encenar a peça para Sly.

A trama principal da peça começa em Pádua, aonde chega o jovem estudioso Lucêntio com seu servo Trânio. E logo avistam Batista e suas duas filhas: Bianca e Catarina. Bianca é seguida por dois pretendentes, Grêmio e  Hortênsio, enquanto Catarina é dura e estúpida e sem qualquer paciência  para todos do sexo masculino.

Batista deixa claro aos pretendentes de Bianca, sua filha mais nova, que ela não se casará até que sua filha mais velha, Catarina, encontre um marido.

 “Batista: Cavalheiros não me importunem mais, pois estou firmemente resolvido. Não hei de conceder minha caçula antes de eu ter marido para a mais velha, se algum dos dois amar, já que os conheço e a ambos quero bem a Catarina, terá licença para cortejar.” (pág. 443)

 Quando pai dá o seu veredito, Bianca diz para sua irmã:

Bianca: Irmã, fique contente, eu já estou triste. Senhor ao seu prazer me submeto. Ficam comigo a música e os livros. Com eles me ocupo mesmo só. ( pág. 443)

Apoiado pelo seu pai, Lucêntio viajou de Pisa para estudar na Universidade de Pádua. Seu servo Trânio espera que eles não  se deixem levar por uma vida estoica, ou seja, só voltada aos estudos. O relacionamento entre esses dois personagens tem  uma particularidade: é maior do que a relação entre servo e mestre. São amigos de longa data.

 Trânio planeja  o contrário, ele quer  encontrar tempo para se divertir na nova cidade. Acontece que Lucêntio se apaixona por Bianca. Nessa altura, estamos com três apaixonados por Bianca e todos morrendo de medo de Catarina.

“Lucêntio: Ah, Trânio, até sentir como é verdade jamais pensei fosse possível ou provável. Mas assim à toa, eu só olhava. Eu descobri que existe um amor perfeito. E com franqueza eu digo a você, em quem confio e sabe os meus segredos. Como Ana os da rainha de Cartago, meu Trânio, eu queimo eu choro, eu vou morrer se não conquistar essa moça tão doce. Dê-me um conselho, Trânio; eu sei que pode. Me ajude, Trânio eu sei que há de querer”.( pág. 445)

Por saber que o pai dela não aceitará pretendentes, ele decide se disfarçar de professor e cortejar secretamente Bianca. Como Lucêncio é esperado em Pádua e sua ausência será notada, ele instrui seu servo Trânio a assumir sua personalidade. E Lucêntio  assume uma outra identidade como tutor de Bianca.

Enquanto isso, um novo elemento chega a Pádua. Seu nome é Biondello, outro ajudante de Lucêntio. Ele chega e vê Trânio vestido com as roupas de seu mestre.

 “Trânio: É o que o amo se case com a caçula, por ele não por mim, o aconselho a ver como se porta se há estranhos. Quando estávamos sozinhos eu sou Trânio, mas fora isso , sou Lucêntio, o amo.” (pág. 448)

Biondello concorda em se passar como servo de Trânio (que na verdade está  se fingindo de Lucêntio) para entrar em contato com Batista.

Um outro personagem chega a Pádua vindo de Verona  procurando uma esposa rica. Seu nome é Petrúquio. Ele chega acompanhado de seu servo Grumio . Petrúquio está procurando uma esposa. Hortênsio, seu amigo e pretendente de Bianca, promete que vai encaminhá-lo ao pai de Catarina (Batista), mas pede que o apresente a Bianca como professor de música, para que, disfarçado, consiga seduzi-la.

Hortênsio amigo estimado de Petrúquio,  também diz que existe uma mulher muito bonita e rica com quem ele poderia se casar. Ele previne que o temperamento de Catarina é simplesmente insuportável. Impossível de se conviver. Petrúquio, ao invés de desanimar, se anima com o desafio.

Petrúquio não se deixa abater e nem se intimidar pelas histórias contadas sobre Catarina e decide que vai correr atrás:

“PetrúquioPetrúquio: Calma. Hortênsio, não sabe o que o ouro faz. Basta me dar o nome do pai dela, que eu conquisto nem que urre tanto, quanto o trovão nos temporais de outono. ( pág. 452)

Hortênsio pede a Petrúquio que o ajude a conseguir a mão da jovem e bela Bianca, apresentando-o a Batista (

o pai de Bianca e de Catarina). E previnem PetrúquioPetrúquio:

“Grêmio: Vai ser difícil como uma mulher assim. Mas se quer mesmo que Deus o proteja; e eu ajudarei no que eu puder

PetrúquioPetrúquio: Estou vivo?

Grumio: E se não a conquistar eu a enforco.

“PetrúquioPetrúquio: E porque estou aqui pra isso? Um barulhinho me afeta os ouvidos? Será que nunca ouvi um leão rugir? Ou o mar perturbado pelos ventos. Dar guincho como javalis feridos? Já não ouvi troar canhões no campo, e nem artilharia dos trovões? Já não ouvi, na hora da batalha bater de armas, trompas e relinchos? E falam de uma língua de mulher que não faz a metade do barulho de uma fogueira para assar castanhas? Vão assustar meninos com mosquitos?” ( pág. 456)

Resumindo, podemos dizer que todos os personagens têm algo em comum. Hortênsio e Grêmio  desejam encontrar uma esposa. E Bianca é a preferida de todos. E agora tem mais um pretendente, Lucêntio. Só que o pai, Batista, só concederá a mão de Bianca se Catarina, a mais velha, se casar primeiro (como já foi dito).

Petrúquio é apresentado ao pai de Catarina, Batista. Petrúquio é um rico cavaleiro de Verona, tem um servo chamado Grumio e é amigo de Hortênsio. E ele tem uma ideia fixa: vai se casar com Catarina, mesmo sabendo do temperamento explosivo dela, e ponto final.

Na casa de seu pai, Batista, Katarina provoca e intimida a todos. Chegam Grêmio um dos pretendentes de Bianca, juntamente com Lucêntio disfarçado de professor, Hortênsio disfarçado de professor de música, e Trânio (disfarçado de Lucêntio). Petrúquio anuncia a intenção de se casar com Catarina e os dois professores se apresentam.

Ele e Batista (o pai de Catarina) conversam, fazem as tratativas do casamento com Catarinam o que inclui o dote das terras de Batista.

“Petrúquio: Senhor Batista, o meu caso tem pressa e lazer para namoro eu tenho pouco. Conheceu o meu pai, hoje eu sou ele único herdeiro de seus bens e terras, que ao invés de gastar eu aumentei. Se eu conquistar o amor de sua filha. Diga: que dote me virá com a noiva?

Batista: Quando eu morrer, a metade das terras; e já, de posse, vinte mil coroas.

 Petrúquio: Contra esse dote eu garanto a ela. Na viuvez, se a mim sobreviver. Todo o que tenho, seja em terra ou posse. Vamos, pois, redigir contratos claros. Pra que ambos saibam o que estão jurando.

Batista: Sim, depois que obtiver o principal, ou seja, o seu amor que é crucial

Petrúquio:  Isso é bobagem. Pois lhe digo, pai, sou tão firme quanto ela é orgulhosa; e quando se confrontam duas chamas. A fúria que as sustenta logo queima. Qualquer foguinho cresce com uma brasa; mas quando o vento forte apaga fogo e tudo. Eu faço o mesmo, e o fogo cede a mim – sou duro, não namoro como infante.” (pág. 465; pág. 466)

Tudo está certo, mas antes de qualquer coisa ele precisa conquistar o amor de Catarina. Enquanto isso não acontece, Hortênsio tenta ensinar alaúde a Catarina e vê o instrumento sendo destruído pela fúria da aluna-louca. Ao contrário de intimidar, isso acaba sendo um elemento de excitação para Petrúquio:

“Petrúquio: Palavra que ela é uma moça decidida; e já a amo umas dez vezes mais. Estou louco para conversar com ela. (pág. 467

Catarina se encontra com Petrúquio e se estabelece um diálogo ríspido por parte de Catarina, mas amansado por Petrúquio em cada flecha argumentativa dirigida contra ele.

Os dois estão aos tapas e em determinado momento chega o pai e o seguinte diálogo se estabelece:

“Batista: Oh filha está tristonha?

Catarina: Me chama? Pois vou lhe contar quer demonstrou grande zelo paterno desejando que que case com um maluco, cafajeste brigão e desbocado, que quer resolver tudo no grito.

Petrúquio: Meu pai, escute: o senhor e o mundo estão errados do que dizem dela. Se ela é a megera, é de caso pensado – ela é tão tímida quanto uma pomba; não se esquenta, é morninha como a aurora; em paciência ela ganha de Criselda. E em caridade ganha de Lucrécia. Pra concluir, nós nos demos tão bem que o casamento sai neste domingo.” ( pág. 473)

Casamento está marcado  e agora resta a seguinte pergunta: quem ganhará o amor de Bianca?

Lucêntio e Hortênsio, disfarçados de professores, instruem Bianca. Enquanto fingem ensiná-la, Lucêntio revela a sua verdadeira identidade e intenções.

Chega o dia do casamento de Catarina com Petrúquio. Ele está totalmente atrasado.

Lucêntio conquista o coração de Bianca ao cortejá-la com uma tradução latina sobre a arte do amor. Hortênsio tenta através da música, mas Bianca se apaixona mesmo por Lucêntio.

Sabendo que seu plano havia falhado,  Hortênsio resolve se casar com uma viúva rica. Trânio garante a aprovação de Batista para Lucêntio se casar com Bianca propondo uma grande soma de dinheiro para se casar com ela. Só que há um problema:  ambos em seus disfarces precisam encontrar um velho para desempenhar o papel de pai de Lucêntio. Uma tarefa complicada. O suposto pai de Lucêntio precisa dar a garantia do dinheiro em dote.

 

Surgem agora os preparativos para o casamento de Catarina. Todos esperam pelo noivo  Petrúquio, e ele nada de aparecer.

“Catarina: A vergonha é só minha. Fui forçada a dar a mão, contra os meus sentimentos, a um cafajeste louco e caprichoso. Com pressa pra noivar, mas não pra boda. Eu disse a todos que ele era maluco, que faz piadas pra esconder que é grosso, pra ser tido como brincalhão. Ele namora mil, marca o casório, planeja a festa, faz correr os banhos, mas nunca casa com quem namorou. O mundo vai se rir de Catarina. Dizendo:” É a mulher daquele louco”. Isso se ele aparece para casar. ( pág. 482)

 

Todos estão reunidos para o casamento,  e nada do Petrúquio chegar. Até que subitamente Petrúquio chega, mas vestido com uma roupa totalmente inadequada a um casamento. Parecia tudo menos uma roupa de casamento. Esse comportamento causa um grande alvoroço proposital na tentativa de espelhar o comportamento insensato de sua futura esposa.

 

Enquanto isso, Trânio (ajudante de Lucêntio) precisa achar um suposto pai para Lucêntio que confirmaria a situação financeira dele. Em outras palavras, Lucêntio precisa mostrar bala na agulha para se casar com Bianca.

 “Trânio: Patrão, o que nós estamos precisando é agradar o pai dela – e para isso. Como já disse antes pro senhor vou conseguir um homem – qualquer um pode servir, nós damos um jeito nele – para o papel de Vicentino de Pisa. Quem dará garantias, cá em Pádua, de soma ainda que a prometida. Você goza seu sonho sem problemas tendo a licença de se casar com Bianca.” ( pág. 487)

Bem, só para entender, Vicentino é o nome do pai verdadeiro de Lucêntio. Só que precisam encontrar alguém que exerça o papel de Vicentino, pai de Lucêntio, para confirmar a situação financeira e mostrar a Batista, o pai de Bianca,  permitindo assim o casamento de  Bianca com Lucêntio. Mas a pergunta que ele faz é a seguinte:

“Lucentino: Pois se o meu companheiro mestre-escola não vigiasse a Bianca o tempo inteiro, nós podíamos fugir para casar. Uma vez feito, nem a gritaria do mundo inteiro tira ela de mim  ( pág. 487)

 Petrúquio e Catarina voltam da igreja onde acabaram de se casar. Petrúquio anuncia que ele e Katherine devem partir imediatamente, evitando o elaborado banquete preparado para o casamento.

“Catarina: Muito bem faça  como quiser. Eu não vou hoje, nem amanhã, só vou quando quiser. Está ali a porta; é aquele o seu caminho. Vá trotando, enquanto a bota está nova. Mas eu só vou quando tiver com vontade. Pelo visto vai ser nocivo trombudo, pra ser mandão assim, já de saída. ( pág. 490)

Petrúquio exige que ela vá com ele para Verona. E Petrúquio anuncia:

 “Petrúquio: Por ordem sua e Kate, todos irão. Obedeçam a noiva convidados. Vão a festa comemorar, brindar bem alto a sua virgindade. Podem festejar bem, ou se enforcar. Mas minha linda Kate tem de ir comigo. Não gritem, ou se agitem, do que a mim pertence eu sou senhor. Ela é meus móveis, utensílios   casa, meus pertences, meu campo meu celeiro, meu cavalo, meu boi, meu asno meu tudo. E aqui está ela. Que a toque quem ousar! Darei o que fazer ao mais garboso. Quem tentar me impedir de ir pra Pádua, puxe a espada, Grumio, estou cercado. Se é homem, salve agora  sua ama. Não tenha medo, Kate; ninguém a pega, pra defende-la eu enfrento  um milhão ( saem Petrúquio, Catarina e Grumio)

 Batista:  Pois que vá esse casal tranquilo. ( pág. 491)

 

Catarina quer ficar, mas Petrúquio a leva  meio que quase a força para Verona. Enquanto isso na casa de Petrúquio  Grumio e outros servos se preparam para chegada do seu mestre e de Catarina. Todos estão preocupados, pois já ouviram  as fofocas a respeito de Catarina. E os problemas causados durante a viagem de Pádua a Verona. Catarina havia caído do cavalo. Todos estão alvoroçados. Fazendo Curtis ( um s=dos servos) dizer o seguinte: :

 Curtis: Mas pelo que diz ele é mais megera do que ela. (pág. 495)

 Sabemos que Petrúquio também não fica atrás em termos de comportamentos disfuncionais.  Ele é rude com seus servos e faz exigências cruéis. E Curtis observa que seu patrão é mais megero do que a megera Catarina. Ele é rude com seus servos e faz exigências de uma forma estúpida. Ele corrige, age como um louco e é rude com todos os seus servos. Ele corrige Catarina e finge encontrar algo errado na comida que seus servos trazem para ela. Isso na verdade é um plano para domesticá-la, negando-lhe comida e impedindo-a de dormir.

Quando o servo traz a comida, ocorre uma mudança, Catarina fica mais afável que seu marido:

 Catarina: Marido por favor, não se apoquente. Com boa vontade a carne estava boa.

“ Petrúquio: Eu disse Kate, estava queimada e seca. Eu fico proibido de tocá-la, porque provoca  cólera e enraivece. Melhor ficarmos ambos em jejum, sendo que somos todos dois coléricos, do que comer carne tostada. Paciência amanhã tudo se ajeita. Mas essa noite jejuamos juntos. E agora venha ao leito nupcial. ( saem) ( pág. 498; pág. 499)

Petrúquio se direciona ao público e diz:

“ Petrúquio: Com muita astúcia meu reino e espero terminá-lo como sucesso. Meu falcão já está oco de faminto, e até bancar o voo ela não come, pois como ela está ela não vê a isca. Hei de encontrar o caminho pra moldar minh’ave-fera até que reconheça o chamado que a traz para o seu dono, ou seja, vou ficar de olho nela, como em ave que custa a obedecer. Não comeu e nem come carne como hoje. Como na carne um defeito inventado. Eu encontro na cama ou no enxergão, jogo longe os colchões e travesseiros, pra cá as colchas pra lá os lençóis, sempre insistindo em meio a baderna, que tudo é feito por respeito a ela. Vai ficar a noite toda de vigília. Se cochilar eu grito e esbravejo, pra mantê-la acordada com barulho. Assim se mata a esposa com bondade, e assim acabo com o gênio dela. E quem domar melhor uma megera. Por favor fale logo, sem espera. ( sai) (pág. 499; pág. 500)

Biondelo chega com uma notícia maravilhosa. Acaba  de achar um “anjo velho” que vai se disfarçar de Vicentino (pai de Lucêntio) para salvar o seu casamento:

“Biondello: Patrão, estou de vigia a tanto tempo. Estou de língua de fora, mas achei um anjo velho descendo a colina, que acho que serve.

Lucêntio: Mas quem é Biondello?

Biondello: Patrão, um mercador, ou um pedante. Não sei bem, mas está muito bem vestido. E o andar é do jeito de seu pai.” ( pág. 502; pág. 503)

Com o falso Vicentino, o resto é tranquilo, é garantir o casamento de Lucêntio com Bianca. Trânio convence o mercador a desempenhar com empenho a parte do combinado.

“Trânio: Venha comigo, então pra acertar tudo. Por falar nisso, eu preciso informá-lo. Meu pai é esperado a qualquer dia para avaliar o dote e o casamento, entre eu e a caçula de Batista. Hei e instruí-lo sobre as circunstâncias. Na minha casa terá trajes certo. ( pág. 505)

Em seu novo lar, Catarina é maltratada por Petrúquio e lhe é negada comida:

“ Catarina: Quanto mais me maltrata mais se irrita, casou pra me fazer morrer de fome? Os mendigos à porta de meu pai, quando pedem recebem logo esmola; se não, tem caridade em outro canto. Mas eu, que nunca soube mendigar, nem, na verdade, precisei pedir, morro de fome e de falta de sono. Sempre acordada por pragas e gritos, e alimentada só pela zoeira. E o que me irrita mais do essas faltas é ele dizer que tudo é por amor, dando a entender que alimento ou sono fossem por modéstia – e até fatal. Eu lhe peço: me arranje uma comida; sendo saudável serve qualquer coisa.” ( pág. 505; pág. 506)

Enquanto isso, em Pádua, Biondelo  mostra quem vai interpretar o pai de Lucêntio. Ele apresenta a Trânio, que mente e avisa ao comerciante que sua vida está em perigo:

“Trânio: Pois muito bem senhor por cortesia. Isso eu resolvo, e ainda aconselho: mas me diga antes conhece Pisa?

Pedante: Sim Senhor, já lá estive muitas vezes; Pisa famosa por seus homens sérios.

Trânio: E dentre esses conheceu Vincentio?

Pedante: Não em pessoa; só de ouvir falar. Um mercador de indizível riqueza. Trânio: Ele é meu pai; e falando a verdade, lembro muito do senhor, em seu aspecto.

Biondello: Pra salvar sua vida, neste aperto, pensando nele eu lhe faço um favor. Portanto, nunca julgue a pouca sorte. Ser parecido com senhor Vincentio; assuma agora o seu nome e o seu crédito, e sinta-se bem-vindo em minha casa, compreendeu? Pois assim pode ficar até a conclusão dos seus negócios. Se achar que é bom aceite a cortesia

Pedante: Acho senhor, e eu o direi para sempre., meu patrono de vida e liberdade.

 Trânio: Vem comigo então para acertar tudo. Por falar nisso, eu preciso informá-lo. Meu pai é esperado a qualquer dia, pra avaliar o dote do casamento. Entre eu e a caçula de Batista. Hei de instruí-lo sobre as circunstâncias. Pra minha casa terá trajes certos. ( pág. 504; pág. 505)

O comerciante concorda em se vestir como o pai de Lucêntio e agradece a Trânio pela ajuda.

 Enquanto isso, na casa de Petrúquio, Catarina reclama do comportamento do seu esposo. Petrúquio a deixa passando fome sob o pretexto de cuidar dela:

“ Petrúquio: Anime-se! Me encare com alegria! Vejo, amor, como foi eficiente. Preparei eu a carne para você. Bondade assim merece um “obrigada”. Não diz nada! Já vi que não gostou, e afinal, foi em vão o meu esforço. Levem o prato.

Catarina: por favor, que fique

Petrúquio: Diz-se obrigado ao menor dos favores. E sem agradecer não toca a carne.

Catarina: Obrigado senhor.” ( pág. 507)

Petrúquio não deixa Catarina comer até que agradeça e, quando ela o faz, ele permite que ela coma. Petrúquio traz um alfaiate e roupas para que Catarina possa usar no banquete de casamento de Bianca com Lucêntio. E as roupas são feitas seguindo as especificações de Petrúquio, mas ele as rejeita. O objetivo é claro, ou seja, é fazê-la concordar com os caprichos e opiniões dele.

 Trânio leva o comerciante (disfarçado de pai de Lucêntio) até Batista. O comerciante garante a herança. E Batista se prepara para o casamento. Batista e Trânio (ainda disfarçado de Lucêntio) e o comerciante vão à casa de Lucêntio em Pádua para discutir os detalhes financeiros do acordo do casamento. Enquanto isso, o verdadeiro Lucêntio e Bianca planejam fugir para uma igreja par se casar.

No caminho para Pádua, Petrúquio chama o sol de lua e Catarina discorda:

“Petrúquio: Vamos! Avante! A casa do meu pai! Senhor Deus como brilha a bela lua.

Catarina: A lua? O sol! Não há luar agora

Petrúquio: Eu digo que quem brilha é a lua.

 Catarina: Mas eu sei que é o sol que brilha forte.

 Petrúquio: Pelo filho de minha mãe, eu mesmo, é lua, estrela, ou o que eu disser, antes que eu vá à casa do seu pai ( passa criado)Podem trazer cavalos de volta. Só sabe discordar e contrariar.

Hortênsio: Ou faz o que ele quer ou não vamos.

Catarina: Já que estamos aqui, vamos em frente. Seja isso lua, sol, ou o que quiser. E se disser que é só vela de sebo, doravante eu concordo inteiramente.

Petrúquio: Disse que é lua.

 Catarina: Está mentindo é o sol abençoado´. Mas não é sol, se você diz que não. E a lua muda como a sua mente. E se acaso quiser mudar de nome. De hoje em diante eu só aceito o novo. ( pág.518; pág. 519)

 Quando Petrúquio e seu grupo chegam a Pádua,  encontram o comerciante e Trânio disfarçados. E, sem que ninguém esperasse, chega o verdadeiro Vincentio, pai verdadeiro de Lucêntio, que está vindo de Pisa e indo para Pádua. Quando chega para encontrar o filho, encontra o Pedante (comerciante) que está disfarçado de Vincentio. Trânio, Biondello e o Pedante estabelecem um diálogo ríspido um com o Vincentio. Ele está prestes a ser levado para a cadeia.

“Batista: O senhor se engana, se engana. Por favor, qual pensa que seja o nome dele?

 Vincentio: Seu nome? Como se eu não soubesse o seu nome! Eu o criei desde os três anos de idade, e seu nome é Trânio.

Pedante: Fora louco estúpido! O nome dele é Lucêntio, único filho e herdeiro das terras que pertencem a mim, senhor Vincentio

 Vincentio: Lucêntio? Aí ele assassinou o seu amo! Eu lhes peço que o prendam, em nome do duque. Aí, o meu filho! Diga bandido, onde está meu filho Lucêntio!

Trânio: Chamem um oficial! ( entra um oficial) Levem esse louco, cafajeste para a prisão. Pai Batista encarrego-o de providenciar para que ele se apresente na hora certa.

Vincentio: Levar-me a prisão?

 Grêm0io: Espere oficial. Ele não irá para a prisão

Batista: Não fale senhor Grêmio. Eu digo que ele vai para prisão.” ( pág. 525; pág. 526)

Batista acredita em Trânio e no comerciante (Pedante), e Vincentio está indo para a cadeia com um policial. Nesse momento, chega Lucêntio com Bianca. Lucêntio confessa o seu engano.

“Lucêntio: É milagre do amor. O amor de Bianca fez-me trocar de posição com Trânio. Enquanto na cidade ele era eu. Eu tive a sorte de poder chegar ao céu sonhado da felicidade. Tudo que Trânio fez por mim foi a mando. Peço por isso perdão pra ele.” (pág. 527)

 Lucêntio  revela as verdadeiras identidades do comerciante (Pedante) e de Trânio. Batista e Vincentio ficam chateados com tudo, mas acabam perdoando em nome da felicidade dos noivos.

 No banquete de celebração do casamento, os diversos personagens masculinos provocam Petrúquiopor ser casado com uma megera. E Petrúquiopropõe uma aposta:

“Petrúquio: Pois eu acho que não. E pra prová-lo vamos mandar chamar as mulheres. E com a esposa mais obediente. A que venha depressa, ao ser chamado ganha a aposta.” ( pág. 531)

 A viúva de Hortênsio e Bianca não aparecem quando são chamadas, mas  Catarina vem imediatamente quando Petrúquio manda buscá-la. Todos ficam surpresos, com a transformação de Catarina.  E no final Catarina faz um discurso em que enaltece a mansidão da mulher.  E  todos ficam maravilhados com a forma como Catarina se expressou. Finalmente a Megera foi domada.

A peça é bem machista para os tempos de hoje.. Mas não podemos no0s esquecer que estmos no século XVI.Mas não deixa de ser engraçada. É uma comédia famosa de William Shakespeare. “A Megera Domada”, de Shakespeare, merece um lugar de “HONRA” na sua estante.


Data: 09 julho 2024 | Tags: Teatro, Comédia


< Noite de Reis Trabalhos de um Amor Perdido >
A Megera Domada
autor: William Shakespeare
editora: Nova Aguilar
tradutor: Barbara Heliodora

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