Noite de Reis
E aqui estamos mais uma vez desfrutando de mais uma obra de William Shakespeare, magistral dramaturgo e poeta. O nome da peça: “Noites de Reis”. É uma comédia romântica que tem um ritmo bem rápido, vários enredos entrelaçados, identidades trocadas e muito quiproquó, mas sem perder a poesia. Essa comédia tem cinco atos e foi escrita entre 1600 e 1602. Separada de seu irmão gêmeo, Sebastião, em um naufrágio, Viola é uma mulher que se transforma em homem, se autodenomina Cesário e se torna serva do duque Orsino. Duque Orsino é apaixonado pela Lady Olívia, mas o que ninguém imaginava é que a condessa se apaixona por Cesário, que na verdade é Viola. Isso até aparecer Sebastião, dando uma reviravolta na história. A confusão está armada. E o riso e a poesia também.
Eu li o livro e assisti ao filme: ima delícia. Assisti no streaming. Adorei! Os diálogos ainda estavam ainda bem frescos em minha cabeça. Foi um acerto ter lido primeiro e depois visto o filme. Recomendo essa dobradinha.
https://tv.apple.com/br/movie/a-noite-de-reis/umc.cmc.5kgtntj5weialhzv0yimmo8bk
Vamos à história?
No reino da Ilíria, um nobre chamado Orsino fica ouvindo música, ansiando por Lady Olívia com Cúrio e outros amigos servos. Ele sente que a música combina com o seu humor e confessa o seu amor por Lady Olívia. Até que chega Valentino com a seguinte notícia:
“Valentino: Com licença, senhor, tenho a dizer que não fui recebido; mas da criada dela trago esta resposta: até que se tenha passado o calor de sete verões, o próprio ar não terá a visão de seu rosto descoberto; ela usará um véu, andará como freira enclausurada, umedecerá seus aposentos uma vez ao dia com a água e sal que lhe fere os olhos. Isso tudo para conservar o falecido afeto de um irmão que ela deseja manter vivo e permanente em sua triste lembrança.” (pág. 12)
O duque Orsino não desanima. Acredita que seu amor poderá fazer com que Olívia se esqueça de todas as perdas. Enquanto isso, acontece um naufrágio na costa na Ilíria. Salvam-se o capitão do navio e outros marinheiros, menos o irmão de Viola, Sebastian.
Ela questiona o capitão perguntando onde eles estão e quem governa esse lugar.
“ Capitão: Um duque de alta nobreza, tanto no nome como na índole
Viola: e qual o nome dele?
Capitão: Orsino” (pág. 14)
O capitão também conta a ela sobre o amor de Orsino por Olívia, mas que Olívia rejeitou por causa do luto. Viola então resolve servir ao Duque e se disfarça de menino.
Enquanto isso, Sir Toby está impaciente com o luto vivido pela sobrinha:
“Sir Toby: Mas quer praga é esta que minha sobrinha inventou, tomando a morte do irmão dessa maneira? Estou certo de que preocupar-se é declarar guerra a vida. ( pág. 16)
Maria, a empregada de Olívia, adverte ao Sir Toby que evite de beber e festejar com o Sir Andrew. Sir Toby insiste que Sir Andrew é um cavaleiro rico e talentoso musicalmente falando e conhecedor de línguas. Mas, quando Sir Andrew aparece, ele se revela um tolo. Maria zomba dele facilmente e ele mesmo diz:
“Sir Andrew: O que é pourquoi? Fazer ou não fazer? Agora eu queria ter empregado em aprender línguas todo o tempo que gastei com a esgrima e a dança, e com o nosso esporte favorito: cães atacando ursos acorrentados. Ah, se eu tivesse ao menos seguido as artes!” (pág. 21)
Sir Andrew quer se casar com Lady Olívia, mas quer ir embora porque Olívia não demonstrou interesse por ele. Sir Toby o convence a tentar novamente e eles partem juntos para mais uma folia.
Enquanto isso, no palácio de Orsino, Viola disfarçada de Cesário está na iminência de se tornar alguém importante na vida do Duque.
“Duque: Cesário, tu sabes nada menos que simplesmente tudo. Escancarei para ti até mesmo o livro mais secreto de minha alma. Portanto, meu bom jovem, dirige teus leves passos até ela. Se te negarem a entrada, permanece a porta e avisa a todos que teus pés ali criarão raízes, até que lhe seja concedida a audiência.” ( pág. 24)
Cesário concorda em fazer o que o Duque manda, ou seja, convencer Lady Olívia do amor dele por ela, mas Viola compartilha com o público seu amor pelo Duque Orsino, dizendo:
“Viola: (a parte) não interessa a quem eu corteje, eu queria era eu mesma ser a esposa dele.” ( pág. 25)
Maria, que é a dama de companhia de Lady Olívia, conversa com o Feste, que é um bufão a serviço de Olívia, que deixa o seguinte recado para ele:
“Maria: Não! Ou você me diz onde você esteve, ou eu não abro minha boca o suficiente para dela escapar um fiapo de um farrapo, quando for inventar desculpas esfarrapadas para te salvar a pele. Minha patroa vai te enforcar pela tua ausência. ( pág. 26)
Olívia entra com seu mordomo, Malvólio, e, ao ver o Feste (o bufão), imediatamente ordena que o leve embora. Feste brinca gentilmente com ela. Malvólio insulta Feste e chama suas piadas de um “repertório embolorado”.
Maria anuncia a presença de um jovem cavalheiro que deseja falar com Lady Olívia. Lady Olívia está receosa de que seja alguém ligado ao seu primo Sir Toby.
“Olívia: Vá você, Malvólio. Se é um pedido de noivado do Conde, estou doente, ou mesmo não estou em casa. Ou qualquer coisa para dispensar essa visita.” (pág. 31)
Sir Toby entra bêbado:
“Sir Toby: Bandalheira? Eu desprezo os bandalhos. Tem um lá nos portões.”
Olívia: ai, ai, ai! Mas, então, quem é o tal?
Sir Toby: Se ele quer ser o demônio, que seja, eu não ligo a mínima. Deem-me a minha fé é o que eu sempre digo. Bom, é tudo a mesma coisa.” (pág. 32)
Ela manda Malvólio rejeitar qualquer visita. Ele retorna com a notícia de que o rapaz se recusa a sair. Olívia fica intrigada e, ao saber quem é ele, concorda em falar com Cesário (Viola) a sós.
Cesário (Viola) não sabe quem é Olívia. Ela se apresenta, mas sem revelar o rosto.
“Viola: É beleza sabiamente matizada, com vermelhos e brancos pincelados pela mão suave e habilidosa da natureza. Lady Olívia, a senhora é a mulher mais cruel que já existiu se guardar essas graças para o túmulo e não deixar a cópia neste mundo.” ( pág. 37)
Olívia brinca que deixará uma cópia de sua beleza em forma de listas e insiste que, apesar de todas as boas qualidades do Duque Orsino, não consegue sentir por ele amor. No entanto, Cesário (Viola) diz que, se ele sentisse o amor por Olívia como o Duque, “construiria uma cabana ramos de salgueiro aos portões de sua casa, e visitaria na casa a alma de minha vida”.
Olívia manda Cesário embora e, logo em seguida, pede que Malvólio vá atrás dele para devolver o anel que ele havia esquecido. Na verdade, não havia esquecido anel nenhum, havia sido apenas uma desculpa para que ele retorne para vê-la. E logo depois confessa ao público:
“Olívia: Quero não sei o quê, e tenho medo de descobrir que o meu olhar possa ter incensado a minha mente. Destino mostra a sua força. Eu sei que não sou dona de mim mesma. O que está decretado pelas estrelas é o que deve ser. ( pág. 40)
Sebastião, lembram dele? O irmão de Viola que naufragou e aparentemente é dado como desaparecido. Ele conta ao seu novo amigo, Antônio, um pouco sobre sua história. Ele pensa que sua irmã deve ter morrida, pois atirou-se ao mar depois do barco afundar. Sobre sua irmã ele diz:
“Sebastião: Uma dama senhor, que, embora dissessem que se parecia muito comigo, era por muitos tida como uma linda mulher. Embora eu não pudesse acreditar demais nisso, por admiração e estima posso, contudo, proclamar, com firme convicção que ela possuía uma inteligência que mesmo as mentes invejosas não podiam deixar de considerar brilhante. Agora ela está afogada, meu caro senhor, em água salgada, e eu aqui estou afogando em mais água salgada a memória dela.” (pág. 42)
Antônio havia resgatado Sebastião após o naufrágio e se oferece para ser seu servo. Sebastião recusa, dizendo que está indo ao palácio de Orsino. Antônio decide segui-lo mesmo sabendo que tem muitos inimigos ali.
Quando Cesário (Viola) volta para casa de Orsino, Malvólio o alcança e entrega o anel que Olívia lhe deu e insiste que ele volte.
“Viola: Não deixei anel algum com ela. O que será que está querendo esta dama? Não queira o azar que ela se tenha encantado com minha aparência! Ela bem que me avaliou com o olhar, e de fato tanto que cheguei a pensar que tinha perdido a língua, porque ela ficava falando aos arrancos como se estivesse distraída. Ela me ama, é isso. E a astúcia de sua paixão me envia um convite através por este mensageiro tosco. Ela não quer o anel do meu amo? Ora, ele não mandou nenhum anel. Sou quem ela quer. Se assim, e pelo jeito é, pobre mulher! Seria melhor se ela se apaixonasse por um sonho. Disfarce meu, agora vejo que tu és uma perversidade, por onde coisa ruim muito pode grávido de imaginação como ele é. Como é fácil, para um homem bonito e mentiroso, imprimir suas formas na cera de que são feitos os corações femininos...”( pág. 44; pág. 45)
O pior havia acontecido: Olívia tinha se apaixonado por Cesário (Viola).
Mas enquanto isso numa taberna encontram-se Sir Toby e Sir Andrew bebendo todas. Até que chega Feste (o bufão). E todos começam a cantar uma triste canção de amor, todos cantam até que Maria (criada de Olívia) chega interrompendo aquela seresta em plena cervejaria. Eles continuam a cantar até que chega Malvólio, que tenta interromper, e eles continuam a cantar desafiando Malvólio. Depois que Malvólio vai embora, Maria traça um plano que o farão pensar que Lady Olívia está apaixonada por Malvólio. Sir Toby e Sir Andrew estão felizes com o plano dela. Malvólio que se cuide.
O Duque Orsino encontra-se em êxtase ouvindo música e pede que busquem Feste para cantar a música e, enquanto isso, conversa com Cesário (Viola) sobre amor. Ele questiona quem Lady Olívia ama. E aí surge algo que o público sabe, mas o duque não, que é por quem Lady Olívia devota o seu amor: Cesário (Viola). O Duque pede que ele vá até Lady Olívia e fale sobre o amor febril que ele devota a ela. Mas Cesário (Viola) dá uma outra versão dos fatos e conta uma história para o Duque:
“Viola: Sei muito bem quanto amor as mulheres podem sentir por um homem. Na verdade, elas têm um coração tão leal como o nosso. Meu pai teve uma filha que amou um homem quase que certo da mesma maneira que eu, fosse mulher, teria amado vossa senhoria.
Duque: E qual é a história dela?
Vilola: Uma incógnita milorde. Ela jamais declarou o seu amor, mas deixou esse segredo, como larva dentro de uma rosa em botão, se alimentasse de suas rosadas faces. Ela definhou em tristeza e com melancolia de mórbida palidez deixava-se ficar sentada como estátua de Paciência, sorrindo diante da desgraça. Isso não foi amor? .Nós homens, podemos falar mais promoter mais. Mas na verdade nossas demonstrações são mais que afetos, pois toda vez que provamos muito em amor em juras, mas em pouco em nosso amor.
Duque: Mas a tua irmã, morreu desse amor, meu rapaz?
Viola: Eu sou todas as filhas da casa de meu pai, e todos os irmãos homens também, e, no entanto, eu não sei. Devo ir à casa de Lady Olívia, milorde?
Duque: Sim esse é o nosso assunto. Vai e corre. Entrega-lhe esta joia. E diz a ela que meu amor não se contém dentro das fronteiras, e não aceites uma recusa. ( pág. 60;pág61)
O duque Orsino está crente que Cesário (Viola) está falando sobre a irmã dela, mas na verdade está falando dela própria.
Maria enquanto isso pede que Sir Toby e Sir Andrew e Fabian, que também trabalha na casa de Lady Olívia, se escondam para que possam observar Malvólio, que está indo naquela direção:
Maria: Escondam-se vocês os três no buxeiro. Malvólio está vindo por esta trilha; ele estava um pouco mais adiante, no sol praticando as boas maneiras para com a própria sombra, esta última meia hora. Observem-no, por amor a zombaria. Eu sei que esta carta vai transformá-lo em um idiota contemplativo. Escondam-se, vamos, mas, em nome do deboche, aqui pertinho! ( Enquanto os homens escondem-se, ela deixa cair uma carta.) E tu fica aí quietinha. A[i vem vindo a truta que devemos pescar com as mãos. (pág. 63)
Enquanto isso Malvólio alimenta a esperança e sonhos de se casar com Lady Olívia.
“Malvólio: Não passa de sorte, afinal tudo é sorte. Maria uma vez me disse que ela tem admiração por mim, e eu mesmo ouvi ela dizer algo próximo disso: que se um dia ela se apaixonasse, seria por alguém da minha cor. Além disso, ela me trata com mais respeito do que qualquer um dos que estão a serviço dela. O que devo pensar disso?” (pág. 63)
Malvólio vê a carta deixada por Maria. Sir Toby, Sir Andrew, Fabiano e Maria acompanham o desdobramento da leitura da carta:
“Malvólio: (acompanhando a carta) Por Minh ‘alma é a letra de milady; são dela este X, estes O, estes T, estes A, e é bem assim que ela faz os maiúsculos os P de pau. Não há como não duvidar que por trás disto aqui tem a mão dela.
Sir Andrew: Este X , estes O, estes T e estes A para que isso?
Malvólio: (lendo) Para o amado anônimo, esta e meus melhores votos de felicidades. As frases que ela usa! Com licença lacre. Calma! É a estampa do selo dela: um perfil de Lucrécia que ela usa para lacrar. Só pode ser a minha patroa! Mas para quem seria esta carta?
Fabiano: isso agora vai conquistá-lo, fígado coração e tudo.
Malvólio (lendo) Estou amando, e Júpiter sabe; mas amando quem? Coração ordeno que se cale. Isso eu não conto a ninguém! “ O que mais? Os versos em métricas diferentes! “ Isso eu não conto a ninguém”...Ah, se esse fosse você Malvólio! (pág. 66; pág. 67).
A carta estava tão bem escrita que, em determinado momento, Sir Toby e Sir Andrew disseram:
“Sir Toby: Eu até era capaz de me casar com essa moça, de tão bem montado o estratagema.
Sir Andrew: Até eu também.” (pág. 70)
Fazendo uma recapitulação da história de Shakespeare, temos aqui um triângulo amoroso, conhecemos Sebastião e a pergunta de um milhão de dólares: como seria o reencontro com Viola? Temos ao mesmo tempo o Sir Toby e Sir Andrew e Maria, que organizam uma pegadinha contra Malvólio. E vamos seguindo.
Cesário, a mando do Duque Orsino, se dirige para ver Olívia. Mas no caminho conhece Feste (o bufão). Os dois dialogam de uma forma espirituosa. E Cesário (Viola) chega à seguinte conclusão sobre Feste:
“Viola: Esse camarada é inteligente o bastante para ser o bobo, e para ser um ótimo bobo é preciso uma espécie de sabedoria: ele deve observar o humor daqueles a quem ele está divertindo, a qualidade das pessoas e o momento, e, como o falcão bravio deve examinar um a um os pássaros que se apresentam aos seus olhos. Esse é um ofício tão laborioso quanto a arte de um sábio, pois as piadas que ele inventa são convenientes e sutis, enquanto homens sábios, quando querem fazer piada, arranham a própria inteligência”. (pág. 76)
Mas adiante Cesário (Viola) conhece Sir Toby e Sir Andrew. Sir Toby avisa que Lady Olívia deseja se encontrar com ele:
“Sir Toby: O senhor irá de encontro a casa? Minha sobrinha está desejosa de que o senhor adentre, se é que suas negociações são com ela. (pág. 76; pág. 77)
Olívia chega e se encontra com Cesário (Viola) e pergunta para ele(a):
Olívia: Com sua licença, eu lhe imploro. Depois do último encantamento que você executou aqui em minha casa, enviei um anel em seu encalço. Cometi assim uma injustiça comigo mesma, com meu criado e, receio, com você, que deve ter feito mau juízo de mim. Forcei-o a fazer parte de uma artimanha que você sabia não lhe dizer respeito. O que você poderia pensar? Será que não acorrentou minha honra num poste e trincou-a com todos os pensamentos desamordaçados de que é capaz de um coração tirano? Para alguém de sua percepção me expus-me o bastante. Em vez de meu peito é uma gaze fina que esconde o meu coração. Portanto, deixa-me ouvir o que tens a dizer. (pág. 79)
Cesário (Viola) responde que tem pena de Lady Olívia. E por outro lado Olívia responde e Cesário tenta explicar, sem confessar a sua verdadeira identidade, o motivo pelo qual ele não pode amar Olívia.
“Viola: Por minha inocência, eu juro, e por minha pouca idade: eu tenho um só coração, e ele bate dentro de um só peito e com uma só verdade, e nenhuma mulher o tem. E nunca mulher alguma virá a ser dona do meu coração, só eu. Portanto, adieus, minha boa Dona Olívia. Nunca mais vou deplorar as lágrimas que meu amo derrama pela senhora.
Olívia: Mesmo assim, convido-te a voltar, pois talvez possas convencer esse coração que hoje odeia a gostar do amor de Orsino.” (pág. 81)
Sir Andrew se exaspera, pois havia visto Olívia ser mais afável com o empregado do Duque. Sir Toby e Fabiano convencem Sir Andrew a desafiar Cesário (Viola) para um duelo. Sir Andrew resolve escrever a carta provocando-o para um duelo.
Enquanto isso chega Maria e relata que Malvólio pegou a carta deixada por ela.
“Maria: De modo mais infame, como um pedante que se dá ares de mestre escola, mas dá aula na igreja. Estou seguindo este homem como se fosse eu o seu matador. Ele obedece a cada ponto da carta que eu inventei para enganá-lo. Escancara um sorriso que lhe põe no rosto mais linhas do que tem o mapa novo, com desenho das Índias aumentado. Ninguém nunca viu coisa igual. Mal consigo abster-me de arremessar coisas contra ele. Eu sei que minha patroa vai acertar uma nele; se ela fizer isso, ele vai sorrir e achar que ela está lhe dispensando especial atenção” ( pág. 85)
“Antônio acha Sebastião (irmão de Viola) que se encontra andando pela cidade. Antônio que resolve se juntar a ele pois teme ser visto como um pirata inimigo:
“Antônio: Gostaria que o senhor me perdoasse: não é sem correr perigo que ando nestas ruas. Houve uma vez em que, em batalha naval contra as galés do Conde, fiz um estrago de tal monta quer, se tivessem me apanhado, eu dificilmente teria como reparar ou mesmo justificar meus atos.
Sebastião: Provavelmente matou muitos dos homens dele.
Antônio: O crime não foi de natureza sangrenta, muito embora as características da época e da batalha nos dessem boas razões para derramamento de sangue. Desde então, tudo que lhes foi tomado foi restituído, e a maioria da cidade fez assim pelo bem do comércio. Apenas eu fiz diferente e por isso, se me pegam aqui neste lugar, terei que pagar caro.“ (pág. 86; pág. 87)
Antônio, devido aos seus atos passados de pirataria contra os navios de Orsino, resolve andar com cuidado na cidade. Antônio oferece uma bolsa com dinheiro e diz para Sebastião se encontrarem no alojamento chamado Elefante. Sebastião pergunta por qual razão ele ficará com a bolsa de Antônio:
Antônio: Logo o seu olho vai encontrar alguma coisinha que o senhor terá o desejo de adquirir. E as suas economias me acho, não são para desperdiçarem-se no mercado senhor. (pág. 87)
Enquanto isso, no palácio de Olívia, espera-se a chegada de Cesário, mais uma vez. Mas ela chama por Malvólio. Maria previne a Lady Olívia que ele está muito estranho. É o momento em que ele chega sorrindo e usando meias amarelas com ligas cruzadas. Olívia, quando o vê, diz que precisa tratar um assunto sério com ele, mas ela o acha estranho e pergunta:
“Olívia: Ora, homem, estás bem? Qual o problema contigo?
Malvólio: não estou com a mente obscurecida embora esteja com s pernas amarelecidas. Ela chegou as minhas mãos, e ordens são ordens que é para serem executadas. Acho que nós sabemos de quem é a mimosa letra em itálico
Olívia: Queres ir para cama, Malvólio?
Malvólio: Para cama? Sim, meu amor, e eu já t encontro lá.
Olívia: Que Deus te ajude! Por que sorris desse jeito e beijas tua mão tantas vezes?
Maria: Você está passando bem, Malvólio?
Malvólio: A seu pedido?! Sim, rouxinóis respondem em resposta às gralhas” (pág. 89)
Quando um criado anuncia a chegada de Cesário, Olívia manda Maria buscar Sir Toby para cuidar de Malvólio, que naquela altura acredita que tudo que havia lido na carta obedece à perspectiva de seus próprios desejos e esperanças. Olívia vai de encontro a Cesario. Enquanto isso todos tentam acordar Malvólio de seus delírios. Malvólio, quando vê Sir Toby Maria e Fabiano, tem mais um ataque de grandeza e diz:
“Malvólio: Vão se enforcar, vocês todos. Vocês são preguiçosos, gentinha supérflua, eu não sou da mesma laia que vocês. Depois vocês vão ficar sabendo”. ( pág. 94)
Eles decidem trancar Malvólio em um quarto escuro e amarrado. Sir Andrew chega agora disposto a tudo. Resolve que vai chamar Cesário (Viola) para um duelo.
Lady Olívia se desmancha para Cesário (Viola):
“Olívia: Falei demais a um coração de pedra, despi-me de minha honradez. Algo dentro de mim censura-me por meu erro; mas é erro de tal força e teimosia que simplesmente zomba dessa censura.
Viola: Com a mesma atitude de sua paixão estão as dores de meu amo
Olívia: Tome aqui, use esta joia, é um favor que lhe peço. Não recuse, essa é uma boca que não fala, e não irá aborrecê-lo. Eu lhe suplico: volta amanhã. Minha honradez estando a salvo, não tenho como negar nada que você queira me pedir.
Viola: Nada, exceto um amor de verdade por meu amo.
Olívia: como posso honradamente dar a ele o que já dei a você?
Viola: Eu a desobrigo desse compromisso.
Olívia: Bem, volte amanhã. Passe bem. Um demônio como tu poderia carregar minha alma para o inferno.” (pág. 97, pág. 98)
Assim que Olívia sai, Sr Toby e Fabian dizem a Cesário (Viola) que Sir Andrew está possuído por um demônio e quer desafiá-lo para um duelo:
Sir.Toby... De que natureza são as ofensas com que o atacaste, eu não sei. Mas teu interceptor cheio de despeito, sanguinário como o caçador espera por ti do outro lado do pomar. Desembainha tua lâmina e apressa-te nos preparativos, porque teu agressor é rápido (pág. 98)
Fabian se oferece para ajudar Cesário (Viola) a fazer as pazes com Sir Andrew.
“Viola (Cesário): (dirigindo-se a Sir Andrew) Rogo-lhe, sir guarde a sua espada, se me faz o favor.
Sir Andrew: Pois, sim eu lhe faço o favor. E quanto a lhe prometi, mantenho a minha palavra. Ele vai carregá-lo e ele é bom de rédeas.” (pág. 103; pág. 104)
Antônio entra e impede a luta. Ele defende Cesário (Viola), pensando que ele é Sebastião. Quando os oficiais chegam, prendem Antônio a pedido do Duque Orsino. Antônio pede a Cesário que o ajude.
“Antônio: Vai me estranhar agora? Será possível que toda a minha dedicação ao senhor não lhe tenhas comovido nem um pouco? Não me provoque em meu sofrimento, senão sou capaz de me transformar em criatura torpe, a ponto de censurá-lo com a lembranças de todas as bondades que lhe fiz. ( pág105)
Mas Cesário não tem a menor ideia de quem ele é. Antônio se choca, pois pensa que Sebastião está fingindo não o conhecer.
“Antônio: E tudo para descobrir-se no fim que esse deus não passa de um ídolo vil! Tu envergonhas Sebastião, os teus traços bonitos. Na natureza não há imperfeições, a não ser na mente. Só se pode chamar de deformado quem é cruel. Beleza é virtude, e o mal-embelezado não passa de baús vazios que o diabo ornamento em excesso.” (pág. 106)
Quando o levam embora, Viola pensa na possibilidade de o seu irmão estar vivo:
“Viola (Cesário): Ele pronunciou o nome de Sebastião. Posso reconhecer meu irmão, que ainda vive neste espelho que sou eu. Tal e qual aparência era ele, e andava deste modo, com o mesmo tipo de trajos, pois eu o estou imitando. Ah, se for verdade, as tempestades são gentis e as ondas do mar são amorosas. (pág. 106)
Feste, o bufão, foi enviado para encontrar Cesário (Viola), e em vez disso encontrou Sebastião (irmão de Viola). Feste (o bufão) sente que algo está estranho. O comportamento de Feste o incomoda, pois o bufão pensa que ele é Cesário (Viola). Sebastião o ameaça:
“Sebastião: Palhaço. Eu estou pedindo, vai-te embora. Aqui, algum dinheiro que tu podes levar. Se te demoras a ir, teu pagamento fica pior. ( pág109)
Sir Andrew chega e provoca Sebastião pensando que ele é Cesário (Viola), ao contrário de sua irmã, Sebastião não se amedronta e o encara.
Sebastião: Tire a sua mão de cima de mim!” (pág. 110)
Sir Toby pede que eles parem. E Feste (o bufão) resolve que vai relatar tudo para sua patroa, Olívia. A sensação de loucura envolve todos. Sir Toby resolve que vai encarar Sebastião para um duelo, e o desafia:
“Sir Toby: Ora, sir, eu é que não vou deixá-lo escapar. Vamos meu jovem soldado, guarde a sua lâmina; já vimos que sabe usá-la. Vamos lá!
Sebastião: Meu desejo é livrar-me de ti. O que queres tu agora? Se te atreves a continuar me provocando, desembainha a tua espada.
(desembainha a espada)
Sir Toby: Ora, ora! Pois, sim, então agora preciso arrancar de teu corpo um bom peso em sangue.” (pág. 110)
(desembainha a espada)
Quando tudo estava prestes a acabar em um duelo sangrento, chega Olívia, e passa uma descompostura em Sir. Toby e Sir. Andrew.
“Olívia: Vai ser sempre assim? Seu miserável, seu ingrato, teu lugar é nas montanhas e nas cavernas dos bárbaros, onde jamais ninguém lá esteve para ensinar boas maneiras. Não quero te enxergar na minha frente! Não fiques ofendido, meu caro Cesário. Embora daqui seu grosseirão.
(Saem Sir Toby, Sir Andrew e Fabiano) (pág. 110)
Olívia até então está claramente pensando que Sebastião é Cesário (Viola) E Sebastião está totalmente sem entender nada:
“Sebastião: Que gosto é esse que sinto na boca? Para que lado correm os rios, se não para o mar? Ou estou louco, ou estou sonhando. Que a fantasia deixe dormentes os meus sentidos, mergulhados nas águas do esquecimento. Se isto é sonhar, deixem-me dormir para todo o sempre (pág. 111)
Olívia convida Sebastião para o seu palácio. Sebastião deixa-se ir quando é interrompido pela chegada de Maria e Malvólio, que sai do quarto escuro em que estava preso. Feste tenta tirar Malvólio da alucinação em que se encontra e se passa por mestre Topázio. Malvólio está obcecado pela patroa Olívia. Ele implora para vê-la.
“Malvólio: Por esta minha mão, é verdade! Meu bom palhaço, um pouco de tinta, papel e luz, e tu levas o que vou escrever até minha patroa. Isso vai te ser vantajoso, mais recompensado será qualquer mensageiro.” (pág. 117)
Enquanto isso, Olívia e Sebastião fazem juras de amor e fidelidade.
Duque Orsino pergunta se Fabiano e Feste são de Lady Olívia. Eles confirmam. O duque reconhece Feste (o bufão) e faz um agrado a ele:
“Duque: Eu te reconheço bem. Como tens passado meu bom homem?
Feste: Para falar a verdade, senhor tenho vivido melhor com os meus inimigos e pior com os amigos.
Duque: Mas é justamente o contrário: com os amigos é que tens de viver melhor.
Feste: Não, sir. Pior
Duque: Como é que que pode ser isso?
Feste: Deveras senhor, eles me elogiam; e me fazem de burro. Já meus inimigos dizem na minha cara que sou um burro. Assim é que, por causa de meus inimigos, sir, eu lucro em conhecer a mim mesmo, enquanto que por meus amigos sou enganado. Assim é que, conclusões sendo como beijos, se as suas quatro negativas formam duas afirmativas, ora, então vivo pior com os amigos e melhor com os meus inimigos.
Duque: Ora, essa é ótima.
Feste: Dou-lhe minha palavra, senhor: nem tanto. Imagino que seja do seu agrado ser um dos meus amigos.
Duque: tu não viverás pior comigo. Aí tens: uma moeda de ouro para ti.” (pág. 120; pág. 121)
O Duque promete mais se ele for buscar Lady Olívia. Feste sai e chega o Primeiro Oficial juntamente com Antônio. O duque o reconhece como um pirata “ladrão de águas salgadas” destemido e ensandecido. Antônio tenta se justificar dizendo que a coisa não é bem assim. E acusa Cesário (Viola) de ter sido traído por ele.
Entra Lady Olívia, e fala com Cesário (Viola). E desconversa sobre a possibilidade de ser sua esposa. Fora de questão. O duque reconhece que o “não” de Lady Olívia foi contundente. Quando o duque está saindo, Olívia chega para Cesário (Viola) e diz:
“Duque: Vem, vamos embora!
Olívia: Para onde milorde? Cesário, meu esposo fica!
Duque: esposo?
Olívia: Sim , esposo. Será que pode negar?
Duque: Marido dela, seu canalha?
Viola: Não, milorde eu não.
Olívia: Ai de mim, que a baixeza desse teu medo te obriga a sufocar a tua real identidade. Não receies, Cesário! Toma posse da fortuna que te pertence, sê quem tu sabes que tu és, e assim é que tu serás grande, tão grande como aquele a quem tu receias.
(Entra o Padre)” (pág. 126, pág. 127)
Olívia chama Cesário (Viola) de marido. Quando o padre vai começar a cerimônia de casamento, quem entra? Ele mesmo. Sebastião. E todos se espantam quando veem Cesário e Sebastião juntos e a semelhança entre ambos. O que faz Antônio fazer o seguinte comentário:
“Antônio: Como foi que o senhor operou essa divisão de si mesmo? Uma maçã partida ao meio não é mais gêmea que essas criaturas. Qual dos dois é Sebastião?” (pág. 130)
Sebastião e Viola juntos ficam maravilhados em saber que ambos os irmãos estavam vivos. Viola admite que não é Cesário. Orsino fica atônito e resolve pedir Viola em casamento:
“Duque: Dá-me tua mão, e deixa-me olhar-te em teu vestido de luto.
Viola: O capitão que me resgatou e me trouxe à praia está com as minhas roupas de mulher. Por conta de uma ação na justiça, ele agora está na cadeia, a pedido de Malvólio.” ( pág. 132 ; pág. 133)
Malvólio chega junto com Feste (o bufão) e Fabiano. Fabiano admite que foi responsável pelos problemas causados a Malvólio devido à carta escrita por Maria. Malvólio viu que havia sido feito de bobo e promete vingança. O Duque pede que Fabiano implore por paz. E a paz é feita.
Sir Toby pede a mão de Maria em casamento. E tudo acaba em um final feliz.
“Noite de Reis”, peça de William Shakespeare, foi uma de suas melhores histórias, sem dúvida alguma, e merece um lugar de HONRA na sua estante.