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Coriolano

Shakespeare é um dos escritores mais famosos da história da humanidade. Seu pai era um fabricante de luvas, e o jovem Shakespeare, segundo relatos, cursou o equivalente ao ensino fundamental I dos dias de hoje. Casou-se com Anne Hathaway em 1582, mas acabou abandonando sua família por volta de 1590 e se mudou para Londres, onde se tornou ator e dramaturgo. Seu sucesso foi imediato. Tornou-se o dramaturgo mais popular da época, além de coproprietário do Globe Theatre.  Esse teatro, próximo ao rio Tâmisa, em Londres, foi fundado por James Burbage, ator e empresário. Ele foi responsável por construir o primeiro Teatro de Londres, o “The Theatre”.

Foi em Londres que Shakespeare teve suas maiores oportunidades. Nesse período, o contexto histórico favorecia o desenvolvimento cultural e artístico, pois a Inglaterra vivia os tempos de ouro sob o reinado da rainha Elizabeth. O teatro desse período, conhecido como teatro elisabetano, foi de grande importância para os ingleses da alta sociedade.

A história de Coriolano foi baseada na vida do lendário general Caius Martius, que viveu no século V a.c. O sobrenome “Coriolano” está ligado ao seu papel na conquista romana de Corioli, uma cidade chamada Volsci. Os historiadores antigos dedicaram um grande espaço às guerras volscianas em seus relatos sobre o início da República Romana.

Aqueles que narraram sua vida cerca de duzentos anos após sua morte escreveram que Coriolano foi banido de Roma e que depois disso liderou um exército volsciano para atacar Roma por vingança. Embora os historiadores antigos acreditassem que Coriolano era uma pessoa real, historiadores modernos questionam se ele era um personagem ficcional. Na época em que Shakespeare escreveu essa peça, ricos proprietários de terras na Inglaterra consolidaram pequenas fazendas públicas em fazendas privadas. Em protesto contra a perda de terras anteriormente comunais, um homem chamado John Reynolds, também conhecido como Capitão Pouch, liderou uma grande rebelião chamada Midland Revolt em 1607. Shakespeare explora essa revolta para enfatizar e explorar o personagem. Essa é uma versão.

No entanto, a principal fonte de Shakespeare para a história de Coriolano é uma história escrita por Plutarco de um Coriolano que supostamente viveu na Roma antiga.  A história de Coriolano de Plutarco mostra um personagem de caráter falho, semelhante ao Coriolano de Shakespeare. E uma das falhas de caráter diz respeito à sua arrogância, que culminou com o seu banimento e sua morte nas mãos dos inimigos de Roma.

Mas existem diferenças importantes entre o Coriolano de Plutarco e o de Shakespeare, que aumentam sua atualidade e relevância para o público. Entre elas, está a motivação da revolta popular. Em Plutarco, a revolta popular foi devido à usura, mas no texto de Shakespeare a revolta foi motivada pela falta de trigo. Apenas um ano antes de Coriolano ser apresentado pela primeira vez, houve escassez de alimentos em toda a Inglaterra, o que provocou tumultos populares. O povo acusou as classes altas de acumular grãos; a aristocracia alegou, assim como seus colegas shakespearianos, que o mau tempo e a falta de grãos foram os grandes culpados.

Outra grande diferença entre o texto de Plutarco e de Shakespeare é que o Coriolano de Plutarco era um homem de alguma astúcia política; na verdade, era um líder político bem visto por toda a sociedade por seu valor e ousadia. Já o Coriolano de Shakespeare vivia em uma sociedade em que apenas a classe patrícia premiava a vitória militar; a massa do povo via pouca virtude em suas habilidades políticas, não reconhecia suas habilidades no campo de batalha. Heróis como ele não tinham utilidade alguma numa sociedade que vivia em tempo de paz.

Vamos à história?

A peça começa com um grupo de cidadãos revoltados por falta de grãos desafiando Caio, que responde:

“Márcio: Quem for gentil com vocês só bajula.

O que há de vil. O que querem cachorros,

Que não amam paz nem guerra. Uma assusta.

Outra os leva a gabar-se. Quem espera

Que se afirmem leões, encontra lebres;

Raposas, gansos. São tão firmes, todos,

Quanto a brasa no gelo, ou o granizo

Que fica ao sol. Vocês acham virtudes

Fazer herói o transgressor punido,

Maldizer a justiça. O que têm mérito

Ganha seu ódio; as suas preferências

São fome de doente, que só tem desejos

Pelo que lhes faz mal. Quem depender

Do seu favor voa co’asas de chumbo

Derruba troncos com palha. Que morram!

Confiar em quem muda a toda hora?

Quem chama nobre ao seu ódio de ontem

E vil quem coroou? Qual a razão

De que pontos espalhados na cidade

Se esgoelarem contra o bom Senado

Quem mantém quietos, no temor dos deuses,

Os que sem ele iriam se engolir

Uns aos outros? (para Menius) O que é que estão buscando?

Menênio: Trigo a seu preço, pois garantem eles

Que a cidade tem muito.

 

Márcio: Tem? Que morram!

Sentados junto ao fogo ousam saber

Que faz o Capitólio, quem tem chances

Quem está por cima, quem caiu; grupelhos

Inventam casamentos, tornam fortes

Partidos que enfraquecem e espezinham

Com as solas remendadas. Muito trigo!

Quem dera que a nobreza sem piedade,

Me permitisse usar a minha espada,

Esquartejando escravos aos milhares

Fazendo um monte maior que a lança” (pg 1125)

 

Mas antes Menêmius, um patrício respeitado por sua inteligência e sua moderação, tenta conter a revolta popular. Márcio insulta o povo e torna as coisas ainda mais difíceis. Ele demonstra não ter o menor tato político. No entanto, surge a notícia de que os volscos levantaram um exército contra Roma. Márcio tem uma rivalidade pessoal com o líder volsciano Tulio Aufídio.

 

Aufídio é muito astuto, pois sabe que os romanos conhecem seu exército. Ele decide levar o seu exército para o campo de batalha e encontrar-se com Márcio. Sabe que lutarão até a morte. Volúmnia, mãe de Márcio, e Virgília, esposa de Márcio estão em casa costurando. Virgília está triste com a ausência do marido. Volúmnia tenta consolar a esposa de Márcio falando sobre os triunfos do marido no campo de batalha. Volúmnia está muito feliz com a performance do filho nos campos de batalha. Seu filho já havia sido enviado para batalha quando menino para que pudesse ganhar honra e se tornar um homem. Virgília, no entanto, recusa-se a ficar alegre mesmo depois de saber das boas notícias da vitória do marido. Ela o quer perto dela.

 

Márcio, Lárcio e outros líderes romanos estão às portas de Coriole, a cidade de seus inimigos, os Volscios. Márcio pergunta sobre o seu principal inimigo, Túlio Aufídios, mas ele não está dentro da cidade. Márcio diz aos soldados se prepararem contra o inimigo prestes a atacar.

Os soldados recuam, mas ele entra sozinho na cidade, e os portões se fecham na cidade inimiga. Mas Márcio consegue escapar da cidade muito ferido e ensanguentado; e isso dá aos seus soldados a coragem necessária para travar a batalha.

 

“Márcio: Os mais dispostos. Se há aqui alguém –

E peco se duvido – que me ame as cores

Que aqui me pintam, e que menos tema

O mal do corpo do que a da má fama;

Alguém pra quem a morte com bravura

Mais que compensa a vida mal vivida,

E ame mais a pátria que a si mesmo,

Que ele só, ou aqueles que assim pensam,

Faça sinal para expressar desejo

De seguir Márcio.” (pg 1144)

 

Márcio e Aufidio se enfrentam com palavras de ódio um pelo outro. Ambos juram que, se algum deles fugir, será amaldiçoado por isso.

 

“Márcio: Só lutarei contigo, pois te odeio

Mais que um traidor.

Aufídio: Nosso ódio é igual

Nem áspide africana eu abomino

Mais que tua fama e inveja. Firma o pé

Márcio: Que o que mexer morra escravo um do outro

Aufídio: Se eu fugir, que me tomem por lebre.” (pg 1145; pg 1146)

 

No entanto, antes que eles possam concluir sua luta, soldados volscos arrastam Aufidios para longe. Comínio, general romano, elogia os feitos de Márcio naquele dia fatídico, dizendo que isso impressionará toda Roma.

 

Comínio: Se eu te contasse tuas ações hoje,

Não as creias; mas hei de narrá-las

A senadores que hão de rir com lágrimas

A patrícios atônitos que, ao fim,

Hão de aplaudi-lo; a damas assustadas

Que alegres te ouvirão, tribunos densos

Que com essa plebe odeiam tuas glórias,

No fundo irão dizer: “Graças aos deuses

Roma tem tal soldado.”

A festa para ti é só um petisco

Pois já ceaste antes” (pg 1146; 1147)

 

No entanto, Márcio não busca o elogio fácil; ele não gosta de ser exaltado. Em troca de todos os seus feitos heroicos, ele recebe o sobrenome “Coriolano” em homenagem à vitória sobre a cidade de Corioles; Márcio aceita a honra.

Enquanto isso, Aufidios é informado de que a cidade foi tomada, mas será devolvida sob certas condições; ele jura derrotar Coriolano na próxima vez que se encontrarem.

No ato II, Menênio, um patrício moderado, conversa com os dois tribunos, Brutus e Sicínio; eles sabem que o povo não gosta de Coriolano, apesar de seus triunfos no campo de batalha. Eles criticam o seu orgulho, embora Menênio conteste essa afirmação pedindo que eles olhem para si mesmos e vejam que eles são tão orgulhosos e falhos também.

Volúmnia, mãe de Coriolano, Virgília, sua esposa, e Valéria recebem a notícia de que Márcio está voltando para casa. Menenius está feliz com essa notícia e espera que Márcio Coriolano retorne apesar dos inúmeros ferimentos que sofreu, para marcar a sua vitória.

Quando Coriolano chega, é recebido por sua mãe e sua esposa e Menênio, entre outros. Sua mãe, feliz com a chegada do filho, diz que espera que ele agora se torne cônsul. Enquanto isso, Brutus e Sicínio conspiram para tornar Coriolano impopular, para impedi-lo de ser nomeado cônsul.

“Brutus: E tem de ser assim, Senão se acaba a nossa autoridade;

Nós temos de lembrar ao povo o ódio

Em que ele sempre o teve, e que, mandando

Vais usá-los pra mulas, vai calá-los

Tolher suas liberdades, por julgá-los –

Enquanto aptos para ações humanas –

Tão sem alma e capazes para o mundo

Qual tal bestas de guerra, que, alimentadas

Só para carregar, ainda apanham

Se não aguentam.

Sicínio: Se dissermos isso

Em hora de sua posse e insolência

Toquem no povo – o que não vai faltar,

Sendo ele provocado, o que é mais fácil

Que atiçar cães – então o fogo dele

Acende a palha seca, e a chama dele

O apaga para sempre (pg 1162; pg 1163)

Dois oficiais falam sobre a candidatura de Coriolano a cônsul; embora ambos saibam que a relação dele com o povo não seja nada amistosa. Seu orgulho o coloca numa desvantagem, enquanto seus inimigos lisonjeiam o povo. O Senado entra, para considerar as qualificações de Coriolano como cônsul. Os tribunos afirmam que não o apoiam, sob a alegação de que ele rejeita o povo. Menênio liga o sinal de alerta. Há uma disputa política entre os tribunos e o Senado, que é favorável a Coriolano por causa dos seus anos de serviço a Roma. Tudo está certo, apenas precisa passar pelo ritual político. Para isso, precisa pedir a autorização ao povo. Uma tarefa que parece fácil, mas Coriolano não aceita essa tradição. Os tribunos interpretam como desprezo pelo povo.

Os cidadãos debatem entre si se devem ou não confirmar Coriolano. Argumentos variados são postos à mesa. Coriolano muda a postura e resolve calçar as sandálias da humildade, para implorar o consentimento dos cidadãos. Os cidadãos, depois de muito debate, chegam à conclusão de que Coriolano cumpriu o seu dever e o aprovam. E nessa hora chegam os tribunos, Brutus e Sicínio, que tentam reverter a aprovação, cobrando o desprezo do passado. Uma comoção e os cidadãos se revoltam contra Coriolano e decidem reverter a decisão que tinham acabado de tomar. Os cidadãos então decidem enfrentar Coriolano, e o tribunos aproveitam a situação para ganhar o poder para si.

No ato III:  Os tribunos anunciam que o povo mudou de ideia em relação a transformar Coriolano em cônsul. Ele fica possesso. E, ao ver que seu destino estava selado, diz:

“Coriolano: Agora, sim. Aos meus nobres amigos

Eu imploro o perdão]

E a multidão, mutável e fedorenta

Se olharem para mim, que os não bajulo

Hão de ver como são. E aqui repito

Se os agradarmos, só alimentamos

Contra o Senado um joio de rebeldes

Sedição, insolência, que nós mesmos

Plantamos e espalhamos ao mesclarmos

Conosco que não tem virtude ou força

Senão as que a ganham por esmola.

 

Menêmio: Não fale mais

Primeiro Senador: Por favor

Coriolano: Calar? Eu?

Assim como sangrei por meu país

Sem temer outras forças, meus pulmões

Que evitamos pegar, mas que buscamos

Sem cessar seu contágio” (pg 1184; pg 1185)

Depois que Coriolano reconhece sua complicada relação com o povo, os dois tribunos (Brutus e Sicínio) conclamam o povo para enfrentar Coriolano. O povo se apressa a impedir que Coriolano seja o cônsul. Brutus e Sicínio dizem que Coriolano cometeu uma alta traição. Os senadores, que antes apoiavam Coriolano, agora o questionam. Menênio tem a plena consciência de que Coriolano é nobre demais para ser um político. Ele confronta os tribunos e tenta convencê-los de que Coriolano tem seus defeitos, mas expulsá-lo pode significar uma guerra civil em Roma.

Coriolano não quer fazer concessões mesmo que isso signifique a morte política ou mesmo o exílio para ele. Sua mãe, Volúmnia, pede que ele renuncie ao orgulho para consertar as coisas. No entanto, para Coriolano, isso teria um significado diferente. Seria a traição a si mesmo.

É aconselhado a manter-se calmo durante o seu encontro com o povo, e com Sicínio e Brutus, que tentam provar que Coriolano é um tirano e que ele é culpado por traição. Coriolano explode em maldições contra o povo.

“Coriolano:  Ó matilha de cães de hálito imundo

Como o do poço envenenado! Odeio-os

Como às carcaças que, desenterradas,

Corrompe-nos o ar. Eu os renego;

Fique aqui com suas incertezas

Que até boatos fazem palpitar!

Que o farfalhar das plumas do inimigo

Enchem de horror! Terão poder ainda

Pra banir – até que um dia

Sua ignorância (que não pensa, sente)

Que só poupou vocês, vai entregá-los

Como os mais humilhados dos cativos

A uma nação que os vença sem um golpe

Por vocês eu desprezo Roma e parto:

Existe um mundo fora destes muros. (pg 1209; pg 1210)

Coriolano é acusado de ser um tirano. Sua sentença é o exílio. O povo, os tribunos se alegram por se livrarem do “Inimigo do Povo”.

No ato IV: Coriolano se despede da família, da sua mãe, Volúmnia, da sua mulher, Virgília, e do amigo Menênio. Coriolano ainda alimenta a ilusão de que Roma aprenderá a apreciá-lo quando ele se for, embora não tenha nenhuma vontade de voltar.

Com a saída de Coriolano, Sicínio e Brutus resolvem se acalmar. Volúmnia amaldiçoa os dois tribunos por expulsar um homem que fez mais por Roma do que eles, que nunca fizeram nada. Os tribunos evitam a ira de Volúmnia.

No entanto, uma coincidência ocorre. Nicanor, um romano, e Adrian, um Volsce, se encontram para trocar ideias; Nicanor é um espião, que agora apoia os volscianos. Nicanor diz a Adrian que Roma está vivendo uma crise e que Coriolano foi banido.

 

Coriolano entra disfarçado de um homem humilde. Ele chega à cidade de Anzio.

 

Coriolano: ...Cidade

Cujas viúvas eu fiz...” (pg 1218)

 

Ele encontra um cidadão que informa que Aufídio se encontra na cidade. Coriolano resolve ver seu grande inimigo. Ele sabe dos riscos. Ele pode ser morto, o que seria honroso, mas, caso não seja morto, ele oferecerá sua ajuda para lutar contra Roma.

 

Três servos vão à casa de Aufidios; Coriolano entra, mas é imediatamente impedido pelos criados e mandado sair. Aufídio vai ver quem é o estranho visitante. Coriolano finalmente se revela:

“Coriolano: Meu nome é Caio Márcio, o que infligiu

Especialmente em ti, e aos vólcios todos,

Grandes males e dores, como o prova

Meu sobrenome é Coriolano.

As dores e os perigos, como o sangue

Que dei a pátria ingrata foram pagos

Só co’esse sobrenome: um bom lembrete

E testemunha da malícia e da raiva

Que me deves nutrir. Só resta o nome

A crueldade e a inveja do povo,

Com a permissão desses nobres calhordas

Que me abandonam, comendo o resto;

E permitiram que, por voto escravo

Me enxotassem de Roma. E essa desgraça

É que me trouxe aqui a tua lareira,

Não na esperança de salvar a vida:

Pois se eu temesse a morte entre os homens

Te teria evitado por despeito,

Pra ficar quite co’os que me baniram

Aqui estou frente a ti. Mas se tens

Queixas no peito e deseja vingar-te

Do mal que a ti foi feito, interrompendo

O jorro de vergonha em tua terra

Apressa-te em fazer minha miséria

Servir-te, e minha obra de vingança

Beneficiar-te; pois eu lutarei

Contra meu país podre com maldade

De mil demônios. Mas se por acaso

Tu não ousas, ou por novas lutas

Estás cansado, eu também deixarei

De enfrentar esta vida, e ofereço

A ti e ao teu rancor minha garganta:

A qual, se a não cortares, és um tolo

Já que eu te persegui sempre com ódio,

De teu país suguei rios de sangue

Só podendo viver pra tua vergonha

A não ser que te sirva” (pg 1223; pg1224)

 

A fala de Caio Márcio emociona Aufidios, que aceita a ajuda. Eles se abraçam e juntos vingarão Coriolano contra Roma. E surpreendentemente dá a Coriolano metade de suas tropas para comandar. E deixa para Coriolano traçar a estratégia contra Roma no campo de batalha.

No entanto, entre os seus comandados, a reação foi de desconfiança da forma como Aufidios abraçou o seu antigo inimigo. Mas, apesar de tudo, os três acolhem a guerra como uma espécie de remédio ou cura, para o mal-estar daquela súbita paz.

Enquanto isso, Sicínio e Brutus afirmam que Roma agora vive a paz, já que Coriolano está longe. Menênio, no entanto, ainda acredita que teria sido melhor se Coriolano tivesse permanecido. O fato de o povo estar apoiando os tribunos, fazem desta casta (tribunos) política mais presunçosa.

Eis que de repente surge a notícia de que os volscianos estão entrando nas províncias romanas e estão causando guerra e destruição. Quando chegou a notícia de que Coriolano havia aderido ao exército de Aufidios, todos ficaram surpresos. Menênio e Comínio dizem aos tribunos como eles estavam errados ao expulsar Coriolano.

Por outro lado, os soldados de Aufidio já se encontram muito ligados a Coriolano:

 “Tenente: Não sei que mágica ele tem, porém

A ele é que dão graças os soldados

Antes do rancho e, depois, lhe agradecem:

O que deixa o senhor obscurecido

Junto a tropa.” (pg 1237)

Apesar disso, Aufídio sabe que Coriolano é uma peça fundamental para derrotar Roma e suas chances de capturá-la são muito boas. No campo de batalha os méritos de Coriolano são maiores que suas falhas. Mas Aufídio sabe que Coriolano assim que Roma cair em suas mãos, será eliminado.

Ato V: Nessa altura todos estão pedindo que alguém impeça Coriolano de fazer sua vingança. Menênio será a esperança para demover Coriolano, e o convencem a ir ao encontro de Coriolano.

 Quando finalmente vai em direção a Coriolano, duas sentinelas o impedem de vê-lo apesar dos apelos. As sentinelas consultam Coriolano sobre o enviado de Roma. Ele aceita recebê-lo.

Menênio consegue encontrar Coriolano, que o chama de filho e tenta se conectar com as emoções. Coriolano não ouve e diz:

“Coriolano: Eu não conheço esposa mãe e filho

Agora eu sirvo outros. Se a vingança

É minha só, conceder um perdão

Recai em peitos vólscios. Velhos laços

Terão veneno de um olvido ingrato

Mais que atenção compassiva. Então, vá.

Minha surdez é mais forte a seus rogos

Que suas portas a tropas. Como o amei

Leve isto que escrevi por sua causa,

E ia mandar. (Dá-lhe uma carta) Nem mais uma palavra

Lhe quero ouvir Menênio. Este homem, Aufídio,

Em Roma amei. Porém tu vês agora.” (pg 1247)

 

Menênio sai desanimado. Tudo está pronto para a grande batalha. Eles estão fora dos muros da cidade. É nesse momento que chega a mãe, Volúmnia, Virgília e o filho de Coriolano. Ele transmite os seus sentimentos ao ver cada um deles para que Aufídio saiba exatamente o que está acontecendo em sua mente.

Mas ele se comove com a visão de sua esposa, mãe e filho diante deles. Volúmnia deixa claro que um ataque a Roma seria um ataque à sua esposa e filho.

Menênio acredita que nem Volúmnia tem condições de demover o filho de sua vingança. E o inesperado acontece. Elas voltam com a promessa de que Coriolano não atacará Roma. Os senadores acham que a punição a Coriolano deve encerrada.

Mas Aufídio não pensa assim. Ele se sente traído por Coriolano. Sua bondade e confiança tiveram um custo alto. E ele decide matar Coriolano, pois os conspiradores o lembram que assim como ele havia se tornado um inimigo do povo, ele pode usar isso para matá-lo.

“Primeiro conspirador: Senhor, se ainda tem os objetivos

Aos quais nos convocou, nós o livramos

De seu grande perigo

Terceiro Conspirador: O povo ficará incerto enquanto

Divergirem dois comandos; se um cai

 Do outro se faz herdeiro.” (pg 1259)

Os vólscios estão chateados com Coriolano por ter evitado a guerra. Aufidios o acusa de traição por desistir da guerra e o motivo se deu através dos apelos da família.  Coriolano explode:

 “Vólcios, moços e velhos, me estraçalhem

Manchem em mim suas lâminas, Guri!

Falso cão há de ver, em anais certos,

Que qual águia um pombal eu arrasei

De ver seus vólcios lá em Corioli

Eu sozinho! Guri! (pg 1263)

 

Coriolano provoca a fúria dos senhores. E o final acontece, todos os conspiradores o matam. E Aufídio faz um acordo:

 “Senhores, ao saberem (nesta ira Provocado por ele não o podem)

O perigo que a vida desse homem

Lhes preparava, ficarão alegres

Só por vê-lo ceifado. Se os apraz,

Me chamem ao Senado, onde me entrego

Como servo leal, ou me sujeito

As mais graves censuras” (pg 1265)

Apesar de ter sido morto, um nobre diz que Coriolano é nobre demais e por isso merece as honras. Em troca, Coriolano terá um funeral de herói. E assim decidem honrar a memória de Caio Márcio Coriolano.

Devo dizer a vocês que eu nunca assisti a uma montagem dessa peça. Eu vi, sim, e foi um filmão dirigido por Ralph Fiennes, com uma atuação maravilhosa interpretando Coriolano. E devo dizer que eu adorei. Recomendadíssimo!

Devo dizer que estou cada vez fascinado pela poesia de Shakespeare. Vocês verão muitos estudos sobre esse autor importantíssimo na história universal aqui no site dos Bons Livros. Promessa é dívida. Podem cobrar.

“Coriolano”, de William Shakespeare, merece um lugar de HONRA na sua estante.


Data: 19 agosto 2022 | Tags: Teatro, Tragédia


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Coriolano
autor: William Shakespeare
editora: Nova Aguillar
tradutor: Barbara Heliodora

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