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Sangue na neve

Para quem está procurando as aventuras de Harry Hole, um detetive cheio de perturbações mentais e um bêbado incorrigível, mas que tem lampejos geniais e que segue a lei, “Sangue na neve”, de Jo Nesbo, é exatamente o contrário disso tudo. Os direitos do livro foram vendidos para a Warner Bros, e Leonardo Dicaprio será o protagonista dessa história insólita. Só para que vocês tenham uma ideia do barulho que vem por aí, ou seja, a história é muito boa. Talvez os leitores de Jo Nesbo possam se sentir órfãos das histórias desse famoso detetive, que povoa o imaginário, mas de forma alguma perderão um enredo sinistramente engraçado, contada por esse grande escritor de suspense.

 

Vamos à história?

 

O livro dá para ser lido numa golfada. O lugar é Oslo, Noruega, em 1978. Tem cento e cinquenta e duas páginas e o estilo rápido econômico de Jo Nesbo fará você entrar no universo psíquico de Olav Johansen, um matador de aluguel, um assassino frio que sabe muito bem executar sua missão. O livro é um típico romance noir com alguns lampejos de humor. Olav é um personagem curioso, que tem profundidade, possuidor de uma dislexia, cheio de manias.

 

“Prostituição. Mesma coisa. Não tenho problemas com mulheres que ganham dinheiro do jeito que elas querem e com a ideia de um sujeito – eu, por exemplo – ficar com um terço do dinheiro para cuidar das coisas de modo que elas possam se concentrar no trabalho propriamente dito. Um bom cafetão vale cada coroa que lhe pagam, sempre pensei assim. O problema é que me apaixono rápido demais, então deixo de ver as coisas como um negócio. E não suporto humilhar, espancar ou ameaçar as mulheres, quer eu esteja ou não apaixonado por elas. Algo a ver com minha mãe, talvez, quem sabe?” (pg 9)

 

Olav vai analisando suas limitações, como, por exemplo, sua dificuldade em dirigir um carro em fuga. Não que ele não fosse um bom motorista, ele é, mas sempre quando o faz é notado. E aí... problemas podem surgir, como já surgiram em sua vida anos atrás. Outra limitação do nosso protagonista é ser assaltante. Certa vez quando foi fazer um assalto (e ele estava vestido de papai noel), por sofrer um tipo de disfunção, acabou apertando o gatilho de sua escopeta e ferindo um cliente no banco. Quando ele soube pelo jornal que o cliente em questão sofria de problemas psicológicos, foi visitá-lo. Olav não pode trabalhar com drogas. Segundo ele, as pessoas têm que pagar por suas dívidas. Mas a sua natureza frágil e sensível o impede de realizar determinadas missões que lhe são incumbidas. Outro problema que carrega é a matemática, sempre foi ruim com números. Suas limitações, segundo ele, são essas. Um assassino que tem um bom coração. É capaz de salvar da morte determinadas pessoas, dependendo de suas histórias. Mas seu modo de matar segue todas as regras de um matador de aluguel, ou seja, ele pesquisa, ele encontra sempre alguém que vale a pena matar por ordens de seus clientes. É um procedimento que muitas vezes lhe custa o “sucesso” merecido. Sua forma de pensar é fria, e isso não o impediu de matar, por exemplo, seu pai. Jo Nesbo foi capaz de dar profundidade a Olav na caracterização: ele não é um homem muito inteligente; ele é ingênuo. Ele se compara a versão de Jean Valjean, o protagonista de “Os Miseráveis”, de Victor Hugo. Olav adora sua mãe. Pois bem, agora que vocês conhecem mais ou menos o perfil de nosso matador de aluguel, é que os problemas vão começar. As coisas começam a esquentar quando um homem chamado Hoffman quer que ele mate a sua esposa. Este novo trabalho põe em movimento uma cadeia de eventos. Muitas mortes e traições acontecerão.

 

Quer saber mais do livro? Então leia “Sangue na neve”, de Jo Nesbo. Este livro não fará você esquecer Harry Hole, mas lhe apresenta Olav, um personagem que não é nem bom nem mau; nem herói nem vilão; nem santo, por mais que ele se ache apenas um pecador. “Sangue na neve” vale a leitura. Jo Nesbo sabe contar uma boa história de suspense.

 

Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Suspense


< Amor sem fim A dificuldade de ser >
Sangue na neve
autor: Jo Nesbo
tradutor: Gustavo Mesquita

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