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Nêmesis

Tenho um grande amigo que sempre ri quando publico aqui no blog algum romance de Philip Roth. Ele sempre diz: "De novo!". E eu respondo: "O que posso fazer se o cara é muito bom no que faz?". Até já tentei ler algo dele que pudesse dizer "...esse livro não...”, mas ainda não encontrei, e acho que desse autor poderei recomendar todos os seus livros. Ainda não li todos, faltam uns três títulos, mas já me considero um leitor de Philipp Roth. Tento dosar para que o blog não privilegie apenas um escritor, mas Philip Roth é "o cara". "That’s my man"!

Hoje o livro que trago é "Nêmesis".

A palavra Nêmesis originalmente significava "distribuição da sorte", nem boa nem má; simplesmente, proporcional a cada um segundo a velha máxima do merecimento. Nas tragédias gregas, Nêmesis (Deusa) aparecia como a vingadora do crime, não tolerando a arrogância.


Atualmente, o termo nêmesis é usado para descrever o pior inimigo de uma pessoa, normalmente alguém ou algo que é, exatamente o oposto a si, mas que também carregam semelhanças. Um exemplo clássico: o Coringa é a nêmesis do Batman.

Neste romance, Eugene "Bucky" Cantor é o personagem central de "Nêmesis". Ele é incansável, bonito, autoconfiante, atleta responsável e dedicado ao bem cívico da comunidade judaica de Newark, New Jersey. Estamos diante de um professor de educação física, que atua como um diretor de uma escola; um tipo paciente e venerado por seus alunos, e sua namorada Márcia o acha bonito inteligente e muito agradável.

Sua mãe morreu no parto e seu pai era um fraudador, um escroque da jogatina que acabou preso. Ele foi criado pelos avós, sempre atentos a eliminar qualquer fraqueza herdada do pai natural, e ensinaram a ele que todos os atos de um homem devem estar imbuídos de responsabilidade.

No terceiro ano de faculdade, aconteceu o que ninguém esperava: a frota americana do Pacífico fora atacada pelos japoneses em Pearl Habor - no domingo de 7 de dezembro de 1941. Na segunda feira, dia 8, Bucky Cantor estava na fila dos voluntários de sua pátria, no posto de recrutamento mais próximo. No entanto, por causa de sua miopia, nenhuma força o desejava, nem o Exército, nem a Marinha, nem os Fuzileiros Navais. Foi classificado como “F4” e mandado de volta para universidade para concluir seu curso de educação física.

Tudo isso foi um golpe duro para Bucky Cantor. Sua avó o ouviu chorar para seus colegas Dave e Jake, que foram convocados para o Forte Dix e iniciar o período de treinamento.

Diante dos fatos, Bucky Cantor se resignou a transmitir a seus alunos de Educação Física o melhor que poderia dar. Ele ensinou seus alunos a se destacarem nas atividades atléticas, assim como nos estudos. Passava para seus alunos os valores que seu já falecido avô havia lhe transmitido.

Porém, algo súbito aconteceu naquele calor de Newark, daquele ano, um surto de poliomielite invadiu a cidade. Curiosamente um grupo de italianos dentro de um carro invadiu a escola e numa atitude desafiadora cuspiu na calçada em clara atitude provocativa dizendo que dentro do cuspe havia a doença.

Coincidência ou não, dois alunos de Bucky Cantor foram infectados pela doença, Herbie e Alan e acabaram sucumbindo à doença. A partir do momento em que as crianças começaram a morrer uma a uma, instalou-se o desequilíbrio, uma verdadeira caça aos possíveis transmissores. Alunos, mosquitos, tudo era considerado passível de culpa. E a palavra de ordem era esterilizar tudo, desinfetar qualquer coisa. As mães desesperadas mães gritam na rua. Em outros lugares, a culpa pelo surto cai sobre os judeus.

Tudo isso fazia com que Bucky Cantor questionasse sua relação com Deus. Suas emoções continham a amargura daqueles que não conseguem compreender os "desígnios", a morte de tantos inocentes, e se vê diante de questões perturbadoras. Para ele Deus havia se transformado em um assassino frio de crianças. No seu íntimo, considera-se um Deus responsável, a ponto de encarar a guerra contra doença em algo pessoal.

Ele recebe um convite de Márcia para sair da escaldante cidade de Newark, um idílio sexual longe de tudo, um acampamento com ar fresco, um clima mais ameno e uma temperatura nada doentia. O espírito de luta do seu avô pede para que ele fique e Bucky Cantor diz para si próprio, que não poderia deixar as crianças, afinal, os alunos precisavam dele mais do que nunca. Um dia depois, ele surpreende a si mesmo mudando de ideia.

Fugindo de Newark para o ar fresco de um acampamento de verão numa colina para se encontrar com sua namorada Márcia, seu dilema moral agrava-se. Sentiu-se um covarde por ter saído de Newark, um ato imperdoável que pesava em sua consciência. Ficar noivo de Márcia quase o fez esquecer a pólio, Deus e a raiva que carregava. Mas mesmo assim Bucky se vê na encruzilhada entre o desejo e o dever.

No entanto, algo acontece...

Algo que ninguém poderia imaginar. Apesar do clima idílico, o ar fresco, limpo das montanhas a pólio chega ao acampamento. O que fazer?

Bem, nesse caso, recomendo ir à livraria mais próxima, pegar o livro nas mãos e desvendar as tramas e tragédias que regem mais essa excelente obra de Philip Roth.

Caso você esteja atrás de uma leitura forte, densa, daqueles livros que "fazem pensar", recomendo "Nêmesis". E leia sem moderação.

Veja Philip Roth falando do livro "Nêmesis" :

 

 

 

 

 


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Romance


< O coração das trevas Marighella - O Guerrilheiro que incendiou o mundo >
Nêmesis
autor: Philip Roth
editora: Cia. das Letras
tradutor: Jorio Dauster

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