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Marighella - O Guerrilheiro que incendiou o mundo

Lembro-me como se fosse hoje da morte de Carlos Marighella. Estava estudando para as provas do Colégio Militar, na época tinha 13 anos de idade, quando a televisão anunciou a sua morte. Na época, havia no Colégio Militar cartazes com um fundo amarelo o retrato dos "subversivos" - e lá estava ele puxando a fila. Carlos Marighella nos era vendido como um homem perverso. Na verdade, eu tinha era medo daquelas pessoas nos cartazes.

Na década de 1970, fui militante estudantil a partir de 1977 quando experimentei pela primeira vez o gosto de ser preso no 3º Encontro Nacional de Estudante, em São Paulo. O clima já era outro, mas ainda era pesado. Outro como? O General Geisel anunciava a tal da distensão lenta, gradual e segura. Mas, mesmo assim, foi uma das piores experiências que passei. Não apanhei, e nem fui torturado, mas havia gritos e ameaças. Para um jovem de 21 anos aquilo acabou sendo extremamente assustador. Ainda mais sabendo que muitos presos políticos passaram e morreram no Deops que na época ficava ao lado da antiga rodoviária. Falo sobre isso porque Marighella morreu em São Paulo numa emboscada patrocinada pelo temido delegado Sergio Paranhos Fleury.



Mário Magalhães, autor do livro "Marighella - O Guerrilheiro que incendiou o mundo", da Editora Companhia das Letras, nos abre os arquivos desse personagem polêmico revelando suas histórias que duraram aproximadamente quatro décadas. Começa nos anos 30 e vão até os anos 60, do século XX. Esse passeio tem um ritmo frenético, revelando algo que já sabíamos: Marighella não era um teórico, não há nenhuma sofisticação marxista em sua práxis revolucionária, ele era um revolucionário que vivia seguindo deus dogmas e com eles seguia.

Fico imaginando as dificuldades do jornalista Mário Magalhães, autor desse livro, encontrou para escrevê-lo. A história desse homem foi banida dos compêndios escolares. No entanto, algumas surpresas aparecem no livro como documentos e arquivos públicos e privados na Rússia, Estados Unidos, República Tcheca, Paraguai e Brasil.

Ainda sobre as dificuldades da pesquisa, Magalhães comenta:

 

É difícil apurar a vida de quem certa historiografia oficial eliminou dos compêndios escolares. Além disso, a clandestinidade também dificulta a garimpagem de informações – para ficar em um exemplo, Marighella era avesso a fotografias. A alma do livro são os depoimentos das 256 pessoas entrevistadas. Elas me surpreenderam quase sempre. A maioria conviveu com Marighella, de sua professora de inglês no velho ginásio da Bahia ao companheiro que foi buscá-lo na alameda Casa Branca e o encontrou morto. Também tive surpresas espetaculares de documentos oriundos de arquivos públicos e privados de Rússia, Estados Unidos, República Tcheca, Paraguai e, evidentemente, Brasil.


A obra já está em pré-venda e chega às lojas em outubro.

 


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Biografias


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Marighella - O Guerrilheiro que incendiou o mundo
autor: Mário Magalhães
editora: Cia. das Letras

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