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Eu sei o que você está pensando

O que você faria se recebesse um telefonema e do outro lado da linha alguém lhe dissesse:

"Você acredita em destino? Eu acredito, porque achei que nunca iria vê-lo de novo, até que um dia... ali estava você. Tudo voltou: o modo como você fala, como se mexe – e, acima de tudo, como pensa. Se alguém lhe dissesse para pensar um número de um a mil – no primeiro número que lhe vier à mente. Visualize. Agora veja como conheço seus segredos. Vá até a sua caixa de correios. Chegou lá? Abra um pequeno envelope."

Imagine que você não faz ideia de quem lhe enviou essa carta. E o número que você escolheu é exatamente o que você está na carta em sua caixa postal. E logo em seguida você recebe em casa, vários poemas dizendo como você vai morrer. Vai encarar "Eu sei o que você está pensando", da Editora Arqueiro?



Até que ponto a ficção pode se tornar real? Este é o primeiro ponto a ser discutido sobre o excelente livro policial de John Verdon, "Eu sei o que você está pensando". Alguns amigos, após a leitura dessa obra, levantaram exatamente essa questão, e no meio da conversa, ocorreu-me a história de Theodore John Kaczynski, um prodígio intelectual, matemático que foi aceito em Harvard com a idade de 16 anos e mais tarde obteve um doutoramento, pela Universidade de Michigan e tornou-se professor aos 25 anos de idade, na Universidade de Berkley, Califórnia, e renunciou ao cargo dois anos depois para viver em uma cabana isolada, em Lincoln, Montana, onde viveu como eremita: sem eletricidade, água corrente, tecnologias disponíveis, na tentativa de se tornar um autossuficiente. Entre os anos de 1978 a 1995, Kazinski enviou 16 cartas bombas para diversos alvos, mirando famosos cientistas, universidades e Companhias aéreas, matando três pessoas e ferindo 23. E ameaçou o jornal "The New York Times" e o "Washington Post" se caso publicassem seu manifesto chamado de "Unabomber" desistiria do terrorismo. Seu apelido ficou mundialmente conhecido e ganhou o mesmo nome do seu manifesto - Unabomber.

Vamos supor que o psicopata, Unabomber, não tivesse existido e que sua história fosse um romance policial de John Verdon. Tenho a certeza que os mesmos poucos que criticaram o livro estariam falando a mesma coisa.

Isso seria impossível. Como um cara que vive em uma floresta pode fabricar cartas bombas, e por aí vai. Quando falamos em psicopatas e suas histórias tenebrosas, geralmente falamos em mentes perigosas, mas de baixo teor intelectual. Nunca imaginamos uma mente brilhante psicopata. Mas eles existem.

Os psicopatas, estilo serial killer, trazem transtornos comumente associados a disfunções cerebrais/biológicas ou traumas neurológicos, predisposição genética e problemas na infância como: abuso emocional, sexual, físico, negligência, violência, conflitos, separação dos pais e etc. Por aí, podemos tirar um denominador comum de baixo impacto acadêmico para extrair uma definição, por mínima que seja, de alguns sintomas e de suas origens. E mais do que isso. Todo psicopata sofisticado traz a assinatura da loucura que carrega, de sua obra e na repetição de padrões. Sim, todo psicopata genial tem algo autoral. Ele desafia e quer ser desafiado. Um egóico com alta carga destrutiva e assassina.

A história dá uma reviravolta quando seu “amigo” de escola é assassinado. Ele é trazido de volta à velha profissão de investigador em função do seu conhecimento profissional e sobre a vítima em questão. Um mistério para os que conhecem os meandros das mentes assassinas.

Mas se você pensa que a história é algo simples, "you can take your little horse in the rain", pois não é assim que a banda toca. Um quebra cabeça vai desafiar o leitor a cada página. Mas se você for um daqueles que gosta de resolver casos, prepare-se pois as cartas estão na mesa, ou melhor, estão na caixa postal. Mesmo que você seja um daqueles que gostam de adivinhar os assassinos, apenas uma dica: não foi o mordomo, ok?

Se você estiver lendo essa resenha, pegue logo esse livro e devore em um fim de semana, desses sem nada para fazer, sem ninguém para pedir atenção e entregue-se à leitura. Depois, coloque este livro entre os bons livros policiais que você leu esse ano. Veja bem, estamos falando de um serial killer e não cereal Kellogg’s (trocadilho inevitável, sorry!), portanto, fique preparado, pois... ele sabe o que você está pensando. E boa leitura!


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Suspense


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Eu sei o que você está pensando
autor: John Verdon
editora: Arqueiro
tradutor: Ivanir Calado

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