Watchmen Volume 1 e 2
Alan Moore, nascido em Northampton, Inglaterra, em 18 de novembro de 1953, é um escritor britânico conhecido principalmente por seu trabalho em histórias em quadrinhos, incluindo obras que foram adaptadas para o cinema, como V de Vingança e Do Inferno, já resenhado aqui no site, e vários outros sucessos editorais na área da literatura de quadrinhos.
O livro de que falaremos hoje chama-se Watchmen, publicado pela DC Comics em 1986 e 1987. O sucesso veio imediatamente e conquistou a indústria dos quadrinhos antigos. O desenvolvimento dos personagens em “Watchmen” é muito diferente, trazendo um novo olhar sobre o arquétipo do super-herói. Além disso, o enredo denso, os motivos recorrentes e os subtextos alegóricos colocaram Watchmen em uma categoria própria. Após a publicação e lançamento da série de quadrinhos limitada de doze edições, Watchmen foi coletado, encadernado e comercializado como uma história em quadrinhos para competir com a literatura de outros gêneros. Aclamada como a maior história em quadrinhos de todos os tempos, Watchmen é a única história em quadrinhos a aparecer na revista Time na lista dos 100 melhores romances.
Em 1988, Watchmen recebeu o Prêmio Hugo, distinção concedida pela World Science Fiction Society para o melhor trabalho em ficção científica e fantasia; é a única história em quadrinhos até hoje que recebeu essa distinção. Desde a publicação de Watchmen, outras séries de quadrinhos exploraram a natureza do super-herói. Watchmen continua sendo um texto seminal na forma de quadrinhos.
Antes de entrarmos na história de “Watchmen”, é preciso que você entenda o contexto histórico em que essa história se passa. Esse mundo é fácil de entender para todos aqueles (como eu) que viveram a realidade da Guerra Fria. A história é uma exarcebação dessa realidade, é como se fosse uma realidade paralela ao ocorrido.
Em “Watchmen”, a União Soviética e os Estados Unidos estão envolvidos em um jogo aparentemente interminável de corrida nuclear. O apocalipse paira em cada página através do icônico relógio do fim do mundo, marcando através de segundos até que a humanidade se mate. Os paralelos são óbvios – a década de 1980 foi, afinal, conduzida à sombra da guerra nuclear. Mas muitos elementos aparentemente fantásticos de “Watchmen” são inteiramente reais, como, por exemplo, o Relógio do Juízo Final (The Doomsday Clock), que realmente existe desde 1947 pelos membros do “Bulletin of the Atomic Scientist”. Esse relógio, para aqueles que não sabem, é uma metáfora para as ameaças à humanidade provenientes de avanços científicos, como uma catástrofe nuclear e as mudanças climáticas. Para saber mais sobre, consulte o link abaixo:
https://thebulletin.org/doomsday-clock/timeline/
À medida que a história em quadrinhos avança, Alan Moore e Dave Gibbons criam tensões mudando o ponteiro dos minutos para mais perto da meia-noite. Diferentemente dos quadrinhos, em que o personagem Dr. Manhattan é o elemento de salvação, no nosso mundo real as ansiedades que esse relógio simboliza são muito reais.
Dr. Manhattan é um ex-cientista. Tornou-se um ser onipotente após o experimento nuclear que acabou dando errado. Adquire superpoderes. Ele funciona como uma máquina de propaganda que considera as conquistas em curso no país como moralmente corretas. Sua presença faz com que a União Soviética fique atenta para a opção nuclear, ou seja, a guerra. Tudo porque as habilidades do Dr. Manhattan são francamente divinas: ele foi capaz de vencer sozinho a guerra do Vietnã para os EUA.
Tendo passado anos usando seus poderes prodigiosos em nome do governo dos Estados Unidos, o Dr. Manhattan fica chocado quando é acusado de causar câncer a seus ex-amigos. Quando percebe a acusação, ele fica desiludido. Ele se afasta da humanidade. Acaba se mudando para Marte. Nesse planeta remoto, ele fica só, refletindo sobre a humanidade.
A galeria de personagens de “Watchmen” nos mostra o ambiente lúgubre e cínico que envolve a todos.
Edward Blake / O Comediante é um personagem cínico que acredita que a natureza humana é, em última análise, selvagem. Ele não acredita que o mundo possa ser salvo, mas continua a desempenhar um papel na luta contra o crime, alegando que fará a última piada sobre a humanidade quando ela se destruir, apesar de uma intervenção significativa.
Walter Kovacs / Rorschach é um dos personagens mais complexos do romance. Ele é considerado um sociopata por muitos, e de fato seu passado foi crivado de abusos e violência que alteraram seu caráter. A mãe de Kovacs era prostituta e, quando ele era mais jovem, foi vítima de insultos dos meninos da vizinhança por causa da reputação de sua mãe. Além disso, sua mãe frequentemente abusava dele fisicamente e o considerava um fardo. Rorschach assumiu a luta contra o crime para livrar o mundo de tais influências malignas. Ele afirma que deixou de ser Walter Kovacs durante uma missão para encontrar uma garota sequestrada: ele descobriu que seu sequestrador a matou e deu a seus cães a comida para encobrir seu crime. Rorschach o matou na hora e, com esse assassinato, perdeu qualquer vestígio de inocência que ele pudesse ter deixado.
Laurie Juspeczyk (Espectral) assumiu o lugar de sua mãe, Sally Juspeczk, que mudou o seu nome para Júpiter, para esconder a sua origem polonesa, na década de 1940. Começou a combater o crime em 1938, aos 18 anos de idade, sendo considerada sex symbol. Em 1947, aposentou-se e deu à luz a sua filha Laurie. E começa a prepará-la para seguir seus passos, no papel de “A Espectral” contra o crime. Laurie sempre foi um objeto através do qual Sally tentou viver indiretamente, mas também foi a filha que Sally sempre tentou proteger. Laurie nunca quis seguir os passos da mãe. Laurie é jovem e ingênua quando começa a representar o seu papel de “a Espectral” e se sente atraída pelo Dr. Manhattan. Os dois, no entanto, têm um relacionamento problemático porque Jon é incapaz de se conectar com os desejos humanos dela.
Adrian Veidt é um empresário brilhante e atua como um Watchmen, um herói vigilante chamado Ozymandias por vários anos antes de se aposentar, quando revelou publicamente sua identidade, ou seja, que Ozymandias é Adrian Veidt. Quando jovem, Veidt idolatrava Alexandre, o Grande, mas sempre lamentou o fato de nunca ter alcançado seu objetivo final de unificar toda a humanidade. Veidt (Ozymandias) passa a maior parte de sua vida tentando realizar a ambição de Alexander. Veidt percebe que, como Ozymandias, ele só pode lutar contra pequenos crimes e ter um impacto mínimo no mundo, então ele desiste para se tornar um magnata dos negócios, usando seu incrível intelecto para se tornar um investidor astuto.
Daniel Dreiberg é um inventor e o segundo “O Coruja” (Nite Owl), assumindo a identidade heroica depois que Hollis Mason, “O Coruja” original, se aposenta. Embora Daniel tenha se aposentado quando a lei Keene, de 1977, foi aprovada, banindo vigilantes mascarados, ele descobre que se sente impotente para enfrentar o caos no mundo e a ameaça de guerra até que ele reassuma seu papel como O Coruja (Nite Owl). Quando ele se aproxima de Laurie (A Espectral), ele reassume sua identidade.
Vamos à história?
Em 1985, detetives investigam a morte de Edward Blake na cidade de Nova York depois que um intruso o jogou pela janela de seu apartamento em um prédio alto. Edward Blake na verdade é o nome verdadeiro de O Comediante (personagem), do qual já falamos lá em cima. Quando a polícia sai, aparece um herói fantasiado chamado Rorschach que entra no apartamento de Blake (O Comediante) e começa a sua própria investigação. Quando ele investiga, ele chega à conclusão de que existe uma conspiração para matar os heróis mascarados. Mas ninguém o leva a sério.
Um assassino tenta matar Adrian Veidt (Ozymandias), mas falha e morre no processo. Rorschach continuava investigando a conspiração para (segundo ele) assassinar os mascarados. Só que ele cai numa armadilha e é acusado de assassinar Moloch, um vilão aposentado. A polícia o prende e o aprisiona. Quando chega na prisão, ele é entrevistado por um psiquiatra criminal chamado Malcolm Long. Ele conta a sua história de vida, dos abusos que sofreu, e a partir daí ele cria o personagem Rorschach para punir os malfeitores.
Durante uma rebelião na prisão, Rorschach luta para passar pelos outros presos, e Daniel Dreiberg (O Coruja) e Laurie (A Espectral) o pegam em sua aeronave. No entanto, a polícia já suspeita que Daniel e Laurie sejam vigilantes ilegais, e eles chegam na casa de Daniel imediatamente após Rorschach desaparecer da prisão.
Enquanto a polícia está batendo na porta de O Coruja, Jon (Dr. Manhattan) aparece e se teletransporta com Laurie rumo a Marte, onde ele está refugiado. Ele se sente desconectado da raça humana e precisa que Laurie o convença a retornar à Terra e evitar a Terceira Guerra Mundial. Laurie levanta pontos, como o niilismo e o significado da vida. E o ajuda entender que a vida humana tem algum significado, mesmo sem Deus ou qualquer força guiadora. Dr. Manhattan concorda em voltar com ela e salvar a humanidade.
No entanto, na Terra, problemas à vista. O Coruja e Rorschach escapam da polícia e continuam investigando quem está por trás da morte de O Comediante. Eles descobrem um arquivo de computador, que indica que Adrian Veidt (Ozymandias) está por trás do assassinato de O Comediante. Os dois viajam para Antártica para confrontar Adrian Veidt em sua base. Ele espera por eles e revela o seu plano final: ele sempre acreditou que muitos governos na Terra acabariam por destruir uns aos outros e a si próprio no processo, exterminando a humanidade para sempre. Para evitar isso, ele passou anos projetando uma criatura enorme, um monstro parecido com uma lula que a humanidade acreditará ser um alienígena. Ele vai teletransportar a criatura para Nova York, onde vai detonar, matando milhões de pessoas e simulando um ataque alienígena. Seu objetivo é assustar tantos os EUA como os Soviéticos.
Quando o Dr. Manhattan e Laurie se teletransportam para Nova York, encontram cadáveres em todos os lugares, juntos com os restos da criatura alienígena de Adrian Veidt. Quando Dr. Manhattan e Laurie resolvem ir para Antártica para impedir Adrin Veidt de prosseguir o seu plano, eles ouvem a notícia de que a América e os Soviéticos declararam paz. Dr. Manhattan, Laurie e Daniel Dreiberg (O Coruja) percebem que devem deixar o plano de Adrian Veidt prosseguir sem obstáculos. A ilusão de uma invasão alienígena será destruída, junto com a paz recém-conseguida no mundo.
No entanto, Rorscach não está disposto a comprometer sua moralidade para um bem maior. Ele pretende revelar as ações de Veidt para o mundo. Nesse momento, o Dr. Manhattan o mata para evitar que ele impeça a paz conseguida a duros esforços entre Americanos e Soviéticos. Mas Rorschach fez anotações meticulosas sobre sua investigação em um diário e as enviou a um jornal antes de partir para a Antártica. Um jornalista recebe o conteúdo e está preste a ler. O que acontecerá se ele ler?
Algumas observações precisam ser feitas.
Os personagens da época de ouro dos heróis em quadrinhos eram todos virtuosos e nobres, que sempre fazem a coisa certa e agem para o bem da sociedade. Alan Moore descreve seus heróis como pessoas profundamente imperfeitas. A mancha de sangue no distintivo onde aparece um rosto sorridente representa como o romance desfigura as noções populares de heróis, tornando-os mais dinâmicos e também mais grotescos.
Os vigilantes mascarados não são pessoas boas. Dr. Manhattan foi acusado de envenenar os seus pares com radiação que causa câncer. Os Vigilantes mascarados precisam se defender de seus críticos. O fato de os heróis vestirem máscaras mostra que precisam evitar assumir as responsabilidades por seus atos.
Fico por aqui e indico a todos essa leitura deliciosamente macabra e cheia de subtextos e metáforas que cabem ao leitor desvendar.
Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, merece um lugar de HONRA na sua estante.