O Deserto dos Tártaros
Dino Buzzati serviu ao exército e saiu como sargento. Essa experiência serviu para que escrevesse essa obra-prima antes da Segunda Guerra Mundial. Segundo o autor, o romance veio num jorro, numa madrugada quando voltava do jornal para casa. A ideia aconteceu na monotonia do turno da noite, quando trabalhava no Corriere della Sera, naqueles dias. A sensação da rotina que nunca acabava e consumia a vida do autor fez com que o romance acontecesse rapidamente.
O livro começa em uma colina totalmente isolada do mundo, onde o Forte Bastiani é erguido. Um grande deserto, absolutamente isolado de tudo e de todos. Nesse cenário desolado, o tenente Giovanni Drogo é designado a servir. Como um militar deve mostrar disciplina, desprendimento e assumir todas as missões que lhe forem designadas e não decepcionar seus superiores. Nessa paisagem desértica há uma misteriosa névoa permanente, encobrindo a visão do futuro. Todos os dias são iguais. O tenente Giovanni Drogo anseia pela glória militar no campo de batalha, e isso nunca aconteceu no Forte Bastiani. Apesar de alguns oficiais de idade tentarem animá-lo dizendo que os tártaros ainda estão lá se preparando para a guerra, e que a melhor atitude é esperar, esperar e esperar.
“A ampulheta avança sem pedir licença, não espera que a acompanhemos em sua voracidade, tudo depende da nossa percepção do que vale a vida e do que a mesma merece que com ela façamos. A areia que se esvai por entre os dedos está em nossas mãos. Os dedos são nossos e o que fazemos com a areia que entre eles escapa é nossa decisão, só nossa.
”Reféns de si próprios, acompanhamos como leitores essas vidas perderem o viço da juventude e a alegria de viver, reprimidos pela esperança que a paisagem do deserto, ao norte, manifesta na linha do horizonte. Enquanto as boas coisas parecem estar sempre à espera, a juventude passa. Se o romance perde em ação ganha em momentos de reflexão sobre a vida, o que parece familiar para quem já parou para pensar se nós estamos fazendo o melhor uso do tempo que temos na terra.
O deserto dos tártaros é um romance que assume tons quase kafkianos, em que o homem é colocado em uma situação opressiva da qual não pode escapar. Mas enquanto Kafka escreve como um pesadelo Buzzati escreve como uma elegia, cheio de compaixão com o protagonista.
A conclusão que podemos chegar lendo O deserto dos tártaros é que quando um guerreiro fica parado, esperando que a guerra apareça, pode morrer de fome de ação.
Esse é um livraço! E Dino Buzzati é um escritor que sempre escolheu o bom combate.