Livros > Resenhas

Lugares

Como livreiro que sou preciso estar atento não só para escritores conhecidos, mas principalmente para aqueles que, fora do grande circuito das grandes editoras, esmeram-se em fazer sua escrita de boa qualidade conhecida. E confesso que tive um grande prazer em descobrir Olavo Wyszomirski. Esse sobrenome, típico da Bahia, (rs) que precisa ser teclado na base do control C, control V possui um enorme talento. Sua escrita é clara e carrega influências do que de melhor a literatura pode nos fornecer. Detalhe. Possui um estilo próprio e altamente convincente. Para aqueles que gostam de histórias sobrenaturais, “Lugares” é um prato cheio.

Todos nós já escutamos histórias meio macabras onde o sobrenatural aparece sem nenhuma explicação. O mais conhecido é o sobrenatural de Almeida, personagem de Nelson Rodrigues. Ele é um fantasma que se esconde e aparece nos gols improváveis, normalmente contra o Fluminense Futebol Clube.

Existem programas de televisão mostrando o que de bizarro acontece numa região que não sabemos muito bem identificar. Algo próximo a uma realidade paralela. Espíritos que desencarnam e não conseguem seguir seu caminho e ficam vagando no mundo dos vivos totalmente perdidos. Confesso que não ousaria em afirmar ou negar algo que desconheço. Existe a famosa frase espanhola que diz: “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay” (eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem). Olavo as cria. Outro personagem imortalizado por Nelson Rodrigues é o Gravatinha. Segundo Nelson, Gravatinha morreu em 1958, vítima da gripe espanhola que causou inúmeras vítimas. Torcedor ardoroso do Fluminense é magro. Sua presença no estádio é prenúncio de vitória. Nos centros espíritas tem uma voz de criança. Sua presença no estádio anuncia vitória do Fluminense, uma vez que  Gravatinha é um ser do outro mundo e já conhece o resultado do jogo por antecipação. E só aparece no Estádio para ver o Fluminense ganhar.

Em um de seus contos macabros, Olavo Wyszomirski conta a história de Ramiro Jose Sanchez, um médico legista conceituadíssimo, filho de pais pobres e que viveram suas vidas para proporcionar o que de melhor o filho poderia usufruir. Um diploma de médico e ainda ver seus trabalhos científicos sendo reconhecidos em todo mundo. Casado com Anelize tiveram um filho chamado Miguelito e sua vida parecia que caminhava muito bem quando de repente foi atacado por uma amnésia.

E o conto segue baseado nos relatos daqueles que viram o drama desse médico. Após as primeiras quarenta e oito horas, ou seja, após o surto, tudo parecia ir muito bem. Mas, no entanto, algo de muito estranho se apossou da personalidade de Ramiro. Segundo o relato daqueles que vivenciaram tal transformação, esse novo homem era outro alguém totalmente diferente do original. Um homem que desaprendeu sua língua materna, e falava um inglês fluente. Um homem que falava sobre a história com todos os antepassados como se lá um dia esteve. E o mais estranho. Possuía dons premonitórios. Um homem cheio de conhecimentos nas mais diversas áreas. Quem será este novo homem que se apossou de Ramiro? Bem, darei nome desse espírito, só por uma questão didática. O nome desse espectro era William Hunt. E o que aconteceu com Ramiro? Que outros dons misteriosos esse novo espírito exibia. E sua família? Como se comportou diante desse novo homem? E seus amigos de trabalho? Por onde andará Ramiro José Sanchez?

Mas o livro tem muito mais, como o conto do fotógrafo. Um assassino frio e calculista infestava de terror e horror as ruas do Rio de Janeiro. Todos falavam deste monstro com certa reserva, pois a simples menção desse canalha vinha seguida de em nome do pai, do filho e do espírito santo. Todos se benziam. E qual a causa desse pânico? Simples. Ele fotografava seus crimes. E era conhecido como “fotógrafo”. O delegado Roberto Vaz da décima terceira D.P. em Botafogo. Era um desses homens que foram talhados para estar onde exercia sua profissão. Um homem cético, mas convicto de algumas poucas certezas que ainda possuía.

No centro do Rio de janeiro, onde folheava um livro em uma livraria recebeu um telefonema em seu celular, um incidente estranho ocorrera fora de sua jurisdição na estrada das Canoas. Mas algo chamou a sua atenção. Um instinto daqueles que aparecem sem dar nenhuma satisfação lógica, o fez ir à cena do crime. E quando ele viu seu grande amigo Rique Casagrande (instrutor de asa delta) com a cabeça ao lado, morto. E dentro do seu carro vários negativos e um rolo de filmes. Pergunto: E aí? Bem, podemos dizer sem problema algum, esse assassino entrou no portfólio do delegado Roberto como prioridade. A cada crime que acontecia, as mesmas marcas, as mesmas evidências, o mesmo modo de atuar, o assassino permanecia cada vez mais distante, um ser sem nome, um homem que só deixava evidências. Deixo com vocês para resolver este mistério. E não só estes como tantos outros em “Lugares” de Olavo Wyszomirski. Um livro fácil de ler, pequeno (59 páginas), mas cheio de temas escabrosos. Cabe a você leitor experimentar as histórias desses “Lugares”. Um livro que vale a pena ser lido, um livro que merece um lugar na sua estante.


Data: 08 agosto 2016 (Atualizado: 08 de agosto de 2016) | Tags: Suspense


< Casa das estrelas Eu receberia as piores noticias dos seus lindos lábios >
Lugares
autor: Olavo Wyszomirski
editora: Livros Ilimitados
gênero: Suspense;

compartilhe

     

você também pode gostar

Resenhas

O veredicto de chumbo

Podcast

Indignação

Resenhas

O Livro dos Espelhos