Drácula
“Drácula” é um romance epistolar de terror gótico escrito em 1897 por Bram Stoker, um autor irlandês que ficou famoso após escrever essa história. Foi seu único sucesso editorial, mas ficou imortalizado mais tarde no cinema e na televisão. Confesso que a versão cinematográfica de “Drácula” de Bram Stoker feita por Francis Ford Coppola foi o mais incrível que eu já vi no cinema.
Filho de pais protestantes irlandeses de classe alta, Bram Stoker sofreu uma doença grave quando ainda menino, o que o levou a começar a ler, despertando-lhe, provavelmente, o interesse pela literatura. Frequentou o Trinity College em Dublin. Acabou embarcando numa carreira teatral em Londres, onde manteve amizades com intelectuais como Oscar Wilde. Foi gerente de negócios por mais de uma década. Mais tarde acabou trabalhando no jornal londrino Daily Telegraph como repórter e crítico literário. Foi a partir daí que começou a escrever “Drácula”, seu romance de maior sucesso. O romance habitou e ainda habita o universo do imaginário popular ocidental, inspirado nas ideias vitorianas de moralidade e nas reinterpretações dos mitos da Europa central sobre vampiros.
Christopher Frayling escreve o prefácio, explicando as reações do público sobre o livro. Em um primeiro momento, o livro foi recebido como um livro de “uma série de eventos grotescamente incríveis”. Em síntese, uma literatura menor. No entanto, o livro incomodava por uma razão e outra, mas não causavam desconforto, por exemplo, em Oscar Wilde e Henrik Ibsen. Apesar do incômodo, ninguém conseguia saber a localização desse incômodo. Os leitores vitorianos tardios (nas palavras do prefaciador de Christopher Frayling) liam o romance como hoje conhecemos a ficção científica, onde transfusões de sangue, gravações fonográficas e taquigrafia eram para a época algo incrivelmente novo. Tudo isso como pano de fundo de uma guerra entre as forças do bem (ciência, religião e conexões sociais) versus o rei demônio (vampiro) e sua laia de moradores da Transilvânia.
Para finalizar, “Drácula” surge em um contexto social e político na sociedade inglesa do reinado da Rainha Vitória, ou seja, de 1837 a 1901. Foi durante esse período que a Inglaterra experimentou uma grande quantidade de mudanças econômicas, sociais e políticas. Durante o reinado da Rainha Vitória, a Inglaterra expandiu suas propriedades coloniais para formar um império que se estendia da Índia aos portos da China, às ilhas do Caribe, a grandes regiões da África nas quais a Inglaterra tinha um comércio e outros interesses financeiros. O imperialismo britânico durante esse tempo causou a entrada de uma grande quantidade de dinheiro em Londres, a capital do império, mas também causou uma maior troca de informações, histórias e lendas em todo o mundo. As lendas das montanhas dos Cárpatos, na atual Romênia, constituem a base do romance “Drácula”.
Em 1890, antes de escrever “Drácula”, Bram Stoker visitou a cidade litorânea de Whitby, na Inglaterra, e conheceu o escritor húngaro Ármin Vámbéry, que também estava de passagem na cidade e contou histórias sombrias sobre Cárpatos, o que inspirou Stoker a pesquisar histórias mitológicas europeias e folclores sobre vampiros.
Vamos à história?
Um jovem inglês chamado Jonathan Harker viaja pela Transilvânia em uma viagem de negócios. Nessa viagem ele pretende ajudar o Conde Drácula, um nobre da Transilvânia, a comprar uma propriedade em Londres. Sua jornada, no entanto, a essa remota paisagem do leste europeu acaba se tornando assustadora, embora inicialmente ele se encante com a generosidade e a inteligência do Conde. Aos poucos ele vai percebendo que é um prisioneiro no castelo do Drácula e que o Conde é um ser demoníaco que planeja fazer algumas visitas sinistras em Londres.
Drácula entrega Jonathan Harker nas mãos de três vampiras muito sexys. Sabendo o que estava em jogo, ele tenta desesperadamente uma fuga. Na verdade, elas queriam beber o sangue de Jonathan. Mas Drácula intervém dizendo que Jonathan Harker era dele e o carrega para o quarto dele (de Jonathan). Ao se ver preso, ele tenta uma saída através de uma capela profunda no porão do castelo, onde Drácula dorme em uma caixa de madeira cheia de terra. Jonathan tenta matá-lo, mas Drácula escapa e se fere superficialmente. Jonathan escapa do castelo pela janela e traz o seu diário com ele, para provar as experiências vivenciadas à sua noiva Mina.
Enquanto isso estava acontecendo com Jonathan, sua noiva Mina visita sua melhor amiga, Lucy Westenra. Lucy havia recentemente recebido três propostas de casamento de três homens ilustres: Arthur Holmwood, Dr Sward e Quincey Morris. De todos esses três, ela escolhe Arthur para ser seu noivo. Mina e Lucy passam as férias juntas em Whitby, uma pitoresca cidade litorânea. Enquanto elas estavam lá, aconteceu o terrível acidente. Um navio russo naufragou. Um grande cachorro entre os destroços foge. A tripulação está desaparecida. A única certeza é que o capitão havia morrido. O navio entregava cinquenta caixas de terra do castelo de Drácula. Apesar do acidente, as caixas foram entregues conforme pedido. Lucy começa a apresentar um comportamento estranho: ela, que já sofria de sonambulismo, começa a apresentar uma fisionomia pálida e vai ficando cada vez mais fraca.
Ela havia sido encontrada por Mina numa noite deitada sobre um túmulo em um cemitério em Whitby com uma sombra medonha acima dela, como se a possuísse. Mina a leva de volta para sua casa e percebe nos dias seguintes que o estado dela está piorando. Mina chama Arthur (noivo de Lucy) e Seward, um médico e chefe de um asilo de loucos em Londres, e Morris, um homem do Texas para ajudar Lucy. Como já foi dito, Seward e Morris eram ex-pretendentes de Lucy e agora seus amigos. Seward que não consegue decifrar o que aconteceu a Lucy e resolve chamar seu ex-professor Abraham Van Helsing de Amsterdã para ajudar Lucy.
Van Helsing acredita que conhece a causa da doença de Lucy, mas evita dar um diagnóstico preciso a Seward e ao resto do grupo. Lucy está perdendo sangue à noite e, por sua vez, Arthur e Morris, Van Helsinger e Seward doam sangue para Lucy, mas não é o suficiente. À medida que o tempo vai passando, algo terrível acontece. Uma noite, quando os homens do grupo estão fora e a mãe idosa de Lucy está em seu quarto velando o seu sono, um lobo pula a janela de Lucy e sai correndo – Lucy documenta isso em seu diário e sua mãe morre com o choque do ataque do lobo. Posteriormente, Lucy não pode ser salva por quaisquer outras transfusões de sangue e ela falece cercada pelos homens do grupo.
Sem saber da terrível notícia, Mina está em Budapeste cuidando de Jonathan Harker (seu noivo), que havia sofrido um colapso nervoso em função dos traumas sofridos no castelo de Drácula. E algumas vezes chega a duvidar se tudo que ele passou foi devido a uma alucinação. Quando Nina e Jonathan Harker voltam a Inglaterra, Van Helsing esclarece a Jonathan que tudo o que ele vivenciou não foi alucinação, mas real. Van Helsing reúne todos homens e faz uma revelação bombástica: Lucy não morreu, mas transformou-se em uma vampira “não morta”.
Ataques misteriosos contra crianças começam na área onde Lucy foi enterrada. Todos os homens vão até o cemitério de Lucy, observam-na assombrando o terreno e tentando sugar o sangue de crianças e, mais tarde, “matam-na de verdade”. Arthur, aquele que seria seu marido, mata definitivamente Lucy estacando-a no coração. Os quatros homens prometem acabar com Drácula.
Mina e Jonathan juntam-se aos homens e, usando o asilo de loucos do Dr Seward como quartel general, eles planejam destruir Drácula para sempre. As cinquentas caixas de terra que sobreviveram ao naufrágio estão espalhadas em Londres, cheias de terras sagradas da Transilvânia na Inglaterra – Drácula precisa dessas caixas para dormir, para manter seus poderes. Essas caixas eram fundamentais para a existência do Drácula. Todos os homens liderados por Van Hessling tinham um plano para evitar que Drácula gerasse mais “mortos-vivos” a serviço dele.
Jonathan percebe que sua mulher, Mina, parece que está com os mesmos sintomas de Lucy. Mina começa a ficar pálida quando todos presenciam Drácula mordendo o pescoço dela. Jonathan (seu marido), que estava em um transe profundo no asilo onde o professor Seward escondera Mina, não percebeu a presença do vampiro. Isso causa um desespero no grupo, principalmente quando Mina sente os sintomas causados pelos dentes de Drácula.
No asilo, Seward também teve conversas com um homem louco chamado Renfield, que fala em querer ganhar a "força vital" dos animais que ele come, como moscas, aranhas e até pássaros enquanto estão crus e vivos. Descobrem que que possui uma comunicação com Drácula, pois foi graças a ele que Drácula entrou no asilo e formou um vínculo de sangue com Mina.
O grupo percebe que deve esterilizar essas caixas com hóstias sagradas para remover suas propriedades restauradoras especiais e destruir Drácula. O grupo encontra 49 das 50 caixas em Londres, na propriedade Carfax, e em outras propriedades do Drácula, e as esteriliza; mas a última caixa, eles percebem, Drácula levou de volta para a Transilvânia. O grupo rastreia Drácula e essa caixa final para o castelo de Drácula.
Na busca por Drácula, decidem levar Mina, graças às ligações de sangue com Drácula. Eles acreditam que Drácula pousará no porto de Varna, perto da Romênia, mas na verdade ele pousa em Galatz. O grupo o intercepta. No entanto, enquanto ele dorme em sua última caixa a caminho do castelo, Harker e Morris o apunhalam no coração e cortam sua cabeça, matando-o verdadeiramente – libertando sua alma de seu corpo não-morto.
Mas Morris é ferido por um cigano durante esse ataque e morre em seguida. Em uma nota final, escrita sete anos depois, Jonathan Harker diz que ele e Mina agora têm um filho, em homenagem a Morris, e que Seward e Arthur acabaram encontrando o amor e se casando. Eles escrevem que eles e Van Helsing temem que ninguém acredite em sua história fantástica do Drácula, embora tenham meticulosamente reunido os relatos de suas atividades para "provar" sua existência.
Drácula de Bram Stoker é um livro que tem um potencial sexual imenso. Ao escrever o romance, implicitamente confunde pecado com a sexualidade de uma forma moralizante. Cenas incrivelmente picantes, sensuais e sexuais são descritas, principalmente com a chegada das três vampiras, aproximando-se sedutoramente de um impotente mas desejoso Jonathan.
Drácula foi baseado na lenda de Vlad Tepes (Vlad III), que nasceu em 1431 e governou grande parte do território que corresponde a atual Romênia. Vlad Tepes foi um nobre cristão que lutou contra os turcos. Ele era um defensor de seu país, chegando a ganhar elogios do Papa por suas campanhas contra os muçulmanos. Os tempos eram cheios de medo para a cristandade – Constantinopla, a Roma do Oriente, acabara de cair nas mãos dos turcos. Vlad tornou-se lendário por sua crueldade para com os inimigos muçulmanos e cristãos. Ele tornou-se famoso por empalar as vítimas, um método que demorava dias para o condenado morrer. Depois de uma batalha, milhares de soldados turcos foram empalados sob o comando de Vlad. E foi na lenda de Vlad que Bram Stoker criou o seu Drácula.
“Drácula”, de Bram Stoker, merece um lugar de destaque na sua estante.