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Doce Pássaro da Juventude

“O Doce Pássaro da Juventude”, de Tennessee Williams, abre o ano de 2025 no site Bons Livros para Ler. E devo dizer que essa peça – como todas as peças desse autor – é simplesmente maravilhosa.

“Doce Pássaro da Juventude” se desenrola na semana de Páscoa.Vemos a ressurreição de Chance, personagem principal do enredo, queacaba sendo sacrificado pelas circunstâncias no final da história.

“Doce Pássaro da Juventude” também acabou se transformando em filme. Dirigido e roteirizado por Richard Brooks. Tendo um elenco de primeira grandeza: Paul Newman, Geraldine Page e Shirley Knight. O final do filme não tem nada a ver com a história original. Tem um final feliz, diferentemente da peça, cujo final é duro e violento.

Desconheço a reação de Tennessee Williams com o final da história que foi adaptada para o cinema. Mas, seja como for, devo dizer que o filme não é ruim, de jeito nenhum. As interpretações são ótimas, elenco impecável. Não entendi o fim. Apenas isso. A peça é infinitamente melhor.

“Doce Pássaro da Juventude” é um drama em três atos. Essa peça, encenada pela primeira vez em 1959,  fez um enorme sucesso de público e bilheteria, mas para muitos essa peça é o início da decadência de Tennessee Williams. Particularmente. eu adorei o texto. Achei o texto poderoso e ao mesmo tempo duro,sem perder a poesia. O domínio da linguagem é absoluto. A tradução de Clara Carvalho e do Grupo Tapa é um primor.

Vamos à história?

A história começa narrando a relação conturbada entre um garoto de programa chamado Chance Wayne e a estrela de cinema alcoólatra Alexandra Del Lago, também conhecida como Princesa Kosmonópolis. Chance Wayne traz a atriz de cinema para a sua cidade natal, St. Cloud, Flórida, na esperança de recuperar sua antiga glória e recuperar sua ex-namorada, Heavenly.Enquanto tenta persuadir a Princesa a alavancar sua carreira de ator, na indústria cinematográfica, Chance Wayne mostra a Princesa Kosmonópolis a todos na cidade como seu troféu.

No hotel, ele acaba se encontrando com o Dr. Scudder, que bate à porta de seu quarto e pergunta o que Chance Wayne veio fazer na cidade.

“Scudder: O auxiliar de gerência que fez seu registro no hotel na noite passada me ligou essa manhã avisando que você tinha voltado para S.t Cloud.

Chance: E você veio direto para cá me dar boas-vindas na minha volta ao lar?

Scudder: Acho que sua amiga está voltando do além.

Chance: A Princesa teve uma noite difícil.

Scudder: Quer dizer que você arrumou uma Princesa?(debochando) Puxa!

Chance: Ela está viajando incógnita.

Scudder: Claro, caramba para entrar nos hotéis junto com você!

Chance: George, você é a única pessoa que eu conheço que ainda fala “puxa” e “caramba”, sabia?

Scudder: É que eu não sou um homem sofisticado, Chance.

Chance: Ah, não é mesmo. Quer café?

Scudder: Não. Vim só para conversar. Coisa rápida.

Chance: Ok. Pode falar.

Scudder: Por que você voltou para S.t Cloud?

Chance: Eu ainda tenho a minha mãe e uma namorada em S.t Cloud. Como vai Heavenly, George?

Scuydder: depois falamos sobre  isso. (Dá uma olhada em seu relógio.) Tenho uma cirurgia no hospital daqui a vinte e cinco minutos.

Chance: Então agora você faz operações?

Scudder (abrindo sua bolsa de médico): Sou o chefe da equipe agora.

Chance: Cara você chegou lá.

Scudder: Por que você voltou?

Chance: Eu soube que a minha mãe estava doente.

Scudder: Mas você perguntou “Como vai Heavenly”, e não Como vai minha mãe”, Chance. (Chance toma um gole de café. Sua mãe morreu há mais de duas semanas.” (pág. 239; pág. 240; pág. 241)

 

Chance não soube da morte da mãe, pois não tem residência fixa, ele está sempre viajando – ele nunca recebeu a notícia sobre o falecimento de sua mãe. Percebe-se que o seu objetivo é Heavenly, sua namorada. Ele sempre foi louco por ela. Mas recebe um aviso para que ele não retome o contato com ela e o motivo foi:

“Scudder: Sente mais para cá, para eu não tenha que falar alto. Venha aqui, eu não posso falar alto sobre isso. (Scudder mostra uma cadeira perto do tamborete, Chance vai até lá e põe o pé sobre a cadeira. Nessa carta eu lhe dizia que uma garota que nós conhecemos tinha passado por uma experiência horrível, trágica uma provação mesmo, por causa do último contato que teve com você. Eu lhe dizia que só estava lhe dando essa informação para você saber que era melhor pensar duas vezes antes de voltar a St.Cloud, mas você não pensou” ( pág. 243)

Mais adiante,Scudder diz:

“Scudder: Não vamos mencionar nomes, Chance, eu corri para cá hoje de manhã assim que soube que você  tinha voltado para St. Cloud antes que o pai e o irmão da garota soubessem que você tinha voltado para impedir que você tentasse entrar em contato com ela e para tentar tirá-lo daqui. Isso é tudo o que eu tenho a  dizer para você neste quarto, neste momento... Só espero ter falado de uma maneira que o tenha impressionado, deixando cara e absoluta urgência com que você precisa ir embora daqui.” (pág. 243; pág. 244)

Isso não intimida Chance, e Scudder faz uma revelação. Ele diz que está noivo de Heavenly:

“Scudder: (na escada) Você não tem namorada nenhuma em St. Cloud. Heavenly e eu vamos nos casar mês que vem. (vai embora abruptamente.” (pág. 245)

Quando Scudder sai, “Princesa” começa a acordar. Ela não tem a menor ideia de onde está, e não tem a menor ideia de quem seja Chance. Os dois estabelecem uma conversa para tentar recuperar a memória dela. Chance se apresenta. Ele diz que Princesa sofreu uma decepção recentemente. Princesa pede a máscara de oxigênio. Ela pede tudo que tem direito. Vodca, pílulas são algumas das armas que Princesa pede para tentar esconder as decepções que havia sofrido recentemente.

“Chance: Você engordou bastante depois da decepção que teve no mês passado.

Princesa: (batendo nele com um travesseiro): Que decepção? Eu não me lembro de nenhuma decepção.

Chance: Você consegue controlar assim sua memória?

Princesa: Consigo. Tive que aprender. Que lugar é esse? Um hospital? E você? Você é o quê? Um enfermeiro?

Chance: Eu cuido de você, mas não sou seu enfermeiro.

Princesa: Mas você é meu empregado, não é? Para fazer alguma coisa, não é?

Chance: Você não me paga um salário

Princesa: Então eu pago o quê? Só suas despesas?

Chance: É. Você paga as contas.” (pág. 250)

Nós iremos descobrir quem de fato é a Princesa. Sabemos que o nome dela é Alexandra Del Lago. Ela havia acabado de fazer um filme, mas no dia da estreia ela entrou em pânico quando se viu tão velha. Ela ouviu as pessoas sussurrando com uma dose de maldade sobre sua idade. Ela saiu correndo em um surto de pânico, pegou o carro, fugiu e não parou mais. Ela fugiu, e parou de correr. Ela começou a viajar assumindo um pseudônimo de “Princesa Kosmonopólis”. De resort em resort, sempre bebendo muito, acabou conhecendo Chance Wayne em um resort em Palm Beach. Conforme sua memória retorna, a Princesa vai se lembrando de como se envolveu com Chance.

“Princesa: Meu Deus, eu me lembrei do que eu não queria me lembrar. A droga do fim da minha vida!” (pág. 258)

Os dois conversam. Chance adquire um gravador para aprimorar sua dicção e secretamente grava a conversa com Princesa. Ele enrola um baseado para a Princesa e pergunta como ela conseguiu levar a droga para o país.

“Chance: Foi você que trouxe isso para dentro do país, você trouxe e contrabandeou pela alfândega dos Estados Unidos. Você tinha uma boa quantidade disso naquele hotel em Palm Beach e foi convidada a sair as pressas por causa do cheiro que se espalhou pelo corredor com a brisa da noite.

“Princesa: O que você está tentando provar?

Chance: Vai negar que foi você que me introduziu nisso?

Princesa: Olha, garoto, duvido muito que haja algum vício que eu precisasse apresentar para você....

Chance: Não me chame de “garoto”.

Princesa: Por quê?

Chance: Parece uma condescendência. E todos os meus vícios foram aprendidos com outras pessoas

Princesa: Está querendo provar o quê? Agora minha memória voltou. Com clareza excessiva. Foi essa prática mútua que nos aproximou. Quando você veio em minha cabana me fazer uma massagem com creme de papaia, você farejou sorriu todo malicioso e disse que também queria fumar um pouco.” ( pág. 265)

A conversa segue e as coisas ficam mais claras.A memória dela vai adquirindo contornos mais nítidos. Essa memória envolve sexo, haxixe e contratos envolvendo estúdios cinematográficos. Chance lembra que Princesa havia  assinado um contrato com promessasde ele atuar.

“Chance: Mas acho que o contrato que assinamos está cheio de falhas.

Princesa: Para falar a verdade está mesmo. Eu posso me livrar dele se eu quiser. O estúdio também. Você tem algum talento?]

Chance: Para quê?

Princesa: Para atuar, meu querido ATUAR!

Chance: Agora não tenho tanta certeza como antes. Tive mais chances do que possa contar nos dedos, e quase cheguei lá em todas elas, mas nunca cheguei plenamente. Alguma coisa sempre bloqueia...

Princesa: O que é? O quê? Você sabe?( ele se levanta. Ouve-se “O Lamento” ao longe.) Medo?

Chance: Não, não é medo, mas terror...senão, você acha que eu seria um maldito acompanhante e ficaria rebocando você pelo país? Que eu ficaria te levantando quando você cai por aí? Acha que eu ficaria? Se não fosse esse bloqueio, eu só faria isso por uma estrela!

Princesa: Carl!

Chance: Chance... Chance Wayne. Vocêestáchapada.

Princesa: Chance, volte para a sua juventude . Deixe de lado essa dureza feia e falsa e...

Chance: E seja enganado por todos os aproveitadores que eu encontro?

Princesa: Eu não sou uma impostora, acredite...

Chance: Então o que você quer? Vamos pode dizer , Princesa.

Princesa: Chance, venha aqui. (ele sorri, mas não se mexe.) Venha aqui e vamos nos consolar um pouco um ao outro. (ele se agacha perto da cama: ela o abraça com os braços nus.)

Chance: ¡Princesa! Sabe de uma coisa? Sabe que toda essa conversa foi gravada?”(pág268)

O objetivo dessa gravação feita de uma maneira, vamos dizer, “clandestina” e chantagista, é para garantir que Princesa cumpra sua palavra de torná-lo um ator. Princesa não cai na armadilha dele:

“Princesa: Você está tremendo e suando... está vendo que esse papel não serve para você, você simplesmente não representa bem esse personagem, Chance... (ele põe a fita numa mala.) É aflitivo imaginar o tipo de desespero que o levou a tentar ME intimidar A MIM, ALEXANDRA DEL LAGO, com essa ameaça ridícula. Por que é tão idiota, tão tocante, tão absolutamente comovente, que me faz sentir mais próxima de você, Chance?

Você teve berço, não é? Nasceu numa boa família sulista de gente bem educada, com uma única desvantagem: colocaram cedo demais uma coroa de louros na sua cabeça, sem que você tivesse feito qualquer esforço para merecê-la... Onde está seu álbum de recortes, Chance? (ele vai até a cama, pega o talão de traveller’schecks de dentro da carteira dela e lhe dá.) Onde está seu álbum cheio de pequenas notícias de teatro recortadas e imagens de filmes em que você aparece de...?” (pág. 271)

Princesa pede que Chance conte a história dele. Se ele a convencer, elaabrirá as portas do cinema para ele. Nesse momento, Chance fala sobre suas amantes, de todos os tipos, as de meia-idade, as solitárias, mas, sempre que ele estava nas portas de conseguir algo para impulsioná-lo, a lembrança de sua namorada o impedia de seguir em frente. Ele menciona a marinha quando foi convocado para servir na guerra de Coreia. Ele optou pela Marinha, pois o uniforme o deixava mais bonito. Não conseguiu se adaptar à vida militar, à disciplina. E aquilo acabava com tudo que ele havia sonhado para ele.

Ele acabou sendo dispensado da Marinha. E logo depois ele confessa que o motivo de ele ter trazido a Princesa foi a namorada, Heavenly:

“Chance: Princesa, a grande diferença entre as pessoas neste mundo não é entre ricos e pobres ou entre bons e maus; a maior de todas as diferenças neste mundo é entre aqueles que tiveram, ou têm o prazer no amor e aqueles que nunca o tiveram, mas só assistiram com inveja, uma inveja doentia. É a diferença entre espectadores e atores. E não me refiro ao prazer comum, nem o prazer que pode comprar, estou falando do grande prazer e nada do que aconteceu comigo ou com Heavenly desde então pode apagar as muitas noites longas que passamos acordados e em que demos um ao outro tanto prazer no amor quanto muita gente, olhando para trás, pode se lembrar de ter tido nessa vida. (pág.281;pág. 282)

O pai de Heavenly não deixou que ela se casasse com ele, pois achava que ela merecia algo muito melhor. Quando Chance acaba de contar a sua história de vida,surge uma ideia em sua mente, ele quer organizar um concurso de beleza local.

“Chance: É! Em resumo, a ideia é que você está fazendo um teste com talentos locais para escolher um par de jovens desconhecidos para estrelar um filme que você planeja fazer para você mostrar sua fé na juventude, Princesa. Você finge que está fazendo esse teste, convida outros juízes, mas a decisão final é sua!” (pág. 284)

Ela ligará para o seu estúdio e dirá que encontrou dois atores para estrelar um filme sobre a juventude. Caso ela faça isso, ele poderia obter a aceitação do pai de Heavenly, Boss Finley.

Boss Finley é um político de St, Cloud e ele nunca deixou que esse relacionamento persistisse. Por causa disso, Chance tentou de tudo para que ele pudesse voltar a St. Cloud e convencer Boss a conceder a mão de sua filha. Ele nunca conseguiu. Contra Chance, a perda da virgindade da filha com 15 anos foi o suficiente para que Boss saísse da cidade. Para se manter, ele teve que recorrer ao trabalho como gigolô, dormir com mulheres mais velhas como uma forma de se sustentar.

Princesa concorda em ajudá-lo com a condição de satisfazê-la sexualmente. Ele concorda. E sai com o Cadillac da Princesa para impressionar qualquer um que o veja passando. Quando  a notícia da volta de Chance chega aos ouvidos de Boss, ele fica furioso. Pede ao filho, Tom Junior, que remova Chance da cidade. Heavenly havia adquirido uma doença misteriosa.

“Scudder: Acho que eu fiz entender como é importante que esse assunto seja tratado com discrição.

 Boss: A mesma discrição com que você lidou com a operação que fez na minha filha? Tão discretamente que esses caipiras enxeridos ficam me fazendo perguntas sobre essa operação sempre que eu vou fazer algum discurso.

Scudder: Fiz de tudo para preservar a operação em segredo.” (pág. 290)

Chance tenta entrar em contato com Heavenly através de Tia Nonnie(que é irmã da falecida mãe de Heavenly),que gosta dele e o defende para Boss e Tom Junior.

“Tia Nonnie: Eu me lembro de quanto Chance era o melhor e o mais bonito e doce rapaz de S.t Cloud, e ele foi assim até o dia que você...”( pág. 296)oexpulsou da cidade.

Existe uma questão política em jogo que precisa ser preservada. Tom Junior (filho de Boss) tem vários vexames em seu currículo vitae. Dirigir bêbado, passar em Universidade com exame fraudado. entre outros. Boss se sente um enviado de Deus para exercer mais um mandato político.

Heavenly entra, e Boss exige que ela aja como uma jovem mulher de verdade.

“Heavenly: Papai, eu sinto muito que a minha operação tenha lhe trazido tantos transtornos quando descobri que a faca do dr. George Scudder tinha cortado a minha juventude do meu corpo e me transformado numa mulher velha e sem filhos? Seca, fria, vazia como uma velha. Eu me sinto como uma videira seca e morta que chacoalha sempre que o vento do golfo sopra..., mas papai, eu não vou lhe causar problemas. Eu tomei uma decisão. Se eu for aceita, se deixarem, vou entrar para um convento.” (pág. 306)

Obviamente que o pai dela jamais aceitaria uma coisa dessas. Um convento foge às pretensões políticas de Boss. Ela se irrita e acusa o pai de tentar arrumar para ela uma série de casamentos com homens mais velhos. Ela ironiza o pai revelando que ele tem uma amante antes da mãe dela morrer.

E o filho já havia lhe dito que Miss Lucy sempre achou Boss velho demais. Traduzindo, sexualmente ineficaz, chegou aos ouvidos de Boss. Ele não gostou. Ele vai se vingar de Miss Lucy por ter escrito em um espelho.

Boss tem um comício político no Salão Nobre do Royal Palms Hotel. Quem está lá é nada mais nada menos que Miss Lucy, a amante de Boss. Ela não foi convidada para o evento. Ela entra no lounge do bar e conversa com o barman chamado Stuff sobre a briga que ela teve com Boss. Ela conta que havia ganhado um ovo da Páscoa bem grande. Dentro do ovo havia uma caixa de joias:

“Miss Lucy: Eu abri a caixa e comecei a tirar o broche de dentro dela. Na hora em que eu peguei o broche e comecei a tirá-lo de dentro da caixa, aquele velho filho da puta apertou a tampa da caixa em cima dos meus dedos. Uma unha ainda está azul. Aí ele me disse: “ Agora vá lá embaixo no salão, vá até o banheiro feminino, e descreva esse broche com o batom no espelho do banheiro, certo?” Depois ele botou a caixa de joias no bolso e bateu a porta na minha suíte com tanta força que um quadro caiu da parede.” (pág. 311)

 

Boss pede que Heavenly o acompanhe até o comício. No comício tem um Provocador cujo objetivo é falar certas verdades inconvenientes. Quando começa o comício, o Provocador aparece para ouvir o discurso de Boss. Ele encontra Miss Lucy que promete que irá ajudá-lo a entrar furtivamente no salão do baile quando chegar a hora certa.

“Miss Lucy: (vai para trás do bar, onde pega um paletó avulso, reservado para clientes que chegam sem a vestimenta obrigatória naquele ambiente. Joga o paletó para ele). Espere. Pronto vista isso. O chefe está falando esta noite em cadeia nacional. Tem uma gravata no bolso. Fique sentado no bar, imóvel, até ele começar o discurso. Esconda o rosto atrás desse Evening Banner, está bem?

O Provocador: (abrindo o jornal na frente do rosto).Eu lhe agradeço muito.

Miss Lucy: Eu também agradeço e lhe desejo mais sorte do que provavelmente vai ter.” (pág. 313)

Chance entra no bar e encontra Tia Nonnie, que diz que não pode ser vista com ele. Chance fala de seus planos de fazer um concurso patrocinado pela Princesa Komonópolis dos jovens mais bonitos de St. Cloud que renderia um contrato para estrelar um filme:

“Tia Nonnie: Não, Chance. Agora ela não é mais jovem, ela murchou, ela...

Chance: Nada desaparece  em tão pouco tempo, nem mesmo a juventude.” (pág.  320)

Chance encontra Miss Lucy, que pede que ele saia da cidade:

“Miss Lucy: Sabe, meu bem, você não devia ficar muito tempo aqui em St.Cloud. Você sabe disso , não sabe? Eu não acreditei quando me disseram que você tinha voltado.

Scotty(um dos antigos amigos de Chance): Você voltou para quê?

Chance: Você vê alguma razão para eu não voltar e visitar o túmulo de minha mãe , e mandar fazer uma lápide para ela e não dicvidir minha felicidade com a garota que eu amo há tantos anos? É por ela, HeavençyFinkley que eu tenho tentado subir na vida todos esses anos, e agora que eu consegui, a glória vai ser dela também. Acabei de convencer pessoas importantes parta ela estar comigo no filme para o qual fui encontrado. Por que eu...

Bud: qual o nome do filme?

Chance...O nome? “Juventude”!

Bud: Só “Juventude”?

E não é um nome maravilhoso para um filme que está apresentando jovens talentos? Vocês parecem duvidar. Não acreditam? Tudo bem, olhem o contrato.

Scotty? Você anda com contrato no bolso?

Chance: Por acaso ele estava no bolso do paletó. (pág. 331; pág. 332)

Princesa aparece e pede que ele saia da cidade com ele:

“Princesa: Chance! Chance! (ele se vira para ela sem ver nada.) Peça o carro e vamos embora. Está tudo nas malas, até aquele gravador com a minha voz descarada nele...” (pág. 340)

O cenário está começando a se complicar para Chance.Ele vai se defrontar agora com o irmão de Heavenly, Tom Júnior, que está com sangue nos olhos. Princesa pede que Chance saia. Mas Tom Junior pede licença à Princesa e quer conversar a sós com Chance;

Chance: Eu sei que fiz muitas coisas erradas na minha vida, não dá nem para descrever ou contar, mas juro que nunca na vida fiz nenhum mal a Heavenly.

Tom: Está querendo dizer que minha irmã foi possuída e contaminada por outra pessoa da última vez que você veio a St.Cloud?... Eu sei que é possível, é improvável, mas é possível que não saiba o que fez a minha irmã da última vez que esteve aqui. Lembra daquela vez em que você apareceu sem nenhum tostão? Minha irmã teve que pagar as contas que você pendurou nos restaurantes e bares e cobrir os cheques sem fundos que você passou, de bancos onde você nunca teve conta. Até que conheceu a piranha rica do Texas que tinha um iate, a Minnie... aí v você começou a passar os fins de semana no iate e voltar as segundas feiras, com o dinheiro dela, para ficar com minha irmã. Ou seja, você trepava com a Minnie, que trepava com todos os gigolôs que encontrava em Bourbon Street ou no cais do porto, e depois vinha para cá, trepar de novo com a minha irmãzinha, que nunca tinha ouvido falar de uma coisa dessas existia, sem o que era, até que fosse tarde demais e –

Chance: Eu sai da cidade antes de saber que –

Tom: Então você descobriu? E contou para minha irmã?

Chance: Eu achei que, se alguma coisa estivesse errada, ela me escreveria, ou me ligaria –

Tom: Como ela faria isso? Nos esgotos não existem endereços, nem números de telefone. Eu não como não mato você – e agora! Neste momento!... Minha irmãzinha Heavenly, não sabia de nada sobre as doenças e operações das putas, até que teve que ser desinfectada e tratada, quer dizer, teve que ser castrada como uma cadela, e seus ovários foram removidos pelo dr. George Sccuder. É isso mesmo por uma faca!... E hoje à noite – se você ficar aqui depois desse comício, a faca vai cortar você também. Está entendendo? A faca. É só isso. Pode voltar para perto daquela senhora, eu para perto de meu pai. (Tom Junior sai.) (pág. 342;pág. 343)

Dr. Scudder teve que operar Heavenly, que a deixou estéril. O comício estava pronto para ser realizado. Nesse momento,Heavenly vê Chance e fixa o olhar nele. O pai a leva  pelo braço rumo ao comício. Tom Junior pede que ela entre marchando:

“Boss: Meu amorzinho, levante bem a cabeça quando entrarmos marchando naquele salão. (música alta. Eles sobem os degraus e entram na varanda  do fundo e então começam a atravessá-la. Bosso continua gritando.) Marchando! (e eles desaparecem pelas escadas.)” (pág. 346)

Uma multidão está concentrada para ouvir o discurso de Boss. Quando ele começa o discurso, o Provocador entra em cena. O pai vai apresentar a filha Heavenly como exemplo de uma virgem branca exposta à luxúria negra do Sul; esse vai ser o mote dele no discurso além de dizer sobre a Voz de Deus que ele diz representar. Exibindo suas ideias racistas… Quando ele começa a fazer o discurso, entra em cena o Provocador:

“O Provocador: Boss Finley! (a câmera de Tv se vira para mostra-lo no fundo do salão.) E a operação de sua filha? O que você tem a dizer sobre a operação de sua filha no hospital Thomas J.Finley, aqui em St. Cloud? Ela vestiu preto em sinal de luto pelo apêndice? (pág.  349)

O Provocador fala sobre a operação secreta feita por Heavenly. Isso  cria um clima de perplexidade entre os que estão presentes no comício. Para justificar, Boss afirma que tudo isso é mentira criada pela imprensa radical do Norte do país. E o caos se forma. Mas quem está ao lado do Provocador? Chance. Ele aparece como a pessoa que havia instruído o Provocador a dizer aquilo. Heavenly sai do comício aos prantos.

Princesa encontra-se em total expectativa atrás de Chance dentro do quarto de hotel. Ela liga para a telefonista perguntando por Chance. Uma ordem vinda da gerência pede que ela abandone o quarto imediatamente. Princesa reage. Tom Junior, que está do lado de fora, pergunta por Chance Wayne. Princesa tenta se esquivar. A pressão aumenta. Eles entram no quarto e procuram por Chance em todos os cômodos do quarto. Princesa pede um chofer. Tom Junior promete arranjar um chofer para ela. Eles saem.

Chance chega. Princesa começa entrar no modo pânico e diz que todos na cidade estão pedindo que ele saia da cidade.  Princesa implora para que ele vá com ela. E diz que eles vão acabar com ele.

Chance liga para acolunista Miss Sally Powers, deBeverly Hills. Ele pede que a Princesa fale dele e de Heavenly para o próximo filme. Princesa se explica para Miss Sally, sobre o sumiço dela na estreia do filme. Quando ouve a grande notícia. Princesa pergunta o que havia restado dela depois da estreia. Chance pede que ela elogie Chance e Heavenly.

“Princesa: Não é claro que eu não li as críticas. Já disse... eu fugi, fugi. Fugi o mais rápido que pude. Ah.ah? ...que amor que você é, Sally. Nem me importo se não estiver sendo sincera no que está dizendo. Acho que você sabe como têm sido esses últimos quinze anos, porque eu tenho mesmo o tal “coração à flor da pele” que os artistas têm. Desculpe, Sally, estou chorando, sim, e não tenho um lenço de papel aqui... Desculpe Sally estou chorando...” (pág. 360)

Princesa havia recebido uma notícia maravilhosa: seu filme havia sido um sucesso de público e crítica. Chance pergunta se ela havia falado dele para ela. Ela se prepara para fazer um rehab antes de aparecer em público e apagar os rastros das últimas semanas de total descontrole emocional.

Princesa insiste que Chance saia com ela, temendo que algo aconteça e respingue na imagem dela. Nesse momento, eles estabelecem um diálogo:

“Chance: Eu não sabia que havia um relógio neste quarto.

Princesa: Há relógio em todos os quartos onde as pessoas vivem... (pág. 366)

Princesa faz um último pedido para que eles saiam. Chance não aceita, quer ficar. Ela desiste e desaparece. Nesse momento, chega Tom Junior junto a outros e fica de frente a Chance. Ele vai morrer. E Chance, em um último movimento, diz:

“Chance (levantando-se e avançando até o proscênio): Não peço piedade, só a compreensão de vocês...nem isso, não. Só peço que reconheçam o que há dentro de mim em vocês e do nosso maior inimigo – o tempo – em todos nós.” (pág. 367)

“O Doce Pássaro da Juventude”, de Tennessee Williams, merece um lugar de HONRA na sua estante.


Data: 06 janeiro 2025 (Atualizado: 06 de janeiro de 2025) | Tags: Drama


< A Rosa Tatuada
Doce Pássaro da Juventude
autor: Tennessee Williams
editora: Realizações Editora
tradutor: Clara Carvalho, Grupo Tapa
gênero: Drama;

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