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Sete contra Tebas

Antes de falarmos sobre a história. Vamos falar sobre a cidade de Tebas. Para que possamos contextualizar a história. Tebas é famosa por causa de um grande poeta trágico, chamado Sófocles que escreveu Édipo, o membro mais famoso dessa cidade. Graças a sua história, surge as ideias modernas, como a psicologia de Freud.

Vamos recorrer a mitologia grega para entendermos a peça. Cadmo o pai dinástico da Casa de Tebas é o irmão de Europa. Cadmo pergunta sobre o paradeiro de Europa, que havia sumido. No entanto, Zeus se disfarçou de touro para que sua ciumenta mulher Hera, não percebesse. E a levou para ilha de Creta o que levou Cadmo a procurá-la, na jornada fundar a cidade de Tebas.

 Cadmo pergunta ao Oráculo de Delfos sobre o paradeiro da irmã, e o oráculo diz para ele não se preocupar com ela. E que ele fundasse a sua própria cidade. Seguindo uma novilha mágica vai até o local onde Tebas será construída. No entanto, antes de construir a cidade ele terá que matar um dragão que guarda a nascente próxima.

Quando ele mata, Atena diz a ele para semear a terra com os dentes do dragão morto. Foi quando apareceu os homens armados que se levantam do solo. Cinco deles se tornam ajudantes de Cadmo e juntos constroem Tebas. Cadmo se casa com Harmonia, e Afrodite dá a noiva um colar feito por Hefesto, que mais tarde trará a tragédia.

 Tudo parecia ser lindo e maravilhoso. Mas não foi bem assim. Se Cadmo foi um homem de sorte o mesmo não aconteceu com seus filhos. Autône, Ino, Sêmele, Agave e Poidoro. Sêmele que foi amante de Zeus acaba sendo morta antes de dar luz a Dionísio. Sêmele após ter relações com Zeus pediu para ser uma divindade. A vontade de ser uma divindade foi um truque de Hera que sugeriu a ela para que Zeus mostrasse todo o seu esplendor. Pois bem, Zeus apareceu com raios, luz intensa, chuva e ventos e todas as forças da natureza. Sêmele não resistiu a tantos poderes e morreu fulminada. A última filha Agave que havia se casado com Equion, um dos dentes da serpente. Eles eram o pai de Penteu que herdou o trono Cadmo em sua velhice. Já crescido Dionísio retorna a Tebas com as suas Bacantes. E em êxtase atacaram Penteu. E o despedaçaram. Ainda em êxtase voltou carregando a cabeça do próprio filho Penteu, acreditando que fosse a cabeça de um leão. Ao perceber a tragédia consumada enlouqueceu.

 Autône, também filha de Cadmo se casou com Aristeu e foram os pais de Acteão. Já crescidos foram caçar e viram a deusa Artêmis se banhando juntamente com suas ninfas em um lago. Famosa por seu recato, ela transformou Acteão em Cervo que foi devorado por seus próprios cães de caça.

 Plidoro casou-se com Nicteia e quando ele faleceu, seu filho Labdaco sucedeu-o e foi pai de Laio. No trono Laio casou-se com Jocasta e seu reino tornou-se um dos mais prósperos da Grécia. Quando Jocasta anunciou a chegada do herdeiro. Laio consulta o Oráculo de Delfos e o oráculo é taxativo, ou seja, o filho matará o pai e se tornará o soberano casando-se com a mãe. Laio abandona em uma montanha logo que nasceu. Ele pensa que com isso tudo estava resolvido. Mas não estava.

Um pastor caminhava e ouviu o choro de criança. Levou ao rei Polibo e sua esposa Mérope que não podiam conceber um filho. Tudo parecia ter sido desenhado para um final feliz, só que não. Deram a ele o nome de Édipo. Ao querer saber quem eram os seus verdadeiros pais. E soube que ele mataria os próprios pais. Querendo se precaver, resolveu sair do reino de Polibo, pois ele pensava que ele mataria os pais adotivos.

Vai em direção a Tebas, e sem saber acaba matando o seu verdadeiro pai. A caminho de Tebas em incidente acabou matando o verdadeiro pai Laio, numa estrada. Nessa época Tebas estava sofrendo um cerco. Estava sitiada por uma Esfinge, um monstro que tinha seios e rosto de mulher. A esfinge mata todos os viajantes que não conseguem responder ao seu enigma, a ponto de Tebas fechar seus sete portões e se aproximar a fome.

 Édipo se encontra com a Esfinge e pergunta a Édipo: Que criatura anda de quatro pés pela manhã, e dois ao meio dia, e três à noite? Édipo respondeu: “o homem”, que engatinha quando bebê, anda ereto quando adulto e na velhice usa a bengala. A Esfinge se vê derrotada e por isso se mata. Agradecido o povo de Tebas faz de Édipo seu rei, e ele se casa com a esposa a viúva de Laio, Jocasta.

Édipo e Jocasta tem quatro filhos: Ismênia, Antígona, Eteócles e Polinice. Quando crescem, uma terrível praga atinge Tebas. Uma doença terrível que mataram muitas pessoas. Édipo envia Creonte, irmão de Jocasta, a Delfos para pedir ajuda a Apolo. O oráculo diz a Creonte que a praga será suspensa quando o assassino de Laio for punido. Édipo fica aliviado com uma solução tão simples e pede ajuda a Tirésias, o profeta cego.

 O dom da profecia de Tirésias é uma maldição. O terror da verdade está associado à natureza de Apolo – o Deus da verdade e da luz. Chega um mensageiro de Corinto, contando a morte do rei Políbio. A princípio Édipo fica aliviado, pois acham que o oráculo estava errado sobre a maldição de Édipo. Mas surge a segunda revelação. O mensageiro revela que Édipo não era filho de Políbio, e que ele foi levado ao palácio por um pastor. Até que aparece o pastor (aquele que o pegou na montanha ainda bebê) dizendo que ele era filho de Laio.

Édipo percebe que o seu destino havia sido cumprido. Sabe que Jocasta e seus filhos estão todos amaldiçoados. Ao tentar encontrar Jocasta, já era tarde demais ela havia se matado. Édipo arranca os próprios olhos em angústia extrema.

 O governo de Tebas passa para Creonte, irmão de Jocasta. Depois de anos de paz, os tebanos decidem exilar Édipo, e Antígona vai com ele, para guia-lo, enquanto Ismene fica em Tebas.

 Depois que Édipo se foi, seus dois filhos começam a luta pelo trono. Eteócles consegue o trono, e Polinices foge para Argos, onde se levanta um exército contra o seu irmão. Édipo e Antígona chegam a Colonus, um lugar perto de Atenas. Esse lugar sagrado para as Eumênides, as antigas Fúrias. Teseu recebe Édipo com honra. Ismene visita o pai e o velho Édipo morre em paz.

 Ismene e Antígona retornam a Tebas para encontrar os irmãos em guerra. Polinices marcha contra Tebas com seis chefes e seus exércitos. Esses sete atacam os portões de Tebas, enquanto sete também defendem esses portões.

 Tirésias o adivinho diz a Creonte, irmão de Jocasta que Tebas só será salva se Menoeceu, seu filho for sacrificado. Creonte se recusa a atender esse pedido do destino. Mas o jovem vai para o campo de batalha e é morto imediatamente. Os irmãos Eteócles e Polinice morrem na guerra. O último pedido de Polinice prepara o terreno para a próxima tragédia.

 A guerra prossegue, mesmo com a morte dos irmãos, mas Tebas vence os invasores. Creonte enterra Eteócles com honra e declara que qualquer um que tentar enterrar qualquer um dos inimigos, e isso inclui Polinices, será condenado à morte.

 Creonte desafia uma lei sagrada dos deuses com este novo decreto. Na tradição grega, se os mortos permanecerem insepultos, suas almas não são capazes de cruzar o Acheron e o Cocytus para Hades. São os rios cósmicos presentes no Universo. Eles cruzam diversas dimensões do Cosmos e podem levar seus navegantes para o Hades desde que ele conheça suas trilhas.

 Antígona e Ismene ficam horrorizadas. Antígona se torna a próxima figura trágica, condenando-se a morte para defender as leis sagradas dos deuses. Sua escolha não é tão trágica quanto a de Orestes, mas de natureza semelhante e envolve heroísmo.

 Poliníce foi enterrado a preço de Antígona, e outros cinco chefes mortos que ainda não foram enterrados, o que significa que suas almas não poderão atravessar Hades.

Os Sete Contra Tebas é história que vamos contar agora. Vamos a ela?

 Eteócles diz que ele o governante, dirige o navio do estado. Se as coisas correrem bem, os deuses serão agradecidos. Se as coisas correrem mal, o rei é culpado. Ele ordenou a todos para lutarem, dos mais jovens aos mais velhos.

“Eteócles: Moradores de Cadmo, quem tutela a nação deve pronunciar Kairós momento azado, na popa da cidade, norteando o leme sem repousar as pálpebras de sono, Se um bem lograrmos, deus é a causa, mas se advier o adverso, muito só Eteócles será hineado em proêmios de multiclangor e de agonia. Sê, Cronida, teu epônimo aos cádmios: Defensor! Na quadra a si propícia, não só de quem não maturou ainda o viço, como do ex-moço, em quem aflora com o tempo a energia, se requer empenho em prol da pólis, dos altares, de imortais locais – jamais lhe faltem honrarias! - E dois filhos e da matriz, a mais benquista, Geia-mater., pois quem vos acolheu, infantes serpeantes em solo tão solicito? Quem aceitou cuidar de vossa formação? Alimentou os moradores porta-escudos para obter retribuição à altura de tamanha dívida....” (pág. 14; pág15)

Kairos significa o momento certo na hora certa. Entra o espião e diz que os guerreiros estão nas muralhas de Tebas prestes a escolher qual portão entrar. O coro das donzelas tebanas está desesperado ao ouvir o ataque do exército. Eles se comportam como se a cidade estivesse desabando. Rezam para os deuses por ajuda para que não se tornem escravos.

“Coro: “... Deuses e deusas, evitai o desembarque nas cercanias! Clamores sobre os muros: irrompe o escudo branco da massa no avanço nítido contra a cidade no avanço nítido contra a cidade. Que deus ou deusas nos protege? Que deus ou deusa os repele? Prostro-me diante do estatuário de numes ancestrais? Ó aventurado, em sedes de esplendor! Momento de abraçar as estátuas...” (pág. 19)

 Eteócles repreende o coro por gritar nos altares dizendo que isso não ajuda o exército. Ele critica as mulheres em geral e estas em particular por espalharem o pânico.

 “Eteócles: Indago a vós, intoleráveis criaturas se par a cidadela é o melhor, se a salva, se anima nossa tropa tiurriassediada, prostrar-se diante das imagens das deidades tutelares, grunhir, grasnar? Quem tem discrime rejeita isso. Em situação adversa ou no gozo da experiência alvissara, jamais conviva com alguém da estirpe feminina, pois, quando tem poder, revela-se agressiva e, apavorada, põe em risco os seus e a urbe. O que se vê agora é caos e correria; vosso clamor instaura o pânico e apatia. Fortalecei a causa de quem vem de fora, e à prática do saque mútuo entregamo-nos. Nisso que dá ficar rodeado de mulheres...

Eteócles diz a elas que o barulho trará a ruína da cidade. Ele diz colocará a si mesmo e outros seis homens nos portões. O coro feminino ainda continua preocupado. Elas rezam aos deuses para espalhar o pânico entre o inimigo. Dizem que seria uma lástima ver a cidade saqueada e escravizada.

“Eteócles: Que dissabor! Não podes suportar calada?

Coro: A servidão não seja o meu quinhão ó deuses!

Eteócles: A ti mesmo escravizas, à cidade e a mim.

Coro: Zeus magno, mira os raios só nos adversários!

Eteócles: Que gênero nos concedestes, Zeus: mulheres!

 Coro: Um fardo como os homens se a cidade tomba

Eteócles: Ainda vociferas, abraçando estátuas?

Coro: Examine, o medo me domina a língua.

Eteócles: Acaso cumprirás um ínfimo favor?

Coro: Quantos antes fales. Poderei te responder.

 Eteócles: Cala, infeliz! Não amedrontes entes caros!...” (pág. 33)

O Espião informa a Eteócles a identidade de cada um dos invasores e aliados que atacarão os portões de Tebas. Ele descreve seus personagens e seus escudos correspondentes.

“Espião: Ao quarto coube a porta próxima, Atena Onca, onde se postou aos brados. Corpulento e alto, o nome dele é Hipomedonte. O disco enorme – eu me refiro ao disco do escudo – quando girou – não vou negá-lo – me arrepiou. Quem que tenha sido o artesão da égide, não tenha dúvida de que é um exímio artífice: Tifeu, da boca fogorressoprante, emite vapor escuro, irmão multicolor da flama. Serpes entrelaçadas fixam-se no anel do côncavo ventrivazio redondo. Ares encarna, ulula, mênade em delírio báquico, ansiando por combate, olhar de horror. Melhor ficar atento ao bote de um sujeito assim: Terror se arroga estar na prontidão na porta. (pág. 51)

 A descrição do escudo dos atacantes de Tebas forma uma espécie de elementos de intimidação. O coro responde com medo das descrições (tomando o dispositivo de escudo como uma imagem precisa do homem que carrega).

Coro: Deuses ouçam nossas pastas litanias e as concretizem: prosperem a pólis, à terra dos intrusos torne a dor da lança, longe dos muros, Zeus os mate com seus raios! (pag61)

 O Espião finalmente revela o sétimo que está na porta de Tebas. É Polinices irmão de Eteócles contra quem lutará. O refrão implora para que ele não lute.

Coro: Que a fúria não te iguales, cara filho de Édipo, a quem é dado proferir iniquidades! É suficiente que os heróis cadmeus golpeiem argivos, pois o sangue é purificável, já homossanguineos em recíproco homicídio...é o caso de um miasma nunca envelhecível” (pág. 63 págs. 65)

O Mensageiro chega com a grande notícia. Ele diz que a cidade está segura graças ao combate individual entre homens em cada portão.

“Mensageiro: Filhas de nobres cadmias, ânimo coragem. A cidadela escapou do jugo escravo. Caiu por terra a presunção de homens duros. A urbe, como e quando o céu é azul e a onda reflui, não acumula água na sentina. Nos muros não há riscos. À frente dos portais, cerrados, impusemo-nos na rusga única. Sucesso pleno de beleza em seis das portas, mas da sétima, augusto septenário, Apolo predomina e contra a estirpe de Édipo cumpriu as decisões equívocas de Laio.

Coro: Que outro revés impronunciável nos abate?

Mensageiro: (A cidade está salva, mas os reis irmãos...) Os dois irmãos morreram de assassínio mútuo.” (pág. 75)

Os irmãos se mataram.  O coro é lembrado de que embora a morte dos dois irmãos seja uma lástima, uma coisa ficou clara. A maldição de Édipo acabou.

 Coro: “... Cumpriu-se a fala nada vã do pai que praguejou. Perduram as desobedientes decisões de Laio. Ansiedade ronda a pólis. Oráculos não esmorecem. Ó par de muitos prantos! Obrou-se a não crível E acre chega a agrura, não pela linguagem.”

(os corpos de Eteócles e Polinices são trazidas e colocados lado a lado) (pág. 79)

O cortejo fúnebre é preparado. Quando aparece Antígona e Ismene (irmãs de Eteócles e Polinice). O Coro diz que tudo isso foi a instigação das Erínias (A Fúria)

 Semicoro B A Erínia augusta de Édipo, do pai, concretiza a verdade que excede. (pág. 81)

 Enquanto isso uma reunião entre os Arautos, chega uma decisão polêmica:

 “Arauto: Venho anunciar o parecer e a decisão tomada no conselho da urbe. Num recesso aprazível destas cercanias por sua retidão, enterre-se Eteócles. Perdeu a vida ao expulsar do muro os intrusos. Imáculo, em defesa do santuário ancestre, morreu onde morrer só abrilhanta o jovem. Eis que sobre Eteócles coube-me a dizer. Quanto ao cadáver do irmão, de Polinices, sem sepultura, deve ser entregue aos cães, na condição de destruidor do solo cádmio, não fora deus bloquear o avanço de sua lança. O sacrilégio, mesmo morto, pagará aos deuses pátrios, que insultou quando tentou tomar a cidadela com tropel de fora. Foi decidido que a devida recompensa será o funeral sem honra, pasto de aves. Não há de receber na tumba oferendas, nem homenagem musical dos votos fúnebres, nem honraria do cortejo familiar. Foi essa a decisão de autoridades cadmias.” (pág. 99)

 Enquanto o corpo de Eteócles terá honras, o corpo de Polinice será deixado a apodrecer insepulto e comida para pássaros necrófagos. Antígona faz uma promessa de enterrar o irmão Polinice, em violação as ordens do conselho. O Arauto argumenta contra os planos de Antígona e sai para relatar ao conselho sobre esse desentendimento.

 Antígona: Discórdia é a derradeira deusa a argumentar. Eu o sepultarei. Desinfla tua arenga. (pág. 103)

 A peça termina com a divisão do coro. Metade acompanha o coro de Eteócles e a outra metade segue os planos de desconsiderar a decisão do conselho e enterrar o irmão em Tebas. Na peça Antígona (aqui resenhada) veremos o final de toda essa história.

Para encerrar gostaria de fazer dois comentários. O primeiro comentário é da edição de “Sete contra Tebas da Editora 34 que é excelente. A tradução e o posfácio de Trajano Vieira são excelentes. O segundo comentário é do ensaio de Alan. H. Sommerstein que nos ajuda a ler a peça.

Fico por aqui. E indico “Sete contra Tebas” de Ésquilo. Um livro que merece um lugar de HONRA” na sua estante.


Data: 12 maio 2023 | Tags: Tragédia, Grega


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Sete contra Tebas
autor: Ésquilo
editora: Editora 34
tradutor: Trajano Vieira

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