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Filoctetes

Quem não conhece ou já ouviu falar sobre as histórias de Ulisses (conhecido também por Odisseu), de Homero? Quem nunca ouviu falar sobre a Ilíada e a Odisseia, de Homero? Muitos que aqui estão lendo esta resenha já ouviram falar ou até já leram a Ilíada e a Odisseia. Vou ser muito franco com vocês: eu conheço a história, mas não li nenhuma das duas até agora. Mas vou ler. Fiquem certos disso.

Contarei de uma forma muito simplificada a história de Ulisses (também conhecido como Odisseu) para situar a história da qual vamos falar. Após o rapto de Helena, a mulher do rei de Esparta, uma expedição para resgatá-la foi organizada em Troia. Dizem que Ulisses não estava muito disposto a ir à guerra, mas acabou se juntando a Aquiles e foi à luta.

 O cerco a Troia durou dez anos. Ulisses nesse período acaba exercendo um papel fundamental ao sugerir a construção de um Cavalo de Troia. No interior desse cavalo escondia-se um exército – liderado pelo próprio Ulisses.

 Quando a guerra chegou ao fim, com a vitória dos soldados gregos, todos voltaram para casa. No entanto, Ulisses não conseguiu o seu maior objetivo. E demorou dez anos para voltar a Ítaca. Sua jornada de volta ficou conhecida como a Odisseia. Sereias, ciclopes, deuses dos mais variados. Tudo isso, que ficou conhecido como a Odisseia, Ulisses precisou enfrentar para chegar a Ítaca.

 Em Filoctetes, de Sófocles, Ulisses aparece de uma maneira bem diferente daquele Ulisses de Homero. Vemos um Odisseu extremamente pragmático. A diferença entre os dois pode ser vista de maneiras diferentes. A duração e a intensidade. A diferença diz respeito às suas qualidades heroicas e ao apoio que receberam do mundo sobrenatural.

 As diferenças são desafiadoras. A primeira diferença é cronológica: a diferença entre a criação da Odisseia de Homero (século VIII A.c.) e a de Filoctetes de Sófocles (século V A.c.) é de cerca de três séculos. Uma outra diferença está na forma. Odisseia de Homero é um épico, e Filoctectes de Sófocles é um drama teatral. Essas diferenças dão à Odisseia um escopo maior de longas narrações de incidentes heroicos e descrições detalhadas de cenas. Seus encontros com os ciclopes, Eólo, Circe, Calypso, e as sereias fazem dele uma figura heroica maior do que Odisseu em Filoctetes.

 Odisseu em Filoctetes de Sófocles é um herói que fica no segundo plano e parece ser muito mais um planejador do que um executor de planos. Na peça de Sófocles, Neoptólemo (filho de Aquiles) é apresentado por Sófocles com um papel mais ativo no drama.

Filoctetes de Sófocles é um indivíduo melhor do que o Ulisses de Homero. Ele tem algo mais humano e emocional Sua força moral é mostrada ao longo da história. pelo ódio que ele nutre pela mesquinhez e a desonestidade. Essas qualidades fazem com que o leitor se concentre mais em Filoctetes do que em Odisseu.

 Vamos à história de Filoctetes?

Ulisses chega à ilha de Lemnos com Neootólemo, filho do falecido herói Aquiles. A ilha está deserta e não há causas ou navios para serem encontrados. Esta é a mesma ilha onde Odisseu e uma frota de navios gregos abandonaram Filoctetes, o famoso arqueiro grego e filho de Péas, durante nove anos antes do caminho em direção a guerra de Troia. Na viagem foi ferido por uma serpente que mordeu-lhe o pé. A picada transforma-se numa chaga, de onde escorria pus, diz Odisseu, e seus gritos de dor interromperam as orações e sacrifícios da tripulação aos deuses. Foi aí que aconteceu algo que marcou para sempre Filoctetes, ou seja, ele foi deixado na ilha. Mas agora não há mais tempo para grandes histórias, Odisseu diz a Neoptolemus. Ele precisa de ajuda. É hora de Neoptólemo provar o seu valor e ajudar os gregos enganando Filoctetes. Ele ordena que ele encontre Filoctetes e diga a ele que os gregos o convenceram a ir a Troia para lutar, mas eles ficaram furiosos depois que os filhos de Atreu deram as armas de Aquiles para Odisseu. Trocando em miúdos, os gregos precisam de seu arco e flechas, dados a ele por Héracles (Hércules na mitologia Romana). Sem isso, Neoptolemus não será capaz de conquistar Troia. Apenas ele tem condição de ganhar a confiança de Filoctetes, diz Odisseu, porque ele não fez parte da expedição inicial que abandonou Filoctetes na ilha.

“Neoptolemus:” Então o que ordenas?

Odisseu: De Filoctetes tu precisas a alma roubar palavras proferindo. Quando te perguntar quem és e de onde vens, diz que és filho de Aquiles, isso não deves ocultar e que navegas para casa, depois de abandonares a armada dos aqueus, odiando-os com ódio grande; eles que em súplicas, invitaram-te a partir de casa sustentando que esta seria a única ruína de Troia, não se dignaram a as armas de Aquiles ceder-te, quando chegaste legitimamente pedindo mas ao contrário, a Odisseu entregaram; fala o que quiseres contra nós, as piores das piores coisas, pois com isso nada o afligirás, se não cumprires isso, sofrimento a todos os argivos lançarás, pois se o arco dele não for tomado, não tens como destruir a planície de Dárdano. Sabes que eu não, mas tu podes com ele uma relação fiel e segura. Tu não navegaste preso a ninguém por juramento, nem por coação, nem és a primeira expedição, mas não tenho como disso negar. Deste modo, se ele tendo a posse das armas, me percebe, estou perdido e a ti farei perecer por estar contigo. Por isso é preciso nisso mesmos seres astuciosos para que ladrão, então, te tornes das invencíveis armas. Sei também que não é de tua natureza dizer essas coisas nem maquinar coisas sórdidas, mas certamente, é doce tirar lucro da vitória. Ousa mais tarde justos pareceremos, porém, agora, por uma breve parte indecorosa do dia, entrega-te a mim, e, depois no tempo restante, sê aclamado o mais escrupuloso dos mortais.” (pág. 64; pág. 65)

Odisseu diz a Neoptolemus que Filoctectes não deve saber que ele também se encontra na ilha e é por isso que Odisseu precisa da ajuda de Neoptólemo encontre a caverna em que Filotectes está morando. Odisseu sabe do isolamento de Filoctetes na ilha e do sofrimento que ele suporta por causa disso. Vive em uma situação precária com dores insuportáveis.

 A missão de Neoptolemus é contar a Filoctetes que o exército grego implorou para que ele viesse a Troia, pois a guerra não poderia ser vencida sem ele. Quanto às armas pedidas por ele, foram dadas a Odisseu, o que desagradou ele. Esse é o plano.

Odisseu ordena que Neoptólemo permaneça perto da caverna de Filoctetes e espere que ele volte. Odisseu retornará ao navio, mas enviará um marinheiro disfarçado de comerciante para contar a Neoptolemo e Filoctetes uma história elaborada. Depois que o comerciante conta a sua história, diz Odisseu, Neoptlolemus estará sozinho para contar suas próprias mentiras para proteger o arco e as flechas. Odisseu chama o deus Hermes e a deusa Atena para abençoar a missão.

Neoptlolemus: Por que é preferível levá-lo pela astúcia a convencê-lo?

Odisseu: Não será convencido. Pela força não o agarrarias.

Neoptlolemus: Que confiança tão terrível que ele tem na sua força?

Odisseu: Flechas inevitáveis e portadoras da morte.

Neoptlolemus: Ah! Não é possível contatá-lo com a coragem?

Odisseu: Não! A não ser que pela astúcia o agarres, como eu digo.

Neoptlolemus: E não julgas vergonhoso dizer mentiras?

Odisseu: Não, se a mentira traz a salvação

Neoptlolemus: Então com que cara alguém ousa proclamar isso?

Odisseu: Quando se faz algo para lucro, não convém hesitar

Neoptlolemus: Que lucro é meu que ele vá para Troia?

Odisseu: Só este arco captura Troia

Neoptlolemus: Então o destruidor, como dizeis não sou eu?

Odisseu: Nem tu sem o arco, nem o arco sem ti

Neoptlolemus: Deve ser caçado então, se é que é assim.

Odisseu: Se fizeres isso levará dois prêmios.

Neoptlolemus: Quais? Pois sabendo não me negaria a fazer

Odisseu: Sábio e também corajoso será também aclamado ao mesmo tempo.

Neoptlolemus: Seja! Farei abandonando todo escrúpulo.

Odisseu: Será que te lembras então do que te aconselhei?

Neoptlolemus: É evidente, já que de uma vez por todas concordei

Odisseu: Então ficando aqui, tu o recebes eu me vou, para que eu não seja reconhecido a teu lado, e o vigia para a nau enviarei de volta, e para cá, se me parecer por muito tempo passa, de novo enviarei esse mesmo homem, com modos de senhor de barco n o aspecto disfarçado, para não ser reconhecido, dele então, filho, ao falar de modo ambíguo recebe as coisas úteis de cada uma das palavras. Eu me vou para nau, a ti fica essa tarefa. Que Hermes o doloso acompanhante, guie a nós dois, e Vitória Atena, protetora da cidade, que me salva sempre. (pág. 68; pág. 69)

O Coro aparece. Um grupo de marinheiros gregos chega e pede ordens a Neoptólemo. Ele diz aos marinheiros para inspecionarem a caverna de Filoctetes, mas para manter os olhos abertos para o retorno de Filoctetes.

 Filoctetes desperta sentimentos de pena no coro. Está sozinho sem ninguém para cuidar dele, e sua ferida infectada provavelmente o deixa muito doente. Como Filoctetes foi capaz de viver tal vida ninguém sabe.

 Filoctetes é oriundo da nobreza. Seu pai, Poeas, é um rei telassalonicense. O fato de ser nobre implica que ninguém tem alvará para passar impunemente da discriminação quando incapacitado na sociedade grega. Até o filho de um rei.

Neoptólemo diz ao coro que o sofrimento de Filotectes foi ordenado pelos deuses.  A agonia de Filoctetes é devida à vontade dos deuses, e ele não irá para Troia com o seu arco e flechas até que os deuses decidam qual o melhor momento.

Quando subitamente sons de um homem são ouvidos, vindos em direção da caverna. É Filoctetes. Ele se aproxima de sua caverna e dos estranhos marinheiros e pergunta quem são, já que não há porto na ilha:

“Filoctertes: Aí, estrangeiros. Quem sois que a esta terra, sem bom porto nem habitada, aportastes com remo? De qual país ou estirpe eu acertaria dizer que vós sois? Na verdade, o aspecto do traje é de Hélade, o mais agradável para mim. Mas vossa voz desejo ouvir. E por hesitação temendo, não vos assustei comigo asselvajado, mas apiedando-vos por um homem infeliz, só desertado e tão sem amigos que vos chama; responderei, se é que como amigos chegastes. Vamos respondei, pois não convém que eu vos prive disso, nem vós.” (pág. 79)

Neoptólemo conta uma mentira para Filoctetes. Finge que desconhece quem ele é, apesar de saber que ele é um arqueiro famoso antes de ter sido abandonado na ilha. E apenas confirma que de fato ele é grego. Filoctetes pergunta o que ele estava fazendo ali.  Neoptólemo diz que ele é filho de Aquiles e que acabaram de deixar Troia e estão voltando para casa na ilha de Ciro. Ele se faz de desentendido e pergunta a Filoctectes se ele também esteve envolvido na Guerra de Troia.

Filoctectes fica meio confuso. Ele se sente desprezado pelos deuses. Diz que havia sido expulso pelas mesmas pessoas que silenciaram sua história enquanto sua ferida piorava. Ele diz quem ele é, que foi abandonado na ilha de Lemnos enquanto estava indo para Troia. Odisseu e seus homens o deixaram para apodrecer na ilha seguinte, que era Lemnos.

Enquanto Filoctetes dormia, os homens o carregaram para a caverna e o deixaram com “alguns trapos de mendigo” e um pouco de comida. Filoctetes diz que, quando acordou, após ter sido deixado em Lemnos, ficou arrasado. Ele viu, depois de ter acordado, o navio grego partindo em direção a Troia. E para piorar a ilha era deserta estava totalmente só. Sua vida ficou reduzida à dor e à angústia.

“Filoctetes: Ó como sou desgraçado, amargo aos deuses! O rumor de meu estado nem a casa nem a qualquer parte da Hélade chega, e os que me rejeitaram criminosamente riem-se em silêncio, no entanto, minha doença sempre aumenta e piora. Ó jovem, ó filho de Aquiles, eu sou este mesmo do qual talvez ouviste falar ser o senhor das armas de Héracles, o filho de Peas, Filoctetes, a quem os dois generais e o rei dos Celafênios lançaram vergonhosamente aqui desertado, atingido  por selvagem mordida de uma serpente homicida, morrendo com uma doença selvagem, com a qual eles, filho, abandonando-me neste lugar sozinho foram-se quando voltavam da marinha. Crisa, ancoraram aqui com uma frota. Então contentes porque me viam após o balanço do mar, dormir na praia, numa rocha côncava abandonando-me, partiram, deixando poucos trapos e alguma comida.” (pág. 83)

Filoctete ficou em Lemnos por causa dos filhos de Atridas e de Odisseus. Neoptolemus diz a Filoctetes que ele pode confiar nele. No entanto, Filoctetes sabe que Odisseu seria capaz de qualquer coisa para servir aos seus meios egoístas. Ele fica surpreso ao saber das notícias de Ajax.

Filoctetes: Possuindo como parece, um sinal visível de dor como a nossa, ó estrangeiros, navegastes e entoais comigo tal forma que reconheço que estas obras vêm de Atridas e de Odisseu. Se bem que ele em qualquer discurso perverso com a língua tocaria em tal desonestidade da qual não levaria a cabo nada mais justo. Contudo, nada disso me espanta, mas que, estando presente Ájax, o grande, suportasse ver isso.

“Neoptolemus: Não estava mais vivo, ó estrangeiro, pois jamais, se ele vivesse, delas eu teria despojado.

Filoctetes: Como falas? Mas então este já se foi tendo morrido?

Neoptolemus: Que ele já não mais está sob a luz, tem em mente! Ai de mim infeliz! Mas não o filho de Tideu nem os filhos de Sísifo vendido a Laertes, certamente não morreram. Eles é que não precisavam viver...” (pág. 97)

Filoctetes implora a Neoptólemo que não o deixe em Lemnos sozinho e pergunta se ele pode encontrar passagem em seu navio. Ele diz que só precisa de um pequeno canto no navio. Filoctectes sabe que será difícil viajar com ele, mas implora a Neoptólemo. Ele certamente será capaz de avisar a Poeas (seu pai), se ele ainda estiver vivo, para vir buscá-lo.

Filoctetes: Então em nome do teu pai, de tua mãe, ó filho, em nome do que te em casa mais amado, suplicante, te suplico, não me deixe só, desertado nesses males que vês e que ouviste habitarem em mim. Mas como sobrecarrega aceita-me. Repugnante, sei que é e muito este fardo, mesmo assim ousa, aos nobres é que o vergonhoso é odioso e o honesto, glorioso. Tu, se abandonares isso, terás uma repreensão não honrosa se o realizares, ó filho, terá o maior prêmio de glória se eu voltar vivo à terra do Eta. Vai certamente a fadiga não será a de um dia inteiro! Coragem! Joga-me onde quiseres desde que me leves no porão, na proa, na popa, onde menos vá afligir teus acompanhantes. Consente, pelo próprio Zeus Suplicante, filho convence-te! Caio de joelhos, mesmo sendo impotente miserável, coxo. Mas não me deixes sozinho assim, sem sinal de seres humanos, mas me salva, ou à tua casa conduzindo ou aos umbrais de Calcodonte da Eubéia. Dali a viagem não será longa para Eta, e para encontrar traquínia ou para chegar ao bem fluente Esperquio: assim mostrarás ao pai querido, que, após tanto tempo, eu temo já partido. É que muitas vezes, aos que aqui chegavam rogava, enviando preces suplicantes, que ele mesmo em seu barco me levasse para casa. Mas ou está morto, ou é coisa de serviçais como é provável, creio, pouco caso fizeram de mim e para suas casas apressaram a viagem... (pag101; pág. 103)

 O Coro implora a Neoptólemo que concorde em levar Filoctetes e não o deixe sozinho em Lemnos. No entanto, Neoptolemus adverte que ânsia de ajudar pode ter consequências desastrosas quando forem forçados a viver com Filoctetes dentro do navio com suas feridas ainda abertas. Filoctetes está radiante. Quando surge dois marinheiros gregos disfarçados de mercadores.

 O mercador diz a Neptolemus que ele é um comerciante de vinho que vai para Troia para sua casa, a ilha Peparetos, e quando descobre o navio de Neoptolemus, ele para porque quer avisá-lo que os gregos têm um plano para resgatar Neoptolemus e trazê-lo de volta, e Odisseu e Diomedes partem em outro navio para encontrar outra pessoa.

Neoptolemus apresenta Filoctetes como o famoso arqueiro. Mas o mercador diz a ele que ele deve deixar Lemnos imediatamente. Odisseu e Tideu estão a caminho para resgatar Filoctetes neste exato momento. Foi quando Neoptolemus faz a seguinte pergunta, meio desconfiado:

“Neoptolemus: Por que os Atridas, depois de tanto tempo deram a tenção a ele, a quem já há muito tempo havia rejeitado? Que desejo o atingiu, ou foi a força e a justiça dos deuses, que punem as más obras?” (pág. 113)

O Mercador conta a Neoptótemo e Filoctetes que os gregos haviam capturado Helenus, o profeta filho de Priamo, e ele afirmou que Troia nunca seria conquistada sem Filoctetes. Ao ouvir isso, Odisseu parte imediatamente para Lemnos.

“Mercador: Eu a ti tudo explicarei, pois talvez não ouviste. Havia o nobre adivinho, filho de Priamo, pelo nome era chamado de Heleno, a quem por ter saído sozinho numa noite, Odisseu – de quem se dizem palavras vergonhosas e injuriosas – astucioso, capturou, conduzindo-o acorrentado, exibiu-o dianteira dos Aqueus uma bela presa! Ele é que entre muitas outras coisas profetizou também que a cidade de Troia jamais destruiria, se a este aqui persuadindo com palavras não tirassem desta ilha em que habita agora. Logo que o filho de Laertes ouviu isso o que o adivinho disse, imediatamente se apresentou para trazer este homem exibindo-o aos aqueles. Pensava que levaria de preferência, de boa vontade, mas se não quisesse, contra a vontade, e daria a cabeça a cortar a quem desejasse, se isso não conseguisse. Ouviste filho, tudo aconselho apressares a ti mesmo e a ele por quem também te inquietas. (pág. 115)

Filoctetes afirma que nunca mais voltará a Troia com Odisseu, dizendo:

Filoctetes: Antes ouviria a minha pior inimiga a serpente, a que me deixou assim sem pé! Mas ele tudo pode dizer, tudo pode ousar! E agora sei porquê virá. Vamos ó filho, partamos para o vasto mar nos separe da nau de Odisseu...” (pág. 117)

O Mercador sai, desejando sorte aos dois homens. Neoptolemus diz a Filoctete e ao coro que eles devem navegar imediatamente, e Filoctetes vai à sua caverna buscar as suas flechas extras e a erva que ele usa para acalmar a dor de seu ferimento. Neoptólemo pergunta a Filoctetes se o arco em suas mãos é o famoso arco de Herácles, ele confirma que sim. Neoptolemus pergunta se ele pode segurar o arco, e Filoctetes concorda. Ele o considera um amigo, confia nele com o arco. E devido à dor, cai no sono, praticamente desmaia. No entanto, o coro diz:

“Coro: Sono, que desconhece a dor e os sofrimentos bem arejados nos venha, venturoso, venturoso, ó senhor! Nos olhos dele mantenhas esse brilho, que irradia estendendo-se! Vem, vem-me, ó curandeiro! – Ó filho, vê bem onde estás, para onde vais, de agora em diante que cuidado devo ter? Estás percebendo já. Ficamos para fazer o quê? O momento oportuno, que certamente discerne, grande, grande poder num átimo conquista.” (pag. 137)  

O coro aconselha Neoptólemo a abandonar o homem adormecido e partir para Troia o mais rápido possível. Mas Neoptólemo responde:

 “Neoptólemo: Ora, ele nada ouve, mas eu vejo que esta captura das armas é vã, se sem ele navegarmos. Dele é a coroa, disse o deus que o levássemos. Avantajarmos futilmente com mentiras é vergonhosa afronta.” (pág. 139)

 Trazer o arco de Héracles para Troia não significa nada se ele não estiver lá para atirar. Filoctetes acorda, satisfeito por Neoptólemo ter cumprido suas promessas. Depois de agradecer calorosamente por isso, ele expressa sua disposição de seguir para o navio. Mas existe um dilema que ainda não foi resolvido. Neoptólemo não sabe se larga Filoctetes na ilha ou segue.

“Neoptólemo: Tudo é repugnante, quando a própria natureza tendo abandonado, fazem-se coisas não convenientes.

Filoctectes: Mas nada fora que te gerou tu fazes nem dizes ao ajudares um nobre homem

Neoptólemo: Indecente revelar-me-ei! Isso há muito me aflige

Filoctetes: Então hesito não pelo que fazes, mas pelo que dizes.

Neoptólemo: Ó Zeus, que devo fazer? Pela segunda vez serei tomado por perverso, ocultando o que não devo e dizendo palavras as mais infames.” (pág. 144; pág. 145)

Dividido entre o objetivo de sua missão e os novos sentimentos de respeito e piedade por Filoctetes. Perturbado pela vergonha e remorso decide dizer a verdade:

“Neoptólemo: Nada te ocultarei, pois tu precisas a Troia navegar junto dos Aqueus e da frota dos Atridas.” (pág. 145)

Lógico que Filoctetes se sente traído e exige o seu arco de volta.

“Filoctetes: Ò portos, ó promontórios, ó companhia de feras montesas, ó rochas

escarpadas, a vós, pois não conheço outro a quem me dirigir lamento, a vós que, presentes, habituados a assistir-me, estas obras me fez o filho de Aquiles! Tendo jurado levar-me para casa, a Troia me conduz, oferecendo a mão direita, empunha minhas armas sagradas de Héracles, o filho de Zeus retendo-as e que exibi-las aos argivos Como se tivesse capturado um homem robusto, à força me conduz e não sabe que mata um cadáver, ou uma sombra, ou uma sombra de fumaça simplesmente um fantasma!” (pág. 147)

 

Neoptolemus está prestes a devolver o arco quando aparece Odisseu de um esconderijo perto deles e o impede. E ameaça levá-lo à força. Ao ouvir isso se dirige para os penhascos pronto para se jogar em direção à morte. Odisseu, farto de toda de todo discurso de Filoctetes, em um determinado momento, diz:

“Odisseu: ...Soltai então, não toqueis mais nele, deixe-o ficar. De posse dessas armas, para nada precisamos de ti. Além do mais há Teucro entre nós, que possui esta ciência, e eu, que julgo não ser pior que tu para dominá-las e para manipulá-las. Para que precisamos de ti? Diverte-te andando em Lemnos. Nós nos vamos, e talvez o teu privilégio honra para mim conceda, aquela que tu devias ter. (pág. 159)

Enquanto os marinheiros se preparam para partir. Neoptolemus volta e vai devolver o arco. Odisseu pergunta:

“Odisseu: Não podes explicar por que o trajeto contrário caminhas assim com tamanha rapidez?

Neoptolemus:  Para reparar o que eu fiz de errado antes”. (pág. 175)

 

Odisseu repreende Neoptólemo com raiva e ameaça denunciá-lo por traição ao exército grego. No entanto, nada faz efeito sobre o filho de Aquiles. Ele está determinado a fazer as pazes com Filoctetes, pois sabe que a justiça estava do lado dele.

Odisseu finge ir embora. Na verdade, ele se esconde. Neoptólemo chama Filoctecte e devolve o arco. A arma está na mão do rival de Odisseu. Odisseu intervém pela segunda vez, mas desiste e vai embora.

Sozinho com Filoctetes ele revela a verdade, incluindo os oráculos que exortam os gregos a virem buscá-lo. Filoctetes, descobre que, se ele navegar para Troia, ele poderá salvar-se.

 

“Neoptólemus: Falas de maneira razoável, mas, no entanto, quero que tu acredites tanto nos deuses como nas minhas palavras, para navegares desta terra, tendo-me como um homem e amigo.

Filoctetes: Navegar para as planícies de Troia e para o odioso filho de Atreu com este desditoso pé?

Neoptólemus: Para os que com certeza do pé purulento hão de te curar as dores da doença hão de te livrar.

Filoctetes: ò que terrível conselho aconselhaste, o que dizes então?

Neoptólemus: Vejo que o que se cumprir é vantajoso a ti e a mim.

Filoctetes: E tendo dito isso não te envergonha dos deuses?

Neoptólemus: Como alguém poderia se envergonhar por ajudar os amigos?

Filoctetes: Falas de ajuda para os Atridas, ou para mim?

Neoptólemus: Para ti, claro, pois é meu amigo, e falo como tal. (pág. 191)

Embora Neoptólemo tenha medo de que esse ato incite a ira de todos os gregos, ele concorda em levar Filoctetes para a Grécia.

De repente, uma forma divina aparece no céu dos dois: é o espectro de Héracles, descendo para o Olimpo para declarar a palavra de Zeus. Ele promete enviar Asclépio para curar as feridas de Filctetes e o informa de que é o seu dever seguir para Troia:

Héracles: “... Eu enviarei Asclépio, aliviador de tua ferida, Ìlion, pois a segunda coisa é que precisas a elas com minhas flechas devastar. Isso tende em mente, quando destruíres a terra: honrai o que é divino porque nas outras coisas, todas secundárias, pensa o pai Zeus. Pois a piedade não morre com os mortais quer vivam quer morram, não se destrói.” (pág. 197)

A peça termina com os heróis movendo-se lentamente em direção ao navio, prontos para partir para Troia.

A ideia central da peça Filoctetes é a reconciliação entre ele e os gregos. Isolado numa ilha por causa de uma mordida de serpente, carrega o sofrimento e o ressentimento. Mas ele tinha um papel fundamental na guerra de Troia. E graças a Odisseu e Neoptólemo, filho de Aquiles, Filoctetes é convencido a retornar à guerra de Troia e cumprir o seu papel.

Héracles tem um papel crucial. Sua aparição na peça desempenha a resolução do conflito central. É a reviravolta da trama. Héracles é apresentado como um salvador e guia espiritual para Filoctetes, revelando que sua ferida é um presente divino e que está destinado a cumprir um papel fundamental na guerra de Troia.

Fico por aqui e indico Filoctetes, de Sófocles, como um livro que merece um lugar de “HONRA” na sua estante.


Data: 18 maio 2023 | Tags: Tragédia, Grega


< Sete contra Tebas Notas sobre humor >
Filoctetes
autor: Odysseus
editora: Fernando Brandão dos Santos

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