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O Olho

Vladimir Nabokov, escritor russo que se notabilizou pelo clássico Lolita, estreia neste espaço. “O Olho”, o livro de que falaremos hoje, é curiosamente engraçado. Esse foi o quarto livro de Nabokov. O tema de “O Olho” é uma investigação que leva o protagonista através de um inferno de espelhos e termina na fusão de imagens gêmeas.  Mas antes de falar do livro, gostaria de falar minimamente do autor.

Vladimir Nabokov nasceu em São Petersburgo, na Rússia, em 1899. Filho de uma família rica e nobre, acabou tendo que fugir da Rússia por causa da Revolução. Após inúmeros exílios pela Europa oriental, a família migrou para a Inglaterra, onde Nabokov foi estudar no Trinity College, em Cambridge.

Os Nabokovs resolveram mudar-se para Berlim quando seu pai foi assassinado em março de 1922. Ele foi morto a tiros em Berlim pelo monarquista russo Piotr Shabelsky-Bork enquanto estava tentando proteger o verdadeiro alvo, Pavel Milyukov, um líder do Partido Constitucional Democrata no exílio.

Os primeiros escritos de Nabokov foram em russo, mas ele alcançou sua maior fama com romances escritos no idioma inglês. Sua educação trilíngue teve uma profunda influência sobre sua arte.

Voltando ao livro em questão, devo dizer que a narrativa de “O Olho” é fascinante e somos envolvidos pela sua linguagem bem elaborada, instigante e engraçada. O livro começa com uma discussão seguida de uma surra sofrida pelo narrador, que mantinha relações afetivas com uma certa Matilda. O marido dela não perdoa e castiga-o. Em seguida um autodisparo do narrador em seu coração, um suicídio. Após se matar,  ele começa a notar  tudo ao seu redor. Ele descobre que seus problemas estão apenas começando, porque sua mente não consegue encontrar paz até que ela consiga desvendar as complexas consequências de suas imprudentes ações no mundo imanente. Nesse prolongamento da vida na Terra, seu pensamento liberta-se do seu corpo e continua movendo-se em uma esfera onde tudo estava conectado antes.

Ele começa a se misturar com uma família, e sua atenção foca-se em duas pessoas. A primeira é uma mulher chamada Vanya, cuja indiscrição não é nada elegante. O segundo é Smurov, um jovem enigmático que o narrador descreve de forma muito lisonjeira.

Vladimir Nabokov manipula de uma forma deslumbrante e inteligente modos narrativos na primeira e na terceira pessoa. A grande pergunta a que vocês terão que responder é: afinal, quem é Smurov? Aqui podemos observar a comunhão secreta do autor e do leitor através do narrador. Deu para entender?

Vamos lá. Em um primeiro momento, é um personagem secundário que habita a capa narrativa e fictícia de Nabokov, para manter a lógica da história. Aos pouco vai se tornando uma personalidade complexa, Um mistério para os outros personagens abrindo uma multiplicidade de máscaras.

Sabemos que no fundo é uma manifestção de sua imaginação. Algo de suspeito e incerto existe sobre Smurov. Começamos a perceber que ele existe como uma fraude. Nobre, canalha, aventureiro sexual, ladrão, espião sob o  “O Olho” de vários personagens do livro.

Não importa se você descubra o enigma (quem é Smurov?) mais cedo na história; a diversão das situações grotescamente embaraçosas que o narrador cria para si mesmo acaba nos envolvendo. Um tema contínuo que atravessa “O Olho” são as justaposições de subjetividades e da objetividade. Como as pessoas se julgam e como isso molda os outros personagens. Por mais que julguemos Smurov, o original permanecerá desconhecido. A dúvida é o pilar que o leitor manterá em toda a sua leitura. Um livro que merece um lugar de honra na sua estante.


Data: 25 abril 2017 | Tags: Romance


< A Mulher desiludida O Show do Eu – A intimidade como espetáculo. >
O Olho
autor: Vladimir Nabokov
editora: Alfaguara

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