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O eleito

O livro “O Eleito”, de Thomas Mann, é mais um dos grandes livros escritos por esse autor magnífico.

 

O livro começa assim: “Os sinos tocam do Aventino, dos santuários do Palatino e de São João de Latrão, tocam sobre a tumba daquele que tem as chaves, tocam na colina do Vaticano, em Santa Maria Maggiore, no Fórum de Domenica, em Cosmedin e Trastevere, tocam os sinos de Ara Celi, de São Paulo Fora dos muros, de São Pedro Acorrentado e da casa do Santíssimo Crucifixo em Jerusalém. Mas os sinos também tocam nas capelas dos cemitérios, nos telhados das igrejas e dos oratórios das ruelas... Quem toca esses sinos? Não os sineiros. Estes correram para as ruas, como todo o povo, pois os sinos tocam de maneira absolutamente inaudita. Convencei-vos: os lugares, onde os sineiros trabalham estão vazios. As cordas pendem frouxas, e, mesmo assim, os sinos agitam-se, e os badalos reboam. Dirão que ninguém os toca?... Mas quem, então, toca os sinos de Roma? – O espírito da narrativa...” (pg 11, e pg12)

 

Esse romance é baseado no verso medieval Gregorius, escrito pelo alemão Hartman Von Aue (1165-1215).

 

O livro começa em Roma, com o monge Clemente, o irlandês movido “pelo espírito da narrativa”, que introduz o leitor para os eventos que levaram ao toque dos sinos, ou seja, a chegada de Gregorius a Roma e sua coroação como Papa. Mas até chegar a esse grande momento. Thomas Mann usa o mito “Gregorius” para contar uma fábula comovente, tendo como cenário uma Idade Média fictícia, em Flandres, onde o duque Grimald mantinha sua residência em Chastes Belrapeire, que ficava no alto Artois.

 

Viúvo há dezessete anos de sua mulher Baduhenna, pressiona sua filha Sibylla a se casar com um pretendente de um reino vizinho. Mal sabia ele que sua filha desde a tenra infância tinha o seu coração guardado para um só homem, e esse homem era nada mais nada menos que seu irmão Willigis. Ela despreza a vontade do pai e se torna amante de seu irmão. Até que o desastre acontece, ou seja, ela engravida de seu próprio irmão. A princípio o suicídio é uma opção para Willigis, que pede conselho ao seu grande mestre Eisengrein, e este lhe sugere expiar seus pecados, ou seja, a se juntar a alguma cruzada e ficar longe de Flandres. Ele viaja. O filho nasce, mas Sibylla é pega com uma notícia simplesmente horrível. Seu irmão Willigis é morto em Messina na Sicília. A criança não poderia mais ficar escondida dos outros e ela resolve entregar o bebê com dezesseis dias aos cuidados das mãos de Deus. Colocam a criança em um sólido barrilzinho que continha seu dote em sedas, pães recheados com ouro e informações escritas. Tudo feito às pressas e em segredo. E, no meio do nevoeiro, descendo do castelo para o mar, a esposa de Eisengrein joga o barril no Mar do Norte. O barril com o bebê dentro dele atravessa o Mar do Norte e acaba sendo encontrada por pescadores. O Abade Gregory abre o barrilzinho auxiliado pelos pescadores e, quando vê um bebê rodeado de coisas valiosas, compreende a sua importância. Afinal, como ele sobreviveu a tudo isso? Deus havia assistido a criança. O Abade batiza a criança dando-lhe o nome de Gregorius, mas na aldeia é chamado de Grigorss. O Abade coloca os pertences valiosos encontrados junto ao bebê para render juros para que ele possa usufruir dessa renda quando crescer. Gregorius acaba sendo criado pela família Wiglaf e Mahaute, que tinha mais filhos. A princípio foi educado pelo Abade e tudo levava a crer que iria se juntar ao mosteiro e permanecer entre os irmãos para o resto da vida. Por causa de uma briga com seu “irmão”, acaba sabendo que não era adotado e de suas origens, que eram até então mantidas em segredos. O Abade leva Gregorius até sua sala e lhe conta os segredos, e o rapaz acaba descobrindo que sua mãe e seu pai são irmãos. Chocado com a revelação, resolve, para aliviar o seu sofrimento, procurar seus pais. Após inúmeros apelos para ficar, o Abade lhe entrega as peças de ouro que lhe pertenciam. E como esse ouro, que o Abade havia deixado a cargo de um judeu, se multiplicou, Gregorius teve condições de embarcar aos 17 anos para a cidade de Bruges, no continente europeu. Acaba chegando ao ducado de Sybilla (mãe de Gregorius), que, depois da morte de Willigis (pai de Gregorius), recusa-se a casar com um pretendente de um reino vizinho. Não satisfeito com a negativa de Sybilla, esse pretendente resolve invadir o ducado de Sybilla e uma terrível guerra começa. Essa guerra ficou conhecida como a “guerra do amor”. Apesar de sua pouca idade, Gregorius enfrenta o pretendente, desafia o vilão e o derrota. Impressionado com a beleza de Sybilla, começa a nutrir sentimentos que vão além de uma admiração. Algo muito forte surge. E agora? Para por aqui.

 

O romance é escrito em um estilo medieval, uma fábula inteiramente entre sinos e quem conta essa história é um grande espírito do monge Clemente, o irlandês movido “pelo espírito da narrativa”. De uma beleza que só um autor como Thomas Mann é capaz de escrever.

 

Os sinos tocarão quando você estiver lendo esse livro. Por isso, indico “O Eleito” como um desses livros que vai colar na sua memória.

 

Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Romance


< Gratidão É isto um homem? >
O eleito
autor: Thomas Mann
editora: Editora Mandarim
tradutor: Lya Luft

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