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A vítima perfeita

Vou contar um segredo a vocês. Nunca tinha ouvido falar em Sophie Hannah. Quando tomei conhecimento da existência dessa escritora estava com o livro “A Vítima Perfeita” em minhas mãos. Comecei a folheá-lo e notei uma prosa interessante, vi que se tratava de um suspense psicológico e pensei: quer saber? Estou precisando ler um bom suspense. E não titubeei, já peguei louco para começar a ler. Invejo aqueles que conseguem ler em ônibus.

Estava no ônibus sem nada para fazer e peguei o livro para dar mais uma folheada. E dito e feito, minhas vertigens não me deixaram prosseguir. Pois bem, cheguei em casa, falei com todos, tomei o meu banho e comecei a leitura. Não consegui parar. O livro é ótimo. Vamos a ele?

Descobri que o livro faz parte de uma série. Isso já me deixou preocupado, pois, como não conhecia a autora, e muito menos o seu estilo, pensei que poderia dar com os burros n’água. Mas não foi assim que aconteceu (graças a Deus!).

O livro começa com uma revelação em um site chamado “Speak out and Survive” em que mulheres vítimas de estupro narram as violências sofridas dessa brutalidade, que, infelizmente, progridem de forma covarde nesses tempos que podemos chamar de civilizatórios.

Naomi Jenkins narra sua trágica experiência nesse site. Naomi foi vítima de uma circunstância trágica, mas se recusa a comportar-se como uma vítima. Ela é uma mulher de negócios independente e muito bem articulada.

Naomi Jenkins é uma sobrevivente de um estupro ocorrido há três anos, mas nunca notificou à polícia ou disse a qualquer pessoa que gozasse de sua intimidade. Certo dia algo, aparentemente muito bom, ocorreu em sua vida. Conheceu um homem bem-educado chamado Robert Haworth, mas ele era casado. Isso não significava nada para ela, já que o próprio namorado estava vivendo um processo de separação com sua atual esposa. No entanto, havia algumas coisas no mínimo curiosas. Eles se encontravam todas as quintas-feiras em um hotel durante sete meses. Era um homem metódico e que seguia um script bem definido em sua vida.  Ficavam três horas e depois se despediam. Era um hábito, uma rotina, que existia entre eles. Uma coisa estava ficando cada vez mais certa: Naomi Jenkins estava totalmente apaixonada por Robert Haworth. Até que um dia ele não foi ao encontro e não deu a menor satisfação. Algo estava errado, pensou. Aos poucos o pânico foi invadindo sua vida. Afinal, o que teria acontecido ao seu namorado? Ele nunca faltava aos encontros.

Ela vai a uma delegacia de polícia e conta tudo para os plantonistas sobre o desaparecimento de seu amante. A receptividade dos policiais foi de uma indiferença bocejante. Eles achavam que tudo não passava de um caso trivial em que uma amante enlouquecida subitamente via-se abandonada por um homem casado.

Robert não era corajoso o suficiente para dizer a ela que tudo estava acabado, essa era a dedução lógica. E para eles o caso já estava resolvido, ou seja, o homem não queria mais nada com a amante e comunicou isso a ela se ausentando. Fim de papo. Percebendo a indiferença dos policiais, ela volta à delegacia e conta outra história. Fala sobre o estupro que sofreu, mas dessa vez identifica Robert como o seu estuprador. Quando ela dá essa versão, o seu objetivo é claro: forçar os policiais a procurarem o seu amante. Eles desconfiam dessa versão, mas agora a coisa muda de figura. A polícia não está à procura de um desaparecido, mas a procura de um estuprador.

Essa mentira leva a policial Charlene, conhecida como Charlie, e sua equipe a um emaranhado de histórias e lugares. Algumas verdades serão reveladas, mas muitas mentiras serão também contadas.

Este romance não é nada convencional. Ele vem em camadas, que precisam ser cuidadosamente descascadas para que você possa entender o que está acontecendo.

Percebe-se na história que ela está permanentemente dialogando em seus pensamentos com Robert Haworth. Onde estará ele? Ele aparecerá em coma em um hospital, ferido gravemente no crânio devido a uma pancada quase letal e respirando por aparelhos. Mas ela continua conversando com ele. Naomi Jenkins é uma narradora confiável; ela diz ao leitor quando ela está mentindo ou dizendo a verdade, mas quando ela afirma que não está mentindo, percebe-se que há meias verdades por trás de suas palavras. 

No meio da leitura você, leitor, fará aquela clássica indagação: como é que é? Levamos algum tempo para decifrar o que está acontecendo, qual mistério se esconde na fachada do desaparecimento e na tentativa de assassinato de Robert Haworth. Isso não será muito fácil.

Há uma série de coincidências aparentes. Nas descrições escabrosas, o escuro, a violação, o crime terrível. Sophie Hannah sabe manipular como ninguém as ações de um psicopata; para isso, ela só precisa desenterrar o passado traumático de Naomi Jenkins.

“A Vítima Perfeita”, de Sophie Hannah, é um suspense psicológico carregado de voltas e reviravoltas. O livro é intrigante. É o típico livro que pode fazer com que você, leitor, perca o emprego ou chegue atrasado ao trabalho com olheiras, fazendo seu chefe pensar que você estava numa noitada na Lapa.

A leitura deste livro é aconselhada para dias de folga.

Um grande livro de suspense que merece um lugar de destaque em sua biblioteca.


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Suspense


< A festa da insignificância A noite dos desesperados >
A vítima perfeita
autor: Sophie Hannah
editora: Editora Rocco

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