Prometeu Acorrentado
Ésquilo nasceu em uma família rica em Elêusis, capital da região da Ática Ocidental na Grécia. Quando jovem, Ésquilo teria tido um sonho em que Dionísio, o deus grego do vinho e do teatro, veio até ele e lhe disse para escrever tragédias. Segundo a história, Ésquilo começou a escrever no dia seguinte. Foi na cidade de Dionísio, onde havia um festival anual, que ele começou a sua carreira. O festival terminou com a encenação de três tragédias e cinco comédias. Ele conseguiu o primeiro lugar na cidade de Dionísio treze vezes, e é considerado o pai da tragédia. Um trágico de sucesso. Foi herói de guerra. Lutou duas vezes pela Grécia; primeiro durante as invasões persas. As guerras greco-persas. Os gregos foram vitoriosos em todas as guerras.
Antes de entrarmos na história de Ésquilo sobre Prometeu, vamos falar um pouco sobre a história do mito de Prometeu, em que a história de Ésquilo é baseada. História essa que se encontra inserida na mitologia grega. Essa é uma história importante da origem do mito grego.
O tratamento que Ésquilo dá ao mito de Prometeu diverge radicalmente dos relatos da “Teogonia”, de Hesíodo (ainda não resenhado aqui) e “dos trabalhos e os dias” também de Hesíodo não resenhado aqui. Em “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo, o protagonista da história, Prometeu, se torna um sábio benfeitor humano, ao invés de ser o culpado pelo sofrimento humano; e Pandora e seu jarro de males, personagem importante da mitologia, está ausente da história.
Prometeu era filho de Jápeto e Climene. Jápeto era um Titã, grupo de deuses que precedeu os deuses do Olimpo. Prometeu foi um dos primeiros deuses, primo de Zeus e irmão de Atlas, assim como dois Titãs: Moneotius e Epimeteu. Prometeu, segundo a mitologia grega, criou os humanos a partir do barro. Nesse sentido, ele ocupa um lugar central no panteão grego. Era o grande aliado da humanidade.
Prometeu significa “previsão”, com o nome de seu irmão Epimeteu significando literalmente “reflexão”. No entanto, existe uma outra visão que diz que o nome Prometeu é um cognato, ou seja, da mesma raiz do védico, que significa literalmente “roubar”, o que faz pleno sentido levando-se em conta a história de Prometeu, que rouba o fogo dos deuses para dar aos humanos.
A história de Prometeu é muito conhecida porque explica como a humanidade se apossou do fogo, permitindo assim ao homem formar civilizações. Na verdade, Prometeu não roubou o fogo e o deu à humanidade, mas roubou o fogo dos deuses e o devolveu à humanidade. O homem já possuía o fogo, mas Zeus o retirou. E tudo porque Prometeu o enganou.
Hesíodo, que ainda não teve seu livro resenhado aqui no site, remonta a história contando que Prometeu havia servido um “churrasco” aos deuses, assim como aos primeiros homens. Prometeu servia o boi de duas maneiras: a Zeus e aos outros deuses, ele oferecia o estômago do boi, que não parecia muito gostoso. Dentro do estômago, ele escondia a carne e as entranhas ricas em gorduras bem como a pele carnuda do boi.
Aos homens, Zeus servia os ossos, que ele havia escondido sob uma camada de gordura de aparência saborosa do animal. Zeus não ficou nada satisfeito com isso, pois Prometeu ofereceu aos humanos mortais a parte suculenta, enquanto ele e outras divindades recebiam nada mais nada menos que o estômago. Prometeu, quando soube disso, da insatisfação de Zeus, ofereceu duas porções. Mas Zeus era astuto demais para ser ludibriado. Foi inspecionar os ossos gordurosos e o estômago cheio de carne engordurada. Não ficou nada feliz. Percebendo que estava sendo enganado por Prometeu, Zeus, como castigo, negou ao homem o poder de fogo.
Prometeu tinha um lado rebelde, enganou o seu próprio primo, Zeus, e roubou a chama do fogo eterno do Monte Olimpo. Ele pegou essa chama e deu aos homens. Quando soube que Prometeu havia feito esse roubo, Zeus resolveu puni-lo. Acorrentou-o a uma rocha e depois foi submetido à agonizante provação de sentir o seu fígado sendo bicado por uma águia. Seu fígado voltaria a crescer todas as noites, então Prometeu teria que suportar todos os dias, por toda a eternidade. o mesmo destino: sentir seu fígado sendo bicado por uma águia. Coube a Héracles (Hércules), segundo Hesíodo, salvar Prometeu e o libertar. Ele assim o fez com a permissão de Zeus. Em sua jornada para cumprir os Doze Trabalhos, passou pelo Monte Cáucaso, onde estava Prometeu acorrentado, e resolveu matar a águia. Zeus inicialmente ficou chateado, mas depois resolveu conceder a liberdade para Prometeu.
Zeus, no entanto, queria que Prometeu carregasse uma lembrança de sua punição para sempre. Ele ordenou que Prometeu fizesse um anel de aço com as correntes que o prendiam e usasse esse anel a partir de então.
Um outro fato importante é que até então a mulher não havia sido criada. Júpiter a criou e a enviou a Prometeu e seu irmão, para puni-los por sua presunção de roubar o fogo do céu; e o homem por aceitar o presente. A primeira mulher se chamava Pandora. Ela havia sido feita no céu. Cada deus dava um toque divino para aperfeiçoá-la. Vênus lhe deu a beleza, Mercúrio lhe deu a persuasão, Apolo a música, e por aí vai. Com toda essa invenção, ela é trazida para a terra e apresentada a Epitemeu (irmão de Prometeu), que aceitou de bom grado, embora advertido por seu irmão. Epitemeu tinha em sua casa um jarro, no qual eram guardadas coisas nocivas. Pandora, tomada por uma curiosidade ansiosa, queria saber o que havia dentro desse jarro. Ao abrir, ela se defrontou com o que de pior havia saído de dentro. Ela recolocou a tampa, mas o conteúdo já havia saído. Isso quer dizer doenças e coisas do gênero. No entanto, no fundo do vaso, havia a esperança.
Assim, quando vemos os males exteriores nos tornando absolutamente miseráveis, existe a esperança que nunca nos abandona totalmente; e, graças à esperança, nossa condição miserável nos dá um certo conforto.
Vamos à história?
A história começa no deserto árido de Citia. Três deuses, o Poder, a Violência e Vulcano (Hefesto na mitologia grega), que acorrenta Prometeu, em uma rocha. Quando os três se retiram, Prometeu nos conta uma pequena história:
“Prometeu: Ó divino éter! O sopro alado dos ventos! Regatos e rios, ondas inumeráveis, que agitais a superfície dos mares! Ó Terra, mãe de todos os viventes, e tu, ó Sol cujos os olhares aquecem a natureza! Eu vos invoco! ... Vede que sofrimento recebe um deus dos outros deuses! Vede que suplício? Mas... que digo eu? O futuro tem segredos para mim; nenhuma desgraça imprevista pode acontecer. A sorte que me coube em partilha, é preciso que eu a suporte com resignação. Não sei eu, por acaso, que é inútil lutar contra a força da fatalidade? Não me posso calar, nem protestar contra a sorte que me esmaga! Ai de mim! Os benefícios que fiz aos mortais atraíram-me este rigor. Apoderei-me do fogo, em sua fonte primitiva; ocultei-o no cabo de uma férula, e ele tornou-se para os homens a fonte de todas as artes e um recurso fecundo...Eis o crime para cuja expiação fui acorrentado a este penedo, onde estou exposto a todas as injúrias! Oh! Ai de mim! Que rumor será este? Que estranho perfume vem para mim? Será de origem divina ou mortal? Ou de uma e de outra ao mesmo tempo? Quem quer que seja, virá apenas contemplar meu sofrimento ou que outro motivo o traz? Vede, eis aqui coberto de correntes, um deus desgraçado, incurso de cólera de Júpiter, odioso a todas as divindades que frequentam seu palácio, tudo isso porque amei os mortais... Mas... que ouço agora? Será um rumor de aves que se aproximam? O ar se agita a um bater de asas... Seja o que for, tudo me apavora!” (pág. 36; pg37)
O coro aparece e pergunta a Prometeu como ele se enfiou nessa situação:
“O coro: Dize, porém sem nada ocultar, por que a ofensa tua Júpiter ordenou para que sofresses tão bárbaro tratamento? Qual foi o teu crime? Fala, se é que isso não venha aumentar o teu sofrer. (pág. 40)
Prometeu conta a história de como a sua amizade com Júpiter (Zeus grego) azedou no momento que ele roubou o fogo e deu aos humanos:
“Prometeu: Ai de mim! Doloroso será para mim, vô-lo [BV1] contar, mas não menos doloroso silenciar; tudo agrava a minha angústia. O ódio acabara de romper entre os deuses em dissídio. Uns queriam, expulsando Saturno, dar o cetro a Júpiter; outros ao contrário esforçavam-se por afastá-lo do trono. Em vão procurei dar mais prudentes conselhos aos filhos Céu e da Terra, os Titãs; sua audácia desprezava todo o artifício, toda a habilidade; eles supunham triunfar sem esforço graças a seu próprio poder. Quanto a mim, Têmis, minha mãe, e a própria terra adorada sob tantos nomes diversos, me tinham profetizado que, no combate prestes a travar-se, a força e a violência de nada valeriam; o ardil, tão-somente, decidiria a vitória. Quando lhes anunciei este oráculo, mal consentiram em ouvir-me! Em tal emergência, pareceu-me prudente, acompanhando minha mãe, adotar o partido de Júpiter, que insistia comigo para que o apoiasse. Graças a mim, e a meus conselhos, foi-lhe possível precipitar nos negros e profundos abismos do Tártaro, o venerando Saturno e todos os seus defensores. Após o tamanho serviço, eis o prêmio ignóbil com que me recompensou o tirano do céu! Tal a prática da tirania: a ingratidão para com os seus amigos... Mas o que tanto quereis saber: a causa do meu suplício, eu vou dizer agora
Logo que instalou no trono de seu pai, distribuindo por todos os deuses honras e recompensas, ele tratou de fortificar seu império. Quanto aos mortais, porém, não só lhes recusou qualquer de seus dons, mas pensou em aniquilá-los, criando em seu lugar uma nova raça. Ninguém se opôs a tal projeto, exceto eu. Eu, tão-somente, impedi que destruídos pelo raio, eles fossem povoar Hades. Eis a causa dos rigores que me oprimem, deste suplício doloroso, cuja simples vista causa pavor. Porque me apiedei dos mortais, ninguém tem pena de mim! No entanto, tratando sem piedade eu sirvo de eterna censura à prepotência de Júpiter” (pág. 40; pág. 41; pág. 42)
Prometeu convida o coro a se reunir ao pé de seu penhasco para ouvir sua profecia sobre o futuro. É nesse momento que aparece, o pai deles, “O Oceano”. Ele conversa com Prometeu e aconselha:
“O Oceano: Eu o vejo Prometeu... E, seja qual for tua sagacidade, eu te darei um conselho... Concentra-te em ti mesmo; um novo senhor domina os deuses; convém que tomes pois, outros sentimentos ... Se te mantiveres nestes protestos injuriosos, do alto do Olimpo Júpiter há de te ouvir, e brevemente teus males agravados, farão com que tenhas saudades de sua condição atual. Abafa, ó infeliz, tua cólera impotente; procura alcançar o perdão... Talvez este conselho te pareça de um velho; mas tu sabes que males pode atrair um discurso insolente. Nada te pode humilhar, nada te pode abater..., mas tu procuras redobrar teu sofrimento. Creia-me; curva-te sob o jugo: pensa que atualmente, reina um senhor severo e supremo! Vou procurá-lo e tentarei obter a tua liberdade. Modera-te, pois; não soltes a tua língua irreverente! Esclarecido, como és, acaso ignoras que a punição é a consequência certa de tuas palavras imprudentes?” (pág. 45; pág. 46)
Prometeu detalha a sua relação com os humanos, revelando que lhes ensinou todo o conhecimento que possuem. Preocupado em deixar Júpiter (Zeus na mitologia grega) ainda mais furioso, o coro diz a Prometeu para parar de ser provocativo. Prometeu desrespeita Júpiter porque Júpiter desrespeitou os humanos quando prometeu “eliminá-los” e criar uma nova raça. O destino de Prometeu na montanha é pura tortura, mas é um mal necessário para salvar a humanidade, a arte e a criação de Prometeu. Dessa forma, Ésquilo implica que o artista sempre sofre – sempre é obrigado a sofrer em nome de sua arte.
Ele se recusa, e acrescenta que Júpiter não governará para sempre. Prometeu não explica a sua profecia porque o conhecimento é o que ele tem.
“O Coro: Agiste sem discernimento, e sofres por isso uma pena terrível! Médico incapaz para curar os seus próprios males, perdes a esperança, e não descobres o remédio que te há de salvar.
Prometeu: Ouvi o resto, e ainda mais admirareis o valor das artes e indústrias que dei aos mortais. Antes de mim – e este foi maior benefício – quando atacados por qualquer enfermidade, nenhum socorro para eles havia, que em alimento, quer em poções, bálsamos e medicamentos: eles pereciam. Hoje, graças às salutares composições que lhes ensinei, todos os males são curáveis. Elucidei lhes todos os gêneros de adivinhações; fui o primeiro a distinguir, entre os sonhos, as visões reveladoras da verdade; expliquei-lhes os prognósticos difíceis, bem como os prognósticos fortuitos ou transitórios. Interpretei precisamente o voo das aves de rapina, bem como os augúrios, felizes ou sinistros, que provém de outros animais; fiz ver quando reina entre eles o ódio, ou a concórdia e a união; enfim, o que pode haver nas entranhas das vítimas de agradável aos deuses, no aspecto e na cor; na beleza das formas do fel e do fígado. Estendendo sobre o fogo, num envoltório de gordura, as partes internas e os membros dos animais, iniciei os mortais numa ciência difícil, dando-lhes a conhecer signos até então ignotos. E não é tudo: prata e o ouro, quem se orgulhará de os ter descoberto, antes de mim? Ninguém, a menos que se trata de um impostor. Em suma: todas as artes e conhecimentos que os homens possuem são devidos a Prometeu. (pg53; pag54)
Até que entra em cena Io. Segundo fontes da mitologia romana, dizem que Júpiter transformou Io em uma vaca – porque temia que Juno, sua esposa (equivalente de Hera na mitologia grega, mulher de Zeus), visse o que ele estava fazendo. Sim, Io havia sido seduzida por Júpiter. O problema é que Juno resolve descontar sua raiva não em Júpiter, mas em Io.
Io é uma ninfa e tem uma história para contar. Ela costumava ter sonhos estranhos dizendo-lhe que Júpiter, rei dos deuses, estava apaixonado por ela. Eventualmente, seu pai consultou um oráculo, que lhe disse para enviar Io para o deserto, por causa de Júpiter.
“Io: Como poderia eu deixar de cumprir vosso desejo? Ouvi, pois, a história que tanto desejais conhecer, embora muito me custe recordar a causa do flagelo com que o céu me oprime, e da horrível transformação que tenho sofrido. Quando no recesso de meu retiro virginal, ainda os sonhos me deleitavam, uma voz insidiosa me dizia: “Ó ninfa ditosa, por que insistes em conservar tua virgindade, se podes realizar o mais glorioso himeneu? Por ti arde Júpiter na chama do desejo; contigo ele quer fruir os prazeres do amor de Júpiter; corre as plagas de Lerna, àquelas campinas irrigadas por teu pai, e cede ao olhar amoroso de um deus que te adora”. Pobre de mim! Tais eram os sonhos que me perseguiam todas as noites. Resolvi, finalmente, certificar meu pai do que se passava. Ele enviou mensageiros a Pitos e Dodona, a fim de indagar aos deuses. Por algum tempo não obteve senão respostas ambíguas, cujo sentido se ocultava sob a mais impenetrável obscuridade. Deram-lhe, por último, uma decisão oracular determinando que eu fosse expulsa de minha casa e de minha pátria, e condenada a vagar sem rumo aos confins do mundo. Se meu pai não obedecesse, Júpiter desfecharia raios fulminantes, que destruiriam totalmente a nossa raça. Cumprindo esse oráculo de Apolo, meu pai obrigou-me a partir para longo em doloroso exílio. Ele assim agiu, eu bem sei, contra a sua, e a minha vontade; mas o poder de Júpiter o forçou a tamanha violência. Desde logo minha razão e meus traços fisionômicos se alteraram: apontaram estes chifres em minha fronte; um moscardo me fere com o seu ferrão agudo... Aos saltos, numa corrida louca, atirei-me à corrente benéfica do Cencréia, e procurei a fonte mais alta do Lerna. Um cão pastor filho da terra, o impiedoso Argos, seguia-me por toda parte, observando-me com seus inúmeros olhos. Inesperado golpe privou-o, de repente, da vida; mas o terrível inseto, flagelo divino, continuou a perseguir-me, expulsando-me de um país para o outro. Eis o que tem sido a minha sorte até o presente momento; visto que sabes o que ainda me resta sofrer, dize-me eu te peço! Não me iludas com uma mentira...Trair a verdade é o mais vergonhoso dos vícios”. (pg62; pág. 63)
De qualquer forma, a pobre Io está à mercê não de um, mas de dois deuses diferentes – e seu único crime foi confessar ao o pai sobre seus sonhos sensuais. Io está estressada, pois sabe que seus sofrimentos vão durar centenas de anos, mas não para sempre. O sofrimento de Prometeu também não vai durar para sempre: Júpiter cairá do poder.
“Prometeu: Embora orgulhoso, Júpiter será humilhado um dia... Tal o fruto do enlace que ele deseja, e que será a causa da ruína de seu trono, e de seu poderio. Realizar-se-á, então, integralmente, a maldição que contra ele lançou Saturno quando foi expulso da antiga sede de seu império. De todos os deuses, só eu poderia ensinar-lhe como evitar essa desgraça; só de mim se poderia obter essa revelação. Nesse dia, em vão ele se porá do alto das nuvens, agitando nas mãos os seus dardos inflamados: nada o salvará de uma queda ignominiosa. Eu vejo como ele próprio está criando o seu inimigo, o prodigioso atleta, difícil de vencer, que lançará fogos mais ardentes que o raio, fará rumores mais fortes que o trovão, e quebrará o tridente de Netuno, esse flagelo marítimo que abala a terra. Naufragando nesse baixio, Júpiter aprenderá, então, o quanto é diferente servir, de dominar”. (pág. 75)
Prometeu é um deus e ele sabe que seu sofrimento não vai durar para sempre, pois é imortal. Ele também sabe que Júpiter vai ter problemas com o seu poder. Mercúrio chega. Ele quer arrancar as previsões sobre o poder de Júpiter. Mas Prometeu diz:
“Prometeu: Por acaso não é uma infantilidade o pretenderes arrancar de mim uma revelação? Não há tormentos, nem artifícios que me forcem a elucidar esse mistério a Júpiter enquanto não forem rompidas as correntes que me prendem! – assim tenho dito! Agora, quando os cintilantes que me prendem! – assim tenho direito! Agora, quando os cintilantes coriscos caem com estrondo, e os fogos subterrâneos se confundem com a neve que branqueia as alturas, revolucionando a natureza, nada me fará ceder, e eu não revelarei o nome daquele que o há de derrubar do trono”. (pág. 80)
Ironicamente, Prometeu é o exemplo da certeza de suas convicções. Mercúrio não consegue enxergar além do poder e da força de Júpiter. De acordo com Prometeu, Júpiter vai precisar dele um dia e, quando isso acontecer, Júpiter terá que libertá-lo primeiro. No entanto, surge um problema. Prometeu não implora a sua libertação. Isso deve-se à sua convicção, à sua liberdade psicológica de saber que, mesmo acorrentado, Júpiter não controla a mente e o espírito de Prometeu.
O sofrimento certo e prolongado não é suficiente para diminuir a determinação de Prometeu. Ele está comprometido com o sofrimento pelo bem de sua criação e está preparado para o som do trovão e do relâmpago do poder.
“Prometeu: Com efeito, não foi uma ameaça, apenas: a terra põe-se a tremer...O soturno ronco já se faz ouvir...Turbilhões de poeira se erguem...todos os furacões desencadeados parecem que estão contra mim! Contra mim, é que Júpiter desfecha tão horrendo cataclismo.
Ó minha augusta mãe: o tu, divino éter que cercais o universo de luz eterna... vede que injustos tormentos me fazem sofrer.” (pág. 84)
Prometeu sabe o que o espera. O sofrimento pelo bem de sua criação tem um preço alto, mas ele está preparado para o som do trovão e do relâmpago do poder de Júpiter à distância. “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo, merece um lugar de “HONRA” na sua estante.