As Bacantes
Existem poucos detalhes biográficos sobre Eurípedes. Sabemos que sua família era de intelectuais. Era um escritor muito talentoso tanto para poesia como para o teatro. Protágoras era o seu mentor intelectual, um intelectual agnóstico. Para quem não sabe, o agnosticismo considera qualquer metafísica e qualquer ideologia religiosa como algo inútil, algo que na época era totalmente incomum.
Eurípedes flertava com os sofistas, que sempre se caracterizaram não pela procura da verdade, e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões. Eram céticos, mas tinham um raciocínio persuasivo. Era amigo de Sócrates e pagou um preço por essa amizade, acabou no exílio na Macedônia. Dizem que ele escreveu mais de noventa peças, mas apenas 19 sobreviveram. Na Grécia, a tragédia era considerada uma arte superior. Eurípedes ganhou cinco vezes a competição de grandes peças financiadas pelo estado como parte de festivais dramáticos. Algo próximo ao Oscar nos dias de hoje.
A Grécia antiga, apesar de sua efervescência intelectual e da vida sob uma democracia, era uma civilização tempestuosa. A guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta se arrastou por anos, criando instabilidade política. “As Bacantes” foi escrita na Macedônia, onde Eurípedes viveu exilado, a convite de Arquelau, o rei da Macedônia.
Antes de falarmos sobre “As Bacantes”, apenas um ponto que precisa ser dito. Dionísio é um deus muito presente na mitologia grega. Dionísio é o deus do vinho, das festas, da alegria, do teatro. Filho de Zeus com uma mortal, a princesa Sêmele. Ele é fruto de uma relação extraconjugal de Zeus, que era casado com Hera, deusa dos casamentos e das mulheres. Hera era uma deusa impiedosa quando o assunto envolvia as puladas de cerca de seu marido Zeus. Sêmele não foi diferente. Utilizando-se de algumas de suas inúmeras armas, entre elas o disfarce, Hera convenceu a Sêmele a pedir a Zeus que usasse sua roupa que mostrasse todo o seu esplendor a ela. No momento em que Zeus apareceu para Sêmele, ela não suportou a luz imanada pelo corpo de Zeus e morreu. Foi transformada em cinzas. Zeus, então, costurou Dionísio ainda não nascido em sua coxa para proteção.
Órfão de mãe, foi entregue por seu pai a ninfas a fim de que fosse criado por elas. Essa é uma versão. Existem outras tantas. Uma delas é que Dionísio teria sido criado pelos sátiros, ou por um sábio chamado Sileno, conhecido posteriormente como como um dos seus seguidores mais fiéis.
Em síntese, Dionísio foi um semideus que passou a ser considerado um deus, sendo aceito no Olimpo.
Tendo feito esse esclarecimento, vamos ao que interessa. Vamos à história.
Dionísio está chateado porque as irmãs de Sêmele e Penteu lançaram dúvidas sobre a história da mãe de Dionísio, sugerindo que ela foi inventada por Cadmo, o pai das irmãs e avó de Dionísio e Penteu.
“Dionísio: Chegado sou a esta terra tebana, eu, Dionísio, filho de Zeus, dado à luz pela cria de Cadmo, Sêmele partejada pelo fogo relâmpago. Minha forma divina pela de um mortal trocada, eis-me aqui, junto às fontes do Dirce, defronte às águas do Ismeno. Vejo o túmulo de minha mãe, fulminada pelo raio, beirando o palácio e as ruínas de sua casa, esfumaçando ainda pela chama sempre viva do fogo de Zeus: vingança de Hera, signo do ultraje que não tem fim. Louvores a Cadmo que o lugar erigiu em inviolável recinto: eu o velei sob racimadas frondes de da vinha.” (pág. 75)
Dionísio é capaz de assumir diferentes formas. Essa abertura é uma das características tradicionais do teatro grego.
Sêmele era filha de Cadmo, o idoso que entregou o governo para o seu neto, Penteu, que renega a versão sobre sua irmã ser amante de Zeus e Dionísio ser o filho dela. Dionísio quer se vingar porque as irmãs de sua mãe (Sêmele), Agave, Ino e Autone, negam que Dionísio seja filho de Zeus. Com isso, estão desonrando sua mãe.
Dionísio está zangado com Penteu, o rei de Tebas e neto de Cadmo, por desrespeitá-lo ao se recusar a oferecer sacrifício ou oração em sua homenagem.
“Dionísio: Sim, vou. Mas jamais hei de sofrer o que sofrer não devo. E ficar certo: Dionísio, o deus que tu negas, vingança tirará do ultraje. Pois, se em mim injúria cometes, é a ele que em grilhões arrasta” (pág. 95)
O que Dionísio diz é que se alguém impedir suas seguidoras, as bacantes, ele trará guerra. Dionísio chama suas mulheres para bater tambor em frente do palácio.
“Dionísio: Iô! Escutai, escutai minha voz! Iô, Bacantes!
Coro: Quem está lá? Donde o apelo de Évio me alcança?
Dionisio: Iô! Iô! De novo vos chamo! Eu, de Sêmele, de Zeus o filho!
Coro: Iô! Iô! Senhor, vêm a nós, a nosso tíaso! Brômio, ó Brômio!
Dionísio: Divino Espírito do Terremoto, abala este solo! (ouve-se o trovejar)
Do coro: Ah... Prestes cairá em ruínas a morada de Penteu!
Dionísio está presente. Adorai-o!
Adoramos!
Vistes a pétrea trave mover-se sobre as colunas? (de novo soa o trovão)
Dionísio: Inflama a facho rutilante do raio! Consome, consome o palácio de Penteu:
(da tumba de Sêmele erguem-se chamas altas.)” (pág. 97)
O Coro canta louvores a Dionísio. Aliás, o coro ocupa um lugar importante. Ele serve como comentário sobre o que está acontecendo. Nesta peça, o coro é formado por algumas seguidoras de Dionísio, as Bacantes. Nesse sentido, reforça a ideia de que ceder aos rituais caóticos de Dionísio representa uma forma de libertação.
Tirésias, o velho profeta cego, entra vestido de dionisíaco. Ele chama Cadmo para sair do palácio e se juntar a ele. Cadmo chega também com trajes de Bacante. Ambos estão ansiosos para entrar na dança, apesar da idade avançada. Eles são os únicos homens em Tebas dispostos a dançar para Dionísio.
“Tirésias: Sentes o que eu mesmo sinto? Sou jovem, como tu: aos coros vou me juntar.
Cadmo: Da carruagem não poderemos ir às montanhas?
Tirésias: A pé maior honra prestamos ao deus.
Cadmo: Velho que sou, um velho irei conduzir?
Tirésias: Até ele, o deus nos levará sem custo.
Cadmo: E dos tebanos, só nós dançaremos as báquicas?
Tirésias: Em são juízo, só nós dois; os outros não.
Cadmo: Demais tardamos. Ainda dá-me a tua mão.
Tirésias: Ei-la, toma-a na tua e segura bem.
Cadmo: Nascido mortal, os deuses prezo.
Tirésias: Com os deuses, não cabe o sofisma. As crenças pátrias, antigas como próprio tempos, nenhum juízo as abala, por muito que se esforce a mente sutil. Alguém dirá que minha velhice não sente pudor, pretendendo dançar, coroado de hera
Mas não disse o deus se o velho ou o jovem convinha a dança. As mesmas honras de todos exige sem diferença ou limites.” (pág. 82; pág. 83)
Penteu, quando chega à cidade, não está disposto a adorar Dionísio e desconfia da embriaguez e da sexualidade envolvida. Penteu percebe Cadmo e Tirésias e seus trajes dionisíacos. Ele zomba deles e diz a Cadmo que tem vergonha dele.
“Cadmo: Meu filho, bem advertiu Tirésias. Permanece conosco, não infrinjas as leis. Nesta hora divagas e tua razão sem razão razoa. Ainda que, como dizes, não existisse esse deus, dize para ti mesmo que ele existe. Mentira piedosa, para que, aos dos mortais, seja Sêmele a mãe de um deus e tal honra caiba à nossa raça inteira.” (pág. 87)
A crença de Cadmo em Dionísio não é baseada numa devoção absoluta, é mais uma prevenção, caso Dionísio de fato seja um deus. É uma prevenção.
Penteu tem um objetivo claro, ou seja, seu objetivo é impor ordem em Tebas. Para isso ele está disposto a prender a própria mãe e tias.
Um servo entra trazendo Dionísio acorrentado, ainda disfarçado. Ele diz a Penteu que as bacantes que foram presas escaparam de forma milagrosa.
Um servo entra, trazendo Dionísio preso. Ele também diz a Penteu que as bacantes aprisionadas escaparam milagrosamente de suas algemas e agora estão voltando para a montanha.
Penteu lança um olhar intrigado para Dionísio, dizendo:
“Penteu: Soltai-o. Em minhas mãos apresado, tão lento não será que possa livrar-se. (olhando Dionísio) Feio de corpo não és, forasteiro; hás de agradar às mulheres. Por isso não vieste a Tebas? Na luta não foi que teus cabelos cresceram e pelo rosto voluptuosos, te ondejam. Branca é a tua pele: naturalmente, ao abrigo do sol, na sombra, a preservas. Cativas por tua beleza as graças de Afrodite..., Mas saibamos, qual a tua origem?” (pág. 90)
Penteu interroga Dionísio, que diz ter vindo a Tebas para trazer os rituais de seu deus, Dionísio. Dionísio diz que apenas os “iniciados” podem conhecer os segredos dos mistérios dionisíacos.
“Penteu: E donde os mistérios que para Hélade trazes?
Dionísio: De Dionísio filho de Zeus, a inscrição recebi
Penteu: Há, por lá, então um Zeus que novos deuses procriam?
Dionnisio: Não. Aqui é que núpcia selou com Sêmele
Penteu: E como te constrangeu? Estavas sonhando ou desperto?
Dionísio: Faca a face o olhando confiou-me os ritos.
Penteu: Mas que são esses mistérios? Dize-me
Dionísio: Conhecê-los, não lícito aos profanos.” (pág. 91)
O coro fala sobre o nascimento de Dionísio e a traição de Penteu às suas origens. Os cantores pedem a Dionísio que desça do Olimpo e liberte o Dionísio disfarçado e puna Penteu.
“Coro: Quanta, ó quanta fúria a terrígena estirpe do dragão ostenta, Penteu, de Equíon ctônio gerado! Monstro viso feroz, já não criatura mortal, gigante sanguinário, pelejando contra os deuses, breve me terá cativa, a mim, eleita de Brômio, que já em seu palácio, em cárcere tenebroso, retém o príncipe do meu tíaso. Vês tu, Dionísio? Não vê tuas seguidoras a braços com o destino? Desce do alto do Olimpo, ó Senhor da Áurea. Coma, vem agitando o tirso e humilha o tirano algoz.” (pág. 96)
Uma das funções do coro é aumentar a tensão dramática da peça. Aqui eles incitam Dionísio a punir Penteu. Dionísio chama o coro e seus seguidores. Ele provoca um grande terremoto para sacudir as estruturas. Dionísio reencontra com o coro temeroso, que, como Penteu, o percebe como um sacerdote. O coro entra em êxtase com o poder de Dionísio.
“Coro: Ah... Prestes cairá em ruínas a morada de Penteu!]
-Dionísio está presente, Adorai-o!
- Adoramos!
- Vistes a pétrea trave mover-se sobre as colunas?
(de novo soa o trovão)
Dionísio: Inflama a facho rutilante do raio! Consome, consome o palácio de Penteu:
(da tumba de Sêmele erguem-se chamas mais altas.)” (pág. 97)
Penteu chega com o seu entourage, furioso porque o prisioneiro escapou. De repente, ele percebe que Dionísio, ainda disfarçado de sacerdote dionisíaco, está parado. Penteu fica furioso e ordena a seus servos que tranquem todos os portões da cidade.
Penteu: Como pudeste escapar de seus laços, e cá fora chegastes?
Dionísio: Não te disse, não ouviste que alguém, alguém havia de livrar-me?
Penteu: Quem? Sempre me vens com tuas palavras ocas!
Dionísio: Aquele que a uva amadurece para os mortais.
Penteu: Ordeno que todas as portas se fechem em redor!
Dionísio: Para quê? Se os deuses os próprios muros trespassam...(pág. 100)
O mensageiro chega com uma mensagem do Monte Cithaeron. Ele relata que viu as bacantes. Elas estão soltas. Ele relata que viu Agave, Ino e Autônoe liderando três bandos de mulheres.
“Mensageiro: Acabava eu de tanger a manada ao alto de um monte, a hora em que o sol despede seus raios e a terra encalma. De súbito, com três tíasos, três coros de mulheres, deparo. Autônoe governava um; o segundo, tua mãe Agave;
Ino regia o terceiro. Todas dormiam, gesto de abandono, reclinadas uma aos hirsutos ramos dos pinhos, outras sobre a folhas de roble repousavam as frontes, castamente reclinadas todas ébrias não, como dizias, nem no encalço de Cípride andavam pelos recônditos da floresta... (pág. 101)
O mensageiro continua dizendo que Agave (mãe de Penteu) ouviu um som do gado e se levantou, acordando o resto das bacantes. Ao acordar, alguns deles atraíram gazelas e filhotes de lobo para os seus seios inchados e os deixaram alimentar e bateram seus tirsos nas rochas, trazendo água, vinho, leite e mel.
“Mensageiro ... Primeiro pelos ombros soltam as ondas de seus cabelos; depois, há as que deslaçadas havendo as nébrides, o veio pintado reajustam o corpo, cingindo-o de serpentes que lhes lambem o rosto; e há as que abandonados os filhos, crias de corço ou de lobo levantam nos braços e os peitos oferecem, túmidos de leite níveo de sua maturidade recente...”(pág. 102)
O comportamento das bacantes se parece cada vez mais selvagem. O relato do mensageiro não deixa dúvidas. Elas continuam sua fúria, indo para aldeias próximas, saqueando casas e sequestrando crianças. As armas dos aldeões não conseguem fazer frente à fúria das bacantes. O mensageiro deixa no ar a possibilidade de que algum deus esteja ajudando-as. Ele implora a Penteu que faça as pazes com deus e dê boas-vindas a ele.
“Mensageiro: ... Tudo devastam; crianças rapinam. Nada ao solo negro cai, que aos ombros levem seus liames que os atem, nem bronze nem ferro! Nem fogo que os cabelos lhes acendam, os arde! Com o desespero do saque, sobre as bacantes corre em armas o povo dos lugares. Então, ó rei, então é que vimos o prodígio sem par: nem sangravam suas carnes, aos golpes dos dardos; elas, porém, só de arremessarem os tirsos, cobriam os inimigos de feridos sangrentas. Se, mulheres, punham os homens em fuga, é que algum deus estava a seu lado! Voltaram depois aos lugares donde partiram. Lavavam as mãos sanguinolentas; lambiam-lhes as serpes no rosto, do sangue as últimas gotas que corriam.
Senhor, este deus, não importa qual seja, recebe em tua cidade, grande que é por todo aspecto; e demais, ao que sei, dizem que aos mortais fez dom da vinha, adormecedora de nossas penas. E sem vinho amor não existe; prazer algum aos homens resta.” (pág. 103; pág. 104)
Dionísio ainda se passa por sacerdote, e oferece a Penteu uma última chance para evitar pegar em armas contra um deus. Ele avisa que gravíssimas consequências ocorrerão caso as mulheres sejam expulsas do Monte Cithaeron. Dionisio se oferece para trazer as bacantes para Tebas sem derramamento de sangue, mas Penteu confia na sua força.
“Dionísio: Penteu, não te persuadiram quantas palavras de mim escutaste! Mas ainda que desfeiteado por ti, direi: armas não levantes contra um deus. Sossega. Brômio não consentira que escorraces as Bacantes das montanhas onde “Evoé!” ecoa.
Penteu: Basta de conselhos! Fugiste da prisão. Cautela! Ou queres que outra vez te prenda?” (pág. 104; pág. 105)
Com a sua astúcia, Dionísio dá uma sugestão a Penteu e convida-o para espionar as bacantes enquanto elas trazem seus mistérios. Penteu topa. Ele sugere que poderia vê-las em cima de uma árvore, mas Dionísio diz que ele poderia ser pego se elas o descobrissem. Dionísio sugere que ele se fantasie de mulher. Para isso ele precisa de uma peruca esvoaçante, com um vestido até os pés e um cocar. E mais a pele de um veado. (tirso).
Penteu pensa sobre a possibilidade de se travestir, mas Dionísio afirma que só existe essa saída. Penteu resolve aceitar a ideia. No entanto, Dionísio sinaliza para as Menades (bacantes) que pretende humilhar e enlouquecer Penteu.
“Dionísio (para as Menades, na orquestra): Mulheres! O homem caiu nas redes! Irá às Bacantes e com a morte expiará a culpa. Dionísio, é a tua vez! Longe não estás; punamo-lo. Primeiro, que uma branda mania se lhe aposse do espírito; que se o senso guarda veste de mulher não quererá vestir; e vesti-la-á se o perde. Será o ludibrio de Tebas, seguindo-me pela cidade em figura de mulher, ele terrível que erra por suas ameaças de outrora. Mas a vestimentas lhe vestirei que Hades há de levar, por sua própria mãe imolado. Aprenderá assim que o filho de Zeus, Dionísio, sendo para os homens o mais benigno dos deuses, também o mais terrível”. (pág. 109)
Dionísio volta conduzindo Penteu, que está vestido de mulher e carregando uma pele de veado. Ele está desorientado, dizendo a Dionísio que ele parece ser um touro. Dionísio diz que é um deus, mas Penteu não entende direito. Dionísio prevê a morte de Penteu pela sua própria mãe, mas Penteu não tem ideia das implicações das palavras de Dionísio.
“Coro: Ide rápidas, ó Cadelas da Grande Raiva! Ide para a montanha, para o tíaso em que dançam as filhas de Cadmo. Aguilhoai-as contra o furioso que, vestido de mulher, parte para espiar as Ménades. Sua mãe, primeira será a vê-lo, do alto de uma penha calva, como um leão à espreita; e o apelo lançará a Ménades: “Quem é esse, ó Bacantes? Quem veio aqui aos montes, aos montes, no rastro das mulheres de Tebas nas montanhas dançando?” Que sangue de mulher, de certeza origem não teve! Alguma leoa o gerou, ou é das Górgonas Líbidicas progênie.
Que a justiça aparente se faça. Que armada de gládio venha e de morte trespasse a garganta do ímpio, do celerado filho de Equíon, que a terra gerou!” (pág. 115)
O segundo mensageiro chega trazendo a grande notícia. Penteu está morto. Ele relata como ele foi morto. Dionísio o levou para o Monte Cithaeron. Penteu queria ver mais de perto as bacantes, Dionísio acaba revelando o esconderijo de Penteu. As bacantes viram Penteu no topo da árvore, e Dionísio veio do céu e disse às bacantes que ali estava o homem que havia desacreditado e zombado de Dionísio. Através de relâmpagos que brilham no céu, Dionísio se comunica com os seus seguidores, que a retaliação tinha que vir.
As bacantes jogavam pedras em Penteu. Até que aparece sua mãe, Agave, que juntou as bacantes ao redor da árvore fazendo Penteu cair no chão. Penteu tirou a peruca e gritou pela sua mãe.
“Mensageiro: Primeira sacrificadora, a mãe, a defronte dele se aconchega. Arremessando fora a mitra, para que a inditosa Agave enfim o reconheça, Penteu o rosto da mãe acarinha, e lhe fala: “Mãe, sou eu. Sou eu teu filho, Penteu, o que deste à luz no palácio de Equíon. Mãe, de mim te apieda; teu filho, por erros seus, não queiras imolar”. Mas não o escuta ela, Agave, de lábios escumantes e de olhos revoltos, desprovida de senso, de Baco possessa. De ambas as mãos lhe segura o braço esquerdo, e com o corpo em arco tendido, pés fincados no flanco do mísero, lho arranca da espádua, não com a própria força apenas, mas com aquela que em suas mãos um deus depôs. Do outro lado, com igual esforço se aplicava Ino, dilacerando-lhe as carnes, e vinha depois Autônoe com as demais Bacantes todas. Era um rumor confuso, gemendo ele, com o último alento, gritando elas o clamor da fúria. Levava esta um braço, aquela um pé, calçado ainda. Desnudados, já lhe apareciam os ossos, nos flancos abertos. Todas de mãos sanguinolentas, como colas se entrejogavam as carnes de Penteu, em farrapos.” (pg119; pg120)
Agave acha que na verdade havia caçado alguma criatura selvagem, em vez de seu próprio filho. A cabeça de Penteu cria um poderoso símbolo da supremacia de Dionísio. Apesar da reverência pelos deuses, ela perdeu a capacidade de discernimento.
Dionísio faz Agave, mãe de Penteu, desfilar seus delírios na frente de todos que ali estavam, aumentando a sensação da tragédia, pois todos, exceto Agave, sabem o que aconteceu. Ela vai saber do erro cometido.
Mas ela exibe a cabeça do próprio filho, gabando-se do que ela pensa ser seu grande sucesso. Quando ela volta ao estágio pré-dionísiaco, ela não se lembra de nada. De fato, ela viveu dois estágios distintos. O que se passa com ela não é a liberdade de uma bacante, mas sim uma mulher sob a possessão de um deus.
Dionísio aparece como um deus. Ele diz a Cadmo que ele e sua esposa, Harmonia, serão transformados em cobras, puxados por bois em uma carroça e liderarão uma horda de bárbaros e saquearão cidades. Quando eles atacarem o santuário errado, eles estarão em perigo, mas os deuses os levarão para a terra dos abençoados.
“Dionísio: Mudando de forma, dragão serás, e Harmonia, filha de Ares, que esposaste, embora mortal, transmutada em fera será serpente. Diz um vaticínio de Zeus que conduzirás, com tua mulher, um carro jungido a bois e, à frente de bárbaros, com inumerável exército, pilharás cidades sem conta. Mas quando vierem a assolar o templo oracular de Lóxias, em ignominiosa retirada fugirão. Ares de salvará, a ti e a Harmonia, e para terra dos bem-aventurados te mudará em vida. Isto digo eu, Dionísio, que sou filho de Zeus e não de um pai mortal. Se a sabedoria houvésseis conhecidos – mas não o quiseste -, sempre teríeis gozado da ventura, com Baco por aliado.” (pág. 131)
Agave se dirige a Dionísio como um senhor, mostrando respeito de coração partido por seu poder superior. Ela e Cadmo partem em direção opostas e nunca mais se verão.
Agave: Não convém aos deuses ter paixões de mortais.
Dionísio: Zeus, meu pai, de há muito previra vossos destinos.
Agave (para Cadmo): Desgraçadamente, velho, decidido está o triste exílio.
Dionísio: Para que tardar, diante de que a fatalidade obriga? (pg131; pág. 132)
Fico por aqui e indico “As Bacantes”, de Eurípedes, como uma obra magistral que merece um lugar de “HONRA” na sua estante.