Homem Comum
Em menos de 200 páginas, “O homem comum” tem muitos dos ingredientes típicos de Roth: judeus, sexo, e a história que transcorre principalmente em Nova York e Nova Jersey. Entre outros, possui trabalhadores e pais imigrantes com um filho jovem e rebelde que forja um tipo diferente de vida para si mesmo. Em outras palavras, “O homem comum” é um romance com a marca de ‘Roth’ - de forma distinta e única. A história pode ser descrita como uma biografia médica, pois nós seguimos o nosso “homem comum” desde sua operação de hérnia aos nove anos de idade até suas inúmeras cirurgias, em seus últimos anos, para abrir artérias obstruídas.
Ele usava o sexo como uma forma de rebelião contra a inevitabilidade do envelhecimento e da morte. Ele já havia se casado e se divorciado três vezes, teve inúmeras amantes, e as grandes questões envolvendo Deus e religião avultam nesta história. Não há conforto para ser encontrado na religião, nenhum resgate ou vida após a morte. Ele não acreditava em nada. A religião era uma mentira que ele havia identificado cedo em sua vida, e ele achou todas as religiões ofensivas. Mas não só abandonou a Deus, mas também abandonou um bom casamento, uma boa esposa,dois de seus filhos, e ignorou seu irmão mais velho que sempre lhe foi leal e decente devido a um ressentimento mesquinho em relação à saúde inabalável do irmão mais velho, Howie.
O desprezo pela religião confere ao protagonista certa dignidade intelectual, mas também o priva da paz interior disponível àqueles com certezas espirituais. Sua contemplação da morte, eventualmente, leva-o de volta ao pequeno cemitério onde seus pais estão enterrados. E ele encontra algo estranhamente reconfortante por estar perto dos ossos de seus mortos queridos: a conexão com os ossos de seus entes queridos era sua última busca em alcançar algo transcendente.
Há uma possibilidade de que o “homem comum” possa estar certo. Ao ver-se apenas como um animal humano, o simples protagonista se permite a desfrutar dos prazeres sem culpa da carne e coloca de forma consistente e sobrepões sua própria felicidade a dos outros. Mas o preço por essa visão de mundo é pago no final da vida, quando a falta de sentido existencial pode se tornar insuportável.
“A velhice não é uma batalha. A velhice é um massacre.”
Este é sem dúvida uma das falas mais memoráveis do romance de Philip Roth, em o “Homem comum”. Roth disseca a antiga e conhecida luta entre um homem moribundo e sua mortalidade.
O romance começa a partir da perspectiva do protagonista, agora morto, refletindo sobre seu passado. Ele chora a diminuição da força física e de sua vitalidade sexual. Dono de uma bela aparência, ele nunca encontrou dificuldades para atrair as mulheres. A carne fraca representa para esse homem a oportunidade de libertação e expiação. A felicidade pode ser um momento de amor ao ar livre, em uma praia, com Phoebe, a única mulher com quem o protagonista estabelece uma conexão humana verdadeira. Mas é a irresistível atração sexual por outras mulheres – em especial a modelo Merete – que vai arruinar seu casamento com Phoebe.
Mas o “Homem Comum” tampouco é um livro amoral. Fica a sugestão de que as escolhas que o personagem faz são determinantes para o vazio que assombra o seu fim. De repente, ele estava perdido no nada, à deriva. A conclusão que Philip Roth nos leva a aceitar é que: "depois do fim, somos todos comuns e sozinhos.”
Meu problema com esse autor é descobrir algum romance que eu não goste. Esse é apenas mais um dentre tantos que adoro. Recomendo e muito.