Pequena abelha
Primeiro vamos às apresentações e alguns dados sobre o autor: Chris Cleave nasceu em 1973, em Londres. Estudou psicologia em Oxford e é colunista do jornal The Guardian. “Pequena Abelha”, seu segundo livro, publicado em 20 países, será adaptado para o cinema, estrelado e produzido por Nicole Kidman,e a obra ainda foi indicada ao Prêmio Commonwealth Writers’, como Melhor Livro de 2009. E agora, o livro.
Esse é um livro para corações sensíveis e que valorizam os pequenos gestos, as pequenas coisas da vida. Um livro enxuto, direto e pungente.
Cleave começa a história inserindo na personagem “Pequena Abelha” uma voz clara e forte de alguém que é vitima de uma injustiça revoltante. É difícil não se comover com esta obra, a história de uma refugiada nigeriana, chamada de ‘Pequena Abelhinha’, uma garota precoce de 16 anos de idade que se encontra em um centro de detenção de imigração, Essex, Grã-Bretanha, onde foi detida por dois anos após entrar ilegalmente no país para escapar das guerras do petróleo em seu país de origem. Em seu caminho, ela encontra Sarah, editora de uma revista de glamour que vive nos subúrbios de Londres com seu marido Andrew e o jovem filho Charlie. Porém, dois anos antes, os caminhos de Sarah e de pequena abelhinha se cruzam em uma praia da Nigéria, onde um encontro traumático muda e funde para sempre suas vidas.
Mas aqui cabe uma observação - o livro não é uma história sobre refugiados da África, mas uma história sobre as percepções dos refugiados africanos, e, nesse aspecto, é uma história especial que nos faz encontrar no autor um contador de história lúcido, convincente e que se recusa a fornecer respostas fáceis, conseguindo evitar as armadilhas dos clichês e do melodrama a que seria facilmente propensa.
Cada capítulo é narrado em primeira pessoa, ora por Abelhinha, ora por Sarah que revivem, cada qual através de sua ótica, os fatos que as fizeram encontrar-se novamente na Inglaterra. Cleave escreveu seu livro optando por uma narrativa sob o ponto de vista de duas mulheres. Cada parte da narrativa incorpora bem as características de cada personagem. É possível reconhecer Abelhinha em sua narrativa inocente e delicada, assim como Sarah em seus relatos. E mesmo num tema forte, ainda encontramos
Charlie, filho de Sarah, um garoto que incorpora Batman em sua imaginação infantil, e se torna capaz de nos fazer sorrir e acreditar na força de vencer e combater os "vilões". Não vou contar mais nada sobre esse livro, inclusive atendendo a um pedido da própria contracapa!
Para finalizar essa resenha gostaria de adicionar alguns elementos, que, para alguns, facilitará o entendimento do romance. Na Nigéria, o petróleo é mais uma maldição do que uma benção, servindo muito mais para fomentar a corrupção e a pobreza no país do que para melhorá-lo. O conflito entre cristãos ao sul e muçulmanos ao norte fazem parte de seu cotidiano. Mesmo sendo o principal exportador de petróleo da África, 112 milhões de nigerianos vivem na mais absoluta pobreza. As péssimas condições de vida são responsáveis por boa parte dessas tensões religiosas do país, composto por cerca de 250 grupos étnicos.
Para quebrar um pouco o “clima” aqui fica um conselho após a leitura desse livro: - evite querer resolver problemas de relação amorosa em países como Somália, Afeganistão ou Iraque - e muito menos na Nigéria.
Até porque: “Nigéria pouca é bobagem.”