Dinheiro sujo
Para aqueles que são fãs de Tarantino e admiram a forma como sua violência nos é apresentada nas telas de cinema – através de roteiros com muito sangue e tramas insólitas - eis um livro que guarda uma boa semelhança com este diretor e roteirista. Dinheiro sujo, do autor premiado pelo Anthony, Lee Child. O personagem principal é o tipo do cara que encara todas. Jack Reacher, 36 anos de idade, ex-militar que está viajando ao redor do país que ele ajudou a manter “seguro” em toda sua vida. O tipo do cara que após passar o que ele passou, ou seja, por todas as guerras, não tem medo de um bom combate. Jack Reacher é plenamente realizado, crível, e um personagem tridimensional. Jack não mata por matar só para adicionar algumas páginas a mais ao enredo, ou para dar ao leitor um pouco mais de emoção. É um personagem que passa muito tempo internalizando suas ações, ruminando sobre sua situação antes de agir. Em outras palavras, não é do tipo reativo, bateu, levou. Não. Suas ações são pensadas, é difícil ele levar. Ele bate e termina o assunto.
O livro começa em uma cidade chamada Margrave, na Geórgia. Uma cidade adormecida e esquecida que nunca viu um crime nas últimas três décadas, no entanto, no intervalo de três dias todos ficam atordoados. Um homem não identificado é encontrado espancado e morto a tiros em uma estrada solitária. Um chefe de polícia e sua esposa são encontrados mortos em uma manhã de domingo tranquilo. Em seguida, um executivo de banco desaparece de sua casa, deixando as chaves sobre sua mesa e sua esposa congelada de medo.
Jack Reacher, que acabara de chegar à cidade, é o mais fácil suspeito, afinal, o que estaria fazendo aquele outsider naquela cidade? Na verdade ele parou naquela cidade sem nenhum planejamento, apenas para visitar o berço do blues e uma lenda viva da guitarra, Blind Blake, que seu irmão Joe havia sugerido, e acaba encontrando a resposta para o mistério da morte desse músico brilhante. Nesse processo se desenrola dois outros mistérios também. Cabe ao leitor identificar.
Nessa estranha cidade chamada Margrave, uma espécie de “cidade modelo” onde persiste uma abundância de coisas estranhas, com suas ruas limpas, seus gramados bem cuidados e com poucos transeuntes na rua, um comércio sem consumidores; tudo isso chama a atenção do ex-policial militar outsider.
Ele acaba preso no início do livro sem um motivo real, passando um fim de semana na prisão. Reacher é solto por falta de provas e, quando já estava pronto para sair de Margrave, descobre que um dos assassinados era seu irmão Joe, um irmão que não falava há quase sete anos porque as “agendas” não coincidiam. Daí em diante ele sente que tem uma dívida a quitar e decide ir a fundo na apuração de todos esses crimes. O enredo não é nada surpreendente, mas Lee Child é um mestre contador de histórias, e em suas mãos, este simple enredo adquire tons de um excelente thriller. O enredo é complexo o suficiente para satisfazer os fãs do mistério, dos assassinatos estranhos, e bem trabalhado o suficiente para atrair os leitores de suspense psicológico. Há traições, amor, destruição e esperança, todos os ingredientes de um ótimo livro policial.
Reacher é o tipo de cara que todos nós gostaríamos de ter como amigo, talvez seja aquele tipo que todo homem no fundo gostaria de ser. A única coisa que podemos dizer sobre Reacher é que ele não cria raízes em Margrave, ele continua sua peregrinação em outros tantos livros. E seus fãs o perseguem em outros livros.