A Narrativa de A. Gordon Pym
“A Narrativa de Arthur Gordon Pym” é o único romance completo publicado pelo escritor americano Edgar Allan Poe, que consagrou-se com seus contos de mistério e terror. Sobre sua vida, podemos dizer que nasceu em 19 de janeiro de 1809, e morreu em 07 de outubro de 1849; ele viveu apenas 40 anos, mas durante a sua breve vida, ele fez um lugar permanente para si mesmo na literatura americana e também na literatura mundial.
Ambos os pais de Poe eram atores profissionais, e este fato por si só tem alimentado muitos dos mitos melodramáticos que cercam Poe. Sua mãe era viúva adolescente, já com um filho, quando se casou com David Poe, cuja reputação era boa como ator, mas era ainda maior como alcoólatra. O pai de Poe abandonou a família um ano após seu nascimento, e sua mãe morreu no ano seguinte vítima de tuberculose.
As crianças foram divididas, e o jovem Poe foi adotado por John Allan, um rico comerciante do Sul dos Estados Unidos, que tratou-o como um filho, dando-lhe um bom lar e uma boa educação.
Poe casou-se com sua prima, Virginia Clemm, em 1836, quando ainda tinha 14 anos de idade. Passou a escrever para viver e se tornou editor de uma conceituada revista de Richmond: “Mensageiro Literário do Sul”. Foi um período feliz na vida de Edgar. Em 1838, publicou “A narrativa de Arthur Gordon Pym”, sem receber nada por isso.
Edgar Allan Poe teve uma vida trágica, mas sua obra é considerada um dos grandes marcos da literatura mundial. Dostoiévski que o diga em seus comentários sobre o autor nessa edição da Cosac Naif. Vale muito a pena ler suas considerações, um gênio falando sobre outro gênio.
Confesso a vocês que não sou muito de contos. Prefiro romances. Mas de forma alguma quero desmerecer esse gênero literário. Posso dizer que Edgar Allan Poe foi um dos poucos que me seduziram.
Vamos ao livro, então?
“A narrativa de Arthur Gordon Pym” começa com o prefácio do narrador na primeira pessoa, o próprio Pym. Ele teme que os leitores duvidem de sua história. Arthur Gordon Pym nasceu filho de um comerciante em Nantucket. Ele começa sua narrativa citando o seu grande amigo Augustus Barnard, filho de um capitão do mar. Augustus estimula o amigo pelas histórias envolvendo o seu amor pelo mar. Uma noite, depois de uma festa, Augustus acorda Pym de seu sono, e juntos eles partem para o porto, onde Augustus assume o comando de um pequeno barco. Eles seguem mar adentro e passam por imensos percalços, sendo resgatados por um navio baleeiro.
Apesar do infortúnio e dos momentos angustiantes que passaram, nada disse demove esses dois a vivenciarem mais uma história. Augustus diz a Pym que seu pai, o grande capitão Barnard, está decidido a comandar uma expedição. Apesar de sua família desaprovar, Pym entra escondido a bordo do navio e lá fica três dias antes do navio zarpar.
Pym, apesar da comodidade e das longas horas de sono, tem sua condição mental afetada pelo isolamento - seu amigo Augustus não vinha visitá-lo - somado aos gases nocivos no porão. Em alguns momentos, ele pensa que está sendo atacado por uma criatura maléfica, mas na verdade era seu cão Tiger, que de alguma forma conseguiu entrar a bordo.
Após Pym ficar um longo período isolado no porão, Augustus dá o ar de sua graça. Ele diz ao amigo que um motim a bordo estava acontecendo. Pym continua escondido para não prejudicar o andamento das coisas. Augustus encontra-se amarrado, até que um homem chamado Dick Peters (um amotinado do bem), que tinha uma visão mais pragmática e não queria que o seu navio fosse transformado em um navio pirata, liberta Augustus, permitindo sua circulação. Augustus concorda com Dirk Peters, avisando-o da presença de Pym a bordo.
Os três montam um plano para assumir o navio e são bem-sucedidos. Acabam ganhando mais um aliado, Richard Parker, que, ao implorar por piedade, junta-se aos que sobraram de todo aquele caos a bordo. Mas nem tudo parece tão perfeito quando uma tempestade devastadora quase destrói o navio. Augustus encontra-se muito ferido no braço. Nada a não ser o grande deserto de água aparece em suas vistas cansadas pela fome e a sede. Oscilando entre a esperança e o desespero, eles tentam entrar no porão do navio cheio d’água para encontrar o que comer. Muito pouca coisa é achada. E o desespero toma conta dos sobreviventes.
Mas subitamente algo aparece para renovar as esperanças: um navio vindo em direção deles, pronto para resgatá-los. Todos estão eufóricos. Mas, para o horror de todos, era um navio à deriva cheio de cadáveres apodrecendo. E agora? O que fazer? Mais uma vez o desespero é o sentimento mais comum.
Richard Parker, em um delírio suicida, propõe um jogo macabro: alguém deve morrer para alimentar os outros. Já pensou você, leitor, vivendo uma situação dessas? Pym imediatamente recua dessa ideia sinistra. Mas tem que entrar no jogo. O proponente do jogo acaba sendo punido, ou seja, foi o escolhido a morrer. Augustus morre por causa dos ferimentos que o tomaram. Mais uma vez o desânimo se apossa dos que restaram.
E agora, senhores(as)? Sobraram dois a bordo, Gordon Pym e Richard Parker. Mas calma lá. Algumas semanas de solidão e fome a bordo. Mais um navio vem em direção deles aparece. Quem será dessa vez? O nome do navio é Jane Guy, comandado pelo Capitão Guy, um homem inteligente, que consegue salvá-los milagrosamente. Eles se recuperam desfrutando do descanso e de alimentação. Aos poucos, o navio chega em terra firme e todos trabalham de ilha em ilha, explorando e descobrindo mercadorias interessantes. Até que, no fim dessa missão, decidem ir em direção ao Polo Sul.
Se vocês acham que toda essa jornada tornou-se um grande final feliz, seria bom vocês não confiarem nessa máxima e prosseguirem viajando rumo ao Polo Sul. A viagem promete. O livro promete mais emoções. Mas tenho que ficar por aqui. “A Narrativa de Arthur Gordon Pym”, de Edgar Allan Poe, é um livro para todas as idades, para os que gostam de aventuras e tensão. Um livro que merece um lugar de destaque em sua estante.