O último ato de Esme Lennox
Desta vez, a autora nos mostra uma história dura e atroz, complexa e desconcertante.
Iris Lockhart, uma das protagonistas, é uma dessas mulheres heterodoxas, dona de uma loja de roupas, independente, mas mantém um relacionamento com um homem casado que intenciona estabelecer com ela um compromisso sério, porém, prontamente evitado pela mesma. Para completar seu perfil extravagante, ainda mantém um relacionamento íntimo com um meio irmão.
Em determinado momento de sua vida, ela recebe o telefonema de um Sanatório (Cauldstone Hospital) avisando que por motivos econômicos o hospital iria fechar e que sua tia avó Esme, sobre qual existência ela desconhecia totalmente, era considerada clinicamente inofensiva para a convivência com o resto do mundo e estava sendo liberada. Iris reluta, mas assume a responsabilidade de recebê-la. Esme apresenta um comportamento normal, sua memória está intacta e parece exercer todas as suas faculdades sem danos e, apesar de inteligente e talentosa, fora acusada de ser louca no decurso de sua vida, principalmente - por sua família.
Da ficção à vida real podemos reconhecer - ao longo de nossa história – os inúmeros casos de pessoas que foram condenadas ao desterro em sanatórios ou hospitais psiquiátricos. Muitas mentes brilhantes foram e ainda são relegadas à loucura. Mas quais segredos e verdades perigosas Esme carrega consigo? Por que a família a internou por sessenta e tantos anos praticamente anulando sua presença e privando Iris da verdade sobre a existência de sua tia-avó? Cabe ao leitor descobrir. E, certamente, ficarão chocados como a submissão desmedida a um pensamento conservador e fútil pode determinar o fim de uma vida.
No centro desta história está a relação entre Esme e Kitty, sua irmã mais velha, agora com Alzheimer, e incapaz de reconhecer as pessoas ao seu redor, mas é através dos seus fluxos de consciência que a loucura de Esme vai sendo desmitificada. A imagem da psiquiatria da primeira metade do século XX remete a uma profissão usada para esconder aqueles cuja presença é embaraçosa para a família.
Iris Lockhart era o que Esme gostaria de ter sido, porém, Iris conseguiu ser ela mesma - e a Esme não foi permitida essa liberdade.
Os personagens são desenhados com precisão, não sendo necessário recorrer a longos perfis psicológicos. A linguagem utilizada é despretensiosa e o mistério conduz o leitor a consumir avidamente as duzentas e vinte e duas páginas que estão em suas mãos até a conclusão do - “último ato de Esme Lennox”. Boa leitura.