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O Tigre Branco

O Tigre Branco é o primeiro livro de Aravind Adiga. Narrado através de Balram Halwai, um empresário que nos conta como se tornou bem sucedido, numa Índia apresentada como um verdadeiro “mundo cão”, onde a enorme pobreza faz com que as pessoas se comportem como animais - e tudo está “ à venda”.

O livro é narrado através de uma longa série de cartas não respondidas entre Balram e premiê chinês Wen Jiabao, relatando sua transformação: desde um rapaz honesto e trabalhador, crescendo na escuridão das áreas rurais, onde a educação e a eletricidade são escassas, até ao “bem-sucedido e empresário” que se utiliza das armas e da sagacidade de um tigre branco para atacar a sua presa na jugular. Em suas cartas, não procura a absolvição pelos crimes que cometeu, ele está apenas se usando como exemplo para que o premiê chinês conheça os fatos da vida moderna da Índia. Suborno e corrupção lubrificam as engrenagens do milagre econômico desse país que debaixo das estátuas de Gandhi e por trás das imagens dos belos templos, aponta a corrupção como algo natural dentro das relações sociais e econômicas da India. As observações do narrador são agudas e inquietantes. Esta anatomia descritiva alterna entre o engraçado e o trágico. A estrutura permite ao escritor Adiga tecer os dois assuntos mais ascendentes dos nossos dias: a Índia e a China, dois países de grande população, aprendendo a lidar com a mudança social maciça.

O título, O Tigre Branco, é a metáfora do livro. Por ser um animal raro na selva, aparece de geração em geração. Balram Halwai estudava em uma escola de sua aldeia e foi apontado por um inspetor escolar como um tigre branco entre seus contemporâneos - por ser capaz de ler e escrever - quando raros eram possuidores de tal talento. O inspetor prometeu a ele uma bolsa para frequentar uma escola adequada para que pudesse explorar seu potencial, mas o destino lhe reservava outros planos e sua família o tirou da escola para ajudar a saldar uma dívida com o senhorio.

Balram Halwai transitou por duas Índias diferentes: indo da vida miserável de sua aldeia natal, onde todos já nasciam devedores e tudo era cobrado àqueles que nada tinham, sendo obrigado a conviver com a violência exercida contra as famílias que se comportam mal - um dado muito bem explorado no livro – até a luz de seu sucesso empresarial. Então, ele desperta e começa a perceber que o tigre pode sair do jardim zoológico, desde que não tenha medo. Mesmo que para isso seja necessário derramar um pouco de sangue ao longo do caminho.

Vencedor do Book Prize de 2008, o romance na verdade é uma fábula moderna explorada no contexto mais amplo das grandes mudanças que ocorrem na Índia e em sua história recente. O homem que deixou de ser um motorista de riquixá para se transformar em um dos mais promissores empresários de Bangalore.

Se você achou que esta resenha subtrai a riqueza do livro é melhor repensar seus conceitos. Existe muito mais em jogo. O Tigre Branco é um romance bem escrito, com detalhes ricos de observação sobre um local fascinante, em um período de turbulência social. Um romance envolvente, um daqueles livros que nos “pega”. E a sensação final é: - li um grande livro. Podem apostar.


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Drama


< Todo Terrorista é um Sentimental Homem Comum >
O Tigre Branco
autor: Aravind Adiga
editora: Nova Fronteira

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