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O Sofá Laranja

Eu conheci a escritora Fania Szydlow Benchimol na Livraria da Travessa. Foi um encontro divertido, pois me lembro que ironizávamos os “rios de dinheiro” que um autor recebe, parodiávamos que depois do segmento petrolífero, o mercado editorial era o mais bem posicionado e rentável para todos! Pronto, a conexão foi estabelecida através do bom humor e, a partir de boas risadas, fui apresentado ao livro “O Sofá Laranja". O livro é muito bom. Terminei num só dia. Mas pode ser lido em horas.

Uma breve introdução: “O Sofá Laranja” é um romance epistolar. Pergunta: o que é um romance epistolar? São narrativas que utilizam o recurso literário por meio de cartas. E a intenção desse recurso é dar veracidade ao enredo. A carta se torna instrumento de representação romanesca da intimidade e das possibilidades de troca. Ela pode ser um meio revelador da intimidade. Daí que elas são narradas sempre na primeira pessoa, mas preserva ingredientes que fogem as autobiografias convencionais.


A força desse gênero literário alcançou uma força enorme com Goethe, em seu livro “Os sofrimentos do Jovem Werther” que narra uma história de amor romântico e trágico. O alcance desse livro foi tal que muitos imitaram o protagonista levando até às últimas consequências o enredo do livro. A roupa de Werther – casaca azul, colete e calções amarelos – tornou-se praticamente moda entre os jovens. Uma onda de suicídios em toda a Europa provará que o romantismo vivido na época é antes de tudo uma forma de ser, de viver e de morrer.

Dito isso, vamos ao romance. “O Sofá Laranja” é um romance epistolar escrito a partir de um maço de cartas encontrado no Central Park, e escrito com extrema sensibilidade. Através das cartas cujo conteúdo é uma imensa saudade tecida com declarações de amor somos apresentados à saudade de dois corpos que um dia estiveram juntos e ao que sobrou - uma imensa saudade e angústias. E as cartas nos contam momentos vividos por ambos, uma recordação comum e ao mesmo tempo nos revela uma espera. Uma dor que nos é atingida na solidão, sentimento ou estado conhecido por muitos de nós.

Susan e Sam, os protagonistas, viveram juntos por quarenta e sete anos, seis meses e quatorze dias, revela uma das cartas. O sofá laranja foi o que ficou de uma vida a dois, além da filha Glória que costuma visitar a mãe com seu namorado.

O casal compartilha momentos a dois como tomar chá com biscoitos, mas nas cartas o elemento que nos chama atenção é a ausência de Sam. As cartas relatam uma vida solitária. Mas se você, caro leitor, acha que as cartas são “apenas” um testemunho de um mundo solitário, está muito enganado. Há coisas que você terá de adivinhar. Alguns suspenses como, por exemplo: o que de fato aconteceu com Sam?

“Tenho saudades do que não puder mais viver com você.”

O sofá laranja” foi o que restou de uma vida a dois e era através desse sofá que os dois passaram anos juntos observando a vida:

“O que seria uma boa medida para esperar, Sam? E para viver? Assar biscoitos, talvez seja mais fácil, não? Ando procurando alguém que diga: “Eis o ponto certo da medida da espera. ”Quanto para desvendar um segredo? Quanto para ficar sentada no sofá laranja, por horas, apenas olhando para o teto que precisa de reparos?..."

... Sam qual é a medida certa para viver?” (pg. 55 – 56)

Um livro suave. Cartas simplesmente maravilhosas com palavras precisas no lugar exato das emoções, numa carpintaria de texto que enaltece a escrita final.

Se você está procurando um livro gostoso de ler, apaixonante, algo novo e que prenda: “O sofá laranja” é um livro que você guardará em lugar especial em sua estante.


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Romance


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O Sofá Laranja
autor: Fania Szydlow Benchimol
editora: Tinta Negra

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