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A humilhação

O livro “A Humilhação” de Philip Roth é um livro sombrio, mas ao mesmo tempo deixa o leitor deslumbrado, aliás como todos os seus livros. Nesse livro, o autor explora o pior pesadelo que pode acontecer a um artista: a perda do seu poder, de sua capacidade de fazer o que ele faz e, mais do que isso, da sua razão de ser.

 

Axler não é um autor que vive uma crise de criatividade, mas é um ator, uma grande estrela do palco, que sempre se destacou em grandes papéis, uma bem-sucedida história no teatro, mas que, aos 65 anos de idade, perde a confiança em todas as suas habilidades e reconhece que não pode mais subir ao palco. Ele perdeu sua mulher Victória, uma bailarina que sofreu um acidente e nunca mais voltou a dançar. Seu casamento acabou, assim como todos os  relacionamentos humanos em geral. Sua ex-mulher perdeu o filho por causa de uma overdose, e tudo acabou para sempre. Ninguém conseguia tirá-lo daquele estado de depressão.

 

“Não conseguia mais fazer Shakespeare de baixa intensidade, não conseguia fazer Shakespeare de alta intensidade – ele que vinha interpretando Shakespeare a vida toda. Seu Macbeth saiu ridículo, e todo mundo que assistiu disse a mesma coisa, o que também foi dito por muitos que não assistiram. “Não, eles nem precisavam ter assistido”, ele dizia, para insultar a gente. Muitos atores teriam começado a beber nessas circunstâncias; segundo uma velha piada, havia um ator, que sempre bebia para subir ao palco, e quando lhe disseram que ele não devia beber, replicou: “O quê? E entrar em cena sozinho? Mas Axler não bebia, e assim simplesmente desabou. Sua queda foi colossal” (pg 9, pg10) Axler perdeu sua magia. O impulso foi gasto, logo ele que nunca falhara no teatro, tudo o que ele tinha feito tinha sido forte e bem-sucedido, até que algo terrível acontece. Ele não consegue mais agir. Em cena sabe que irá falhar, ele não pode chegar até seu público. Seu talento está morto. No entanto, sua leitura dramática dos textos, a sua proximidade com eles, suas necessidades de expressar seus pensamentos mais íntimos mostram que por dentro ele ainda é uma pessoa de palco.

 

Essa é a ironia em que Roth nos faz mergulhar nas profundezas de sua perda.

 

Quando se vê sozinho em sua casa no interior, pensa em suicídio e se interna num hospital. Seu psiquiatra tenta fazer uma busca e apreensão no seu passado e pede para que ele fala sobre o seu casamento, suas relações com o enteado dependente químico de drogas, sua infância, sua adolescência, o início da sua carreira de ator e sobre sua irmã mais velha, que morrera de lúpus quando ele tinha vinte anos. O médico quer detalhes da semana que antecedeu sua última apresentação.

 

Axler se esforça para lembrar algo significativo, mas nada lhe vem à mente, o que torna o pesadelo pior, pois sabe “que nada explica nada e que todas as explicações são igualmente fúteis”. Axler não consegue criar uma narrativa capaz de criar um futuro plausível para si mesmo. Seu agente insiste para que ele volte ao palco, mas não consegue. Mas nem tudo está perdido. Sente uma enorme vontade se libertar, até que se envolve com uma mulher muito jovem, chamada Peggeen Stapleton, filha de um amigo e que tinha vivido um relacionamento com uma mulher. Esse relacionamento tem que ser secreto, já que os pais não podem pensar que sua filha está com um homem com idade para ser seu pai.

 

Apesar das reticências de Axler em se envolver com uma menina, acaba cedendo aos encantos e à sedução. Uma tórrida paixão começa. O sexo éum composto mágico do xamã e animal. Era como se ela usasse uma máscara totêmica, que a transformava no que ela não era. Bem, querem saber o final dessa história? Bem, vou logo adiantando que a leitura desse livro não é divertida. Philip Roth sempre fará o leitor refletir sobre a vida e, cada vez mais, a morte.

 

“A Humilhação” é um livro magistral, como todos os seus livros. Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Romance


< A confissão de um filho do século Gratidão >
A humilhação
autor: Philip Roth
editora: Companhia das Letras
tradutor: Paulo Henriques Britto

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