Giane - vida, arte e luta
Trago hoje o livro “Giane - vida, arte e luta”, do jornalista Guilherme Fiuza, sobre a vida do ator Reynaldo Gianecchini, nome que dispensa apresentações. Lançado este ano, o autor nos oferece através de sua narrativa poderosa uma biografia direta, sem rodeios, contemporânea, que aborda sem meias palavras a vida, garra e todos os percalços e vitórias que fizeram parte da formação e construção desse ator.
Ao começar a leitura, fui arrebatado pela escrita do jornalista Guilherme Fiuza, também autor das biografias “Bussunda” e “Meu nome não é Johnny”, que virou filme anos atrás; e levado a refletir sobre perguntas que me vieram à mente, como: por qual motivo algumas pessoas “brilham” e outras não? O que define “sucesso” hoje em dia? Beleza? Sorte? Contatos? Não. Definitivamente, seria muito simplório reduzir o sucesso de alguém a respostas prontas. Eu apostaria em “determinação”. Gosto dessa palavra.
Tudo bem, como já dizia o nosso “poetinha”, Vinícius de Moraes, “beleza é fundamental”. Mas eu me arrisco e vou além: mais fundamental que uma beleza “in natura” é ter “carisma e competência”. Hoje somos rodeados por produções repletas de beldades, “seres” deslumbrantes (mesmo sem a ajuda do “Photoshop”), mas será o “carisma”, o magnetismo e a inteligência emocional que farão um belo rosto sobressair em meio a tantos outros - e fazer a diferença – para que a dádiva da beleza brilhe com personalidade, e alcance a firmeza necessária para se manter no “Olimpo”.
Isso faz com que o livro “Giane – vida, arte e luta” consiga mostrar a todos, “beldades” e “normais”, que é preciso ser obstinado, saber o que se deseja do mundo e de si próprio para que a vida aconteça. Nem que seja preciso subir em um pé de goiabeira e ficar sonhando e plasmando os desejos mais secretos.
"Aos sete anos de idade já sabia que ia rodar o mundo e logo avisou aos pais, isso numa cidade e numa família onde ninguém tinha uma trajetória desse tipo".
Um livro escrito sob uma única condição colocada pelo autor: não fazer concessões. Em sua escrita, aproveitou a visão caipira e autoirônico do ator, e recebeu rasgados elogios do jornalista Zuenir Ventura, do programa Manhattan Connection e de muitos outros.
Reynaldo Gianecchini, em outras palavras, sempre deu “a cara à tapa”. Nunca se refugiou na família, nem se utilizou das dificuldades encontradas como desculpas para seus insucessos ou pediu licença para ir e vir. Ele simplesmente foi à luta.
No livro, nos deparamos com uma acalorada discussão ao redor de uma mesa imaginária entre a vida, a arte e a luta. Podemos imaginar quem vencerá esse debate? Deixo essa conclusão para você, leitor.
Tudo começa na pacata Birigui, cidade do interior de São Paulo, até a ascensão de “Giane” às telas das novelas da TV Globo. Também esclarece passagens polêmicas, como seu relacionamento com a jornalista Marília Gabriela, que muitos já rotularam como uma “jogada” oportunista. Não foi. E nesta biografia, nada ficou às escuras.
Sobre Giane, formou-se em direito pela P.U.C. de São Paulo, morou dez anos no exterior trabalhando como modelo, e foi na “estrada” que adquiriu fluência em inglês, francês e ainda “arranha” um alemão sem muitos problemas. Quanto ao glamour das passarelas e do mundo da moda, o livro deixa claro: a vida de modelo exige disciplina e não se reduz aos flashes e a fama. Atrás das luzes, existe muito, muito trabalho, e mais do que isso - a falta dele em tempos “bicudos”.
Como toda boa biografia, o livro não é uma ode a Reynaldo Gianecchini, passa longe disso e revela alguns conflitos desconfortáveis vividos pelo ator, com seus pais, amores, e consigo próprio. O livro aponta, esclarece e fala abertamente sobre assuntos polêmicos e controversos, sem receio de ficar sem respostas, como o processo que o ator moveu na justiça contra seu ex-empresário; fala sobre sua sexualidade, sem cair num discurso de defesa ou ataque, mas explicando com clareza e tranquilidade a origem de tantas versões sobre uma mesma pessoa: ele, o “Gianecchini”.
Quando estava prestes a estrear a peça “Cabaret”, foi avisado sobre o linfoma, um tipo de câncer que ataca as defesas do organismo, o que deu sentido a uma série de sintomas que já vinha sentindo em sua rotina. Hoje, recuperado, ficamos cientes que a reação dele ao tratamento não foi tão lúdica como alguns possam imaginar. Teve muita dor, muito sofrimento e uma boa dose de fé, amor e superação. Sua mãe foi seu grande porto seguro mesmo após ter aguentado a perda do marido. Mas, a fé era inabalável.
E assim, através de suas histórias, vamos encontrando muitos nomes conhecidos que fizeram a diferença em momentos cruciais de sua vida e ganham, através dessa biografia, nosso respeito; não apenas como profissionais, mas como pessoas generosas e verdadeiramente amigas, como a atriz Claudia Raia, uma amiga que ganhou aplausos.
“Giane – vida, arte e luta” é uma biografia agradável de ler. É uma lição de vida contemporânea sobre alguém que continua a escrever sua história, enquanto lemos parte dela.