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Édipo em Colono

A peça “Édipo em Colono”, de Sófocles, é a continuação da tragédia “Édipo Rei”. Como todos nós sabemos, Édipo, filho de Jocasta, quando soube que sua mulher era sua mãe, se autoinfligiu – resolveu se cegar por não conseguir conviver com essa maldição. A ideia governante dessa peça é a busca de Édipo pelo perdão divino e pela redenção, e ao mesmo tempo a aceitação do destino trágico que lhe foi imposto. Depois de ser banido de Tebas, a cidade onde ele governou, ele viaja com sua filha Antígona até Colono. E a peça começa no bosque das Fúrias. As Fúrias eram espíritos femininos de justiça e vingança. Elas também eram chamadas de Erínias (raivosas), conhecidas por perseguir pessoas que assassinaram familiares. Elas punem suas vítimas, levando-as à loucura, ou torturando os malfeitores na terra, torturando os condenados.

As Fúrias puniam aqueles, como Édipo, que quebravam a lei natural, cometendo incesto ou matando os pais. Édipo matou o pai de uma forma involuntária, sem saber que Laio era seu pai, e casou com a própria mãe.

Édipo ficou reduzido a nada. Cego, manco e vestido como mendigo, e conduzido por sua filha Antígona. Édipo havia sido condenado por seus erros. E ele aceita. É a lição ensinada por seu sofrimento. Ele pede que sua filha encontre um lugar para descansarem. Eles não sabem onde estão. Esse bosque sugere que, por meio do sofrimento, cegueira e banimento (ou cancelamento), Édipo expiou suas ações e recebeu a redenção das Fúrias e dos deuses. A aceitação de Édipo de seu destino parece ter diminuído a sua culpa, ele percebe que não teve um papel na determinação de suas ações ou de seu destino.

No entanto, um transeunte aparece e diz que ele ousou pisar em um solo sagrado.

“Édipo: Com que nome sagrado deverei invocá-las?

Transeunte: Eumênides, as que veem tudo, o povo daqui as chamas assim; nomes outro e belos alhures terão.” (pág. 28)

Eumênides, nome eufemístico para as Erínias (ou Fúrias). Trata-se das três entidades, Alecto, Tisífone e Megera, nascidas na terra regada pelo sangue de Urano quando este foi mutilado por Crono. São divindades que se ocupam, sobretudo, de vingar crimes. Eumênides era o epiteto que ousava enfurecê-las.

Subitamente aparece uma outra filha de Édipo, é Ismene.Elas têm um reencontro sincero, quando ela manda a seguinte notícia para o pai.

“Ismene: Eu, as dificuldades que enfrentei, paizinho, para achar o lugar em que ocultas o resto dos teus dias, não quero recordá-las. Narrar privações depois de viver tormentos seria sofrer dobrado, isso não quero. Os males que pesam sobre teus desventurados filhos, é disso que vim falar-te. Deixar o trono a Creonte para não macular a cidade, esta foi a primeira causa da discórdia. A discussão revelava a preocupação com o mal que aflige tua casa. Mas agora, vindo de um deus e do coração perverso, eclodiu entre os dois nova rixa devastadora a posse do governo, do poder monárquico. No conflito entre os dois nova rixa devastadora, a posse do governo, do poder monárquico. No conflito entre os dois irmãos, o mais jovem contrariando a lei sucessória, arrebata o trono e expulsa Polinice do país. Segundo informação agora divulgada entre nós, o exilado desceu ao vale de Argos, constituiu família nova e aparelha um exército de amigos para que em breve Argos mande na planície dos cadmeus ou que a glória argiva toque os céus. Não atribulo com torrentes verbais, trago fatos apavorantes. Até onde os deuses hão de levar teus sofrimentos antes de mostrarem piedade, eu não sei.” (pág. 52)

Polinice, o filho mais novo de Édipo, e seu irmão, Eteócle, o filho mais velho, tomaram o trono e exilaram o pai. Polinice, após lutar pelo poder em Tebas com seu irmão e Creonte, acabou se refugiando em Argos, e agora, está reunindo um exército para atacar Tebas, onde Eteócles e Creonte governam juntos. Creonte é irmão de Jocasta, sua mãe e ex-esposa.

“Ismene conta a Édipo as últimas profecias do oráculo: os homens de Tebas que expulsaram Édipo, vão fazer de tudo para trazê-lo de volta. De acordo com o oráculo, a presença de Édipo fora de uma cidade protegeria essa cidade.

Édipo: Ouviste de alguém o que dizes, filha?

Ismene: De delegados nossos aos jogos délficos.

Édipo: Foi isso então o que Apolo disse de mim?

Ismene: Foi o que anunciaram os delegados ao retornarem a Tebas. (pág54; pág. 55)

Os atenienses enviavam, regularmente, tais delegados para consultar o oráculo de Delfos. Édipo fica inconsolável, a raiva o domina contra os seus filhos, que nunca tentaram resgatá-lo, trazê-lo de volta ou protegê-lo após a sua queda. Ele declara o amor incondicional às suas filhas, mas deixa claro que jamais ajudará os seus filhos na luta pelo poder em Tebas.

O líder do coro, o Corifeu, se comove com as palavras de Édipo:

“Corifeu: Purifica-te com sacrifício oferecido às deusas que primeiro te receberam ao pisares no solo delas.” (pág.58)

O coro envolve Édipo e o pressiona a ouvir a verdadeira história de seu sofrimento. Édipo se recusa a falar sobre isso, mas o coro só ouviu rumores sobre Édipo e quer ouvir sua história de seus próprios lábios. Édipo relutantemente diz:

“Édipo: Cometi crimes, amigos. Cometi. Mas, saibam os deuses, contra a vontade. Voluntariamente não pratiquei mal algum.

Corifeu: Como assim?

Édipo: Tebas amarrou este ignorante a um leito impuro. Foi castigo.

Corifeu: Ouço coisas inomináveis que dormistes com tua própria mãe.

Édipo: Maldição! Estas palavras ferem-me de morte, estrangeira. E há estas jovens...

Corifeu: Que há com elas?

Édipo: São minhas filhas, as infelizes.

 Corifeu: Por Zeus

Édipo: Fruto do ventre de minha mãe. Corifeu: Essas moças são filhas suas...?

Édipo: Sou o pai de minhas irmãs.” (pág62pág63; pág 64)

Chega Teseu, o rei de Atenas. Ele conhece a história de Édipo e pergunta gentilmente por que Édipo veio. Édipo agradece a Teseu por não ter pedido que ele contasse sua história mais uma vez, e então diz que ele vem trazendo um presente. Se Teseu deixá-lo ser enterrado em Colonos, Édipo cumprirá uma profecia e protegerá Atenas.

“Édipo: Filho de Egeu, caríssimo amigo, só deuses não são agredidos pela velhice nem pela morte, os demais sucumbem todos a prepotência do tempo. Esgota-te o vigor da terra, decai o corpo morre a fidelidade, a infidelidade prospera, nem sempre ventos favoráveis impelem amigos e povos. Para uns e outros mais cedo ou mais tarde, a amargura corrompe laços fraternos ou se regenera a fraternidade. A harmonia prospera agora entre Tebas e ti, mas o tempo infindo ao passar, infindas noites gera, infindos dias em que a lança golpeia harmoniosas afabilidades por palavra fútil. Então meu corpo repousar em sono glacial beberá n tumba cálido sangue de tebanos se Zeus é Zeus, e se Febo, o filho de Zeus, sabe. Não me delicia, porém, declarar arcanos inflexíveis. Permite que me cale aqui. Se mantiveres tua palavra, jamais dirás que recebeste Édipo como hóspede sem proveito algum para esta terra, a não ser que os deuses me iludam.” (pág. 71; pág. 72)

 

Teseu concorda. Édipo tem a consciência de que tudo pode mudar muito rapidamente. Um dia ele era o todo-poderoso rei de Tebas, no outro ele era um pária, quase mendigo cego e sem teto. Os tebanos querem explorá-lo, mas não querem aceitá-lo como um deles. O conselho que Édipo dá a Teseu é que, ao invés de confiar nos outros homens ou nações, é a sabedoria que ele adquiriu com seu sofrimento.

Teseu dá boas-vindas a Édipo para viver em Atenas ou permanecer em Colonos. O Coro se reúne em torno de Édipo e canta em louvor de seu novo lar e fala dos lugares atraentes da cidade de Atenas, como seus corcéis (cavalos) e sua beleza natural, mencionando o que Poseidon concedeu à cidade.

Antígona dá o alarme. Creonte se aproxima. Ele diz que não veio com força, mas para persuadir Édipo a voltar para casa. E ele diz que sofreu por Édipo. Mas ele está mentindo. Como Ismene já disse, os tebanos querem se aproveitar de Édipo para proteger a sua cidade. Eles não lamentam por ele, não vão honrar sua morte, caso ela aconteça.

Édipo, quando ouve Creonte, sua raiva contra os tebanos cresce. Ele aceita o destino e os deuses podem ser injustos, mas não precisa aceitar a injustiça impostas a ele por outras pessoas.

 

“Édipo: Do que és capaz! Encobres intenções abjetas atos escusos com palavras dignas. Voltas, a entender-me a rede cujas malhas tanto padeci? Em outras oportunidades, atormentado por males privados quando te roguei me banisses, negaste esse favor a mim que o suplicava, depois, já farto de aflições e desejoso de renovar as doçuras do lar, me arrancastes, me arremessaste. Ao parentesco não deste a mínima importância. E agora perceberes a benevolência desta cidade e de toda esta gente, queres me arrastar a amarguras com doces palavras. Por que mostra afeto a quem te despreza? A situação é esta: necessitado, faminto, ninguém te ajuda, mas quando te sentes farto, quando o afeto te inunda o peito, pessoas que te vêm com favores. Graça só interessa a desgraçados. Não queiras me ludibriar com vantagens tolas. Tua generosidade se reduz a isso: vantagens verbosas encobrem atos vis. Diante destes, declaro-te vilão. Vens não para me conduzir ao palácio, mas instalar-me num rincão, com o propósito de proteger a cidade de um ataque desta terra. Isso não acontecerá, acontecerá isto: meu gênio vingador se instalará em Tebas para sempre. A sorte de meus filhos é esta: a terra que herdam de mim lhes cobrirá os corpos, nada mais. De Tebas eu sei mais do que tu, muito mais. Minhas informações são bem mais seguras baseadas em Febo e em Zeus, pai dele. Vens de boca ferina, bocas não te faltam, mas te trarão o mal em lugar das vantagens esperadas. Bem sei que minhas palavras não te convencem. Vai-te, deixa-me viver aqui. Ainda que aflito, vivo melhor onde estou, pois tenho o que quero.” (pág. 80; pág. 81)

Édipo entende o jogo perfeitamente bem de Creonte. Na verdade, ele quer levá-lo de Atenas para fugir ao oráculo, que prevê glória sobre Tebas à cidade que abrigar seu corpo. Creonte não tem a mínima intenção de levá-lo de volta ao palácio, mas apenas a um lugar perto de Tebas sem que precisasse voltar a colocar os pés na cidade.

Creonte sugere que Édipo não está sendo razoável. Creonte, no entanto, falha em fazer distinção entre a vontade dos deuses e a vontade outras pessoas. Ele ordena que seus guardas levem as duas filhas de Édipo embora em direção a Tebas.

Teseu aparece com uma escolta armada. Ele exige saber o motivo de tanta urgência. Édipo explica o que aconteceu. Teseu envia soldados para despertar suas tropas e perseguir os sequestradores das filhas de Édipo. Teseu se recusa a deixar Creonte sair com as filhas sequestradas. Ele diz que Creonte envergonhou Tebas com suas ações violentas. Ele acrescenta que Tebas tem leis, como Atenas, e não toleraria o sequestro de Antígona e Ismene.

Creonte acha que Édipo nunca poderá expiar os seus pecados. Mas, ao assumir essa posição, Creonte nega a vontade dos deuses. Só eles podem decidir quem expiou ou não.

Édipo solta outro discurso contundente contra Creonte em defesa de si mesmo:

“Édipo: Cachorro sem vergonha, pensas que me sujas a mim, um velho, sem te emporcalhares a ti mesmo, hem? Acusações de assassinato, incesto, desatinos passam por essa bocarra, maldições que carrego sem querer. Os deuses tiveram prazer nisso movidos por ódio antigo contra a minha raça. Porque em mim mesmo não encontrarás nada digno de castigo, falta alguma que eu tivesse cometido contra mim ou contra os meus. Explica-me, se os oráculos disseram a meu pai que ele seria morto por um filho, como posso ser acusado disso legitimamente se eu não conhecia pai nem mãe, pois nem sequer tinha sido gerado? Se ataquei meu pai – não nego que ataquei – levantei meu braço e o matei sem saber o que fazia contra quem, como podes denunciar um ato involuntário como se tivesse sido intencional? Minha mãe desgraçado... Não te envergonhas de me obrigar a falar de meu casamento com ela tua irmã? Ela está bem, falo. Nada silenciarei, Foi tua boca imunda que revolveu este assunto.

Quem me pariu foi ela. Pariu. Que desgraça! Eu não sabia, ela não sabia. Ela me botou no mundo e, para vergonha nossa, meus filhos saíram da barriga dela. Uma coisa está clara, tens prazer, desbocado, em largar-me isso na cara. Não dormir com minha mãe por vontade minha. Não repito. Não sou criminoso. Ninguém poderá condenar-me. Para de me lançar em rosto vida incestuosa, parricídio. Guarda teus insultos venenosos. Responde-me só esta pergunta: se alguém aqui e agora, te enfrenta para te matar sem motivo justo, vais perguntar se é teu pai ou revidas no ato? Está claro, se amas tua vida, golpeias o agressor e não ficas a indagar-se é justo ou não. Foi assim que me desgracei, e os deuses me levaram a isso. Nem a sombra de meu pai, se voltasse viva, apresentaria queixas contra mim. Tu, de justo não tens nada. Achas muito bonito tornar público assuntos privados. Ultraja-me na presença de estranhos. Te pões a acariciar o nome de Teseu a bajular Atenas e suas instituições. Ignoras, entretanto, coisas muitas. Se há uma cidade que sabe respeitar os deuses, é precisamente esta. Vens para raptar-me, um suplicante, um velho, botas as patas em meninas. Contra tais brutalidades, invoca agora estas deusas, rogo e imploro que venham e lutem comigo para que chegues a conhecer o valor dos homens que protegem esta cidade” (pág. 94; pág. 95; pág. 96)

 Creonte não recua, mesmo cercado e em solo estrangeiro. Ele acredita no poder da força sobre a lei.

“Creonte: Enquanto estou aqui, como poderia eu fazer reservas a determinações tuas? Em meu território saberei como agir.

Teseu:  Não me venha com ameaças. Anda! Quanto a ti Édipo, aguarda e fica tranquilo. Podes estar certo de que, enquanto estiver vivo, não sossegarei até confiar tuas filhas aos teus cuidados.” (pág. 97)

E é exatamente por isso que sua ruína em Antígona ocorre na peça de Sófocles. Enquanto isso, o coro imagina uma batalha entre Teseu e seus homens e os guardas de Creonte, que levaram Antígona e Ismene. Eles preveem seus homens conquistando uma vitória e trazendo as filhas de Édipo.

“Corifeu: Estrangeiro errante, a aparição te dirá que não sou mau vidente. As donzelas vejo, bem próximas, trazidas por escolta.” (pág. 100)

Teseu retorna com seus guardas escoltando Antígona e Ismene. Muito feliz e aliviado ao ver suas filhas, Édipo agradece profusamente a Teseu e pergunta o que aconteceu. Teseu cumpre a promessa a Édipo, mas mantém a humildade, ele opta pelas ações e não pelas bravatas como as de Creonte.

Teseu relata que alguém que mora em Argos está aflito, querendo frequentar o altar de Poseidon, querendo uma breve audiência com Édipo, e esse alguém é seu filho Polinice.

Édipo se recusa a vê-lo, mas no fim concorda em vê-lo. Teseu se retira. Édipo encontra-se insensível em relação aos filhos por eles não ajudarem-no em seu exílio e pobreza. Polinice entra. Ele chora pelo estado lamentável do pai e sua família. Ele se autodenomina infame homem vivo, por não ter vindo em auxílio de seu pai exilado.

“Polinice: Misericórdia! Eu desolação! Não sei por quem chorar primeiro, minhas irmãs, por meus próprios males, ou pelo meu velho pai. Encontro-o abandonado, no exílio, só com vocês duas, coberto de farrapos. Velhice odiosa cobre velhice, e sujeira rói a pele. A brisa agita o cabelo desgrenhado no rosto de órbitas vazias. Da qualidade das vestes deve ser a ração que lhe desce ao estômago carente. Vendo-te sinto-me infame, entendo agora que fui o pior dos homens por permitir que tenhas chega a este ponto. Queixas contra mim ouves de mim mesmo. Se a Clemência está sentada ao lado do trono de Zeus, não a afaste de ti, meu pai. Tentarei remediar meus erros. Não pretendo aumentar a minha culpa. Por que te calas? Fala comigo pai, não me volte as costas. Não me respondes palavra? Com desdém me despedes mudo, sem dizer por que me odeias? Minhas caras irmãs, temos o mesmo sangue, tentem comover nosso pai. Por que essa boca férrea e inclemente? Por que desonra? Tenho proteção divina. Repele-me sem graça de uma só palavra? (pág. 110; pág. 111)

Polinice, mais adiante. sente pena de si mesmo por ter perdido o trono de Tebas para seu irmão mais novo. Atacar a cidade natal à frente de um exército estrangeiro, no entanto, é uma resposta drástica. O papel de Édipo aqui é como das Fúrias – ele é o juiz e julgará quem deve ser punido ou inocentado.

Polinice chega ao desplante de se comparar ao pai, na sua situação de penúria, embora tenha se casado bem e feito alianças em Argos, e seu pai ficado cego, e tenha sido banido e quase mendigo.

 O sofrimento de Édipo o tornou poderoso e profético. E como os deuses, Édipo não mostra misericórdia. E prevê que os irmãos Polinice e Eteócles se matarão nessa guerra, embora o primeiro tenha se arrependido do que fez.

“Édipo: Senhores, se Teseu, o governante desta terra, não o tivesse enviado a mim, se ele não tivesse determinado que eu o atendesse, jamais eu teria dado a este homem a satisfação de ouvir a minha voz. Entretanto, constrangido a falar, não ouvirá palavra alguma que lhe possa alegrar os dias. Tu, peste, quando tinhas o trono e o cetro de Tebas, que está agora nas mãos do teu irmão, tu baniste o teu próprio pai, reduziste-me à condição de sem-cidade, e me cobriste com estes trapos, que te arrancam lágrimas, agora que caíste no abismo em que me lançaste. Lamentar o quê? O que resta senão carregar a desgraça até o fim, tendo na memória a imagem de um assassino como tu? Tu me fizeste morar na miséria, tu me baniste. Escorraçado por ti, mendigo de outros o pão de cada dia. Se eu não tivesse gerado estas queridas filhas para me ampararem, se eu tivesse só a ti, já estaria morto. Elas são o meu amparo. Elas cuidam de mim. Meus homens são elas. Mulheres padecem comigo. Vocês são dois filhos de outro, de mim não. Um olho imortal te vigia. Se não detiveres teus homens, marcharão para ruína às portas de Tebas. Não tomarás jamais aquela cidade. Antes de entrares, teu sangue manchará a terra, misturado com o sangue do teu irmão...” (pág. 114; pág. 115)

Polinice parece aceitar que a profecia de Édipo se tornará realidade. Sua teimosia garante que essa profecia se torne realidade. Antes de partir, Polinice pede a suas irmãs que lhe deem um enterro adequado se as maldições de Édipo se tornarem realidade. Antígona implora a Polinice que cancele o ataque a Tebas. Ele se recusa – ele foi humilhado pelo irmão mais novo e sua honra o obriga a lutar. Ele diz que não vai falar nada sobre as profecias de Édipo aos seus homens e que o ataque continuará. Ele e Antígona compartilham a triste despedida. Ele reza para que Zeus traga felicidade a ela, desde que ela cumpra sua promessa de dar a ele um enterro adequado. Ele então parte para Tebas, certo de que está indo para a sua própria destruição. A promessa de Antígona de enterrar Polinice prepara o cenário para os conflitos na Antígona de Sófocles.

O trovão é escutado, aterrorizando o Coro:

“Coro: Males geram males. Males parem as estrangeiras órbitas vazias. Aparte-se a ruína de mim! Inflexíveis, ensina-me o vivido, são os desígnios divinos. O tempo vê tudo, a sorte é vária: o que hoje o tempo eleva abate amanhã. Atroam os trovões, ó Zeus!” (pág. 120)

 O trovão soa novamente e o coro grita. Enquanto os trovões gritam, Édipo diz às suas filhas:

 “Édipo: Filhas, sinto aproximar-se a morte anunciada. Nada a fará recuar. (pág. 121)

Édipo pede que Teseu venha rapidamente, Édipo diz que quer cumprir a promessa que fez a Teseu. Ele pergunta o que precisa fazer. Édipo responde que levará Teseu ao local onde Édipo morrerá.

Édipo: Eu te direi, filho de Egeu, o que, preservado intato para esta cidade, os anos consumirão. Eu mesmo te conduzirei sem ajuda ao lugar em deverei morrer. Não o reveles nunca jamais a ninguém. Oculta lugar ao acesso. Dele obterás mais força do que de escudos e lanças estrangeiras, de aliados. Saberás de mistérios que nunca deverão tornar-se palavra. Tu o conhecerás quando estivermos a sós. Não me é dado revela-los a estes cidadãos nem as minhas filhas por muito que as ame. Guarda-os para ti. Quando te aproximares do termo de teus dias, tu os transmitirás ao teu sucessor, e este procederá do mesmo modo. Assim manterás protegidas contra semente do dragão a cidade onde mora. Em muitas cidades, ainda que governadas, germina violência. Os deuses ainda que tardiamente, percebem quem apertando-se do sagrado, incorre em atos loucos. Não permites, filho de Egeu, que a loucura te afete. Instruo um homem de larga experiência. Procuremos já o lugar. Vontade divina me constrange. Que nada os detenha! Quereis seguir seguir-me filhinhas? Guia agora sou eu. Muitas vezes já me prestastes este serviço. Vamos sem tardança. Permitam que eu mesmo encontre o caminho da sacra tumba que o destino reservou a mim nesta terra. Por aqui, agora por aqui, Hermes, o guia das sombras, e a deusa do mundo inferior me orientam. Luz que te apagaste, iluminavas-me outrora, banhas meu corpo pela vez derradeira. Trilho a última etapa antes de sumir no Invisível. E tu, o mais querido dos estrangeiros, tu, esta terra que o povo, que a ventura vos acompanhe! Ainda que ausente, lembrai-vos de mim. Florescei em infinita prosperidade.” (pág. 125)

Édipo é inspirado com uma nova força e resistência, bem como uma capacidade de sentir para onde está indo, apesar de sua cegueira. É a presença dos deuses que agora o apoiam e o favorecem.

O mensageiro chega e revela que Édipo está morto. Antígona implora para ver o túmulo do seu pai, mas Teseu diz que não pode revelar, citando o juramento a Édipo de manter o local em segredo. Antígona aceita a decisão, mas pede que sejam mandadas de volta para Tebas para tentar impedir a guerra entre os irmãos. O coro diz:

“Corifeu:  cessem as lágrimas. Não retorne o pranto. Está tudo acertado. (pág. 140)

“Édipo em Colono”, de Sófocles, é a busca de Édipo de se reconciliar pelos seus pecados do passado. Édipo mostra como um homem que aprendeu com os seus erros e que, apesar de tudo, mantém a dignidade e sua fé na justiça divina. Morrer em solo sagrado ajudará Atenas em tempos difíceis e irá garantir a proteção divina para a cidade. A busca de redenção e reconciliação e a crença na justiça divina, que é um tema recorrente da tragédia grega.

“Édipo em Colono”, de Sófocles, merece um lugar de “HONRA” na sua estante.


Data: 14 abril 2023 | Tags:


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Édipo em Colono
autor: Sófocles
editora: L&PM
tradutor: Donaldo Schüler

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