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A entrega

Dennis Lehane é um autor que conheço pouco, confesso.  No entanto, simplesmente adorei os filmes baseadas em suas obras. Fiquei bastante impressionado, por exemplo, com “Sobre menino e os Lobos”. Não li o livro, mas o filme... é simplesmente fantástico. Os atores e a direção foram impecáveis.

 

Hoje trago para vocês “A Entrega”. Sobre o livro? Sem comentários. É indescritível.

 

Confesso que este ano vou postar pelo mais uma resenha deste autor. O livro já virou filme, pelo que andei pesquisando. Mas desta vez adoto o caminho inverso. Vamos ao livro?

Se há uma lição que devemos aprender para entramos em lugares inóspitos, tipo beco sem saída, cheio de espertalhões e bêbados espalhafatosos, é tomar cuidado com o cara mais quieto nesse tipo de ambiente.

 

Seguindo a máxima que cada homem é uma ilha e que cada um esconde segredos desconhecidos sob um verniz de pessoas reservadas e de uma reticência masculina típica de um bom rapaz, podemos pensar no que vem pela frente. Bob Saginowski trabalha em um bar em Boston usado para lavagem de dinheiro da máfia chechena. Esse bar foi propriedade de Marv, seu primo, que anos antes tinha sua própria máfia, até perder espaço para os chechenos.

 

O submundo de Boston é gerido pela família Umarov, chefe de um sindicato com ramificações no leste europeu. Essa organização lida com tudo, desde apostas ilegais ao assassinato, e usa proprietários nominais, como gerentes, que é o caso de Marv. Primo Marv, como é chamado, planeja uma chance de sair da cidade e do país com uma bolada de dólares no bolso, morar na Tailândia ou no Camboja, por exemplo, criar um negócio naquelas regiões e viver sua aposentadoria, ou não. Bob Saginowski frequenta a igreja São Domingos regularmente, não é adepto da comunhão, mas é um ardente defensor das tradições da igreja, muito embora, devido a suas posições sociais, esteja mais adequado à esquerda católica. Ele não tem vida social, não tem amigos e nenhuma perspectiva para o futuro.

 

Outro personagem e fiel frequentador da igreja São Domingos é Evandro Torres, um detetive da polícia que, apesar de numerosas falhas, incluindo adultério e problemas com a bebida, tenta limpar sua barra com Deus por meio da confissão, que, segundo ele, é melhor que terapia ou alcoólatras anônimos.

 

O romance começa duas noites depois do Natal num bar, onde um grupo de amigos celebra os dez anos da morte de um amigo em comum, Richie Whalen, que desapareceu misteriosamente após ter saído desse mesmo bar para comprar drogas, deixando para trás uma namorada e um filho que não conheceu. Nessa noite comemorativa, todos estavam bebendo e assistindo a um jogo de basquete quando um assalto acontece. Bob nota que um dos assaltantes tem um relógio de pulso quebrado. Levam uma quantia em dinheiro e vão embora.

 

A primeira pergunta que faço a você, leitor, é: quem poderia estar por trás desse evento criminoso?

 

Bob e seu primo Marv estão preocupados, pois precisam pagar aquilo que foi roubado. As leis que regem a máfia chechena não admitem quantias sumidas em assaltos. Ninguém se atreveria a assaltar um estabelecimento onde o risco de ser pego e morto é alto. As suspeitas recaem sobre eles. Mas vamos adiante. Numa noite, após o assalto, enquanto Bob caminhava para sua casa, descobre um filhote de cachorro abandonado em uma lata de lixo. A dona da lata de lixo, Nadia Dunn, que não era a dona do filhote se surpreende. As marcas de ferimentos ao redor do pescoço de Nadia chamam a atenção de Bob. Ela convida a ajudar Bob a lidar com o filhote.

 

O nome do cachorro dado por ele é Rocco, equivalente no Brasil a São Roque, o protetor dos cães. Aos poucos, o novo dono de Rocco vai criando uma relação afetiva com o bichano. Pois bem, até que entra em cena um personagem obscuro: Eric Deeds, que tem passagens pela polícia e algumas mortes em seu currículo vitae. Como podemos notar, ele não é um homem muito fácil e nem um pouco agradável. Um temperamento nada sociável.

 

Eric Deeds havia posto o cão na lata de lixo em um dos seus prováveis acessos de raiva para com a vida.  Ele ameaça matar Nadia Dunn se Bob não devolver Rocco, a menos que Bob pague a quantia de US$10.000. Para complicar ainda mais a situação-limite de Bob, o detetive Torres o interroga sobre a misteriosa morte do saudoso Richie Whelan (lembram?), iniciando a investigação desse desaparecimento. Ao mesmo tempo, Torres começa a investigar o assalto ao estabelecimento ocorrido naquela noite de comemorações. Tudo que a máfia chechena não quer. O tempo está esgotando. Essa equação de difícil resolução precisa ser resolvida. Bob não quer se livrar do cão. Ele precisa acertar sua dívida com os chechenos e se livrar das investigações de Torres. E aí? Estão sentindo a pressão?

 

Se você está pensando que essa história é uma versão noir de “Marley & Eu”, é bom nem pegar no livro. Não há inocentes nessa história. Todos trazem, em suas bagagens, passados pouco recomendáveis. E no decorrer da história a provável conclusão que você vai tirar é: “A gente não pode ter controle sobre tudo”.

 

A Entrega”, de Dennis Lehane, é um livro sensacional. O humor, em algumas situações e diálogos divertidos, dá um toque a mais ao livro. Um livro de tirar o fôlego.

 

Um livro que merece um lugar na sua estante.


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Policial, Romance


< Memórias de minhas putas tristes O vento que arrasa >
A entrega
autor: Dennis Lehane

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