Trabalhos de um Amor Perdido
“Trabalho de um Amor Perdido”, de William Shakespeare, é considerada, assim com “Sonhos de uma Noite de Verão” e “Romeu e Julieta”, uma peça lírica, cheia de rima e poesia. Essa peça, segundo os estudiosos, foi escrita provavelmente entre 1595 e 1596.
“Trabalho de um Amor Perdido” é uma comédia, e o centro da comicidade dessa peça reside no fato de que quatro jovens, dedicados aos estudos, querem renunciar a tudo, ou seja, estudar, estudar e estudar. Até que encontram quatro jovens lindas e todos começam a abandonar seus ideais irrealistas.
Nessa peça. homens e mulheres operam separadamente em grupos. No grupo dos homens, o rei, Longaville, Dummaine e Berowne. E no grupo de quatro mulheres: a princesa, Katherine, Maria e Rosaline. Os homens da peça aspiram à sabedoria, à força, ao autocontrole e à inteligência. Perseguem a ideia de viver uma vida monástica voltada ao conhecimento. E evitam o sexo feminino. Mas não conseguem. E aí eles tentam cortejá-las, mas são continuamente enganados pelas mulheres, que supostamente são mais inteligentes. O amor aqui representa uma quebra de juramento feito. Armado, conhecido como o garganta, e também conhecido como Don Adriana de Armado, teme que seu amor por Jaqueneta seja um sinal de fraqueza e pede que Rapaz (pajem de Armado) seja um sinal de fraqueza, e para isso pede no final ao Rapaz que lembre alguns homens mitológicos, bíblicos e históricos capazes de viver com os padrões de masculinidade na atuação dos “Ilustres”. Mas todos os homens são incapazes de viver de acordo com os padrões de masculinidade na atuação dos “Ilustres”. Todos falham em incorporar a força e a grandeza de seus papéis.
O olhar masculino sobre as mulheres mostra como a ideia que os homens têm sobre as mulheres como seres passivos pode estar errada. Os homens da peça tendem a ver as mulheres apenas como objetos passivos de desejo. As mulheres, por outro lado, a princesa e suas damas presumem que os homens estão brincando com elas e não acreditam que todos estejam apaixonados, quando na verdade estão.
Vamos à história?
A história começa quando Fernando, o rei de Navarra, estabelece um juramento para toda a corte, incluindo seus lordes que servem ao rei, Lorde Dumaine, Longaville e Berowne, proibindo qualquer homem de ficar com uma mulher durante três anos, para passar o tempo estudando e observando. E não fica só por aí, não. Determina que todos comam apenas uma vez por dia e durmam apenas três horas à noite.
“Rei: Deixe-se que a fama aquela a quem todos perseguem por toda a vida nos altos relevos de nossos esquifes de bronze e então venha conceder-nos sua graça na desgraça da morte, quando, apesar do tempo que a tudo devora com sua ganância, o fôlego que dependemos agora venha comprar a honra que tornará cega a sua foice, tornando-nos herdeiros de toda a eternidade. Assim sendo meus bravos conquistadores – pois é isso mesmo o que os senhores são -, vocês que lutam contra os próprios sentimentos e contra o vasto exército de tentações do mundo, o nosso último édito será cumprido à risca. Navarra será maravilha do mundo; nossa corte será uma pequena universidade, tranquila e constante, contemplativa da arte de viver na arte de aprender. Vocês três Berowne, Dumaine e Longavilhe, juraram por três anos viver comigo, meus colegas acadêmicos, respeitando os estatutos que se encontram aqui protocolados neste papel
( ergue um rolo de papel)
Os seus juramentos vocês já fizeram, então agora assinem o documento, para que a própria mão possa dar uma rasteira na honra daquele que violar a mínima clausula aqui inclusa, firmem e mantenham esses seus juramentos.” ( pág. 11; pág. 12)
Longaville e Dumaine concordam, mas Berowne desconfia que todo esse juramento não vai dar certo:
“Berowne: Uma lei perigosa contra as boas maneiras ( lendo) “Outrossim, no caso de um homem ser visto conversando com uma mulher dentro do período de três anos, ele deverá ser submetido à humilhação pública que a corte houver por bem aplicar-lhe”. Esta cláusula, meu soberano, o senhor mesmo deve quebrá-la, pois muito bem sabe que nos chega em embaixada a filha do rei da França para com o senhor confabular...- uma donzela graciosa e da mais completa majestade – para com o senhor negociar a devolução da província de Aquitânia ao seu acamado pai, doente e decrépito. Assim é que esta cláusula foi escrita em vão nos chega admirável princesa até nós.
Rei: O que me dizem senhores meus lordes? Ora, mas não esquecemos disso por completo!
Berowe: Estudar o tempo todo é nisso que dá: a vaca vai para o brejo. Enquanto estuda para ter o que deseja, esquece de fazer o que deve. E quando finalmente tem o que mais almeja, é como conquistar cidades com incêndios: o que se ganha é o que se perde ( pág. 16)
Berowe informa que a princesa da França está a caminho. O rei diz então que terá que violar o seu próprio juramento. Berowne concorda em assinar o juramento.
Um policial chamado Fosco entra em cena com Costardo (um bufão) com uma carta de Dom Adriano de Armado. A carta diz que Armado viu Costardo com uma mulher chamada Jaqueneta, violando o juramento da corte do Rei. Costardo tenta escapar da punição. Mas rei o condena a uma semana de jejum.
Temos até aqui três juramentos onde todos se comprometem a ficar longe das mulheres durante três anos, certo? Certo. Mas ninguém previa a chegada da Princesa da França que trará suas acompanhantes. Ao que tudo indica, o juramento não vai durar muito. Quando se começa uma história em que um juramento é feito, é certo que algo vai acontecer e esse juramento será quebrado. A pergunta que se faz é: quando? Quem será o primeiro a cair na tentação? A segunda pergunta que fica é: até quando vai durar esse juramento? Temos aí a vida contemplativa de uma academia como o rei imagina Navarra e as exigências da cortesia. A vida da carne versus a vida da contemplação. Quem vencerá?
“Berowne: Aposto o meu chapéu de nobre contra o chapéu de qualquer lavrador que esses juramentos e essas leis vão terminar virando uma piada inócua...”( pág. 23)
Chega a princesa da França a Navarra com três acompanhantes, Rosaline, Maria, Katherine, e Boyet, que é um senhor mais velho, o conselheiro da princesa. A princesa, sabendo que nenhuma mulher pode comparecer à sua corte, envia Boyet ao rei para anunciar sua chegada. Assim que ele sai para entrar em contato com o rei, a princesa e suas damas de companhia Rosaline, Maria e Katherine discutem sobre o que sabem sobre o rei e os lords e a estranha decisão de não entrar em contato com elas, sob a alegação de um juramento que os impedia de entrar em contato com ninguém do sexo feminino. Maria conhece Longaville e diz:
“ Maria: Eu o conheço madame. Na festa do casamento do Lorde Perigort com a belíssima herdeira de Jacques Falconbridge, celebrado na Normandia eu vi esse tal de Longaville. Um homem de qualidades nobres ( dizem que ele é), grande conhecedor das artes e conhecido por glórias em batalhas. Mal se propõe a fazer algo e já é bom naquilo, seja o que for. A única mancha no brilho de suas imaculadas virtudes, se é que o brilho de virtudes embaça com algumas manchas, é uma inteligência aguçada que se combina com uma vontade cega, tornando-se afiada, cortante e desejosa de estar sempre com vontade de não poupar ninguém que se acerque de sua esperteza.” ( pág. 33; pág. 34)
Katherine diz que Dumaine é conhecido por ser jovem e virtuoso, amado por todos que amam a virtude.
Katherine:” ... Ele tem inteligência suficiente para passar por bonito se fosse feio, e tem uma figura bonita o suficiente para atrair se fosse antipático...” ( pág. 34)
Rosaline acrescenta que Berowne é conhecido como um homem alegre e piadista:
“Rosaline: “... Nele os olhos criam a deixa para o espírito brilhar, pois o olho vê o objeto, e o humor transforma-o em assunto de brincadeira que, em sua bela língua, clarim de sua inteligência, traduz-se em palavras tão hábeis e tão elegantes que os ouvidos de mais idade deixam de lado a sisudez para ouvir suas histórias, e os ouvidos mais novinhos deixam-se arrebatar por completo, pois é muito docemente que flui o discurso desse homem.” ( pág. 34 ; pág. 35)
As damas elogiam tanto os homens que a princesa se pergunta em voz alta:
“Princesa: Que "Deus abençoe as minhas damas de companhia! Estão todas apaixonadas?..."( pág. 35)
Boyet, o conselheiro da princesa, diz que o rei de Navarra irá alojar ela e seu grupo no campo. O Rei chega e a princesa reclama do mau acolhimento, e finalmente entrega ao rei um papel que explica o motivo de sua visita. Dumaine pergunta sobre Maria, Longaville pergunta sobre Maria, e Berowne pergunta sobre Rosaline. Os dois estabelecem um diálogo com humor:
“Berowne( dirigindo-se a Rosaline): Por um acaso não dancei com a senhorita uma vez em Brabant?
Rosaline: ( dirigindo-se a Berowne) Por um acaso não dancei com o senhor uma vez em Brabant?
Berowne: Eu sei que sim.
Rosaline: Então não precisava ter perguntado.
Berowne: A senhorita não devia ser pavio tão curto.
Rosaline: Isso é porque o senhor me inflama com esse tipo de pergunta
Berowne: A senhorita é muito esquentada em seu juízo, e suas respostas, de tão rápidas, vão cansar.
Rosaline: Mas não antes de elas acabarem com o fôlego de quem sopra as perguntas
Berowne: Que horas são?
Rosaline: Hora de os bobalhões perguntarem as horas.
Berowne: Bem, desejo boa sorte para a sua máscara.” (pág. 37)
A princesa entrega a carta e pede que os direitos de Aquitânia sejam estabelecidos. Boyet diz à princesa que acredita que o rei se apaixonou por ela.
“Boyet: Se a minha capacidade de observação, que muito raramente se engana, não me decepcionou, quanto a retórica muda do coração, aquela que só os olhos revelam. Navarra deixou-se infectar.
Princesa: Com o quê?
Boyet: Com aquilo que os enamorados chamamos de “paixão”. (pág. 42)
Armado faz um trato com Costard, ele quer que Costard entregue uma carta de amor para Jaqueneta:
“Armado: Seu Costardo, eu vou te alforriar, vou franquiar a tua saída daqui.
Costardo: Franguear? Ah! minha nossa que depois de me deixar a pão e água quer me entupir de frango? Vai as tripas me afrouxar.
Armado: Pela alma da minha mãe, o que estou dizendo é que eu vou te por em liberdade, te libertando. Porque agora tu estás preso, trancado, e eu vou te permitir evacuar o recinto.
Costardo: Está certo, é verdade. E agora o senhor quer ser o meu laxante, e soltar a minha barriga.
Armado: Eu te dou a tua liberdade, eu te transfiro para fora de teu encarceramento e, no lugar disso , imponho sobre tua pessoa nada além disto: leva este símbolo para a camponesa Jaqueneta ( entrega-lhe um papel) Tem remuneração ( entregando-lhe uma moeda), pois a melhor proteção de minha honra está em recompensar os meus criados – Cisco me acompanha” (pág. 49; pág. 50)
Quando Armado e Cisco saem, Costardo fica olhando a remuneração, quando chega Berowne. Ele dá a Costard uma carta para entregar a Rosaline e uma recompensa em dinheiro. Costard se anima com mais uma remuneração.
Berowne, ao dar a carta a Costardo, entra no modo “culpa” por ter se deixado levar pelo Cupido. Ele o insulta:
“Berowene: “...Esse menino de olhos vendados, choramingas, choramingas, totalmente cego, de gênio instável, esse Junior sênior, esse anão esse gigante, esse Dom Cupido, maestro das rimas de amor um senhor de braços cruzados, o soberano ungido dos suspiros dos gemidos, suseranos de todos os vagabundos e insatisfeitos da braguilha, único imperador e sumo general dos oficiais que trazem adúlteros perante a corte eclesiástica... Ah, meu frágil coração! E eu, agora soldado raso em seu exército, portando o seu estandarte como se fosse um acróbata com suas argolas! Mas, o quê? Estou amando, estou cortejando, estou atrás de uma esposa? Uma mulher que é como um relógio alemão, sempre no conserto, sempre marcando uma hora errada, nunca funcionando direito..., mas é preciso dar corda, porque um dia pode funcionar direito. Quebrar um juramento é que o pior de tudo. E, entre três, amar a pior de todas, uma respondona branquela sem graça com uma pele de veludo com duas bolas de piche grudadas na cara em vez de olhos. Sim, e pelos céus, uma que vai fazer o que tem de ser feito, ainda que Argus com toda a sua centena de olhos fosse seu eunuco e seu vigia. E eu a suspirar por ela, perdendo o meu sono por ela, rezando por ela! Que inferno! É uma praga que Cupido me impõe por haver menosprezado o seu todo poderoso pavoroso pequeno poder. Pois bem, eu vou amar, escrever poesias escrever bilhetinhos, suspirar, rezar cortejar, gemer... ( pág. 52; pág. 53)
A Princesa da França e suas damas acompanhadas por um guarda florestal vão caçar. Ela pega um arco do Couteiro e diz que pretende matar um veado. Costardo chega com a carta de Berowne para Rosaline. Boyet, quando abre a carta, percebe que a carta não é para Rosaline, mas para Jaqueneta. Ele lê em voz alta a carta que é extremamente longa e recheada de frases ridículas, como:
Boyet: “Pelos céus, que tu és mais bela e isto é infalível, e é verdade que tu és bonita, tanto é verdade que tu és adorável...” ( pág. 57)
A carta é assinada por Armado:
“Boyet; esse Armado é um espanhol que está morando na corte, um excêntrico ( faz lembrar um italiano que vivia em Londres e se intitulava imperador do mundo) e serve de diversão ao Príncipe e seus colegas de estudos. (pág. 58)
Constardo insiste em dizer que é uma carta de Berowne para Rosaline. Mas a princesa não lhe dá ouvidos.
Dois novos personagens surgem nessa história: Holofemes é um professor e Sir Nathaniel é um pregador da aldeia. Juntamente com Fosco, discutem a morte do veado, de uma maneira bem afetada:
“Holofemes: O cervo estava, como os senhores bem sabem, sanguis: pleno sangue correndo-lhe as veias, maduro como uma pera que agora pende como joia na orelha do caelo: o céu, o firmamento, o paraíso, para logo cair como carne de cancer ; caranguejo, siri, lagostim, sobre a face da terra.
Nataniel: Realmente Mestre Holofernes, os epítetos foram requintadamente diversificados, como faria um erudito, para dizer o mínimo. Mas sir, eu lhe asseguro era um gamo de uns cinco anos, pondo a primeira galhada.” ( pág. 62)
Quando chegam Jaqueneta e Costardo pedindo que leiam a carta que ele acredita ter sido escrita por Dom Armado. Mas, quando Holofernes a lê, descobre que é a carta de Berowne para Rosaline. Nataniel lê a carta em voz alta.
“Holofernes: Sir, não me fale desse eclesiástico. Amedrontam-me falsos pretextos. Mas retomando os versos são do seu agrado, sir Nataniel?
Nataniel: Linhas maravilhosamente bem articuladas (pág. 68)
Entra Berowne sozinho com um papel. Ele se encontra totalmente entregue trabalhando em um poema destinado a Rosaline:
“Berowne: “...Pelos céus eu estou amando, e o amor me ensinou a rimar e a ser melancólico. E aqui está parte das minhas rimas, e aqui a minha melancolia. Bem, ela já está com alguns dos meus poemas...” ( pág. 69)
A coisa fica ainda mais estranha quando chega o rei, que também carrega um papel. Berowne se afasta e escuta o rei lendo em voz alta um poema de amor que está trabalhando para a princesa.
“Berowne ( escondido): Ora, ora, que este já chega com um perjuro, os papéis anunciando sua condição.( pág 71)
E logo em seguida entra Longavilee carregando seus próprios papéis, um poema composto para Maria. E dessa vez quem se esconde é o rei.
Rei: (escondido): Mais um apaixonado, tomara! É bom estar acompanhado na vergonha.( pág 71)
Logo Dumaine também se aproxima carregando um papel e Longaville também se esconde.
Longaville: Dumaine , o teu amor está longe de ser cristão, já que tu desejas quem te acompanhe na dor do amor...” (pág. 75)
Ele lê o seu poema em voz em alta. Quando aparecem o rei, Longaville e Berowne, que saem de seus esconderijos, fazendo comentários críticos como se eles próprios não estivessem apaixonados. Todos que estavam escondidos começam a falar o que viram.
Berowne, que ainda não havia sido visto por ninguém, falsamente se indigna, já que havia visto todos revelarem suas paixões em forma de poemas:
“Berowne: Eu não entreguei ninguém; você é que me enganaram. A mim que sou honesto; eu que acho pecado quebrar o juramento que firmei. Fui levado a permanecer em companhia de homens como vocês, inconstantes. Quando foi que me viram a escrever algo em verso? Ou gemer por uma mulher qualquer? ... (pág. 77)
Todos emergem e se confrontam como se nada estivesse acontecendo, todos alegando honestidade em relação aos juramentos estabelecidos. O rei pede que Berowne fique. Berowne cede e admite a dificuldade e justifica a quebra do juramento por amor. E seu argumento é longo e bem básico:
“Berowne: Mais que necessário. Eu falo, e vocês, guerreiros do amor, escutam. Fizemos um juramento para estudar, lordes, e nesse juramento nós traímos os nossos próprios livros. Pois quando é que o senhor teria descoberto, meu soberano, ou você, enfadonhas contemplações....( pág. 82)”
Mais adiante, ele conclui:
Berowne: ... E, quando o amor fala, é a voz de todos os deuses fazendo ninar o céu, tal a harmonia. Não houve poeta que se atrevesse a pegar a pena para escrever até que sua tinta estivesse preparada com os suspiros do amor. Daí então sim, os seus versos estariam aptos a encantar ouvidos selvagem, a plantar nos tiranos uma clemente humildade. É dos olhares femininos que extraio essa doutrina. Eles brilham com o verdadeiro fogo de Prometeu. Eles são livros, as ciências, as academias que revelam e contem e alimentam o mundo todo. Sem eles, ninguém consegue alcançar a excelência em coisa nenhuma. Portanto, os senhores foram tolos em rejeitar sob juramento essas mulheres – e estando dando provas de tolice se preservarem o juramento...”( pág. 83)
Após essa argumentação, todos compram o argumento de Berowne. O rei, Longaville, Dumaine, resolvem dar uma festa com máscaras, dança e horas alegres para entretê-las naquela tarde.
Enquanto Holofernes e Nataniel criticam a linguagem de Armado, sugerindo que:
“Holofernes: Ele desfia cada fibra de sua verbosidade mais fina que o fio da conversa. Acho detestáveis essas extravagâncias fantásticas, esses sujeitinhos com conversa de extrema precisão, antipáticos, carrascos da ortografia...”
“...Isso me infunde intensa inquietude do tipo insana...” ( pág. 87)
Chegam Armado, Costardo e Rapaz (pajem de Armado), que desenvolvem algumas conversas espirituosas. Armado revela que o rei lhe pediu que oferecesse algum entretenimento para a princesa. Armado quer a ajuda de Nataniel e Helofernes, que sugere um espetáculo que incluiria grandes nomes da história, como Josué, Judas macabeu, Pompeu, o Grande e um jovem Hércules.
Helofernes: ... Eu digo que nada seria mais galante, a apresentar algo para a princesa. Eu lhe digo que nada seria mais adequado que os “Noves Ilustres”.
“Nataniel: Onde você vai encontrar homens ilustres o suficiente para representá-los?
Helofernes: Josué, você mesmo; eu; e este galante cavalheiro aqui, Judas Macabeu. Este campônio, porque tem braços e pernas bem compridos, vai se superar como Pompeu o Grande; o pajem, Hércules...”( pág. 911
Todos discutem a hipótese e muitas discordâncias sobre a composição do elenco.
Enquanto isso a princesa e suas damas de companhia zombam dos poemas de amor que os homens lhe enviaram:
“Princesa: Mas que coisa? Sim, veio sim: tanto amor em verso quanto se podem abarrotar numa folha de papel, margens e tudo, frente verso, tanta escrita que ele se viu selar a carta em cima de “Cupido”.” ( pág93)
Boyet chega para anunciar que o rei e seus senhores planejam fazer uma visita disfarçados de “moscovitas”. Quando ela percebe o jogo que está sendo jogado, decide pregar uma peça nos homens. Ela instrui as suas damas de companhia a mascararem seus rostos.
“Princesa: Será que vão saber mesmo? Os galantes cavalheiros devem ser testados. Minhas damas, nós estaremos mascaradas, e nenhum deles terá o privilégio de ver os nossos rostos, apesar do corte e dos pedidos que fizerem a cada um de nós. Pegue aqui Rosaline; este rosto é o que vais usar, e o rei vai te cortejar pensando que és amada dele. – Aqui tu ficas com este presente; minha querida me dá o teu, e então teremos Berowne confundindo-me com Rosaline.
( A princesa e Rosaline trocam de presentes)
E vocês também troquem de presente. Assim os seus apaixonados vão namorar o contrário.
Rosaline: Então vamos usar presentes onde eles maios fiquem visíveis.
Katherine ( dirigindo-se à Princesa):- Mas com essas trocas, qual é a sua intenção?
Princesa: Minha intenção é frustrar o efeito de intenção deles. Eles só estão fazendo isso para se divertir, zombando de nós, e zombar de quem zomba é o único intento. Eles vão abrir o coração e contar seus vários segredos às mulheres erradas, e, assim quando nos encontrarmos de novo, nossos rostos à mostra para conversar e dar-lhes as nossas saudações e zombaria estará feita.” (pág. 99)
Quando o rei e seus senhores chegam, cada um deles se declara seu amor pela mulher errada. Todas recebem essas declarações de amor, mas não a retribuem, e os homens saem um tanto perplexos. Depois de serem passados para trás todos voltam sem máscara, e as senhoras contam-lhe sobre os idiotas moscovitas que vieram antes. Na medida em que o papo evolui elas vão revelando que sabiam que todos vieram disfarçados. Os homens tentam flertar, mas as mulheres os provocam e usam suas próprias palavras contra eles de maneira espirituosa.
Boyet após o ocorrido, comenta:
“Boyet: A língua uma mulher irônica é incisiva tanto quanto é invisível o fio da navalha que faz a barba que os olhos não enxergam; vai além, do que podem os sentidos, tão perspicaz é a sua conversa. Sua linguagem imaginativa tem asas mais velozes que flecha, bala, vento, pensamentos e coisas ainda mais ligeiras”( pág. 106)
Depois de todo o esclarecimento, entra o bufão Costardo e anuncia que a diversão preparada para as mulheres está pronta para a apresentação dos “Ilustres”, onde serão apresentados Heitor de Troia, Pompeu o Grande, Alexandre, Hercules e Judas Macabeu, interpretado por Holofernes, Nataniel Costardo e pelo Pajem de Armado.
No meio da apresentação, aparece Marcade, o mensageiro da França, e avisa a princesa que seu pai morreu. A princesa avisa que sua delegação retornará à França. O rei pede que ela fique. Berowne declara que os quatro estão apaixonados. A princesa diz ao rei para ir morarem um mosteiro isolado por um ano; se ele sentir um amor apaixonado por ela depois de tanto tempo em um ambiente austero, ela se casará com ele. Maria e Katherine pedem que eles esperem um ano em reclusão. Rosaline pede que Berowne passe um ano visitando os mudos e doentes, dedicando a sua inteligência a fazê-los sorrir, se quiser casar com ela. Todos concordam com as colocações de todas as mulheres envolvidas e no final Armado se casa com Jaqueneta. E Berowne conclui:
“Berowne: Cortejamos as damas, mas não temos o mesmo final feliz de uma antiga peça de teatro. O rapaz não fica com a garota. A civilidade dessas mulheres transformou a nossa diversão em uma comédia.” ( pág. 134)
“Trabalhos de um Amor Perdido”, de William Shakespeare, não é uma das peças mais famosa desse dramaturgo e poeta “GIGANTE” da literatura universal, mas merece um lugar de “HONRA” na sua estante.