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O hipnotista

Sempre que se fala sobre Suécia, pensa-se em qualidade de vida, num país sereno, pacífico e, para maioria, um país seguro. Considerado um país até “chato”, pois a impressão que dá para os de fora é que nada acontece por aquelas bandas. No entanto, não é isso que vemos sobre os relatos de agressões contra jovens, violência contra as mulheres, e o racismo. Isso sem falar na violência da direita nacionalista que tem feito muitas vítimas aos estrangeiros que lá habitam, nesse “quase” exemplo de país.

Em 1986, o primeiro ministro Olof Palme foi assassinado ao sair do cinema, sem seguranças e até hoje ninguém soube quem foi o assassino. Durante o seu governo, a Suécia gozou de uma forte economia e dos níveis de assistência social mais alto no mundo. Ficou ainda conhecido como forte opositor do Apartheid e da Guerra do Vietnam, o que lhe causou graves conflitos com Washington. E foi assassinado sem nenhuma explicação.

Na vizinha Noruega, recentemente, sob a aparência de um tipo comum e sem problemas, o norueguês Anders Behring Breivik passou cerca de dois terços da vida a amadurecer um projeto extremista que, segundo tudo leva a crer, transformou-o num dos assassinos mais sanguinários da história. Alto, louro, com 32 anos, ele eliminou mais de 93 pessoas, em uma sexta-feira - fato esse que ele admitiu ser cruel, mas "necessário", segundo seu advogado. Segundo sua própria confissão,teve uma infância comum, com um pai diplomata e a mãe enfermeira.

Citados os casos acima, a uma pequena apresentação do autor Lars Kepler, que é o pseudônimo de uma dupla de escritores de sucesso na Suécia: Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. Sim, Alexandra é filha de mãe portuguesa e a dupla simplesmente fez bonito em seu romance de estreia no Brasil.

O livro “O Hipnotista” tem um ritmo alucinante, sem tempos mortos e não sentimos as 478 páginas passarem. Quando li a “boneca”- para quem desconhece o termo - é quando lemos o livro antes de ser editado e mandado para as livrarias, eu simplesmente adorei seu ritmo e a sua trama macabra.
Neste romance acontece uma série de crimes bárbaros, revelando – o que já vem sendo comum: os podres de uma sociedade que, afinal, não é tão perfeita quanto aparenta. E por esse motivo, mencionei os casos acima, para contextualizar o romance.

“O Hipnotista” mostra através das investigações, um excelente quadro da Suécia contemporânea, aponta os graves problemas sociais, principalmente, no interior dos quadros familiares, retratando o (des)enquadramento de alguns tipos na sociedade, abordando faixas etárias que vão desde a infância aos velhos. Chama atenção a instabilidade emocional de grande parte dos personagens, muitas delas se revelando portadoras de distúrbios mentais bem profundos. O livro revela, acima de tudo, uma sociedade muito fria e distante de tudo e de todos. Uma solidão difícil de ser carregada e cheia de rancores sublimados.

 

Entrevista com os autores Alexandra Coelho Ahndoril e Alexander Ahndoril. Eles são Lars Kepler

Erik, impossibilitado por razões que descobriremos ao longo do romance, se nega a fazer o hipnotismo. Acusado de falta de ética, e com o casamento à beira do colapso, jurou publicamente nunca mais praticar a hipnose nos seus pacientes e há dez anos se mantém fiel à sua promessa. No entanto, pela força das circunstâncias quebra a promessa que fizera dez anos mais tarde (na atualidade) para tentar ajudar a desvendar um caso gravíssimo da tal família assassinada de forma atroz. Só há um sobrevivente, mas está inconsciente, com risco de vida, mas só através o hipnotismo será possível ter acesso às informações preciosas de quem será o assassino.

O regresso de Erik ao hipnotismo detona ainda outra e nova situação, com incidência direta em sua família, que atravessava um período difícil em termos de relacionamentos. O seu filho Benjamin foi raptado dentro de casa e torna-se necessário descobrir  se o sequestro está relacionado com o caso da família assassinada. Haverá uma ligação entre esses dois casos? Para salvar a vida de Benjamin, o hipnotista deverá enfrentar os fantasmas do seu passado e mergulhar em mentes sombrias e perversas que jamais poderia imaginar; o que tinha por difuso revela-se agora abominável, o que tinha de suspeito surge como demoníaco. Para Erik, o hipnotista, a contagem regressiva começou. Isto o obriga a “reabrir” na sua mente os casos que estudou no passado, aqueles casos de doentes mentais que correram mal e que o levaram a abandonar a pratica do hipnotismo. Em outras palavras, se auto-hipnotizar.

Estocolmo, urgente. Uma família é assassinada a sangue frio. O único sobrevivente da matança é Josef Ek, de apenas 15 anos Desesperado para encontrar o assassino, o detetive Joona Linna telefona para um hipnotizador aposentado para ajudá-lo a desvendar esse crime bárbaro. Ele convence o Dr. Erik Bark Maria a colocar o menino sob hipnose, na esperança de descobrir o assassino através de seus métodos, e assim revelar o que aconteceu em sua casa na noite passada.

Uma leitura compulsiva carregada de suspense. Um mistério caracterizado por estranhos e inesperados acontecimentos. O Hipnotista é um romance cativante, bem dosado entre a descrição dos fatos (por vezes quase com o pormenor de um relatório) e dos ambientes e a “alma” das personagens.

Para os que forem ler esse livro, alguns lembretes precisam ser feitos: as pessoas não perdem a consciência quando estão em transe. Portanto, nada de achar que ficaram hipnotizadas pela trama do livro, apesar da história ter um roteiro hipnótico. A sua concentração se localiza de uma maneira especial e a hipnose requer habilidades de concentração e imaginação por parte das pessoas. Segundo as experiências, as pessoas que são hipnotizadas com mais facilidade gozam de mais inteligência.

Para os hipnotizados, em geral, a percepção do tempo se altera para mais ou para menos. Trinta minutos parecem cinco, dez minutos podem parecer uma hora. O livro “O Hipnotista” requer nervos de aço e é um livro em que você vai levar pouco tempo para ler suas 477 páginas. O livro é ótimo. A única coisa que podemos adiantar e dizer sobre o fim desse romance é o seguinte: o assassino não foi o mordomo.

Boa hipnose a todos.


Data: 08 agosto 2016 (Atualizado: 08 de agosto de 2016) | Tags: Suspense


< Indignação Uma história de amor real e supertriste >
O hipnotista
autor: Lars Kepler
editora: Intrínseca
tradutor: Alexandre Martins
gênero: Suspense;

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