Monet
O livro “Monet or the triumph of impressionism” (Editora Taschen), organizado por Daniel Wildenstein, é um livro simplesmente maravilhoso. Considerado como uma das maiores autoridades impressionistas, Wildenstein foi um historiador de arte e membro da Académie dês Beaux-Arts (Paris), foi diretor das Galerias Wildenstein de Nova York, Londres e Tóquio. Tudo isso nos dá a certeza de que estamos diante de um livro de um dos maiores conhecedores de Monet.
O livro é ricamente ilustrado com 572 reproduções fotográficas e documentos complementares, mostrando a vida e o espírito de uma era.
O livro, além de ter uma biografia comentada, reconstitui em detalhes a vida do pintor.
Um livro que pode ser considerado definitivo sobre o autor.
Monet sempre pintou ao ar livre, sua técnica de pintar baseava-se na luz; para ser mais preciso, no reflexo da luz solar. Sua obra sempre se caracterizou pelo efeito dessa luz, mesmo nas sombras. Daí, as cores exuberantes. Suas preocupações passavam longe do Realismo.
A representação fiel da realidade não estava em seus propósitos. A lógica era: para que fazer quadros que copiem a realidade de maneira exata, se para isso já existe a fotografia? A luz e o movimento eram o tema de sua pintura, além do modo como a luz interage com os objetos criando uma nova matéria, inimaginável, ou seja, através dos olhos da imaginação, em outras palavras, da poesia.
O termo impressionismo foi definido de modo pejorativo. As telas, como não poderiam deixar de ser, foram pessimamente recebidas. O termo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Monet, “Impressão, nascer do sol”. Ao olhar uma obra impressionista de perto, vê-se apenas pinceladas separadas, que parecem manchas sem contorno. Vistas de longe, as pinceladas organizam-se para os nossos olhos criando formas e luminosidade. Daí, a piada de Seinfeld, que diz que impressionismo aparece quando alguém que sofre de miopia retira seus óculos. E a realidade fica meio fora de foco. Muito poucos artistas entenderam o que significava essa orientação estética. Principalmente artistas ligados à tradição e ao ensino acadêmico. Ao contrário da orientação dos acadêmicos (sempre eles!), a cor deveria estar visível. Para os impressionistas o aspecto final era algo que deveria ser inacabado, fragmentado, realizado ao ar livre e não apenas no estúdio.
Monet retratava determinadas cenas em diversas horas do dia, ou em diferentes estações do ano, para mostrar como um mesmo objeto pode se alterar significativamente sob a ação da luz e da atmosfera. Pintando sobre a tela branca, utilizando apenas as cores puras justapostas sem misturá-las, os impressionistas buscavam a luz nas suas infinitas vibrações, e com isso o aspecto efêmero da vida, fugaz momento da luz e da sensibilidade, uma ligação profunda entre o artista e o mundo despido de qualquer sociologia e motivações pretensamente mais ”profundas”. Os ideais impressionistas romperam, como já dissemos, com as tradições acadêmicas, abrindo portas para artistas como Jackson Pollock, que dizia que “a pintura tem vida própria”. Os impressionistas pintavam o que viam; eram fiéis a seus olhos e suas impressões.
Sobre Monet, podemos acrescentar que ele mudou-se para Giverny, na Normandia (França), onde plantou um jardim para que pudesse pintar. Não demorou muito para comprar o terreno dos fundos da casa e pedir uma autorização para desviar um braço do rio Ru, que passava por perto, para formar um pequeno lago. Nessa época, Monet descobriu sua segunda paixão: a jardinagem. Cultivou flores, plantas aquáticas e providenciou a construção de uma ponte japonesa, que o inspirou na série de nenúfares.
Uma “série impressionista” é uma série de quadros, em que os objetos que se repetem não importam muito: a impressão de cada momento causada ao pintor, seja pela luz do sol, pelas sombras, reflexos ou vento, é o principal elemento transportado para as telas. Ele dizia que "o tema é uma coisa secundária; o que eu quero reproduzir é o que existe entre ele e eu". Por exemplo, a série em que Monet pintou a fachada da catedral de Rouen contém 18 telas retratando a igreja do mesmo ângulo.
Para finalizar, é importante frisar que o impressionismo não é um estilo “intelectual”. Traz consigo uma nova representação da natureza priorizando a representação fugaz.
Nas impressões subjetivas, sua composição passa a ter vários elementos interligados a um motivo, que não necessita de um desenvolvimento.
O impressionismo tem um sentido em si, um exemplo disso são as representações de momentos da vida cotidiana, como passeios, parques, paisagens naturais.
Além da pintura, o impressionismo alcançou a música através de Debussy. Se os pintores impressionistas abandonaram o “tema central” a ser desenvolvido por eventos fortuitos do cotidiano, Debussy também abandonou a construção temática sinfônica em sua orquestração. Suas composições são leves, cheias de variações.
Assim, na pintura impressionista o desenho geométrico é abandonado pelo traço subliminal, ou seja, no limiar da consciência não percebida. Mas fiquemos por aqui.
Posso dizer que “Monet or the triumph of impressionism” (Editora Taschen), organizado por Daniel Wildenstein, merece um lugar de ouro na sua estante.