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Hieronymus Bosch

No livro de Gustav R. Hocke, “Maneirismo: o mundo como labirinto”, o homem maneirista foi descrito como aquele “que tem medo do espontâneo e que ama a escuridão, orgulha-se pelo fato de descobrir o sensível através de metáforas abstrusas e se esforça por captar o fantástico (meraviglia), graças a uma linguagem extremamente rebuscada”. Percebe-se que a imaginação, a fantasia e o lúdico eram aspectos que faziam parte dos pensamentos dos indivíduos da época. O maneirismo pode ser descrito como o sinal característico de uma determinada forma de expressão. O homem se sentia sempre ligado a uma natureza insondável. Sua vida era uma migração ininterrupta pelos prodígios do mundo.

O maneirismo – em vez do barroco – designa um conjunto de tendências artísticas e literárias que se opõem ao classicismo, sejam elas contemporâneas ou posteriores. O maneirismo aparece no lapso de tempo entre o fim do renascimento e o barroco tardio. O maneirismo procura fugir e libertar-se dos critérios do classicismo. O mundo está repleto de desordem e de angústia, razão pela qual não mais se deixa retratar pelas regras do classicismo. Com isso, tentou-se captar o espantoso, o mirabolante, que não se restringe a nenhum tempo e a nenhum espaço. Uma nova cosmovisão, que se opõe a harmonia do logos. Hieronymus Bosch (foi o primeiro pintor considerado fantástico na arte maneirista), assim como outros artistas são considerados “fantásticos” que vieram depois como,  Bruegel, Giusepe Arcimboldo, Giovanni Piranessi, Francisco Goya, Willam Blake, Max Kloinger , Salvador Dali, entre outrosA fantasia tem sido uma parte integrante da arte desde os seus primórdios, mas foi particularmente importante para o maneirismo, a arte romântica, o simbolismo e o surrealismo. A arte fantástica celebra a fantasia, a imaginação, o mundo dos sonhos, o grotesco e outras visões. A fronteira entre o sonho e a vida simplesmente desaparece.

O elemento paranoico do maneirismo de todos os tempos procura no monstro e no monstruoso uma “encarnação” demasiadamente grande da deformação. Para alguns maneiristas, tudo que se opõe ao “bom gosto” parece ser moderno e legítimo, visto que o “bom gosto” é algo burguês e classicista. O monstro é encarado como a antítese do bom gosto.  Os monstros maneiristas são produtos de uma loucura alucinante e absurda. O monstro é também o símbolo do cérebro disforme de diversos sonhadores maneiristas. Em Hieronymus Bosch, a essência do grotesco se manifesta através da representação do sobrenatural e do demoníaco. Peguemos um exemplo da pintura “As Tentações de Santo Antão”, onde o cenário remete-nos para o mundo fantástico, do mágico e do macabro. Através da escrita pictural de múltiplos signos, (executada entre os anos de 1495-1500), esta obra traduz o medo e a inquietação que tocam a alma e a natureza humana. Santo Antão surge em três sequências da sua experiência eremítica: à esquerda é agredido física e diretamente pelos demônios que o elevam no ar e precipitam no solo; à direita, enfrenta a tentação da carne e o pecado da gula; no meio do painel central, é confrontado pelo abandono da fé.

As pinturas de Bosch estão cheias de pássaros gigantes, edifícios com formato de rins e fígados com serras presas através deles, orelhas decepadas, bolhas de casa, girafa, Jesus. Sua pintura está dragada por monstros. Ele inventa submundos; ele inventa utopias. Hieronymus Bosch é prisioneiro de suas fantasias. Sua pintura é um autorretrato de um homem torturado por fantasmas hediondos. Nas manifestações das artes visuais do século XX, o Surrealismo é imediatamente associado ao grotesco. Os rinocerontes de Salvador Dali, os monstros de Max Ernest e de muitos outros tendem ao desespero de uma época. “O sono da razão engendrando monstros.” Em ambos casos, tanto no maneirismo como no surrealismo, observa-se a valorização do fracasso, da loucura do “subjetivo” do eu consciente e sofredor. Por um lado, surge Deus in Terris e, por outro lado, surge o homem impotente. Tudo isso exerce uma influência na linguagem artística de todos aqueles que não se contentam com o mito artificial da harmonia clássica. As pinturas de Hieronymus Bosch em livro é um primeiro passo para entendermos todo esse processo. Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.


Data: 08 agosto 2016 (Atualizado: 08 de agosto de 2016) | Tags: Arte


< A definição do amor Pieter Bruegel >
Hieronymus Bosch
autor: Larry Silver
editora: Abbeville Press Publishers
tradutor: em inglês
gênero: Arte;

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