Guia Completo da Bhagavad-Gita - com tradução literal
Meu amigo Daniel Cruz me deu esse livro em mãos e disse: “Você vai gostar”. Eu demorei para lê-lo, a pilha de livros é grande, até que peguei, li e realmente gostei. Trago para os “Bons Livros para Ler” a obra “Guia Completo da Bhagavad-Gita – com tradução literal”, de H. D. Goswami, da editora Relighare.
“Guia Completo da Bhagavad-Gita” nos fala sobre um conhecimento milenar, uma sabedoria antiga e vinda da Índia, um país envolto por forte religiosidade e berço de infinitas tradições. Em sua tradução literal, Bhagavad-Gita significa “A canção do Senhor” e faz parte de uma obra sagrada do Hinduísmo, o Mahã-Bharata, uma história épica escrita em Sânscrito. E como tudo está interligado, o sânscrito, além de estar entre os 22 idiomas oficiais da Índia, também é uma linguagem litúrgica utilizada pelo budismo e hinduísmo, na forma de mantras e também presente na yoga, que hoje faz parte da rotina de vida e saúde de muita gente.. Dadas essas primeiras informações, vamos nos aprofundar um pouco mais na proposta dessa obra.
Como podemos observar através de gerações, o mundo está cada vez mais conectado. Muitos condenam a globalização e creditam a ela o efeito nocivo que pasteuriza diferentes culturas, corrompendo e tornando todas iguais, um mundo para embalar e servir. Porém, se olharmos cautelosamente, nunca estivemos globalmente tão cientes e interligados a diferentes realidades, culturas, religiões e tradições quanto hoje.
Ocidente e Oriente se confrontam e se complementam positivamente, e, muitas vezes, se fundem e promovem uma troca de costumes extremamente rica e provocam discussões minimamente interessantes.
Entre burkas, posturas de yogas, incensos, mantras, meditações, lições ayurvédicas, templos, entidades cultuadas, livros e textos sagrados, observamos uma religiosidade latente e absorvida pelo Ocidente num misto de curiosidade e identificação. Porém, para ler uma obra como esta é necessário que o livro, qualquer livro em sua essência, seja visto, antes de tudo, como um convite, uma oportunidade para conhecer linhas de pensamentos e vivências diferentes da nossa.
É necessário que estejamos disponíveis para receber aquilo que nos é desconhecido, sem ideias preconcebidas ou o clássico “já sei o que é isso”.
Podemos ter uma noção, já ter ouvido falar, mas devemos nos dar a oportunidade de saber mais. E é para isso que os bons livros existem.
Voltando à obra e cientes de que o Bhagavad-Gita é parte de uma história épica e mais ampla, este “episódio” – vamos adotar essa terminologia para facilitar nossa compreensão – se passa numa batalha célebre onde Krishna, Pessoa Suprema, o próprio Deus, mantém diálogos com o guerreiro Arjuna, que está diante de uma luta difícil, pois terá de enfrentar e vencer pessoas com quem compartilha laços de sangue, mas que usurparam o poder e impuseram de forma violenta suas leis. Neste enfrentamento, Krishna reaviva e ensina ao guerreiro Arjuna os preceitos e ensinamentos corretos, instaurando através desta batalha a justiça e o equilíbrio no mundo.
Através da narrativa desta batalha épica, o “ Guia Completo da Bhagavad-Gita” conduz o leitor, passo a passo, a desvendar e entender os ensinamentos e a filosofia milenar guardada em ensinamentos que revelados da forma correta nos fazem apreciar essa tradição religiosa e refletir sobre todos os valores que por ela são reverenciados num mundo, hoje, tão às avessas.
Independentemente da religião que professo em minha vida pessoal, fiquei extremamente grato com a leitura desse livro. E o mantra ‘Hare Krishna” que talvez, assim como eu, você possa ter ouvido e quem sabe entoado sem saber exatamente o que reverenciava, ganhou uma outra conotação, beleza e um significado até o momento desconhecidos por ignorar a filosofia profunda e de extrema beleza que está por trás dessas palavras milenares e leves que rementem essencialmente ao respeito à vida, a todos os seres e à natureza de todas as coisas.
Em tempos de tanta violência, ler esta obra foi revigorante por seu conteúdo acadêmico, histórico, filosófico e espiritual.
No Brasil e no mundo, o chamado “Movimento Hare Krishna” ganhou força, adeptos e espaço em diferentes meios durante a década de 60 e 70 através de seu representante máximo, Sri Prabhupada, que divulgou a filosofia pelo Ocidente. Até hoje, o Movimento continua a crescer e a divulgar a filosofia e a espiritualidade de seus preceitos em Ashrams (comunidades) espalhados pelo mundo.
Nesses tempos confusos, uma leitura que nos fale sobre valores elevados merece um lugar na sua estante.
Fica a sugestão.