David Copperfield
Resumo de David
“David Copperfield”, do escritor Charles Dickens, é um desses livros enormes e cheguei a pensar que não teria fôlego para seguir em frente por motivos pessoais. O livro tem muitas páginas, 1242 páginas para ser exato. Mas posso garantir a todos vocês que é um livro em que você não se perde e muito menos se cansa. Charles Dickens conduz sua história de maneira magistral. Essa edição de “David Copperfield” da Cosac&Naif traze Jerome H.Buckley, Virgínia Woolf e Sandra Guardini Vasconcelos (professora titular de literatura inglesa e comparada na USP) comentando o livro. O que não deixa de ser um luxo oferecido por essa excelente editora.
O romance é o mais autobiográfico do autor. Dickens usa incidentes de sua vida para criar um enredo, uma concentração de mundos morais e sociais numa tela ampla para contar sua história a partir do seu personagem-título, olhando para trás, sobre os altos e baixos da sua longa vida. O romance é uma crítica social de Dickens a uma sociedade vitoriana que tinha muito poucas salvaguardas contra os maus-tratos aos pobres e, em particular, nos seus centros industriais.
A razão para este cenário é o fato de Dickens ter nascido na cidade de Portsmouth, Inglaterra, em 1812. Quando criança, ele mudou-se para Chathan, onde viveu uma infância agradável. Muitas cenas de sua infância estão entrelaçadas ao longo desse romance em particular. As habilidades de escrita de Dickens são óbvias. Um livro que pode ser lido por todas as pessoas, um romance fácil de entender, em que a escrita se move rapidamente. Rico em metáforas. Um clássico que, segundo alguns de seus grandes leitores, pode ser considerado o seu melhor trabalho.
Vamos ao romance? Em uma pequena cidade da Inglaterra, David nasceu em uma sexta feira à meia-noite, que é considerado um sinal de má sorte. O pai de David morreu antes de conhecer seu filho. David encontra apoio em sua mãe e em sua governanta, Peggoty. A mãe de David, no entanto, sente a necessidade de ter um marido após ficar viúva. e, em seguida, se casa com Mr. Murdstone, um homem severo e insensível.Eles também acolhem em sua casa a irmã de Mr. Murdstone. Na convivência diária, os Murdstones tentam afastar o garoto. Um colégio interno seria a solução. Até que o inevitável acontece. Numa briga entre o Sr. Murdstone e David, o menino acaba mordendo a mão do seu “padrasto” após levar uma surra dele. E seu destino acaba sendo um colégio interno.
Finalmente, ao se mudar para o colégio interno em Salem House, que é dirigido por um homem chamado Mr. Creakl, David conhece novos amigos, entre eles: James Steerforth, um colega que vai se tornar seu maior amigo e companheiro, e Tommy Traddles. Dickens exibe um contraste entre esses dois personagens. A única coisa em comum que compartilham é a sua estreita amizade com David Coperfield. Charles Dickens mostra essas diferenças através de seus olhares, personalidades e os resultados finais de suas vidas.
A mãe de David morre juntamente com sua filha recém-nascida, e David volta para casa, onde os Murdstones o colocam para engarrafar vinhos. Trabalhando num cenário absolutamente inóspito, acaba conhecendo o Sr. Micawber, um homem com muitos problemas financeiros. Quando Micawber deixa Londres para escapar dos seus credores, David Coperfield resolve procurar a irmã de seu pai, a senhorita Betsey Trtwood. Ele caminha muitos quilômetros para chegar ao seu objetivo.
A senhorita Betsey envia David a uma escola dirigida por um homem chamado Dr. Strong. David vai morar com o Sr. Wickfield e sua filha, Agnes, enquanto ele frequenta a escola. Agnes e David tornam-se melhores amigos. Entre os pensionistas de Wickfield, encontra-se um sujeito chamado Uriah Heep, um jovem que se parece com uma cobra e que tem o costume de se envolver em assuntos que não são da sua conta. Após a graduação David procura Peggotty, que agora está casada. David reflete qual a profissão que ele deveria seguir.
Quando ele retorna, a senhora Betsey convence David a seguir uma carreira de advogado quando é apresentado à firma londrina Spenllow& Jorkins.
Certa vez, quando convidado a visitar a casa de um de seus patrões, Mr. Spenlow, acaba conhecendo Dora e rapidamente se apaixona por ela. Mas se tudo caminha para um final feliz, alguns atropelos graves acontecem. Senhorita Betsey visita Londres para informar a David que sua segurança financeira foi arruinada porque o Sr. Wickfield juntou-se à parceria com Uriah Heep (o crápula). David, que está cada vez mais apaixonado por Dora, promete trabalhar duro para fazer sua vida juntos o mais rápido possível. No entanto, o Sr. Spenlow (pai de Dora) proíbe o casamento. Mr. Spenlow sofre um acidente e Dora acaba morando com suas tias. Cartas de amor e visitas acabam convencendo as tias de Dora de que David seria um bom marido.
David era vidrado em Dora, perdoava sua incompetência como dona de casa em suas tarefas, mas fico por aqui. A história é simplesmente sensacional, e deixará saudades no leitor. E mais ainda, é um romance que nos faz ficar refletindo sobre ele.
Ao longo do livro podemos ver que Dickens concentra-se em órfãos, mulheres e deficientes mentais e a exploração que é a regra na sociedade industrial de sua época. Dickens se baseia em sua própria experiência como criança para descrever a desumanidade do trabalho infantil e da prisão dos devedores. Seus personagens sofrem a punição nas mãos de forças maiores do que eles mesmos, mesmo sendo pessoas boas.
Como o guardião de Dickens, o padrasto de David, Sr. Murdstone, o explorou numa fábrica de engarrafamento de vinho quando ele era criança. Mas, a partir de um determinado momento, David desafia os poderosos diretamente. Em vez de peitar os fortes, alia-se a personagens igualmente fortes desafiando a autoridade de seu padrasto. Ele foge para a casa de sua tia Betsey, cuja estabilidade lhe dá forças para enfrentar o Sr. Murdstone.
Outro ponto explorado no livro é a relação entre marido e esposa, que alcançam a igualdade no relacionamento. Dickens nos dá como exemplo o casamento dos Strongs para mostrar que os casamentos podem ser felizes sem que nenhum dos cônjuges seja subjugado ao outro. Por outro lado, Dickens didaticamente nos mostra as tentativas do Sr. Mudstone de “melhorar o caráter” da mãe de David Copperfield, esmagando o seu espírito, o que a leva à morte. Para isso, a deixa mansa e sem voz por causa do seu temperamento abrasivo e imperioso e do seu caráter dominador.
Ao longo do romance, Dickens critica a visão da sociedade apoiada na riqueza e nas classes sociais como medidas de valor de uma pessoa. Dickens usa Steerforth, que é rico, poderoso e nobre, para mostrar que esses traços são mais propensos a corromper do que a melhorar o caráter de uma pessoa. Nessa época havia certa tendência em ver a pobreza como um sintoma de degeneração moral, e as pessoas pobres, e deficientes físicos como merecedoras desse sofrimento. Dickens, por outro lado, simpatiza com os pobres e implica com o fato de que suas aflições resultam da injustiça da sociedade e não de suas próprias falhas.
Como observa Sandra Guardini Vasconcelos, Charles Dickens apesar de ter sido contemporâneo de Karl Marx e Engels, sempre rejeitou a revolução das massas; ao contrário, ele temia a revolução da “plebe” e se declarava “um reformador de corpo e alma”.
Dickens não pinta um quadro moral preto e branco, mas mostra que a riqueza e a classe social são indicadores não confiáveis de caráter e moralidade. Dickens nos convida a julgar seus personagens com base em suas ações e qualidades individuais, e não na mão que o mundo cruel os trata.
“David Copperfield”, de Charles Dickens, como já disse, é um livraço. Não existe possibilidade de você, leitor, não se apaixonar por esse livro. Uma obra que merece um lugar de destaque na sua estante.