André Kertész
André Kertész é considerado um mito da fotografia, mas desconhecido dos brasileiros. Salvo aqueles que têm uma ligação direta com esta nobre arte. A mostra Jeu de Paume, sob a curadoria dos historiadores Michel Frizot e Annie-Laure Wanaverbecq que foi realizada em setembro de 2010, atraiu mais de cem mil visitantes que tiveram o privilégio de percorrer mais de 300 fotografias vintage da primeira metade do século XX.
Antes de falarmos sobre esse fotógrafo genial, vamos para os famosos dados biográficos do autor. Nasceu em 2 de julho de 1894 em Budapeste, teve uma origem social de classe média. Dos três filhos de Lipót Kertész (pai) e de Ernesztin Hoffmann foi o filho do meio.
Os primeiros encontros de Kertész com a fotografia foram com as revistas. Mas também foi influenciado pela pintura de Lajos Tihanyi e Gyula Zilzer, assim como pela poesia. No entanto, por forças das circunstâncias trabalhou na bolsa de valores. Ganhou muito dinheiro. E comprou sua primeira câmera (uma câmera de caixa ICA), em 1912. Sua família via nessa atividade um perigo profissional. Seu tempo livre era voltado para fotografar camponeses locais, paisagens húngaras. Seu estilo foi ganhando uma certa notoriedade.
Em 1914, com a idade de 20 anos, foi enviado para linha de frente na Primeira Guerra Mundial. Servia o exército austro-húngaro. E tirou muitas fotos principalmente sobre a vida nas trincheiras com uma câmera leve, a Goerz Tenax. Mas com as convulsões sociais que o país viveu em 1919, todas as fotos foram destruídas. Foi ferido em guerra o que levou a paralisia de seu braço direito.
O fim da guerra fez com que ele voltasse às atividades da bolsa de valores, trabalho que ele definitivamente não gostava. Mas só que dessa vez ele conheceu sua futura esposa Erzsebet Salomon.
Contra a vontade de sua mãe, decidiu estudar fotografia na França. E foi assim que ele perseguiu a fotografia pelo resto de sua vida. Kertész chega a Paris em 1925, instala-se em Montparnasse e frequenta o meio literário e artístico. Em 1933, produz a famosa série de distorções em que os corpos nus de duas modelos russas são refletidos em um espelho distorcido.
Numa época em que não existiam recursos digitais para manipular imagens, André Kertész foi visionário. Corpos distorcidos com membros agigantados que parecem de material flexível, que se transformam em uma escultura humana. Sensações visuais impossíveis de não serem notadas. Kertész transformava o banal em arte. Um grande artista por trás das lentes.Corpos distorcidos, membros decepados e agigantados, faziam parte da obra surrealista do fotógrafo.
A genialidade da diversificada obra de Kertész é comparada a dos grandes nomes da fotografia como Robert Capa, Brassai e Man Ray, com a diferença que ele não manipulava seus negativos em quarto escuro. Seus cortes e efeitos visuais eram feitos no ato, no momento de seus registros.
Kertész nunca tinha sido muito interessado em descrições analíticas, uma vez que, no começo ele procurava a visão elíptica, o detalhe inesperado, o momento efêmero, não épico, mas sua busca foi pela verdade lírica. Com o aparecimento da primeira câmera Leica em 1925 começou a sua revolução. Algo que havia sido projetado para seus próprios olhos.
Além dessa visão original, existe na obra de Kertész um ponto crucial. A sensação de doçura da vida, um compromisso inabalável com a beleza do mundo e a preciosidade da visão. Um livro daqueles que têm bom gosto e o click na cabeça. Um livro que merece um lugar na mesa da sala de jantar.
Deixamos um gostinho da obra de Kertész pra você. São quatro imagens desse fotógrafo fantástico. Confira.