A vida financeira dos poetas
Sabe quando você aposta em algo em sua vida, como por exemplo, comprar um circo, investir na lona, nas cadeiras do público, e contratar a principal atração, um anão, a peso de ouro, investir tudo neste anão e depois de tudo sacramentado, o anão cresce. Pois é, o livro “A vida financeira dos poetas” de Jess Walter é mais ou menos assim. O autor carrega em seu currículo diversos prêmios importantes, como o Edgard Alan Poe e tantos outros. Este prêmio é dado às melhores histórias de mistério. No entanto, “A vida financeira dos poetas” é exatamente o contrário. O autor se lança numa experiência feliz ao adicionar um elemento novo a sua imaginação: o humor. E vamos combinar, é engraçado. Não é aquela graça que faz você chorar de tanto rir, mas as situações são no mínimo inusitadas, e por serem inusitadas, o riso acontece fácil.
Você apostaria suas fichas para criar um site dedicado ao jornalismo financeiro na forma de versos, ou seja, poemas para questões monetárias? A ideia é singular. Mas será que funciona? Confesso que tenho certa queda por romances malucos como esse, no qual o impossível bate a porta fazendo o protagonista tomar uma série de decisões equivocadas dando aquela vontade de você agarrar o braço dele e dizer: Ei! Para com isso cara! Mas não podemos deixar de dar credibilidade ao autor do livro que faz uma comédia de erros logo após a crise de 2008 nos EUA.
Matt Prior é um repórter de negócios que deixou o trabalho para iniciar um website onde ele tenta fazer uma ponte entre finanças e poesia. Sua vida encontra-se em um inferno. Debatendo-se e cheio de dívidas, ele está prestes a perder sua casa, sua mulher está flertando com seu antigo namorado de escola encontrado nas redes sociais, e seu pai afundado na areia movediça da demência. E sua senilidade o faz esquecer que ele perdeu todo o seu dinheiro com uma stripper cujo nome ele desconhece e que levou tudo que ele possuía.
Certa vez Matt Prior foi comprar leite para o cereal das crianças quando foi interceptado por jovens drogados, totalmente sem noção e levado a uma festa onde a marijuana rolava solta. Como a crise financeira em que ele vivia é o pano de fundo dessa história imagine as soluções encontradas por ele para manter sua casa, seu casamento e seus dois filhos? Sua mulher ainda não está sabendo sobre a perda da casa; os bancos batem a sua porta e ele não encontra meios para renegociar sua dívida, e você leitor me perguntará: qual a graça disso tudo? Onde está o humor dessa história? Na escrita do escritor. Apesar da situação de Matt Prior ser de insolvência, o humor negro alivia as tensões. Portanto, adiante que as questões/situações nessa história devem ser relativizadas em função do bom humor do escritor.
Matt Prior é filho da recessão que se abateu nos Estados Unidos. Um cara que só se mete em enrascadas, mas posso afirmar que vale muito a pena, pois é diversão segura. Matt é trapalhão, se mete no tráfico de drogas de uma forma hilária, um cara muito pouco autocentrado, ele é muito fora da real de sua própria vida. Eu recomendo esse livro porque ele é instigante, é factível. E nada melhor que a citação de Saul Bellow quando diz: “os poetas precisam sonhar, e sonhar na América não é sopa.” Um livro que definitivamente merece um lugar na sua estante.