O Longo Adeus
Aqueles que não conhecem Raymond Chandler, autor de “O Longo Adeus”, vão entrar em contato com um dos melhores romancistas do gênero policial moderno que eu já li. Você vai adorar esse livro. Mas antes de falar sobre o livro em questão, preciso agradecer um amigo leitor que me indicou essa obra-prima, Mateus Pinheiro, que foi muito enfático em dizer: “Leia! Você vai adorar”. Agora digo a vocês, frequentadores deste espaço: “Leiam! Vocês vão adorar”. O que chama a atenção em Raymond Chandler é o estilo da escrita, os diálogos rascantes e, claro, não podemos deixar de mencionar o personagem recorrente de todos os seus livros: Phillip Marlowe, o grande detetive. Para que vocês tenham uma ideia, Phillip Marlowe é um detetive particular, mas seu comportamento é de um homem consciente, um cavaleiro em meio à decadência da cidade moderna, um homem que em sua prática tenta corrigir alguns erros da sociedade e da própria polícia. Ele segue seu código de ética e moral. Ele é capaz de resistir às más influências. Ele nunca sacrifica seu autorrespeito por dinheiro, muito menos as pessoas de sua vida. Mas não esperem que o alter ego de Chandler, Philip Marlowe, se comporte como um cavalheiro neste romance. Longe disso. Em “O Longo Adeus”, Chandler faz sua criação, Philip Marlowe, navegar nas tempestades das famílias abastadas de Los Angeles. E é nesse mar cheio de correntes que o detetive viverá uma aventura pessoal. Ele entra no mundo dos milionários escutando seus problemas pessoais, e os seus comentários são ouvidos. E ele embolsa o seu pagamento. Um “detetive consultivo”, termo criado por Sherlock Holmes. “O Longo Adeus” foi escrito quando sua esposa estava morrendo de uma doença prolongada, um período doloroso de sua vida. O romance, de certa forma, é uma reflexão sobre sua própria vida, uma tentativa de amarrar todos esses períodos conflitantes de sua vida. Vamos à história? O romance começa em um clube chamado “The Dancers”. Phillip Marlowe (o detetive em questão) encontra um bêbado chamado Terry Lennox, um homem com profundas cicatrizes no rosto, consequência de ferimentos que ele sofreu na Segunda Guerra, para proteger outros soldados de sua unidade em um lançamento de um morteiro. Posteriormente ele foi capturado e torturado pelos nazistas. Eles acabam ficando amigos. Essa amizade se solidifica justamente porque Marlowe enxerga em Terry Lennox um homem bom apesar das inúmeras roubadas em que se mete. Lennox foi atraído pela vida fácil da riqueza que Sylvia Potter, filha de um magnata com muito dinheiro e poder, lhe proporcionava. Quando Marlowe questiona Lennox sobre sua escolha de casar-se novamente com Sylvia após a separação no “The Dancers” sua alegação é que queria ser rico, o que não quer dizer ser feliz. Até que um dia Lennox bate à porta de Philipp Marlowe desesperado, trazendo com ele uma grande quantidade de problemas e precisando de uma carona para o aeroporto de Tijuana. Marlowe concorda em levá-lo, desde que Lennox diga os detalhes envolvidos nesse seu desespero. Ele revela que está sendo acusado de assassinato. E o principal suspeito era Terry Lennox, o próprio. Phillip Marlowe concorda em levar, mas no seu retorno a Los Angeles, acaba descobrindo que a esposa de Lennox foi encontrada morta em sua casa de hóspedes e que ela morreu antes de Lennox fugir. Marlowe é preso por ajudar o assassino a fugir. Mas após três dias de prisão e antagonizar seus investigadores, que querem que ele confesse que ajudou Lennox a fugir, Marlowe é liberado sob a alegação que Lennox cometera suicídio quando cercado pela polícia mexicana em Otatoclán (cidade mexicana) com uma confissão completa escrita a seu lado. Quando Marlowe chega em sua casa, encontra uma carta de Lennox, provavelmente a última antes de sua morte, na qual ele relata suas dificuldades e inclui uma nota de 5.000 dólares, que contém o retrato estampado do quarto presidente dos Estados Unidos da América, James Madison (1809-1817). O tempo passa até que Phillip Marlowe recebe um telefonema de um editor de Nova York, chamado Howard Spencer, que lhe pede para investigar um caso. Um dos grandes escritores no sentido do sucesso editorial de suas obras, Roger Wade, tem um problema com a bebida e encontra-se desaparecido há três dias. Inicialmente Marlowe recusa o trabalho, até que entra em cena a esposa de Wade, Eileen, uma mulher deslumbrantemente linda, capaz de enfeitiçar qualquer homem, e ela pede ajuda a Marlowe, que acaba aceitando. A busca por Wade (o escritor milionário) passa por várias pistas, até que Marlowe o encontra em uma clínica clandestina de desintoxicação improvisada em um rancho isolado que em breve será abandonado. Claro que nada será fácil. No entanto, ao achar o escritor milionário, os Wades pedem que Marlowe permaneça em sua casa e exerça o papel de psicólogo até que o Sr. Wade escreva o romance pedido por sua editora. O diagnóstico de Marlowe é que o Sr Wade sofria de autopiedade. Mas existe algo que não se encaixa na narrativa da família Wade, e o que será? Qual o segredo existente no estado de depressão do Sr Wade? E sua linda mulher Eileen, onde entra nesse enredo? Qual o segredo que ela guarda? Qual a relação que existe entre os Wades, a morte de Terry Lennox e Sylvia, sua mulher? A pista que darei é que cada personagem revela ou sugere algo sobre o outro. A única dica que eu dou a todos vocês, frequentadores deste espaço, é que a narrativa começa indo para várias direções. Diferentes histórias que terão suas pontas amarradas e que amplia o significado dos acontecimentos. A tradução de Bráulio Tavares é primorosa, assim como seu prefácio que nos ajudam a entender a vida de Raymond Chandler. Querem saber mais? Então leiam “O Longo Adeus” de Raymond Chandler que faz o seu alter ego o detetive Philip Marlowe se envolver em aventuras perigosas e crimes violentos. A tradução de Braulio Tavares é primorosa, assim como seu prefácio, que nos ajudam a entender o processo de escrita de Raymond Chandler. “O Longo Adeus”, de Raymond Chandler, merece um lugar de destaque na sua estante.