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A Odisseia de Jorge Amado

Octávio Paz, em seu livro “O Arco e a Lira”, diz que um soneto não é um poema, mas sim uma forma literária, exceto quando esse mecanismo retórico – estrofes, metros e rimas – for tocado pela poesia. Cada poema é um objeto único, criado por uma “técnica” que morre no instante da criação. Essa técnica não é transmissível, pois não é uma receita, mas fruto de investigação do seu criador, tornando-se assim uma obra única. E o escritor Piligra conseguiu fazer de “A Odisseia de Jorge Amado” uma obra única e bela.

 

“A Odisseia de Jorge Amado” nos mostra em cem sonetos (segundo o artista gráfico George Pellegrino, que escreve a orelha do livro, seus sonetos trazem também uma dicção de cordel) a biografia de Jorge Amado através de seus romances, de sua vida e de suas reflexões, proporcionando uma compreensão sobre esse escritor, que inventou o Brasil moderno sem rodeios e sem poses. Um escritor que via a literatura como aventura, e não como exercício de nobreza intelectual. Afinal, como Jorge Amado disse em outras ocasiões, “os escritores podiam ser tudo, menos literatos. Literato é um homem letrado e que gosta de exibir erudição”. Muito oposto a isso, Jorge Amado apenas gostava de escrever. Sua vida foi uma odisseia e seus romances, no início de sua longa carreira, mostravam um engajamento político de matriz comunista.

 

“Jorge sonhou ganhar do mundo o seu abraço, Deixar a marca de escritor forte e valente, Pensou nos riscos de ofender a rica gente; Os seus romances ganham forma passo a passo Narrando o drama do homem fraco ou de um tenente Da vida espúria de quem vive no bagaço E a vil soberba do mais rico, no terraço, Rindo da vida do infeliz, pobre e carente... Ele encontrou nessas memórias a riqueza Desde criança nas fazendas de cacau, Juntou pedaços da saudade e da tristeza, Olhando a vida acontecer no carnaval... Foi nesse sonho de realística beleza Que ele acordou para um Brasil tão desigual!" (pg 30)

 

Jorge Amado ao longo de sua vida vai aos poucos transformando a sua escrita e sua forma de contar histórias, adicionando um lirismo cada vez mais engajado.

 

“Jorge se lança feito flecha pelo mundo, Narrando as tramas produzidas na Bahia, As personagens guardam força, fé e magia, Pedras que tocam no Mar Morto mais profundo... Desse cenário pobre, lírico e fecundo, Pleno de vida, sofrimento, fantasia, Jorge retira com perfeita maestria, O brilho eterno do singelo vagabundo...” ( pg 56)  

 

Em 24 de fevereiro de 1956, em sessão secreta no 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o primeiro-secretário Nikita Khruschov pronunciou um discurso que causaria profundo abalo na política soviética e no movimento comunista internacional. Durante sete horas, leu um relatório minucioso sobre os “expurgos stalinistas”. Jorge Amado se desencanta com a política e sai do partido comunista brasileiro. Sua literatura ganha um tom mais sensualista, focado no “pitoresco”, no “apimentado”.

 

“O tempo passa, louco pássaro selvagem, Na rapidez de uma maré do fim de agosto, Nem Jorge enxerga no deserto uma miragem Apenas vê na solidão seu próprio rosto... Precisa agora retomar a velha imagem, Como escritor, volta outra vez àquele posto, Decide então, numa atitude de coragem, Pagar com sangue o que se cobra pelo imposto... Volta à Bahia numa rápida visita, Sente que a vida nessa terra é singular, A inspiração de forma estranha logo incita: “Vê Gabriela sorridente lhe acenar...” (pg 101)

 

Piligra compartilha seus cem sonetos com o grande artista gráfico George Pellegrino e com as belíssimas ilustrações de Jane Hilda Badaró, e o resultado é lindo e também poético.

 

“A Odisseia de Jorge Amado” mostra a importância do escritor cujas histórias reinventaram o Brasil. Com suas cores, mestiçagens e o sincretismo que sempre nortearam suas narrativas. Tudo isso através da “poesia que é tempo, ritmo perpetuamente criador”.

 

Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.


Data: 08 agosto 2016 (Atualizado: 08 de agosto de 2016) | Tags: Poesia


< O vento que arrasa País do carnaval >
A Odisseia de Jorge Amado
autor: Professor Piligra
editora: Editora UESC
gênero: Poesia;

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