A Fogueira das Vaidades
O livro “A Fogueira das vaidades”, de Tom Wolfe, foi um enorme sucesso na década de 80. O livro é extremamente atual apesar dos quase 30 anos desde que foi lançado. O livro traz um prefácio de ninguém mais ninguém menos que Paulo Francis. Li esse livro duas vezes. A primeira vez que li estava no aeroporto de Cuiabá, aguardando meu voo, que estava atrasado. Esse livro encontrava-se na mala. Peguei-o de lá e comecei a ler página por página. E eu não conseguia mais parar de ler. Sim, esse livro quando se começa é difícil parar. Li de novo há pouco tempo e pude constatar que o livro é formidável. Não foi à toa que Paulo Francis diz no prefácio: "Ele (‘A Fogueira das Vaidades’) mudou o rumo do romance americano". Concordo com o mestre cem por cento.
Antes de entrar na história, devo dizer que esse romance foi filmado e o filme não obteve o mesmo sucesso que o livro. Longe disso. Foi muito criticado, inclusive por um dos atores do filme, Tom Hanks.
A história de “A Fogueira das Vaidades” é contada por uma terceira pessoa, narrador onisciente, conhecedor dos pontos de vista não só de Sherman McCoy (o protagonista), mas de uma variedade de personagens, cujas motivações e pensamentos internos são livremente comentados.
Sherman McCoy é um esperto e sagaz comerciante em Wall Street. Wolfe conta sua história apropriando-se da técnica de não ficção para a ficção, ou seja, como se estivesse contando essa história para um jornal. O livro é absolutamente crível e o autor usa a linguagem não apenas para expressar o status de um personagem, mas também de sua personalidade. A impressão que Wolfe dá a seus leitores é de que ele se deleita com o mundo turbulento e fervilhante dos anos 80 em Nova York. Estamos vivendo o princípio da desregulamentação monetária e financeira que se sucedeu nesse período, prenúncio para a crise de 2008.
Calma, o livro não fala sobre isso, eu é que estou dando um enfoque para que vocês entendam, quando estiverem com o livro na mão, a profissão desse que era chamado de “Rei do Universo”, Sherman McCoy.
Sherman McCoy tem tudo: um suntuoso apartamento na Park Avenue, uma filha que estuda em escola privada, uma bela esposa. Tem uma linda amante e trabalha em um banco internacional de investimentos.
Nessa época o sucesso de Wall Street fez com que a cidade de Nova York vivesse um caldeirão de tensões raciais e culturais. A falta de moradia, a criminalidade crescente. Vários incidentes raciais de alto grau polarizavam a cidade.
A vida de Sherman McCoy começa a mudar de rumo numa noite em que ele e sua amante, Maria Ruskin, a caminho de Manhattan em sua Mercedes, entram acidentalmente no Bronx. Ao deparar-se com uma rodovia bloqueada por latas de lixo e um pneu, McCoy sai do carro para limpar o caminho. Eles percebem dois homens negros se aproximando. Sherman vê uma atitude estranha. Na cabeça dele, seriam predadores, ou seja, infratores negros. McCoy joga um pneu em um deles e corre de volta para o carro enquanto sua amante passa para o lugar do motorista e assume a direção do carro. Sherman e Ruskin (sua amante) fogem e aparentemente atropelam um menino negro chamado Henry Lamb, adolescente afro-americano.
Henry Lamb vai para o hospital, entra em coma fatal. O número da placa do carro chega à mãe do menino. Enquanto isso, Sherman McCoy e Maria Ruskin resolvem não relatar o acidente e muito menos o fato de não terem parado para dar tratamento médico ao menino. Sherman e Maria Ruskin não querem que seus respectivos cônjuges fiquem sabendo do caso que mantinham, e Maria o convence de que perderão a reputação e, possivelmente a sua liberdade, se chamarem a polícia. Tudo acaba em uma noite de amor parabenizando-se mutualmente pela fuga espetacular. Mas sem levarem em conta que a vida de Henry Lamb estava sendo sacrificada.
De qualquer forma, a mãe de Henry Lamb é a secretária do reverendo Bacon. Ela tem medo de ir à polícia porque tem tantos bilhetes de estacionamento pendentes que há um mandado emitido para sua prisão. No entanto, pelos padrões de Brooklyn na época, isso faz dela uma cidadã modelo. Afinal, ela ainda não foi presa.
O reverendo Bacon é o organizador e líder religioso e político da comunidade negra. Seu modelo de negócio é mais ou menos o seguinte: se você pagar-lhe, ele promete que não vai agitar ressentimento racial contra qualquer um que seja. No entanto, se você não pagar, o ressentimento racial pode ser aguçado. Mas posso dizer que existe em seu papel nessa história algumas complexidades que valem a pena conferir no momento da leitura. Não quero entregar tudo a vocês.
Bacon leva a mãe à polícia com as últimas declarações que seu filho lhe fez, ou seja, o número da placa da Mercedes. Bacon vê uma chance de colocar muita pressão política sobre o advogado do distrito, Abe Weiss, E organiza algumas manifestações para aparecer na televisão. Pressiona a Justiça, o prefeito e o promotor. Depois, há o jornalista, Peter Fallow, que precisa de uma boa história para manter seu emprego.
É bom ficar por aqui. O livro é eletrizante e muito bem escrito. A escrita de Tom Wolfe é simplesmente deslumbrante. O livro “A Fogueira das vaidades” é altamente recomendável para quem gosta de emoção. O ritmo do romance é seu grande trunfo, e você vai ver centenas de páginas voarem até chegar ao final e descobrir o que aconteceu.
“A Fogueira das Vaidades”, de Tom Wolfe, é um livraço que merece um lugar de destaque na sua estante.