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A Rosa Tatuada

“A Rosa Tatuada”, de Tennessee Williams, estreou nos palcos de Chicago em 29 de dezembro de 1959 e estreou na Broadway em 3 de fevereiro de 1951. Foram nada mais nada menos que 308 apresentações e  ganhou o Tony Award de 1951 de melhor peça. E não foi à toa que a peça acabou ganhando as telas de cinema. O filme foi lançado pela Paramount em 1955. Claro que ajudado pela publicidade dos prêmios recebidos anteriormente. Coube à maravilhosa atriz italiana Anna Magnani juntamente com Burt Lancaster serem os protagonistas da história.

A peça é dedicada ao seu amante siciliano-americano Frank Merlono.  Tennessee Williams alegou que sua inspiração veio do mundo dos imigrantes sicilianos de Frank Merlo, em New Orleans, bem como da humanidade vital e do amor à vida expresso pelo povo italiano.

Tennessee Williams havia primeiramente escrito o papel de Serafina (a protagonista) para o teatro para Anna Magnani, mas problemas de agendas somados ao inglês pouco fluente da atriz a impediram de trabalharem juntos.  

O filme, no entanto, também ganhou o prêmio New York Critics Circle Award de melhor filme.  Foi um sucesso. Tive o privilégio de assistir a esse filme e posso dizer, sem nenhuma dúvida, que é simplesmente fantástico.  Anna Magnani, que acabou fazendo o papel de Serafina, recebeu o Oscar de melhor atriz nesse filme.

O filme tem um tratamento poeticamente expressivo com detalhes realistas que nos faz lembrar um pouco os filmes de Vitorio Di Sica. Mas combina com o teatro grego. Quem não viu, aconselho para que veja no streaming.

Vamos à história?

O dia começa a escurecer, há três crianças, Bruno, Salvatore e Vivi, que estão à frente da casa, todas olhando para alguma coisa, e não se sabe se é um pássaro ou um avião passando, elas estão em dúvida quando ouvem a voz de Giuseppa, Peppina, e Violetta, as mães das crianças chamando para o jantar.

Serafina, a protagonista da história, está arrumando a mesa para a sua filha e seu marido, Rosário, que ela está esperando que chegue a qualquer momento. Quando aparece Assunta, uma velha que pratica medicina antiga, para vender um afrodisíaco.

“Serafina: “... O que você está vendendo, velha, neste cesto?

Assunta: Pó. Um pó que é uma maravilha. Basta botar uma pitadinha no café do seu marido...

 Serafina: Pra que serve isso?

Assunta: Pra que serve um marido? (pausa) O remédio é feito de sangue de bode bem seco.

Serafina: Davero?!

Assunta: É milagroso minha filha! Basta botar uma pitadinha no café na hora do jantar. De manhã, não.

Serafina: Meu marido não precisa desse pó!

Assunta: Desculpe, baronesa. Talvez ele precise do pó que é o avesso desse... Eu também tenho aqui comigo...” (pág. 15; pág. 16)

 

Serafina revela um segredo. Ela está grávida. Ela se sente estranha porque, no dia em que ela se sentiu grávida, acordou com uma dor ardente no peito e havia uma uma tatuagem nela. Igual à tatuagem que o marido carrega no peito dele.

“Serafina: Senti! Nessa noite eu acordei me queimando de dor, abrasada, aqui, do lado esquerdo. Como se uma porção de agulhas de fogo estivessem penetrando na carne... Acendi a luz e descobri o meu seio... E vi nele a rosa tatuada que meu marido tem no peito

Assunta: A tatuagem de Rosário?

Serafina: Em mim, no meu peito a tatuagem dele! E assim que a vi eu compreendi que tinha concebido... (Serafina inclina a cabeça para trás, orgulhosa e sorridente, e abre o leque de papel. Assunta olha para ele gravemente, depois se levanta e dá o cesto a Serafina)” (pág. 17; pág.18)

Percebemos que a tatuagem da rosa terá um grande significado ao longo da história. Assunta não leva a sério essa revelação de Serafina sobre a rosa tatuada:

“Assunta: Serafina, com você, tudo bem diferente. Tem de haver um sinal, um aviso um milagre. Você fala com Nossa Senhora. Diz que ela responde o que você pergunta. Que balança a cabeça pra você. Mas isso é bobagem, minha filha. Escute aqui, Serafina. Debaixo da imagem de Nossa Senhora, você tem uma vela acesa. O vento passa pelas frestas das venezianas e faz a luz da vela tremer. A sombra se mexe. E você pensa que foi Nossa Senhora quem balançou com a cabeça...” (pág.19)

Um outro assunto abordado entre Assunta e Serafina diz respeito ao marido de Serafina, Rosário. Nessa conversa, é revelado que ele contrabandeia algo proibido, pelos Fratelli Romano.

“Serafina: Qualquer coisa que os Fratelli Romano quiserem que ele leve pra fora do Estado pra eles, meu marido leva, debaixo das bananas! – E dinheiro ele ganha tanto que até está caindo dos bolsos pra fora! Qualquer destes dias, não preciso mais fazer vestidos !

Assunta: (afastando-se): Qualquer dia você vai, mas é fazer um vestido preto. (pág. 20)

Rosário faz contrabando de drogas. E esta noite seria a última vez que ele trabalharia para os Fratelli Romano. Pretendia trabalhar por conta própria, comprar um caminhão e seguir a vida. Mas acaba sendo morto pela polícia.

No instante em que Assunta sai, entra Estelle Hohengarten, uma prostituta implorando que Serafina faça uma camisa de seda masculina, pelo triplo do preço. Mas a condição é que a camisa esteja pronta na mesma noite.  Estelle está tomada de paixão por esse homem. 

Do lado de fora da casa, Rosa (filha de Serafina) está no quintal se defrontando com Strega. Ela é vista pelos vizinhos como uma bruxa. Strega  e Serafina perseguem uma cabra que está no quintal, e Serafina adverte a sua filha Rosa:

“Serafina: Rosa! Vá para dentro d casa! Não olhe para “Strenga” (sozinha na sala, Estelle olha o retrato de Rosário. Impetuosamente, ela guarda a fotografia na bolsa e sai a correr de casa, justamente quando Serafina volta do quintal).” (pág. 27)

Serafina pede que sua filha Rosa não faça contato visual com Strega, pois ela é considerada uma bruxa pela vizinhança. E a mãe teme o mau olhado de Strega. No meio da confusão, Estelle rouba o retrato de Rosário. Sabemos a partir deste movimento que Estelle e Rosário têm um affair.

O padre De Leo e várias paroquianas, todas enlutadas, estão na frente da casa de Serafina. Serafina encontrava-se trabalhando na confecção da camisa para Estelle. Serafina ouve as vozes de algumas mulheres, e sai para ver o que está acontecendo, quando toma um susto. Enquanto isso, todos que estão do lado de fora questionam uns aos outros quem vai dar a notícia. Quando Serafina sai de casa e vê todos, ela corre para o quintal e desmaia em um acesso de desespero. Rosário, seu marido, tinha morrido, a polícia o matou. Rosário foi baleado, o caminhão bateu e pegou fogo.

Uma coroa de flores está na porta de Serafina. Um médico e o padre De Leo conversam. Serafina perde o bebê que carregava consigo. Um aborto espontâneo. O padre e o médico estabelecem uma discussão a respeito do enterro do marido. Enterra ou crema? O corpo estava carbonizado. Serafina quer que o corpo seja cremado. O padre e o médico estabelecem uma discussão. O padre quer o enterro. O corpo está no caixão. Nesse momento, aparece Estelle. O corpo não pode ser visto. Serafina não sabe da relação de Estelle com o seu finado marido. Todas as mulheres e os presentes hostilizam Estelle. Como em um coro grego, dizem todas juntas:

“Mulheres em coro: Vá via! Vá via! Vá se embora!” (pág. 34)

Estelle sai e uma das mulheres cospe no chão e chuta o buquê levado por ela direcionado ao defunto. Para não magoar Serafina, ninguém menciona a real história entre Estelle e Rosário.

Três anos depois. Rosa se forma no ensino médio. Todas as mulheres com filhas na turma de formandos estão na casa de Serafina para pegar os vestidos do baile. Violetta  e Peppina conversam em um tom de fofoca:

“Violetta: Rosa?

Peppina: Sim. Rosa. E quer sabe como?

Violetta: Como?

Peppina: Nuda! Nuuda! Nuinha em pelo! (faz o sinal da cruz e diz) _ in nominis padri e figlio et spiritus sancti Aaaa!

Peppina: Fazendo? Ela disse: Signora, telefone para esse número, pergunte para o Jack e diga ao Jack que minha roupa está trancada e por causa disso eu não posso sair de casa”. Aí Serafina entrou e agarrou a filha pelos cabelos, puxou ela para trás e bateu com a janela na minha cara.!” ( pág. 35)

Rosa conheceu um garoto em um baile e Serafina descobriu. Ela pune a filha trancando as roupas de Rosa para que ela não possa sair de casa. Rosa perde seus exames finais.

Rosa simula que cortou os pulsos, criando pânico em todos que estavam no ateliê de costura de Serafina. Miss. York, a professora da escola secundária, descobre que Rosa apenas se arranhou para assustar a mãe. Ela pede que Serafina deixe Rosa se vestir para a formatura:

“Miss York:  Sra. Della Rosa, está se excedendo no seu comportamento como nas palavras. Não posso compreender como uma mulher como a senhora pode ter uma mocinha tão delicada e boazinha como filha! A senhora não a merece! Com toda a sinceridade!” (pág. 45)

Miss Yorke convence Serafina. Rosa se veste e está linda em seu vestido branco. Assunta, que também estava presente, convence Serafina a entregar os outros vestidos:

“Assunta: Entregue os vestidos para que as meninas possam ir a formatura. (pág. 48)

Serafina libera os vestidos mediante o pagamento, o que acontece. Ela tenta achar uma boa roupa para vestir para a formatura. Ela pragueja, em dialeto siciliano. Até que ela ouve uma banda tocando a distância e se apressa. Nesse momento, duas mulheres, Flora e Bessie, aparecem em sua casa com pressa. Serafina está à procura do relógio de pulso que quer dar à Rosa como presente de formatura.

Enquanto a banda passa, elas flertam com os membros da banda.  Elas têm um trem para pegar em quinze minutos, e Flora precisa da blusa. Elas estão querendo ir ao desfile da Legião Americana em Nova Orleans. Elas insistem para que Serafina se apresse. Enquanto isso, conversam sobre homens:

“Flora: Já ouvi algumas. Já ouvi que os Legionários pegaram uma moça na rua do Canal, tiraram-lhe toda a roupa e mandaram ela para a casa nua em pelo , dentro de um taxi

Bessie: Desafio que eles façam uma coisa dessas comigo!

Flora: Você? Eles não precisariam lhe tocar um dedo. Você mesmo tiraria a roupa antes que eles pensassem em tirá-la!” (pág. 55)

Serafina tenta fazer tudo o mais rápido possível para que possa chegar à formatura da filha, mas sem sucesso. No entanto, quando ouve as duas falando sobre homens, ela fica indignada. E com orgulho fala sobre o matrimônio maravilhoso que ela teve com Rosário e pede que todas respeitem as cinzas dele.

Flora então faz a revelação:

“ Flora: Eu conheço alguém que podia contar uma história muito diferente! E não muito longe daqui! Apenas alguns quarteirões, naquele lugar que chamam de Esplanada!

Bessie: Estelle Hohengarten!

Flora: Aquela loura do Texas!

Bessie: Apanha a blusa e vamos embora!” (pág. 61)

Serafina se revolta e expulsa Flora e Bessie de sua casa. Serafina está desolada. Enquanto isso, Rosa aparece com Jack Hunter, seu namorado, em casa. Rosa não encontra sua mãe. A casa está escura. Rosa se declara para Jack:

“Rosa: ... Venha cá. Eu quero lhe ensinar uma pequena palavra em italiano. ( Jack se aproxima, meio desconfiado) – Essa palavra é “bacio”.

Jack: Que é que significa?” (pág. 66)

Bacio significa beijo. E ela o beija. Nesse momento, aparece Serafina. Rosa insiste para que ela conheça Jack. No entanto, a aparência da mãe está horrível:

“Rosa: Mamãe, a senhora disse que estava vestida direito! Jack fique aí fora um instantinho! Que foi que houve mamãe? (Jack fica na sala. Rosa puxa as cortinas, apanha um vestido e enfia-o em Serafina. Penteia o cabelo de Serafina para trás, limpa-lhe o suor do rosto com um lenço, põe pó de arroz. Serafina se submete a este “tratamento de beleza com um olhar de estupefação) – (Rosa gesticulando verticalmente) – Su su, su, su, su! (Serafina senta-se ligeiramente na cadeira com a mesma expressão do olhar. Rosa volta à sala e abre as cortinas outra vez) – Venha Jack! Mamãe está preparada para recebê-lo! (Rosa treme de ansiedade, mas antes que ele entre Serafina desarma sua posição digna e outra vez se abandona, com um gemido baixo. Rosa (protesta violentamente) – Mama! Mama, su mama! (Serafina fica ereta) – Ela não dormiu ontem à noite. – Mamãe, este é Jack Hunter (pág. 70)

Rosa e Jack tentam contar para Serafina como foi a cerimônia de formatura. Jack conta como Rosa recebeu o prêmio, recitando um poema que emocionou a multidão. Serafina nesse momento desperta e começa interrogar Jack. Rosa encontra-se embaraçada com aquela situação. Enquanto vai se arrumar, a conversa chega a este patamar:

“Serafina: Quer dizer, então, que nunca esteve sozinho com a minha Rosa?

Jack: Sozinhos ou não, onde a senhora quer chegar com essa pergunta?

Serafina: Somos sicilianos. Não permitimos que as moças fiquem por aí com os rapazes senão depois de noivos!

Jack Sra. Della Rosa, estamos nos Estados Unidos!

Serafina: Mas somos sicilianos e não temos sangue de peixe! Minha filha é virgem. Se é – ou era, é o que gostaria de saber!

Jack: Sra. Della Rosa! Preciso dizer-lhe uma coisa. Talvez a senhora não acredite. E não é fácil para um rapaz confessar uma coisa destas..., mas eu também sou... virgem.

Serafina: Como? Não ! Eu não acredito nisso!

Jack: Pois bem. Apesar de tudo, é verdade. Essa foi a primeira vez que eu...

 Serafina: A primeira vez o quê?

Jack: A primeira vez que eu realmente desejei...

Serafina: Desejou o quê?

Jack: fazer isso!” (pág. 80)

Serafina descobre que Jack é católico e o faz jurar na estátua da Virgem Maria que ele respeitará a sua filha. Ele jura.

Serafina reza para Nossa Senhora e pede a ela um sinal. Olha para o céu luminoso, quando aparece Padre Di Leo. Serafina o evita. Ele a vê e se aproxima dela. E dá um sermão nela. Em um determinado momento diz

“Padre: “... Uma mulher pode ter dignidade em sua dor, mas quando vai ao exagero isso começa a ser chamado de desmazelo. Oh, eu bem sabia que isto podia acontecer quando você quebrou a lei da Igreja e fez cremar seu marido! (Serafina apanha a cadeira e volta ao alpendre. O Padre Di Léo a segue) – Fez um santuário para a idolatria em sua casa! E está venerando um punhado de cinzas!... (pág. 92)

Serafina diz que teve um casamento perfeito. As cinzas guardadas são lembranças desse casamento. E ela aproveita para perguntar ao padre se Rosário já havia confessado tê-la traído.

“Serafina: Ele algum dia lhe falou sobre uma mulher? (Uma criança grita e passa em frente da casa. O Padre Di Léo toma o seu chapéu panamá. Serafina caminha pausadamente para ele. O padre começa a se afastar da casa) Aspettate! Aspettate um momento!” (pág. 99)

O padre sai da casa esquivando-se e, no auge do desespero, diz:

“Padre: Você não é sequer uma mulher. É um animal (pág. 101)

Serafina começa a invocar a Virgem Maria, para lhe dar um sinal:

“ Serafina: ... – Minha Nossa Senhora! Minha Nossa Senhora, dá-me um sinal!... (pág. 102)

Quando aparece um camelô em sua porta. Ele está tentando vender algumas de suas mercadorias. Um motorista de caminhão aparece e começa a discutir com o camelô sobre uma fechada recebida na estrada. O nome do caminhoneiro é Álvaro, ele ameaça dar uma surra no camelô. Ele está disposto a tudo. Até mesmo a perder a licença de caminhoneiro.

Álvaro recebe uma joelhada na virilha e tropeça na casa de Serafina. Ela encontra-se chorando. Ele tenta consolar e Serafina vê a jaqueta de Álvaro rasgada e se oferece para costurá-la. Álvaro menciona que tem três dependentes e fica com medo de perder a licença de caminhoneiro. Serafina consola Álvaro. Serafina pede que Álvaro abra as persianas. E quando ela vê o corpo de Álvaro, solta um grito:

“Álvaro: Que foi senhora?

 Serafina: A luz sobre seu corpo... me faz lembrar um homem que viveu aqui. (pág. 110)

Os dois conversam, trocam impressões, ela menciona seu marido que já está morto, e ela pensa enquanto fala:

“Serafina: (depois de uma pausa) – Madona Santas! O corpo de meu marido, com a cabeça de um palhaço! (Cruza para Madona) – Ô senhora, Senhora! (faz um gesto de implorar) Fala comigo! Que estás dizendo? Por favor Senhora! Eu não te posso ouvir! Será isto um sinal? Será o sinal de alguma coisa? Que quererá dizer? Oh, fala comigo, Senhora! Tudo isso é tão estranho! (ela abandona a atitude de estátua impassível. Corre a prateleira, sobe uma cadeira e apanha uma garrafa de vinho, da mais alta. Mas verifica que é impossível descer da cadeira. Apertando a garrafa de vinho, da mais alta. Mas verifica que é impossível descer da cadeira. Apertando a garrafa poeirenta contra o peito, fica numa indecisão infantil, enquanto Álvaro volta).

Álvar: Ciao

Serafina: Eu não posso subir.

Álvaro: Quer dizer que não pode descer?

Serafina: Isso mesmo. Não posso descer.” (pág. 11; pág112)

Álvaro age de uma forma palhaça. No filme, a interpretação de Burt Lancaster lembra um clown. Aos poucos a relação entre Serafina e Álvaro vai se estreitando. Ela conta sobre a tatuagem da rosa do marido e se envaidece quando fala dela. No entanto, quando Álvaro conversa com Serafina, praticamente se declara para ela.

“Álvaro: Quero ver se encontro uma mulher ajuizada. Não faz mal que seja um pouquinho mais velha do que eu. Nem me importa que seja um pouco mais gorducha e descuidado no jeito de se vestir! ( Serafina, inconscientemente levanta a alça que está caída) – O importante que seja uma mulher compreensiva. Que tenha bom senso. E que tenha uma casa mobiliada e um negócio ou ocupação em que ganhe um pouco de dinheiro... (olha em torno de si mesmo, significativamente)” (pág. 124)

Serafina está lutando para conciliar sua atração por Álvaro e sua lealdade ao marido morto, cujas cinzas encontram-se em sua casa. Eles se separam. No outro dia Álvaro aparece com uma caixa de chocolate. E seu visual limpo e o óleo de rosa no cabelo era exatamente o que seu marido usava. E conforme a conversa vai evoluindo, ele revela que tem uma tatuagem.

Os dois conversam e cada um conta ao outro um pouco de sua vida. Serafina fala de sua filha única, Álvaro fala da namorada que o deixou por causa de um presente que ela estava esperando:

“Álvaro: Dei a ela, à pequena, um zircônio, em vez de um brilhante. Ela mandou examinar. E me bateu com a porta na cara.” (pág. 140)

Serafina fala de sua filha e diz que ela gosta de um marinheiro. Álvaro pergunta se ele carrega no corpo uma tatuagem.

“Álvaro: O marinheiro, o amiguinho de sua filha – ele tem uma tatuagem?

Serafina: Por que me pergunta isso?

Álvaro: Porque a maioria dos marinheiros carrega uma tatuagem!

Serafina: Como é que eu vou saber se ele usa uma tatuagem ou não?

Álvaro: Eu tenho uma!

Serafina: Você? Tem uma?

Álvaro: Si, si, veramente.

Serafina: Que espécie de tatuagem você tem?

Álvaro: Que é que você pensa que seja?

Serafina: Oh, eu creio... que você tem uma nativa dos mares do Sul! Sem nenhuma roupa em cima...

Álvaro: Qual! Que nativa dos mares do Sul!

Serafina: Talvez um grande coração vermelho, com a palavra “mamãe” escrita atravessado...

Álvaro: Enganou-se outra vez Baronesa. (tira a gravata e lentamente desabotoa a camisa, olhando para ela com um sorriso intenso e ardente. Separa os dois lados da camisa e mostra-lhe o peito nu. Ela solta uma pequena exclamação e se levanta).

Serafina: Não, não, não! Uma rosa não! (Diz isso como se quisesse se esquivar-se aos seus sentimentos.)

Álvaro: Si, si, si, ¡una rosa!” (pág.144; pág.145)

Álvaro está tentando conquistar Serafina, mas não contava com um acidente, seus planos dão errados quando cai uma camisinha do bolso dele.

“Álvaro: Scusatemi, Baronesa! ( Liberta-lhe a mão, inclinando-se cavalheirescamente) – Para mim, é pleno inverno não tenho em minha vida  o doce calor de uma mulher... Vivo com as minhas mãos nos bolsos, depois retira-as de novo. Um pequeno disco embrulhado em papel celofane cai no chão, escapando a atenção dele, mas não a Serafina) – Você não gosta de poesia! Como pode um homem falar com você?

Serafina (ultrajada)- Eu gosto de poesia, sim. Mas será poesia que deixou cair isso do bolso? ( Ele olha para om chão_ - Não! não! Aí perto do seu pé!

Álvaro: (Aborrecido ao perceber o que foi que ela viu) - Oh, isso...isso não é nada! ( Dá um pontapé no embrulho, ocultando-o sob o sofá)

Serafina: (Com veemência) – Você sabe dizer palavras doce às mulheres. E, logo depois, deixa cair do seu bolso uma coisa dessa! Va via vigliacco! (Com imponência, ela deixa o aposento, correndo as cortinas atrás de si. Ele balança a cabeça com desespero apertando entre as mãos. Depois, aproxima-se das cortinas, timidamente).

Álvaro (uma voz débil) – Baronesa!

Serafina: Apanha o que deixou cair no chão e vá para a rua das mulheres da vida! Buena Notte!” (pág. 150; pág. 151)

Álvaro sente-se consternado e implora para que ela reconsidere. Álvaro no fim confessa que a tatuagem da rosa era para tentar conquistá-la e fazê-la feliz. Serafina já havia percebido. Ela revela que o dia dela havia sido horrível, pois soube que o marido provavelmente a traía com outras.

Álvaro conhece Estelle Hohengarten, a suposta amante de seu Rosário. Ela trabalha em um cabaré com consumação mínima. Serafina pede que Álvaro a leve até o trabalho de Estelle. Ela é crupiê de Blackjacck. Quando as duas se encontram, ouve a voz de Estelle dizendo:

“Estelle (alto e claro): Então não se lembra? Levei um corte de seda para você fazer uma camisa, para ele! Ainda perguntou: “ Para um homem?” E eu disse: “Sim, um homem que é um verdadeiro cigano!” Mas se acha que estou mentindo venha e eu lhe mostro a rosa dele tatuada no meu peito!” (pág. 159)

As duas brigam. Álvaro a toma pelo braço e afasta. A verdade finalmente revelada. Serafina manda Álvaro pegar gelo para o espumante. Enquanto ele pega, Serafina resolve jogar fora as cinzas do marido.

Rosa e Jack estão em casa. Eles ouvem Álvaro e Serafina no auge da paixão. Rosa que não sabe de nada da relação entre Álvaro e Serafina, pensa que mãe está delirando com saudades do pai. Os dois estabelecem uma conversa, promessas que Jack teve que fazer antes. Jack revela suas inseguranças sobre a mãe, Serafina.

“Jack: Ela sabe que a sua Rosa é uma flor. E quer que ela tenha alguém... melhor do que eu....

Rosa: Melhor... do que você? (fala como se fosse impossível)

Jack: Você está me vendo através de óculos cor-de-rosa...

Rosa: Eu estou te vendo com amor!” (pág. 166; pág. 167)

Jack está partindo para uma longa vigem no dia seguinte, e Rosa faz um plano para que eles percam a virgindade em um hotel na tarde seguinte, antes que ele entre no navio. Rosa entre em sua casa e vai dormir.

De manhã cedo, Álvaro, sonâmbulo, sai do quarto de Serafina e vê a menina Rosa sonolenta, meio acordada, e se inclina sobre ela em um tributo à beleza de Rosa. Serafina sai do quarto se sentindo culpada por ter sido pega com Álvaro, finge que Álvaro é um intruso e grita para que ele vá embora. Álvaro, totalmente fora de si, vai embora. Rosa pede que mãe se acalme. E deixa escapar que irá se encontrar no hotel com Jack antes de ele viajar. Serafina reage, mas depois se conforma. Rosa sai.

A vizinhança logo começa a gritar. Assunta aparece e confessa:

Serafina: Neste momento eu sinto novamente o meu peito abrasado por aquela rosa! Eu sei o que isso significa. Eu concebi. (leva o copo aos lábios por um momento e devolve-o depois a Assunta) – Duas vidas outra vez num só corpo! Duas vidas, duas! Outra vez duas vidas! (pág. 185)

Serafina ouve a voz de Álvaro chamando Serafina, e ela vai em direção à sua voz. Feliz, ela grita:

“Serafina: Vengo, vengo, amore!” (pág. 156)

“A Rosa Tatuada”, de Tennessee Williams, merece um lugar de “HONRA” na sua estante!


Data: 11 dezembro 2024 (Atualizado: 11 de dezembro de 2024) | Tags: Drama, Comédia


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A Rosa Tatuada
autor: Tennessee Williams
editora: Civilização Brasileira
tradutor: Magalhães Junior
gênero: Comédia;,Drama;

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