O homem que amava os cachorros
Quer uma dica de livro que te refletir após terminá-lo? Recomendo fortemente o “O homem que amava os cachorros”, de Leonardo Padura.
O título é um artifício literário através do qual Padura tenta vincular os destinos dos três personagens principais: o escritor cubano Ivan, o líder revolucionário russo Leon Trotski e seu assassino, Ramon Mercader, que tinham em comum o apego aos cães.
Leonardo Padura mistura fatos históricos com uma engenhosa criação artística. O que chama a atenção do leitor é a habilidade do escritor em amarrar os acontecimentos tanto da vida de Ivan, em Cuba, como dos primeiros anos de Mercader na Espanha e na França e o exílio de Trotski. A vida do revolucionário é muito bem documentada, e a sensação que nos dá é que estamos lendo uma biografia real, quando se trata exatamente do oposto, ou seja, de uma ficção.
O livro é um trabalho feito em camadas que entrelaçam várias vertentes relacionadas, mas distintas. A primeira é a história de Ivan Cárdenas Maturell. A segunda, a vida de Trotski, de Mercader, a Guerra Civil Espanhola, o funcionamento da implacável GPU de Stalin (que foi transformada na KGB no período pós-Stalin). E a terceira camada contempla o problema do stalinismo e da burocracia em Cuba. Iván personifica uma geração de intelectuais que lutaram pela revolução cubana, trabalharam e fizeram sacrifícios e acabaram decepcionados com o stalinismo, que distorceu todos os ideais revolucionários, transformando a Revolução de Outubro em uma caricatura grotesca.
“O Homem que Amava os Cachorros” é um romance escrito contra as ideologias, contra as fantasias revolucionárias ou messiânicas. É um romance, como Iván nos faz perceber, contra esse sistema político admirado por metade do mundo, cujo legado deixado foi apenas um sentimento: o medo. Um livro sensacional que merece um lugar em sua estante.