O homem que amava caixas
Contar histórias e incentivar a leitura desde cedo abrem a oportunidade única do indivíduo, desde pequeno, a procurar entender e absorver o mundo através de seus próprios silêncios e recursos.
A leitura para crianças pode ser uma brincadeira animada, mas também um momento reflexivo que estimula a interpretação solitária e o aprendizado silencioso e tão necessário para a vida toda.
“O homem que amava caixas”, de Stephen Michael King, é uma história delicada. O autor e ilustrador australiano, nascido em 1963, sempre desenhou e pintou e, ao ficar parcialmente surdo quando criança, se refugiou entre seus desenhos e desenvolveu uma forma própria e sensível de se comunicar. A carreira de autor e ilustrador infantil começaria anos mais tarde quando foi trabalhar numa biblioteca infantil e desenvolveu ali, com as crianças, sua habilidade.
A história de “O homem que amava caixas” nos fala sobre o relacionamento entre um pai e seu filho. Muito calado, pai e filho pareciam não ter assuntos, cada uma no seu mundo, vivendo seus próprios interesses. O filho sentia um enorme amor pelo pai, mas parecia que este só se interessava pelas caixas que encontrava, descobria ou construía. Mas, na verdade, aquele homem também amava muito seu filho, mas... como dizer que o amava? Como demonstrar o amor?
A história aponta a dificuldade encontrada por algumas pessoas em expor seus sentimentos, mesmo os mais belos e sinceros. E também apresenta a nossa necessidade de nos comunicar com o mundo, com os outros ao nosso redor. Afinal, os relacionamentos são pautados sobre trocas, afetos, conversas, abraços, olhares, palavras e gestos, entre outros. Então, o pai criou uma forma de se comunicar com seu filho e aproximar seus mundos: ele passou a criar caixas para brincar com o menino. Eram aviões, barcos, castelos, pipas, tudo era criado com caixas, e pai e filho se divertiam juntos. Os vizinhos achavam tudo aquilo muito estranho, mas nada era mais importante do que a alegria encontrada por ambos em suas brincadeiras compartilhadas. E como o amor é um sentimento que se compartilha e se multiplica, pai e filho passaram a viver em harmonia com o amor que um sentia pelo outro.
Simples, não é? Só que não. Como adultos que somos, sabemos o quanto demonstrar nossos afetos nos atrapalha. Muitos conseguem, outros não. Através dessa história delicada, observamos que o amor, mesmo quando existe, precisa de um espaço especial para ele. É necessário que haja uma verdadeira intenção, de ambas as partes, de aproximação. E assim, através de brincadeiras, pai e filho conseguiram criar um universo em comum, próprio, lúdico e afetivo. Foi criada uma parceria.
“O homem que amava caixas” nos ensina a criar universos que podem ser convites para uma inclusão, uma aproximação. E mostra o quão delicado e sútil são as relações. Quanto mais delicada, mais atenção e sensibilidade existe.
Um livro infantil que deveria ser lido por todos os adultos.