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Alice no País das Maravilhas

Há muito tempo estou para ler essa joia rara da literatura infantil: “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. Devo dizer que foi uma senhora viagem. Depois li na sequência “Alice Através do Espelho”, mas desse falarei logo em seguida. Nem sei por onde começar, pois é tão bom, tão imaginativo, e eu adoro romances que nos lançam ao mundo maravilhoso dos sonhos.

Lewis Carroll foi um matemático e lógico e era também um humorista. A história não tinha a intenção de ser didática; seu único propósito era entreter. Pode-se procurar interpretações freudianas ou junguianas se assim decidirmos, mas, em última análise, a história funciona como comédia, com o diálogo usado principalmente para Carroll brincar com as palavras, misturando fantasia com ações burlescas.

O romance é composto de doze capítulos breves; pode ser lido em uma tarde.  Além dos breves capítulos, é dividido em episódios pequenos, individuais, quase isolados. E a história começa com Alice e sua irmã sentadas na margem de um rio lendo um livro que não contém imagens ou diálogos. "... e para que serve um livro", pensou Alice, "sem fotos ou conversas?" Assim, encontramos muitos desenhos e lemos muitos diálogos neste romance.

Como obra de ficção, Alice carece do enredo convencional que normalmente associamos a um conto coerente e unificado. No entanto, ler Alice não nos deixa com uma sensação de incompletude; Alice é muito mais do que apenas uma série de episódios desconectados. Na verdade, Alice é contada na forma de um sonho; é a história do sonho de Alice, contada do ponto de vista da terceira pessoa. Como Carroll escolheu um sonho como estrutura para sua história, ele estava livre para ridicularizar e satirizar as inúmeras máximas didáticas vitorianas na literatura infantil.

Tudo é caótico, “Alice no País das Maravilhas” é um reino no qual a Rainha e o Rei de Copas, por exemplo, têm súditos que são um baralho de cartas, e onde todos os animais (exceto o porco / bebê) têm as atitudes irritantes, choramingas, reclamantes e irritantes dos adultos. É como se Carroll estivesse tentando frustrar a comunicação lógica e tentando transformar eventos extraordinários no que pareceriam eventos muito comuns no País das Maravilhas. As únicas leis em Alice parecem ser as leis do caos; tudo é absurdo. No entanto, um dos principais enfoques do romance é a relação entre o desenvolvimento da linguagem de uma criança e o crescimento físico da criança. No País das Maravilhas, o ilógico e irracional País das Maravilhas, a mudança repentina de tamanho tem um efeito psicológico de distorção em Alice, e isso se torna ainda mais misterioso pelo absurdo.

 A história tinha como objetivo inicial entreter três garotas quando Carrol e seu amigo reverendo Robinson Duckworth levaram as três encantadoras irmãs Liddel para uma excursão em um barco a remo no rio Tâmisa. No poema introdutório ao conto, há indicações claras para as três, ali chamadas em latim: Prima, Secunda e Tertia, para a primeira, a segunda e a terceira. “Prima” era a primeira irmã mais velha, Lorina Charlotte, de 13 anos; “Secunda”, que era Alice Pleasence, de 10 anos; “Tertia”, que era Edith, de 8 anos. Conforme os registros do próprio Carroll, o passeio começou em Folly Bridge, perto de Oxford, e terminou na aldeia de Godstow.

Vamos ao livro?

O livro começa com a entediada Alice sentada ao lado de sua irmã, sem nada para fazer, à beira de um riacho, ouvindo-a ler um romance. Alice, pela própria idade, é uma garota com uma mentalidade infantil, e distraída. Enquanto sua imaginação corre solta, ela começa a montar uma realidade paralela no momento em que ela vê um coelho branco, produto de sua imaginação, que desperta a curiosidade dela dizendo: “Ai, ai ai! Eu vou chegar atrasado!”

Quando ela se lembrou disso mais tarde, achou que deveria ter ficado espantada, mas na hora achou tudo muito natural. Mas quando viu o Coelho tirar o relógio de bolso de colete, olhar as horas e apressar o passo, Alice deu um pulo, pois passou pela sua cabeça que nunca na vida tinha visto um coelho vestindo um colete, muito menos usando um relógio, e, morta de curiosidade, saiu correndo pelo campo atrás dele e chegou bem a tempo de vê-lo se enfiar apressadamente dentro de uma toca enorme embaixo de uma cerca (pg 17)

Alice fica em apuros por causa de sua curiosidade. Cai de uma altura de milhares de quilômetros. Quando ela se defronta com uma nova realidade, se pergunta:

“Tenho uma vaga lembrança de ter me sentido um pouquinho diferente, mas se eu não for a mesma, a próxima pergunta é: Quem sou eu? Essa é a questão!” (pg25)

Alice chega em um enorme corredor cheio de portas e encontra uma pequena porta que ela abre com uma chave que ela descobre em uma mesa próxima. Através da porta, ela vê um lindo jardim e começa a chorar ao perceber que não consegue passar pela porta. Ela encontra uma garrafa onde está escrito “Beba-me”, impressas com letras grandes e vistosas. Alice bebe. E o que acontece? Ela começa a encolher até chegar ao tamanho certo para passar pela porta, mas não pode entrar, pois deixou a chave na mesa e não pode alcançá-la. Até que ela acha um bolo onde se lê “COMA-ME” escrito com passas. Quando ela come, ela começa a crescer a uma altura extraordinariamente grande. Mas ela é ainda incapaz de entrar em um jardim, ela começa a chorar, e suas lágrimas, devido ao tamanho, fazem uma verdadeira poça de lágrimas. Enquanto ela chora, ela cai numa piscina de suas próprias lágrimas. A poça de lágrimas se torna um mar e, enquanto ela pisa na água, ela encontra um rato. O rato acompanha Alice até a costa, onde vários animais estão reunidos em uma margem. Depois de uma “Corrida do Seca-Seca”, Alice afugenta os animais com contos de sua gata, Dinah, e se encontra sozinha novamente. Só que ela se encontra agora na casa do Coelho Branco, e Alice bebe uma garrafa de líquido sem marca e cresce e fica do tamanho da sala. Bem, o Coelho Branco fica furioso e pede que algo seja feito. Já que Alice adquiriu um tamanho maior do que a casa, ela acaba golpeando os servos do Coelho através de suas mãos grandes. Os animais dentro de casa tentam tirá-la de casa atirando-lhe pedras, que inexplicavelmente se transformam em bolos ao pousar em casa. Alice come bolos, o que a faz encolher para um tamanho pequeno.

 Ela vagueia pela floresta, onde encontra uma lagarta sentada em um cogumelo e fumando um narguilé (ou seja, um cachimbo de água). A lagarta e Alice começam uma discussão, mas antes que a lagarta se afaste com nojo, ela diz a Alice que diferentes partes do cogumelo a farão crescer ou encolher. Alice prova uma parte do cogumelo e seu pescoço se estende acima da árvore. Um pombo a vê e ataca, pensando que ela fosse uma serpente faminta por ovos de pombo.

 Alice come outra parte do cogumelo e encolhe para a altura normal.

“Depois de um tempo, ela se lembrou de que ainda tinha nas mãos os pedaços de cogumelo e se empenhou cuidadosamente em mordiscar um pedaço e depois o outro, ora crescendo, ora diminuindo. Até que conseguiu, com sucesso, chegar ao seu tamanho normal” (pg54)

Ela vagueia até encontrar a casa da Duquesa. Ela encontra a Duquesa que está amamentando um bebê que chora, bem como um Gato Cheshire sorridente e uma cozinheira que joga grandes quantidades de pimenta em um caldeirão de sopa. A Duquesa em um primeiro momento não gosta de Alice e depois a convida para jogar croquet com ela.

Ao sair, Alice descobre que a Duquesa carregava um  bebê, que na verdade era um porco, e ela volta para a floresta, onde ela encontra o Gato Cheshire novamente. Ele  explica à Alice que todos no País das Maravilhas são loucos, incluindo a própria Alice. Ele dá instruções para a casa da Lebre de Março e desaparece.

Alice parte para a casa da Lebre de Março e a encontra tomando chá juntamente com o Chapeleiro Maluco e um Esquilo dormindo. Quando ela chega, é maltratada pelos três, Alice fica ao lado do chá, sem ser convidada.

“A Lebre de Março pegou o relógio e olhou para ele com tristeza. Depois mergulhou em sua xícara de chá e olhou novamente, porém como não achou nada melhor para dizer, simplesmente repetiu sua primeira observação:

- Mas a manteiga era da melhor qualidade.

 Alice estivera analisando por cima do ombro dela, bastante curiosa.

- Que relógio mais engraçado! – observou a menina. – Ele mostra o dia do mês e não mostra a hora!

- E por que deveria? Replicou o chapeleiro. Por acaso o seu relógio mostra o ano?

- Claro que não – garantiu Alice prontamente. – Mas é porque demora muito para mudar de ano para outro. (pg 67)

Alice descobre que eles estão parados no tempo e estão presos na eterna hora do chá. Depois de uma descortesia final, Alice sai e viaja pela floresta. Ela encontra uma árvore com uma porta lateral e passa por ela para se encontrar de volta ao salão. Ela pega a chave e usa o cogumelo para encolher e entrar no jardim.

A Rainha de Copas chama Alice para se juntar a ela em um estranho jogo de croquet. O campo é acidentado, os tacos e as bolas são flamingos e ouriços vivos, e a Rainha se desespera e pede a execução de jogadores. Em meio a essa loucura, Alice se depara com o Gato de Cheshire, que desrespeita o Rei de Copas e é condenado a ser decapitado, mas como o Gato é apenas uma cabeça flutuando no ar, ninguém pode concordar em decapitá-lo.

A Duquesa se aproxima de Alice e tenta fazer amizade com ela, mas ela o faz de uma maneira rude. A Rainha de Copas afasta a Duquesa e diz a Alice que ela deve visitar a Tartaruga Falsa e o Grifo como sua escolta para encontrar a Tartaruga Falsa. Alice compartilha suas estranhas experiências com a Tartaruga Falsa e o Grifo, que ouvem com simpatia e comentam sobre as estranhezas de suas aventuras. Depois de ouvir a história da Tartaruga Falsa, eles ouvem rumores de que um julgamento está prestes a acontecer, e o Grifo traz Alice para presenciar o evento no campo de croquet.

O Valete de Copas é julgado por roubar as tortas da Rainha. O rei de Copas lidera os procedimentos e várias testemunhas se aproximam do depoimento. O Chapeleiro Maluco e o Cozinheiro dão o seu testemunho, mas nada disso faz sentido. O Coelho Branco, agindo como arauto, chama Alice ao banco das testemunhas. O Rei não vai a lugar nenhum com a sua linha de questionamentos, até que o Coelho Branco fornece algumas evidências através de uma carta escrita pelo Valete. A carta acaba sendo um poema, que o Rei interpreta como admissão de culpa por parte do Valete.

Alice se revolta contra a interpretação do Rei. A Rainha fica furiosa com Alice e ordena que ela seja decapitada, mas Alice fica enorme e derruba o exército de cartas da Rainha. De repente, Alice se encontra no colo da irmã, de volta à margem do rio. Ela conta à irmã sobre seu sonho e entra para tomar chá, enquanto sua irmã pensa sobre a história de Alice.

Recomendo e muito “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, um livro que merece um lugar de honra na sua estante.


Data: 08 outubro 2020 | Tags:


< Memórias de um Triste Futuro Alice através do Espelho >
Alice no País das Maravilhas
autor: Lewis Carroll
editora: Martin Claret
tradutor: Márcia Feriotti Meira

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