Primeiro Amor
Começo esta resenha com uma pergunta: quantos de nós podem se lembrar e narrar o primeiro amor de nossas vidas?
O livro “Primeiro Amor”, de Ivan Turgueniev, começa na casa de Serguei Nikoláievtchi, quando todos os convidados foram embora e o anfitrião tocou a sineta, mandando que os restos do jantar fossem retirados. O relógio deu meia-noite e meia, sobrou apenas o amigo Vladimir Petróvitch. A conversa desandou para uma pergunta feita pelo anfitrião Serguei a Vladimir. Ele queria saber apenas se ele lembrava-se do primeiro amor de sua vida. Vladimir respondeu ao amigo que não se lembrava. Vladimir responderia a essa pergunta na condição que ela não fosse narrada, mas escrita. A princípio tal proposta não foi aceita. Mas como Vladimir fincou o pé, eles enfim concordaram. Duas semanas depois, eles se encontraram outra vez, Vladimir cumpriu a promessa e é assim que o livro “Primeiro Amor” começa.
Vladimir Petrovich tem dezesseis anos de idade durante o verão de 1833. Ele vive com os seus pais em Moscou, mas sua família aluga uma datcha (casa de campo) perto dos portões de Kaluga, em frente ao Jardim Neskútchni. Vladimir está se preparando para entrar na Universidade, mas está gozando de certa liberdade desde que seu preceptor francês foi dispensado. Ele tem uma relação desconfortável com seus pais. Sua mãe lhe é indiferente, e seu pai o trata com uma bem-humorada indiferença. Nesse momento da vida falta a Vladimir uma visão clara de mulheres ou amor, mas tudo isso muda quando ele conhece Zinaida Zasyekin. As circunstâncias desse encontro ocorrem em um jardim, quando espiona essa menina de vinte e um anos e é descoberto e é puxado para a legião dos pretendentes ao redor da beleza dessa jovem encantadora. Vladimir tem a consciência de que está agindo como um tolo, mas não consegue ajudar a si mesmo, pois encontra-se obcecado com a menina. Turguêniev capta nesse momento a influência de uma jovem encantadora cheia de espírito e vida, despertando o louco sentimento inebriante sobre os homens ao seu redor. Entre eles, o conde Malievski, o Dr Lúchin, o poeta Maidánov, o capitão reformado Nirmátski e o hussardo Belovzórov.
“Só amaria quem me subjugasse... E, se Deus quiser, não encontrarei ninguém assim! Não me deixarei apanhar sob as garras de ninguém, não, não!” (pg 53) Vladimir passa boa parte da história cego pelo emaranhamento e só percebe mais tarde que existe outro homem que é consumido pela paixão de Zinaida. Quem será essa nova paixão? Bem, meus amigos(as), não posso continuar por razões óbvias. Não posso ser o estraga-prazeres. Não é essa a minha função. Rubens Figueiredo (o tradutor da obra), em sua belíssima introdução, informa que Ivan Turguêniev foi o primeiro escritor russo a ser traduzido na Europa.
Elogiado por Henry James e Flaubert, que certa vez escreveu: “Suas descrições pensam”.
Em “Primeiro amor” podemos entender o que Flaubert estava dizendo. Turguêniev está aqui entre nós com outra obra inesquecível, “Pais e Filhos”. Outro livraço. Posso garantir que aquele que ler “Primeiro Amor” vai ter surpresas fortes.
Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.