O estrangeiro
Albert Camus foi um escritor contemporâneo que viveu na Argélia francesa década de 1940. A filosofia de Camus, chamada de absurdista, é uma interpretação do existencialismo e explora a falta de sentido aparentemente aleatória da vida.
Segundo essa interpretação do existencialismo, é inútil querermos buscar o significado da vida. Ela não tem significado, seria um desperdício de tempo buscar alguma explicação inerente à vida. Em o “Mito de Sísifo”, Camus descreve a vida humana como uma série de trabalhos chatos feitos diariamente.
Na mitologia grega, Sísifo foi condenado a rolar uma grande pedra até o cume de uma montanha só para vê-la rolar de volta montanha abaixo para o resto da vida como punição Camus insiste em dizer que todos nós, em nossas vidas, rolamos pedra ao cume do morro apenas para vê-la rolar do alto, e, no dia seguinte, fazemos a mesma coisa, o que poderíamos chamar de rotina aborrecida.
No entanto, para a obtenção de qualquer liberdade, devemos reconhecer esse absurdo para nos libertarmos das expectativas. Não há expectativas, segundo Camus. Deus não entra em discussão. Afinal, se vivemos sob o ponto de vista absurdista, não tem o menor significado especular uma crença ou descrença de um poder superior. Para Camus, a vida não tem sentido racional ou ordem. Temos dificuldade para lidar com essa noção e continuamente nos esforçamos para encontrar a estrutura racional e significado em nossas vidas.
Essa luta para encontrar sentido onde não existe é o que Camus chama de absurdo. Camus crê que nós criamos o significado das coisas de que desfrutamos na vida. Em outras palavras, se a vida não tem um significado, cabe a nós buscarmos um significado para ela. Existe alguma esperança? Para Camus, não há esperança. A esperança implica algo que virá a partir de uma visão de futuro. E o presente é o único momento que deve ser vivido, ou seja, viver no agora e não no que pode vir a ser.
“Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia poderia sem dificuldade passar cem anos numa prisão.” (pgs. 83,84)
A integridade é mais importante do que a moralidade, cuja função é julgar o que é certo e o que é errado. A integridade deve ser entendida, segundo a visão do autor, como honestidade, a coerência em viver a própria vida de uma forma autêntica.
O livro “O Estrangeiro”, Albert Camus nos fala sobre o significado da vida humana, que só pode ser entendida no momento da morte. Ou seja, apenas quando enfrenta a possibilidade da morte é que uma pessoa obtém uma percepção acurada da vida.
Nesse livro, Camus introduz a sua filosofia do absurdo expressa a teoria de que a humanidade vive em um mundo que lhe será sempre indiferente. Camus foi um dos maiores escritores de sua época.
“O Estrangeiro” é merecidamente sua obra mais importante, na qual suas ideias filosóficas são trabalhadas de uma forma sutil e de forma mais envolvente do que seus ensaios. Não conseguimos desgrudar do livro. O romance é um relato em primeira pessoa da vida de M. Mersault desde o momento da morte de sua mãe. Embora Mersault tenha participado do funeral de sua mãe, não faz questão de ver o corpo, muito embora ele tenha curiosidade em verificar os efeitos do calor e da umidade na sua decomposição. A morte dela não muda nada em sua vida. Em outras palavras, podemos dizer que a morte de sua mãe não tem nenhum significado para ele. Ele tem a consciência da falta de sentido de todos os esforços em face à morte: ele não tem a ambição de avançar em sua carreira profissional, ele é indiferente a estar com amigos. Aceita se casar com Marie, não por vontade dele. Ele simplesmente diz que não a ama, para ele não faz a menor diferença casar ou não. Era indiferente. Mantém um distanciamento irônico típico de um herói concebido do absurdo. Ele não participa da vida não se envolve com ela. Vive o presente, livre de qualquer sistema de valores. Ao invés Em vez de se comportar de acordo com as normas sociais, Mersault tenta viver uma vida honesta, fazendo o que ele quer fazer. Recusa-se a simular sentimentos que ele não possui, e, portanto, ele não se força a chorar no funeral de sua mãe ou a lamentar sua morte profundamente. Mersault é um personagem aparentemente não emocional que "não se preocupa com nada" e afirma mais de uma vez que "não importa de qualquer maneira".
A piada cruel da história é que todos os nossos esforços nos levarão para o mesmo lugar, em última análise: a morte. Por que a vida de cada um tem que ter um significado? Mersault afirma a sua liberdade, fazendo o que lhe parece apropriado em cada momento. Isso inclui fumar durante o velório de sua mãe, ir à praia e dormir com uma mulher depois do funeral, assistir a uma comédia depois do enterro de sua mãe e forjar uma carta para o seu amigo Raymond, cafetão e bandido. Esse exercício de liberdade representa uma revolta contra qualquer tentativa de restringir a sua vida. Sua paixão em estar vivo é evidente. Ele adora estar vivo. Ele potencializa perfeitamente as características da filosofia absurdista de revolta, afirmando a sua liberdade. Livre da esperança, Mersault reconhece-se num universo sem sentido e conclui que ele está feliz:
“Como se esta cólera me tivesse purificado do mal, esvaziado a esperança, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas eu me abria pela primeira vez a terna indiferença do mundo. Por senti-lo tão parecido comigo, tão fraternal, enfim, senti que tinha sido feliz e que ainda o era. Para que tudo se consumasse, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muitos espectadores no dia da minha execução e que me recebessem com gritos de ódio.” (pg. 126)
Os leitores deste espaço com toda razão me perguntarão: faltou você contar a história. Não quero entregar o enredo. Prefiro que vocês mesmos o façam quando lerem esse livro. O livro dá pano para manga. A única coisa que posso dizer é que Camus nos oferece outra maneira de olhar a vida. Não precisamos concordar com ele.
Para ler esse livro, precisamos estar com a mente aberta e livre. Livre para escolher, ver e pensar que não há apenas uma maneira de “ser” nesta vida. Precisamos de coragem para sermos fiéis a nós mesmos em vez de seguirmos a multidão. Na segunda parte do livro, Camus descreve a tentativa da sociedade para a fabricação de significado para as ações de Mersault. O julgamento é um absurdo em que o juiz, procuradores, advogados e júri tentam encontrar sentido onde não é para ser encontrado. Todos, exceto Mersault, têm sua própria "razão".
“Tudo é verdade e nada é verdade.” (pg. 96)
O fato é que desde Kierkegaard, filósofos ocidentais tentam obter respostas à celebre pergunta: qual o significado da vida? Podemos encontrar várias respostas. Em meados do século XX, após duas guerras mundiais, Albert Camus afirma que não há respostas. A vida é sem sentido. É inerentemente absurda e sem propósito.
“O Estrangeiro”, de Albert Camus, tem argumentos sólidos e uma história aterradora. Por isso, esse livro merece um lugar de destaque na sua estante.