Gratidão
O livro do qual falaremos hoje chama-se “Gratidão”, de Oliver Sacks, um livro pequeno mas muito valioso, com uma sabedoria daqueles que sabem que não têm muito tempo de vida.
“Gratidão” é a carta de despedida de Oliver Sacks, que fala de seus últimos dias, traçando ligações com todas as partes de sua vida. Conta brevemente sua história e demonstra sua necessidade de não perder tempo, ou seja, diz o essencial nos poucos dias que lhe resta antes de dizer o seu último adeus. Não há tempo para nada não essencial. E é isso que faz desse livro algo extraordinário. Não finge medo da morte, mas o que predomina é a imensa gratidão que ele tem para com a vida, especialmente a relação que estabeleceu com os seus leitores.
Oliver Sacks foi um dos grandes neurologistas do seu tempo e professor da Escola de Medicina da Universidade de Nova York.
Apaixonado por química, música, física e neurociências, teve uma relação extremamente intensa com o conhecimento, o que o tornou mundialmente conhecido para milhões de leitores. E foi esse cruzamento único entre a neurologia e a arte de contar, motivado pelo seu amor pelos seus doentes, que o fez admirado por milhões de leitores. Suas obras possuem títulos que parecem sair do nonsense, como “O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu” (uma doença visual em reconhecer objetos com precisão), que foi encenada nos anos 1990 em Paris por Peter Brook, “Um Antropólogo em Marte” (que aborda como os autistas não conseguem decifrar relações sociais) e muitos outros.
Certa vez vi um documentário sobre ele no GNT e fiquei maravilhado com a paciência e sabedoria que exalava do seu olhar e de suas explicações. Mais do que mostrar algumas patologias neurológicas bizarras, Sacks tinha sempre algo a dizer sobre a luta dos doentes, descrevendo como ninguém os mistérios do cérebro humano. Por trás de cada doença, havia uma pessoa que pensava e sentia. E era essa humanidade que o fez tão estimado pela comunidade científica e por seus leitores. Um médico que tinha um imenso amor pela profissão e pela vida. Inúmeros testemunhos e artigos de amigos e admiradores foram publicados na imprensa internacional nos últimos meses na sequência da sua “morte anunciada”. Um câncer afastou Oliver Sacks de nós, mas sua obra fica.
Este pequeno grande livro é escrito de um modo elegante por um homem que sempre pensou esse belo planeta e que teve o enorme privilégio de ter vivido essa grande aventura chamada vida. Por isso, indico “Gratidão”, um livro repleto de sabedoria e que merece um lugar de destaque na sua estante.